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Autor Tópico: Eutanásia  (Lida 4153 vezes)

Incognitus

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Eutanásia
« em: 2013-11-25 13:00:15 »
Um texto interessante.


 I Hope My Father Dies Soon
 http://dilbert.com/blog/entry/i_hope_my_father_dies_soon/
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

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Re:Eutanásia
« Responder #1 em: 2013-11-25 14:23:45 »
Tem a sua razão...
“Our values are human rights, democracy and the rule of law, to which I see no alternative. This is why I am opposed to any ideology or any political movement that negates these values or which treads upon them once it has assumed power. In this regard there is no difference between Nazism, Fascism or Communism..”
Urmas Reinsalu

Zel

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Re:Eutanásia
« Responder #2 em: 2013-11-25 15:12:32 »
podem ir morrer para a belgica, la fazem eutanasia

mas creio que ate chegar a nossa altura isto vai evoluir

Lucky Luke

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Re:Eutanásia
« Responder #3 em: 2013-11-25 17:19:57 »
nunca entendi porque há-de o Estado imiscuir-se numa esfera claramente privada
o meu corpo não é meu ?
não posso fazer dele o que quero ?
tirando normais cautelas de possíveis abusos ou aproveitamentos nunca entendi esta proibição dum gajo se poder suicidar de forma assistida
sobra-nos o voo livre no duarte pacheco

Automek

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Re:Eutanásia
« Responder #4 em: 2013-11-25 17:33:13 »
É incompreensível que o aborto, uma coisa muito mais controversa, esteja já completamente regulado e que a morte clinicamente assistida seja ainda um tabu.

Além de ser uma violação à liberdade individual de escolha, nem sequer existe o argumento financeiro porque é muito mais barata uma injecção do que os cuidados continuados e paliativos meses ou anos a fio.

Lucky Luke

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Re:Eutanásia
« Responder #5 em: 2013-11-25 20:10:57 »
É incompreensível que o aborto, uma coisa muito mais controversa, esteja já completamente regulado e que a morte clinicamente assistida seja ainda um tabu.

Além de ser uma violação à liberdade individual de escolha, nem sequer existe o argumento financeiro porque é muito mais barata uma injecção do que os cuidados continuados e paliativos meses ou anos a fio.
concordo contigo
o aborto, que tem muitas mais nuances, e mais subjectivas, na abordagem ao assunto, tem pelo menos uma regulação, seja esta satisfatória ou não - consoante a distribuição das simpatias.
para im a única coisa que devia haver para lá da liberdade total era uma lei que se focasse na regulação do acto clínico em si e na regulação das formas de obter certezas sobre o querer do requerente da eutanásia

Automek

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Re:Eutanásia
« Responder #6 em: 2013-11-27 22:30:36 »
Estes belgas estão a anos luz de nós no debate sobre o assunto (ainda que a eutanásia de um filho menor seja, IMO, a situação mais brutal que uma pessoa pode enfrentar na via)

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Bélgica mais perto de permitir eutanásia a crianças

Onze anos depois ter aprovado a lei que permite a eutanásia a adultos, a Bélgica deu esta quarta-feira mais um passo no processo de legalização da prática aplicada a menores

Dois comités do senado belga votaram favoravelmente (13 contra 4), esta quarta-feira, a aplicação da lei da eutanásia, aprovada em 2002, a crianças. Antes de ser aprovada e se tornar lei, a proposta tem ainda, no entanto, de ser aprovada pela totalidade do Senado. Se isso acontecer, as crianças na Bélgica que sofram de dor física classificada como "insuportável" ou que estejam em fases terminais de uma doença podem pedir, com o consentimento dos pais, a eutanásia. O processo teria ainda de ser acompanhado por um psicólogo como forma de garantir que o menor entende as consequências da sua decisão.

O debate sobre a eutanásia em menores de idade reacendeu-se no início de novembro, com o apelo de um grupo de pediatras para que a lei fosse alterada no sentido de permitir a morte clinicamente assistida de menores. Numa carta aberta publicada na imprensa, os pediatras alertavam os deputados para o que defendiam ser uma necessidade de legislar uma prática que já ocorria à margem da lei.

