Olá, Visitante. Por favor entre ou registe-se se ainda não for membro.

Entrar com nome de utilizador, password e duração da sessão
 

Autor Tópico: Ganhar um hoje e perder dois manhã  (Lida 805 vezes)

D. Antunes

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 5284
    • Ver Perfil
Ganhar um hoje e perder dois manhã
« em: 2016-10-09 22:37:10 »
Um estadista pensa na próxima geração, um político na próxima eleição.

Que os estadistas em Portugal são mais raros do que o lince da Malcata já todos sabíamos. O pior é que atualmente já nem se privilegiam medidas com retorno a 4 anos. Parece que só se quer ficar mais uns mesitos no poleiro e depois logo se vê: mesmo que corra mal, parece melhor ficar ganhar algum tempo do que ir mais cedo embora.

Três exemplos de medidas que serão balões de oxigénio caros e/ou agravarão as dificuldades orçamentais dos próximos anos.:

-perdão fiscal: basta pagar agora 8% do valor em dívida para que toda a dívida, repito TODA a DíVIDA, possa ser aceite pela UE como receita de 2016, uma vez que o devedor reconhece a dívida e se compromete a pagá-la. Claro que a maioria dos devedores não pagou porque tinha dificuldades. Muitos não vão cumprir o plano de pagamentos. Curiosamente, os que forem pagando nos próximos anos não aliviam o défice desses anos vindouros pois já está tudo contabilizado e os não pagamentos terão que ser considerados como um prejuízo nos anos futuros. Mas quem estiver no poder na altura que se desenrasque.

-reavaliação de activos: algumas empresas, principalmente as grandes e lucrativas, mas não só, têm activos que se valorizaram. Por exemplo, aquele escritório ou aquela loja no centro de Lisboa que hoje vale mais do que quando foi comprado. Ou aquela maquinaria que foi abatida em 4 ou 6 ano,s mas que até continua a funcionar. Se a empresa valorizar pelo valor real ficará mais "capitalizada" no papel e poderá ter maior facilidade em se financiar, mas também terá mais lucro, logo pagará mais IRC.
Com a nova medida, só pagará 14%, mas uma parte entrará já este ano. Claro que, no futuro, se continuar com lucros, pagará potencialmente menos. Mas isso será no futuro...

-aumento do imposto sobre o tabaco: se o efeito começar a 1 Janeiro, vamos mas é importar o máximo que podermos até 31 Dezembro. Este ano o imposto cobrado aumenta. Para o ano o orçamento fica mais complicado, mas depois se verá.
“Price is what you pay. Value is what you get.”
“In the short run the market is a voting machine. In the long run, it’s a weighting machine."
Warren Buffett

“O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm."
René Descartes

D. Antunes

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 5284
    • Ver Perfil
Re: Ganhar um hoje e perder dois manhã
« Responder #1 em: 2016-10-09 22:43:42 »
Para quem quer perceber a complexidade da marosca do tabaco:

"Inundação" de tabaco pode dar maior receita fiscal da década

A receita do imposto de tabaco deverá ser a maior dos últimos anos porque, em 2016, as operadoras vão “inundar” o mercado de tabaco por duas vezes para escapar ao aumento de impostos contido no Orçamento.
O ano passado não foi meigo para Pedro Passos Coelho. Apesar de ter ganho as eleições, não conseguiu uma maioria parlamentar que desse luz verde ao seu Governo e viu-se ultrapassado por António Costa, que formou a famosa geringonça. Também por causa disso, o Orçamento do Estado para 2016 apenas foi aprovado em Março deste ano. Isso foi mau para as contas de 2015 e bom para as de 2016, pelo menos no que diz respeito ao imposto sobre tabaco. Se as previsões do Governo se cumprirem, este será o ano com maior receita deste imposto dos últimos 10 anos.

Terá sido porque o Governo carregou com toda a força nos impostos sobre os produtos do tabaco? Houve um aumento da fiscalidade, é verdade, mas a principal razão é o facto de 2016 ser um ano atípico.

Quando há perspectivas de aumento de impostos sobre os cigarros, as tabaqueiras aproveitam os últimos meses do ano, antes da entrada em vigor do novo Orçamento do Estado, para inundarem o mercado com tabaco que ainda paga o imposto antigo. Já a pensar nisso, a legislação estabelece que, entre 1 de Setembro e 31 de Dezembro, a introdução de tabaco não pode ultrapassar 10% da quantidade média colocada nos 12 meses anteriores. No resto do ano, não há limites à colocação de produto no mercado.

Ora, como o OE deste ano só entrou em vigor no final de Abril, as operadoras do sector esperaram pelo primeiro trimestre para introduzirem no consumo o novo tabaco, em vez de o introduzirem, como se previa, no final de 2015. Isso teve um significado: as contas do ano passado deixaram de contar com essa receita adicional e as de 2016 tiveram um bónus fiscal devido a essa introdução adicional de tabaco. Isto porque o imposto é pago no momento em que o produto é introduzido, e não no momento em que é consumido.

