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O falhanço do capitalismo de que falas é absurdo, o capitalismo funcionou e funcionou extraordinariamente bem. Cair de 1000 para 800 quando com outro sistema te terias ficado pelos 100 não é um "falhanço".
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A invenção inacabada do capitalismo de que fala Robert Shiller no seu último livro, que citei acima, falhou em todas as frentes: financeira, económica, ambiental, social, e presumivelmente política. O capitalismo de mercado não só é incapaz de se autoregular, como é altamente resistente a imposição de regras. Abaixo diz-se que "protecção ambiental e capitalismo são mutuamente exclusivos".
Caro Visitante,
O conceito de viver bem é relativo. Absolutamente de acordo. Mas assumir que viajar, de avião ou de qualquer outra forma, não deve fazer parte do viver bem é demagogia. O Robert Shiller e a Naomi Klein chegaram às conclusões que chegaram sentados nas varandas de suas casas e sem nunca terem viajado? O mundo seria igual se durante os séculos XV/XVI os portugueses, espanhóis, holandeses e ingleses nunca tivessem saído de suas casas (ok, a navegação à vela era mais ecológica)?
(Ainda) não li o livro do Shiller que mencionas (mas li o Animal Spirits e Irrational Exuberante). A avaliar pelas entrevistas do próprio ao longo do tempo e de alguns comentários que li sobre o livro, o conceito de "capitalismo inacabado" que mencionas quererá apontar para que se trata de um sistema em evolução, com falhas que devem ser corrigidas e novas soluções encontradas. Mas não que se trata de um sistema mau, que deve acabar.
O Robert Shiller é muito critico de alguns dos exageros do actual capitalismo (sobretudo capitalismo financeiro e Wall Street), mas atrevo-me a dizer que ele acredita que o capitalismo (incluindo financeiro) oferece mais benefícios do prejuízos para a sociedade. Aliás tem defendido ao longo do tempo que o capitalismo deve ser inovar constantemente - e corrigir erros/excessos - para poder melhorar o nível de vida da sociedade.
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Afinal a tua conclusão é que todos os males do mundo resultam de um minoria insignificante de capitalistas que podem ir tomar pequeno almoço a Paris, almoçar marisco em Londres e à noite receber um bónus chorudo em Nova Iorque. São eles que destroem o ambiente? São eles que destroem a economia e ameaçam a política?
Os outros 7 mil milhões de pessoas que precisam de se alimentar, de se vestir, de se abrigar, de se aquecer (ou arrefecer, se isto não entrar na categoria dos luxos), de viajar (mas só para visitar a família e de bicicleta!), de se educar (sem livros, para não cortar florestas) e de se tratar quando adoecem (mas só com ervas naturais que as farmacêuticas são o cúmulo do capitalismo) não têm qualquer responsabilidade, quer na evolução do capitalismo quer no impacto ambiental?
Ou será que o capitalismo também é o único responsável pelo crescimento populacional? Ou que o aumento da esperança média de vida em 20 anos e redução da mortalidade infantil nas últimas décadas são consequências nefastas do capitalismo?
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Eu creio que é crucial encontrar e lutar por soluções para os erros do capitalismo (desigualdade de rendimentos, consumo supérfluo, desperdício, impacto ambiental, riqueza privada versus pública, etc) e não apenas falhar em falhanço. E a China é de facto um péssimo exemplo. Pela simples razão que a forma de "capitalismo" que lá existe ainda acumula os (piores) vícios do capitalismo e do comunismo.