Um dos médicos que integra o grupo de investigação sobre o tema, Kenneth Chambarae, da Universidade de Bruxelas, sublinha que a lei que está a ser debatida tem uma diferença fundamental em relação à legislação em vigor, que se aplica apenas a adultos: no caso dos menores, o pedido de eutanásia não pode ser feito com base na alegação de sofrimento psicológico.

http://visao.sapo.pt/belgica-mais-perto-de-permitir-eutanasia-a-criancas=f759203#ixzz2lt66GQwH

Automek

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Re:Eutanásia
« Responder #7 em: 2013-12-22 01:10:47 »
Um documentário bastante interessante, apresentado por um escritor, Terry Pratchett, a quem foi diagnosticado a doença de Alzheimer, sobre a morte clinicamente assistida de um empresário do ramo da hotelaria, Peter Smedley, que ele veio a conhecer e que acompanhou até na hora da morte.

O documentário tem, inclusivamente, ao minuto 51:30 o momento em que ele se despede da mulher, a pergunta da senhora da Dignitas sobre se ele tem a certeza que quer morrer, mostra a ingestão da substância letal e a morte propriamente dita poucos minutos depois. Embora não seja sangrento pode impressionar os mais sensíveis.

Terry Pratchett: Choosing To Die (2011) - Full Documentary


Também foi curioso os amigos receberem uma carta alguns dias depois dele morrer.

Isto é que é morrer com dignidade e não com uma carga de morfina em cima, enfiado numa qualquer unidade de cuidados paliativos. Não que eu tenha alguma coisa contra quem prefira essa opção. Só não quero é que me impeçam de morrer mais cedo, se assim o entender, sem que para isso precise de me atirar para a frente de um comboio ou saltar de uma ponte.

Automek

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Re: Eutanásia
« Responder #8 em: 2015-07-01 23:11:59 »
A Bélgica a anos-luz de nós. Cá nem para doenças terminais.
Bélgica concede direito de morrer a rapariga de 24 anos com uma depressão

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Re: Eutanásia
« Responder #9 em: 2016-02-24 20:57:57 »
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Quando a morte chega pelo correio… a casa de portugueses

Visão.pt

Enquanto andamos a discutir a eutanásia, a debater os limites da morte medicamente assistida ou a confrontar opiniões sobre a legalidade de decidir quando se pode pôr fim a uma vida, há uma outra realidade, imune a tudo isto, que continua a desenrolar-se, longe dos nossos olhares: existe um mercado negro da eutanásia, discreto e clandestino, mas que qualquer um pode encontrar ao navegar, com indicações básicas, na internet.

Por pouco mais de 500 euros, pode-se comprar o barbitúrico que, de forma rápida e indolor – dizem… – extingue a vida de quem já não aguenta sofrer mais. E há um negócio florescente montado em redor desta droga, com a venda de kits para testar a sua pureza e livros para indicar os melhores sítios onde ela pode ser comprada. Em Portugal, segundo confirmámos junto do Instituto de Medicina Legal, houve, pelo menos, quatro mortes através desta droga. E, de acordo com o homem responsável por difundir esta solução no mundo – o australiano Philip Nitschke, conhecido por Dr. Morte e um dos mais radicais ativistas pró-eutanásia, que entrevistamos nesta edição –, existem cerca de 30 portugueses inscritos na sua associação e dispostos, um dia, a tomar a mesma opção.

Mas, como todos sabemos, onde há mercado negro há também muitos burlões e esquemas de falsificação. Este caso não é exceção e essa foi uma das razões porque decidimos também avançar com este tema – duro, difícil e incómodo, reconhecemos – para a capa desta edição, que agora começa a chegar a casa dos nossos mais de 35 mil assinantes. Fizemo-lo com todos os cuidados possíveis e seguindo os princípios que, desde sempre, norteiam o jornalismo que praticamos na VISÃO. Escolhemos não revelar o nome da substância ativa nem os sites onde ela pode ser comprada. Não queremos apontar caminhos, quando outros melhores possam existir. Mas é de interesse público revelar que há quem finte a lei em busca de uma solução para o seu sofrimento, correndo o risco de ser responsabilizado penalmente ou, pior, de não conseguir o efeito pretendido e ficar com lesões graves.

