O zigue-zague grego é perfeito. O governo do povo não podia aceitar uma proposta da Europa sem alívio de austeridade nenhum, sem o povo o autorizar a isso. Para tanto, perguntou aos eleitores se entendiam que dissesse 'sim' ou 'não' à proposta. E declarou sem equívocos que por ele, governo, entendia e recomendava que o povo optasse pelo 'não'.
Isto feito, toda a imprensa europeia incluindo governos, par(a)lamentos, opiniões públicas, sondagens, começaram a propagandear que só o 'sim' permitiria à Grécia não enterrar-se no caos, e incluso, o BCE deixou de alimentar os bancos gregos de notas que a população acorria a levantar nas ATM's. O pânico induzido era tal, que a vitória do'sim' era considerada inevitável.
O governo grego, então, habilmente e com mestria, declarou que a consulta era exclusivamente sobre aceitar ou não a proposta apresentada pelos europeus, e não era sobre a saída do euro, que não estava em causa, nem o governo se propôs a isso. Mais disse: - a utilidade de dizer 'não' era reforçar o poder negocial dos gregos.
Ganhou em toda a linha.
A contraproposta que apresentou aos europeus é melhor do que o que estes tinham aprovado conceder-lhes; em vez de uma extensão por cinco meses do 2º resgate, aprovaram um terceiro resgate, a vigorar durante cinco anos - não cinco meses! - com o dinheiro suficiente para o roll'over da dívida vincenda - mais austeridade mas acompanhada de mais investimento e expectável retoma económica do produto grego.
Tudo, dentro do euro. Sem sanções comerciais nenhumas. Pelo contrário, é de crer que a Europa haja aprendido com os gregos que a moeda única em pluri-espaços económicos, requer equilíbrios comerciais, se os povos mais vulneráveis se dispuserem a revoltar-se se condenados ao subdesenvolvimento e subserviência.