A realidade que eu conheço é um pouco diferente e não sendo representativa é com nela que me baseio visto que beneficiam de ajustes no vencimento que é transversal a toda a classe. Foi por isso que fiz a distinção entre a velha e a nova guarda, pois são situações completamente diferentes. Posso dar-te por como exemplo que reformou-se à 2-3 anos um médico que saiu com uma reforma de valor a rondar os 5k como chefe de serviço. E os colegas sem estar no topo da carreira com aproximanademente menos uma dezena de anos de serviço, com exclusividade e 42h tem rendimenos mensais a rondar os 4k.
Também veio parar-me à mão momentâneamente por engano um recibo de valor bruto superior a 6k. Aliás na altura da introduçao do estatuto epe na unidade onde trabalho vaŕio médicos saíram do quadro da função pública para um regime de cit com aumento bem generoso no vencimento. Situação que não foi acompanhada noutras classes profissionais, mas compreende-se que nas outras existe desemprego. Para além disso quando entrou em vigor o regime de 40h da função pública foram a única classe na saúde que passaram a ter possibilidade de passar para as 40h mas com o aumento respetivo no vencimento. Esta foi a verdadeira razão qu esteve por detrás da greve que uniu os 2 sindicatos. É natural com estes factos que quem está de fora olhe para estas notícias com um sorriso amarelo, porque sabe ao que vem. Mas concordo que a carga fiscal é excessiva e isso verificou-se bem com a taxa em vigor até Maio, em que grande parte do que se trabalhava em horas extra ia para o bolso do estado, senti isso na pele.
Não é lógico comparar o preço hora com uma empregada usando como valor base o líquido, eu sei que existe essa tendência, também ouvi esse comentário ao vivo. Aliás muitas empregadas domésticas não fazem descontos. logo ainda envieza mais a comparação.
A velha guarda reforma-se com base nas reformas antiga na maior parte da carreira contributiva e só uma pequena parte nas novas. Para somar a isso (e já expliquei isso), basta pensar que em termos de vencimento, recebiam +50%, mais as horas extraordinárias pagas a, no minimo, uns 50€.
Quanto aos 4K€ de vencimento actualmente é impossivel sem ser com horas extraordinárias.
Basta ver que para 42h (portanto com exclusividade), chefe de serviço e na 3ª posição, o vencimento bruto é 5.664,87 € - isto é o topo do topo da carreira.
Basta fazeres 50% em impostos (e é bastante mais) que fica reduzido a 2800€.
Até vou fazer o exercicio:
Nova remuneração total ilíquida mensal (corte de 10%): € 5.098,38
Indo à tabela de retenções: 33,5%
SS: 11%
ADSE: 3,5%
Total: 48%
Liquido: 2650€
Ou seja, de um salário bruto pré-corte de 5600€ e pós-corte de 5100€, fica com 2600€ liquidos. Nem de perto nem de longe os 4000€ que referes.
Mais, como escreveste, e muito bem, não são todos que chegam a Chefe de Serviço... é preciso o anterior sair ou abrir um novo serviço - a grande maioria dos médicos nunca chegará aqui. Como vimos, 4000€, só se for nos bons sonhos...
Quanto aos CITs, há para tudo - mas normalmente são inferiores aos valores da carreira (e há muitos à espera de passar para a carreira médica) e, não têm carreira: i.e. o que recebem agora é o que vão receber daqui a 200 anos, se não mudarem o tipo de contrato. Se quer saber quanto recebem e tem acesso aos valores, rapidamente consegue ver quanto é que os CITs realmente recebem e quantos CITs há de cada um. Mais, compare os CITs com os valores do internato - é que os CITs oferecidos aos recem-licenciados nem sequer estavam a chegar ao valor do pago no internato.