“A morte assistida é um daqueles temas em relação ao qual preferimos virar a cara”, escreve a diretora adjunta Mafalda Anjos (autora, com Isabel Nery, do tema de capa desta edição), num artigo de opinião a propósito deste trabalho, que a obrigou a confrontar-se com alguns dos piores receios e a ponderar todos os riscos. E também a alguns momentos difíceis, como o de ouvir Laura Ferreira dos Santos, atormentada por um cancro desde 2001, dizer que está “entre a espada e a parede” e que equaciona suicidar-se com a droga comprada pela internet. O seu depoimento é, aliás, um dos momentos fortes desta edição. Até porque Laura não é uma mulher qualquer: investigadora de Filosofia na Universidade do Minho e fundadora do movimento Direito a Morrer com Dignidade, há mais de meio século que deu provas de ser inteligente, lúcida, objetiva e racional. Apenas não está disposta, segundo as suas palavras, a deixar-se “morrer aos bocadinhos”.
 

Deus Menor

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Re: Eutanásia
« Responder #10 em: 2016-02-24 21:26:09 »

A eutanásia é, para mim, uma evidência.

E coloco em baixo a maior forma de liberdade do ser Humano:



! No longer available

Reg

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Re: Eutanásia
« Responder #11 em: 2016-02-24 21:34:19 »
Ate os nossos animais estimaçao tem direito ter morte sem sofrimento prolongado
Democracia Socialista Democrata. igualdade de quem berra mais O que é meu é meu o que é teu é nosso

Automek

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Re: Eutanásia
« Responder #12 em: 2016-02-24 21:39:29 »
Ate os nossos animais estimaçao tem direito ter morte sem sofrimento prolongado
Em matéria de eutanásia um cão ou um gato têm mais direitos do que uma pessoa. Estamos literalmente abaixo de cão.

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Re: Eutanásia
« Responder #13 em: 2016-03-01 12:29:33 »
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Enfermeiro confirma casos de eutanásia em hospital público

1 Março, 2016 por ZAP

Um profissional de saúde confirmou ao Jornal de Notícias que já assiste a mortes assistidas há mais de 40 anos num hospital central e explica de que forma pode ser feito.

O enfermeiro, que iniciou a atividade profissional num hospital central em 1975, afirmou ao JN que desde essa altura vê vários pacientes a serem ajudados a morrer.

Sob anonimato, o enfermeiro refere que existem várias formas indolores de ajudar os pacientes a morrer, sendo que uma das técnicas mais comuns é a injeção de ar nas veias. Esta prática provoca uma morte sem dor, semelhante a um ataque cardíaco.

No caso dos doentes oncológicos terminais ou com insuficiência respiratória, as bolas de morfina confortam o doente e antecipam a morte, explicou o enfermeiro, já que o tratamento da dor tem evoluído mas ainda não resolve todos os problemas.

A técnica foi, aliás, apontada pela bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, nas declarações à Rádio Renascença que causaram polémica.

“Vi casos em que médicos sugeriram administrar insulina aos doentes para lhes provocar um coma insulínico. Não estou a chocar ninguém, porque quem trabalha no SNS sabe que estas coisas acontecem por debaixo do pano”, afirmou Ana Rita Cavaco, que referiu depois que nunca viu ninguém fazê-lo.

Em reação a estas declarações, o Ministério da Saúde anunciou, em comunicado, que solicitou à Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS) uma “intervenção com carácter de urgência” para “apuramento dos factos”, com vista ao “cabal esclarecimento dos cidadãos”.

O Ministério aproveita para reafirmar a “total confiança nas instituições e nos profissionais do SNS”.

A Ordem dos Médicos também reagiu, revelando que vai apresentar queixa contra a Bastonária dos Enfermeiros ao Ministério Público e à IGAS.

“Independentemente das posições individuais relativamente à legalização da eutanásia”, refere a OM, “o teor destas declarações é extraordinariamente grave, pois envolve médicos e enfermeiros na alegada prática encapotada de crimes de homicídio em hospitais do SNS”.

O órgão representativo dos médicos também diz desconhecer qualquer caso de “eutanásia explícita ou encapotada” no SNS.

O tema da eutanásia foi lançado para o debate público, nos últimos tempos, fruto do movimento pró-eutanásia que inclui 100 figuras públicas e vai mesmo ser debatido no Parlamento.

Deus Menor

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Re: Eutanásia
« Responder #14 em: 2016-03-01 12:31:39 »


A habitual hipocrisia Nacional que não admite o que se sabe.

Mas continuo a achar que este debate, extemporâneo , é uma cortina de fumo
para não se falra do Orçamento.