Isso teve efeitos práticos: no primeiro trimestre do ano, a receita com o imposto sobre o tabaco mais que duplicou face a 2015 – rendeu 360 milhões de euros, face aos 168 milhões do ano passado. Já as contas de 2015 registaram um buraco: o Executivo previa encaixar 1,5 mil milhões de euros com este imposto, mas apenas entraram 1.212 milhões de euros – uma diferença de quase 300 milhões de euros.

Nos próximos meses, e caso se confirme uma subida de impostos sobre os produtos de tabaco, o mercado deverá voltar a ser inundado de cigarros e não só. O Governo previu esses movimentos e orçamentou uma receita de 1.514 milhões de euros com o imposto sobre tabaco, uma previsão que uma fonte do sector considera ser adequada. Se essa receita se verificar, será o maior encaixe fiscal com tabaco dos últimos 10 anos.

Até Agosto, já foram amealhados 884,5 milhões de euros com este imposto.

Já não é a primeira vez que o tabaco dá dois bónus num só ano às contas do Governo. Em 2010, o OE só entrou em vigor a 28 de Abril, o que significa que as tabaqueiras também introduziram tabaco nos primeiros meses do ano. O Executivo de José Sócrates previa encaixar 1.180 milhões de euros em receita com o imposto nesse ano, mas acabou por fechar o ano com 1.428 milhões.
“Price is what you pay. Value is what you get.”
“In the short run the market is a voting machine. In the long run, it’s a weighting machine."
Warren Buffett

“O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm."
René Descartes

Thunder

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 2009
    • Ver Perfil
Re: Ganhar um hoje e perder dois manhã
« Responder #2 em: 2016-10-09 22:56:49 »
O ponto relativo ao perdão fiscal também parece ser importante (e pouco sério). Quanto a questão do tabaco não fazia ideia, mas já tinha visto no OE que o valor de imposto colectado é enorme.

Mas dum ponto de vista mais geral, isto de deixar a bomba para um ponto qualquer no futuro está intimamente ligado ao conceito de correr défices contínuos. Como as pessoas aceitam isso duma forma tão calma e sem questões é algo que não me deixa de espantar.

O conceito de que o PIB mais tarde ou mais cedo vai crescer o suficiente para tornar tal facto insignificante é duma crença infantil e dum risco inacreditáveis.
E a forma como "as ideias do Keynes" se entranharam em todo o tipo de instituições deu um apoio brutal ao "deixa correr défices todos os anos que isso é bom". O problema é que esse tipo de défices continuados não eram defendidos por ele; foi implementado um keynesianismo só das partes que são "agradáveis" e fáceis para os políticos. Keynes deve dar voltas na campa com o que se faz usando o seu nome como suporte.
« Última modificação: 2016-10-09 22:59:46 por Thunder »
Nullius in Verba
Divide et Impera
Não há almoços grátis
Facts do not cease to exist because they are ignored
Bulls make money, bears make money.... pigs get slaughtered

jbarroso

  • Newbie
  • *
  • Mensagens: 8
    • Ver Perfil
Re: Ganhar um hoje e perder dois manhã
« Responder #3 em: 2016-10-11 13:45:41 »
O ponto relativo ao perdão fiscal também parece ser importante (e pouco sério). Quanto a questão do tabaco não fazia ideia, mas já tinha visto no OE que o valor de imposto colectado é enorme.

Mas dum ponto de vista mais geral, isto de deixar a bomba para um ponto qualquer no futuro está intimamente ligado ao conceito de correr défices contínuos. Como as pessoas aceitam isso duma forma tão calma e sem questões é algo que não me deixa de espantar.

O conceito de que o PIB mais tarde ou mais cedo vai crescer o suficiente para tornar tal facto insignificante é duma crença infantil e dum risco inacreditáveis.
E a forma como "as ideias do Keynes" se entranharam em todo o tipo de instituições deu um apoio brutal ao "deixa correr défices todos os anos que isso é bom". O problema é que esse tipo de défices continuados não eram defendidos por ele; foi implementado um keynesianismo só das partes que são "agradáveis" e fáceis para os políticos. Keynes deve dar voltas na campa com o que se faz usando o seu nome como suporte.

O problema é que a maioria das pessoas vivem assim a sua vida pessoal. Fazer um crédito habitação a 100% e 50 anos não é parecido?

Reg

  • Ordem dos Especialistas
  • Hero Member
  • *****
  • Mensagens: 13525
    • Ver Perfil
Re: Ganhar um hoje e perder dois manhã
« Responder #4 em: 2016-10-11 15:02:17 »
quem faz credito  100%  a  50 anos  foi  origem da bolha 2008

os estados tem muito mais poder de tirar aos outros   estam muito a frente de simples bolha imobliaria. >:(
« Última modificação: 2016-10-11 15:07:09 por Reg »
Democracia Socialista Democrata. igualdade de quem berra mais O que é meu é meu o que é teu é nosso