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Se gasta pouco porque é poupado, a poupança são gastos futuros. A não ser que acabe por perder tudo em maus investimentos bolsistas, acabará por pagar o IVA (ele ou os herdeiros).
É muito interessante a tua observação porque ela destaca a radical diferença entre o capitalismo e as formas de propriedade e de intervenção económica e social dos sistemas anteriores ao capitalismo. Realmente, antes da ordem jurídica burguesa imposta pelo código napoleónico, as classes possidentes (as ordens do clero e da nobreza), perpetuavam-se ao longo de séculos no esplendor da sua riqueza e poder. Com a revolução social da burguesia, o poder obtido na actividade produtiva e comercial, dificilmente se aguenta por três gerações, sem que antes não advenha o desinvestimento, a delapidação, a alienação e proletarização dos outrora burgueses ricos e possidentes! Não era assim, antes do capitalismo.
De facto, no sistema capitalista a riqueza não persiste durante muitas gerações. Geralmente. dá-se uma rápida regressão para a média em três gerações (mesmo em casos de famílias muitíssimo ricas dos EUA consegue persistir apenas até 4 gerações).
Estive a pensar e poderia não ser assim, seria relativamente fácil que, em famílias ricas, se assistisse a uma acumulação exponencial da riqueza ao longo de gerações. Vários factores apontariam para esse caminho:
-a natalidade está em declínio. Mesmo sabendo que os extremos da sociedade (os muitos pobres mas também os muito ricos) geralmente têm mais filhos, a média não é muito elevada;
-a idade a que se começa a ter filhos é elevada e a idade média a que nascem os filhos é superior a 30 anos.
Imagine-se alguém que herde 200 milhões de euros. Se tiver 2 filhos e conseguir que o seu património cresça 2% ao ano (valor real), ao fim de 35 anos poderá passar a
cada filho tanto quanto recebeu (se tiver 3 filhos terá que crescer 3,2% ao ano).
Tendo em conta que, no último século, em muitos países, a rentabilidade média do mercado accionista foi superior a 5% ao ano em termos reais, pareceria relativamente fácil viver com 1,5% (3 milhões de euros/ano) e ver o capital crescer 3,5%/ano. Ou até mais, pensando que se poderia, com algum bom aconselhamento, ter uma rentabilidade um pouco superior (as universidades americanas conseguem habitualmente excelentes rentabilidades nos seus fundos de pensões e reservas para investimento).
Mas, na vida real, a fortuna vai-se esvaindo enquanto que, na idade média. os senhores feudais passavam a sua fortuna (terras) de geração em geração durante séculos (sem divisão, herdavam os filhos varões). Ou pelo menos é esse o mito (no centro da Europa as guerras e conquistas eram frequentes e, mesmo dentro de alguns países, não era muito raro um nobre conquistar o castelo de outro e ficar com as suas terras).
Gerações de tontos (os mesmo medianamente inteligentes), preguiçosos, despreocupados, drogados, doentes ou roubados significam que a fortuna vai para outro lado.