Automek

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Re: Eutanásia
« Responder #15 em: 2016-03-01 12:37:45 »
Citar
O testemunho na primeira pessoa de um médico português que considera que a eutanásia deveria fazer parte dos deveres destes profissionais

http://www.sabado.pt/Iframes/detalhe_multimedia.aspx?contentName=Multimedia&contentID=26928&typeContent=Video

(presumo que tenham forma de o fazer sem que haja autópsia e/ou seja descoberto)

kitano

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Re: Eutanásia
« Responder #16 em: 2016-03-01 13:04:52 »
Automek na maioria destes casos (terminais, internamentos prolongados, etc) não há qualquer autópsia.
"Como seria viver a vida que realmente quero?"

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Re: Eutanásia
« Responder #17 em: 2016-03-27 02:18:24 »
....um relato impressionante.......sem eutanásia...... :'(


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Isabel foi sedada para morrer sem dor

Observador.pt - 26 Março 2016

Isabel não sentiu nada, mas a família viu-a definhar ao longo de dez dias até morrer. Foi assim porque era a única forma permitida. Ela preferia a eutanásia.

Começou com a voz a arrastar-se. O cansaço que não se vencia com o sono. Depois os braços fracos. E, por fim, o diagnóstico. Isabel sofria de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), uma doença neurológica degenerativa incurável. Foram dois anos assim, a definhar e a esperar pelo último dia. Até que os médicos chamaram a família para dizer adeus. Isabel seria sedada para morrer sem sofrimento. Uma prática comum em doentes terminais, e a única opção permitida em Portugal, quando a morte é incontornável. Se pudesse, garante a filha, Isabel teria escolhido a eutanásia.

Corria o ano de 2013. O trabalho como diplomata empurrara-a para a Bélgica. Tinha 49 anos. Foi numa visita à filha mais nova, que estava a estudar em Itália, que a preocupação começou. A sua voz estava a arrastar-se, como se estivesse muito cansada. A força que sempre teve estava agastada. Seguiram-se as consultas. “O diagnóstico desta doença é feito por exclusão de partes”, conta ao Observador a filha mais velha, Bárbara Ribeiro, 31 anos, que pede para salvaguardar “o máximo possível” a identidade da mãe.


Foram precisos quase sete meses para os médicos belgas descobrirem o que tinha. Sofria de uma doença incurável chamada Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA). A inevitável busca na Internet ditava-lhe o que se seguia: iria deixar de poder andar, lavar-se, vestir-se, comer, respirar e depois morreria. A sentença não lhe deixou dúvidas. Abandonaria a Bélgica e juntar-se-ia às filhas até aos últimos dias de vida.

Não lhes conseguiu dizer o que tinha. Bárbara só percebeu que o problema não era apenas muscular quando os amigos que visitavam a mãe choravam. Alguma coisa mais grave estava a acontecer. Até que mandou “o barro à parede”. E teve a confirmação. A mãe sofria de ELA. Bárbara abandonou o trabalho e viveu dois anos para Isabel. Ela, o marido e a irmã. Chegaram a fazer turnos, para poderem descansar e nunca deixarem a mãe sozinha.

Isabel chegou a Portugal e foi logo ter com um advogado. Na altura ainda não era possível fazer testamentos vitais via Serviço Nacional de Saúde, por isso tinha que referir, perante um advogado, os tratamentos aos quais queria ou não ser submetida e validar o documento num notário. “O testamento vital é muito útil se os médicos o respeitarem, porque se tiverem uma opinião diferente não é totalmente respeitado”, diz Bárbara.

Isabel foi perdendo capacidades. A doença tomava conta do seu corpo e ela estava completamente consciente a assistir. Primeiro perdeu a fala por completo. Depois veio a falência dos membros. Um braço. Uma perna. Antes de ficar completamente dependente do ventilador, Isabel pensou em regressar à Bélgica. Ali, onde viveu, a eutanásia é permitida por lei. Acabaria com todo o sofrimento de uma só vez. Mas os médicos demoveram-na. Estava tão fraca que dificilmente resistiria à viagem. Ela decidiu regressar ao advogado para contemplar aquilo que a minuta do testamento vital não referia: a sedação terminal, a única forma de poder morrer em Portugal sem sentir dor e quando nada mais há a fazer.

(O que é a sedação terminal ?

