--- Citar ---Estive presente na última Assembleia Geral da PT. Foi dito claramente que caso os accionistas não aprovassem a fusão da PT com a OI, criando uma operadora à escala mundial de língua portuguesa, então o caminho seria a compra por parte de outra empresa, potencialmente europeia e deste modo, o projecto da criação da operadora de língua portuguesa ficaria comprometido. Sinto que a história da Portugal Telecom, como disse Belmiro de Azevedo, nunca foi bem contada. Existe muito a investigar, não a dos últimos anos, mas a começar pela privatização. Desde o início que parece existir uma estratégia de utilizar a PT como veículo de investimento e de manipulação do mercado das telecomunicações. Veja-se a concorrência, que viu a sua estratégia dificultada, quer pelo músculo financeiro, quer pela estrutura accionista da PT, que impedia o normal desenvolvimento do mercado, como por exemplo no caso da ZON.
Com uma estrutura accionista semelhante, a decisão de fusão com a Sonae.Com foi sempre atrasada, fosse por vingança da OPA lançada uns anos antes à PT, fosse por uma estratégia de atrasar a entrada de um operador verdadeiramente capaz de lhe fazer frente, mantendo uma rentabilidade elevada. Os maiores accionistas optaram por defender a dama de ferro, em deterimento de uma empresa ainda frágil, até à entrada em cena de Isabel dos Santos. Angola mais uma vez baralhou as cartas, e desenhou o seu destino.
A PT serviu de veículo para financiar os seus maiores accionistas, que lhe corresponderam na mesma moeda, e com a anuência do poder polítíco, ao manter a golden share. O povo português comprou a história do interesse nacional, pois permitiria que a PT ficasse sob controlo de um grupo nacional, sem partir a empresa. Mentira.
Este processo deve ser investigado, com responsabilidades não apenas para a gestão, mas igualmente para o grupo de accionistas minoritários, que com ajuda de interesse políticos, viu o seu domínio destruir uma empresa e a credibilidade de um País. A decisão de investir na endividada Oi foi desastrosa. É fácil gerir uma operadora em regime de monopólio e com receitas garantidas. O mesmo já não se pode dizer de uma Oi com uma dívida de 15 mil milhões de euros, uma capitalização de quatro mil millhões de euros, que opera num dos maiores mercados do mundo que é o Brasil, com necessidades de investimento na ordem dos milhares de milhões de euros e com accionistas sem dinheiro.
A procissão já não vai no adro, mas muito ainda se saberá. A PT outrora uma ‘cash cow', é agora uma ‘debt cow' , em tudo semelhante ao banco mau.
Não existe qualquer dúvida, os pequenos investidores foram enganados, numa estratégia que visava utilizar o seu dinheiro para controlar uma empresa, manipular o seu futuro, não deixando as regras do mercado funcionarem. Não existe respeito pelo capital em Portugal. Os investidores são tratados como se não tivessem quaisquer direitos, afinal são capitalistas. Toda a legislação criada nos últimos anos, tendo como desculpa a crise financeira, como a Directiva dos Mercados de Instrumentos Financeiros, que visa proteger os pequenos investidores, não serviu para nada. Os políticos continuam a vender a ideia que os mercados são os reis e senhores do destino de empresas e paises quando, neste caso e uma vez mais é mentira. Em dois meses, duas empresas do PSI 20 desapareceram, e uma terceira está a caminho.
A confiança está definitivamente abalada, posta em causa por uma geração de gestores movida por interesses. Portugal, conseguiu mais uma vez perder tudo, enredado pelos jogos de poder. E a provar estão estes últimos 14 anos - três governos não chegaram ao fim - a estrada está a chegar ao fim, com consequências imprevisíveis.