 A sedação terminal, ou sedação paliativa, ou sedação de forma contínua e profunda, pretende aliviar a dor e o sofrimento do doente, “não sendo a morte intencionalmente desejada”, lê-se nas linhas de orientação da Associação Portuguesa de Bioética (APB), datadas de 2010. Quando a morte ocorre, “trata-se de um efeito subsidiário em relação ao objetivo principal, que é o alívio da dor e do sofrimento através da sedação”.

A sedação paliativa contínua até à inconsciência, como também pode ser chamada, pode ser aplicada em doentes terminais e se o doente ou o seu representante legal prestaram consentimento. Além disso, deverão existir “sintomas graves e severos para os quais não haja tratamento adequado na perspetiva do doente”, refere a APB. É ainda dada a orientação de que a sedação profunda seja aplicada no caso de o doente estar “em sofrimento para o qual todas as alternativas de tratamento razoável e efetivo são para si inaceitáveis”.

Do ponto de vista jurídico, como o Observador já noticiou, há quem defenda que a sedação é um tipo de eutanásia ativa indireta – o que não é punível pela lei em Portugal. A Associação Europeia de Cuidados Paliativos refere que a “sedação paliativa” do paciente terminal deve ser distinguida de eutanásia. Na sedação paliativa, o objetivo é aliviar o sofrimento, usando fármacos sedativos titulados apenas para controlo dos sintomas. Na eutanásia, a intenção é tirar a vida do paciente, administrando-se um fármaco letal
.)

Já estava completamente dependente do ventilador para respirar e o seu corpo magro atingira os 30 quilos quando decidiu que tinha chegado a hora. A seu pedido, foi internada numa unidade de cuidados paliativos de um hospital privado. Isabel comunicava recorrendo a um abecedário e ao piscar os olhos. E foi assim que mal foi internada pediu que a sedassem. Estava farta de sofrer.

Os médicos tentaram respeitar a vontade expressa no testamento, mas nos primeiros dias a prioridade era aliviar-lhe a dor “de forma a que tirasse da cabeça a sedação”. Tentaram adiar, mas Isabel começou a vomitar todos os alimentos administrados através de um tubo PEG. E acabaram por ceder ao seu desejo.

Antes, chamaram a família. Bárbara, o marido e a irmã – que dormiram no hospital estes dez dias – foram chamados para se despedirem. “Um momento muito complicado, porque a pessoa tem que se despedir e daí a uns dias vai ter que se despedir completamente porque acontece a morte. A pessoa é sedada e é interrompida a alimentação e a hidratação. É horrendo, porque não vai ser administrado mais nada àquela pessoa. Aquela pessoa vai morrer, não sai dali”.

Foram dez dias até Isabel partir. Estava completamente adormecida, de vez em quando abria os olhos “mas seria um ato involuntário”, acredita Bárbara. “Estava ventilada. Se não estivesse se calhar seria mais rápido, mas foi uma coisa que nos fez muita impressão e ela tinha no testamento vital que não queria sofrimento por falta de ar. Tínhamos esta batalha psicológica”, diz.

Assim que soube da doença da mãe, Bárbara tentou de tudo. Participou em fóruns na Internet, associou-se às APELA e acompanhou dois outros doentes, que também “já partiram”. Informou-se ainda de como funcionava a eutanásia noutros países. E descobriu que na Bélgica nem todos os doentes que pedem para morrer veem o seu pedido ser aceite. Sete meses depois da morte da mãe, Bárbara assiste à discussão da eutanásia com uma opinião muito própria. “Quando é que a vida passa a ser uma obrigação? Devíamos estar aqui enquanto temos uma vida digna. Depois de tudo o que passamos todos, é de um egoísmo por parte dos outros não permitirem que exista a eutanásia.”

Isabel morreu a 15 de julho de 2015. Tinha 51 anos. Pesava 20 quilos.


"A sedação é uma brutalidade, porque temos que nos despedir da pessoa, porque sabemos que aquela pessoa já não vai acordar mais. Tenho a certeza que se houvesse outra opção, como a eutanásia, ela não tinha optado pela sedação contínua e profunda. Não deixava de ser alimentada e hidratada nem deixava as filhas passarem por esta violência brutal."

Bárbara Ribeiro

Joao-D

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Re: Eutanásia
« Responder #18 em: 2016-03-30 09:13:00 »
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Médico investigado por ter ajudado amigo a morrer
ALEXANDRA CAMPOS 30/03/2016 - 08:20
Declarações sobre morte assistida dão processo na Ordem dos Médicos.


Há um médico que corre o risco de ser acusado judicial e disciplinarmente por ter ajudado um amigo a morrer — e, se isso acontecer, será o primeiro caso conhecido deste tipo em Portugal. O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), José Manuel Silva, pediu ao Conselho Disciplinar do Sul da instituição que avalie as declarações feitas por Rui Moreno, médico nos cuidados intensivos no Hospital de S. José (Lisboa), que admitiu ao Expresso ter ajudado um amigo a morrer, há vários anos. Também o Ministério Público instaurou um inquérito, o que faz "sempre que tem conhecimento de factos susceptíveis de integrarem a prática de crimes", explicou a assessoria da Procuradoria-Geral da República.

Habituado a lidar com casos muito graves desde há três décadas, Rui Moreno recordou ao semanário que ouviu muitas vezes da boca dos doentes a “súplica, sentida, consciente, para que lhes terminasse com a vida” e reconheceu que acedeu uma única vez, a pedido do “melhor amigo” que definhava com um cancro no pâncreas, após três operações, com o tumor a avançar e a morfina “a entorpecer o mal sem o travar”. Nessa altura tinham ambos 40 anos. “Foi muito duro, muito difícil. Mas ele pediu-me e eu fiz”, assumiu.

Sobre este caso, o bastonário da Ordem dos Médicos não tem dúvidas: “Há vários tipos de homicídio. A ter acontecido como descrito, é um homicídio doloso, segundo me informei, e o prazo de prescrição será de 15 anos. Claro que terá várias atenuantes, mas decidirá quem de direito.” O médico do S. José não quis falar ao PÚBLICO.

A investigação a este caso foi aberta depois de semanas de discussões e de debates acalorados sobre o problema da morte assistida (que inclui a eutanásia e o suicídio medicamente assistido), na sequência da divulgação de um manifesto e de uma petição pela despenalização da morte assistida que foram postos a circular por um movimento cívico com o apoio de uma centena de personalidades, como o ex-primeiro-ministro Francisco Pinto Balsemão e a ex-ministra da Justiça, Paula Teixeira da Cruz.

A bastonária da Ordem dos Enfermeiros, Ana Rita Cavaco, que assinou este manifesto, desencadeou grande polémica em Fevereiro, por ter sugerido num programa da Rádio Renascença que se praticava eutanásia nos hospitais públicos. Mais tarde, garantiu que as suas palavras foram desvirtuadas, mas foi mesmo assim alvo de um inquérito judicial, também foi entretanto ouvida pela Inspecção-Geral das Actividades em Saúde, e esta quarta-feira de manhã vai estar na Comissão Parlamentar de Saúde, para onde foi convocada para esclarecer as suas declarações.   

Em Portugal, não há notícia de alguém que tenha sido julgado ou condenado por este tipo de prática, afirma Inês Fernandes Godinho, professora de ciências jurídico-criminais e autora de uma tese de doutoramento sobre eutanásia e direito penal. Assumindo desde logo que subscreveu o manifesto pela despenalização da morte assistida, a jurista nota que, de acordo com o Código Penal, que em caso algum refere a palavra eutanásia, o que é punível é o homicídio a pedido da vítima (artigo 134.º), com uma pena até três anos de prisão. Uma moldura penal substancialmente inferior à do homicídio simples (penas entre oito a 16 anos de prisão) e do homicídio qualificado (12 a 25 anos de prisão).

Na prática, esclarece também Inês Godinho, há várias formas de eutanásia e só uma destas é considerada crime em Portugal. Administrar um fármaco letal a um doente para abreviar a morte é uma forma de eutanásia activa e é punido pela lei. Já a eutanásia passiva (quando se deixa a doença seguir o seu curso, sem interferências) é mesmo considerada boa prática pelos médicos e acontece todos dias nos hospitais.

Se os médicos continuarem com os tratamentos contra a vontade do doente para lhe prolongarem artificialmente a vida, estão a fazer obstinação terapêutica (ou distanásia), o que também é proibido pelo seu Código Deontológico. Os médicos costumam chamar à eutanásia passiva suspensão ou interrupção do tratamento considerado fútil e desnecessário, lembra.
https://www.publico.pt/sociedade/noticia/medico-investigado-por-ter-ajudado-amigo-a-morrer-1727478