Note-se que os CITs mais generosos não foram oferecidos por "dá cá palha" - esses CITs foram para convencer certos médicos (e casos mais especificos) a ficar a trabalhar para o SNS, uma vez que são "únicos" a fazer esse tipo de serviço no SNS. Não se oferecia um CIT de 5000€ ou 6000€ a um internista (especialista em medicina interna), obviamente ou a um cirurgião geral sem qualquer dominio numa área especifica. Outra forma que existia para não os fazer sair era fazer com que os médicos do serviço formassem uma empresa e contratar a empresa para fazer os serviços - isto era bastante comum na radiologia. Desta forma, o hospital pagava menos do que o custo que seria enviar um doente fazer fora o exame (pagar o exame e a ambulância) e tinha alguém que trabalhava já no próprio hospital. Claro que foi o método inventado para evitar pagar tudo lá fora, uma vez que esses médicos não estavam disponiveis para fazer trabalho extraordinário no hospital por 20€/hora quando recebem mais do quadruplo disso fazendo o mesmo no privado.
Quanto à greve é falso o que escreveste. "Para além disso quando entrou em vigor o regime de 40h da função pública foram a única classe na saúde que passaram a ter possibilidade de passar para as 40h mas com o aumento respetivo no vencimento.Esta foi a verdadeira razão qu esteve por detrás da greve que uniu os 2 sindicatos."
1º o acordo dos sindicatos para a subida para as 40h foi bem antes do que a subida para as 40h/semana. Note-se que com a subida para as 40h, subiu também o número de horas na Urgência (mais 6h/semana), o que corresponde a poupança dessas 6h em termos de horas extraordinárias. Note-se que nenhum médico deve sair um dia do hospital sem ver os seus doentes que se encontrem em internamento (não conto com os casos sociais e os pré-alta que só lá estão à espera de um exame). Ou seja, o trabalho de enfermaria continuou a ser feito e a ser o mesmo (talvez com menos qualidade) e foram ganhas 6h de urgências.
2º Mais, o MdS garantiu a passagem de todos os CITs para a base da carreira (independentemente de já terem trabalhado 5 ou 7 ou 10 anos) nessa altura a quem solicitasse, e que isso seria feito ao ritmo da possibilidade do hospital.
3º a subida do ordenado das 35h para as 40h, representou uma subida de facto correspondente ao número de horas acrescentadas no horário - do ponto de vista bruto não é proporcional, mas quando lhe aplicas os impostos (e fiz isso na altura em que o acordo foi assinado), correspondia exactamente a uma manutenção € / h liquida.
4º os internos sempre trabalharam 40h (e que são de grosso modo a carne para canhão), logo só tiveram cortes no pêlo, tal como os outros todos.
Por fim, levaram em MGF muitos a mudar para USF modelo A - que corresponde a um bom aumento do ordenado, especialmente por prémios de produtividade... Note-se que essa subida implicava as 40h/semanais e listas de doentes muito maiores que as antigas. Para muitos, até foi bom, porque já tinham listas maiores do que deviam ter, pelo que em termos de trabalho a diferença não foi tão grande.
A piada começou foi qd começaram a impedir a criação de USF - A e a colocarem nas que existem objectivos irrealistas com alguns objectivos a 100%. Basta que haja, por exemplo, um Recem-nascido / criança que não faça 6 consultas até aos 2 anos de idade para que um dos objectivos não seja cumprido. Note-se também que agora tb já aparece um novo "padrão" que é o valor gasto em medicamentos e exames pelos doentes da USF por médico... advinha para que serve!
Quanto ao "comprar com as mulheres a dias" a comparação está bem feita. De facto, a mulher a dias recebe mais de 5€ (no Algarve andavam pelo 6,5€-7€/h) que leva para casa. Depois, normalmente quando querem descontar, pedem a um patrão para lhes pagar o SMN, para terem acesso a uma reforma. De se notar, que têm direito a SASE, abonos de familia, etc etc porque são "pobrezinhas". Eu coíbo-me de comparar os meus colegas com mulheres a dias quando o que eu pagar for igual ao mesmo que elas (basicamente zero) e as regalias forem iguais - se tiver as mesmas condições e receber de facto mais, aí sim, não faço a comparação directa. A partir do momento em que recebem mais que eu recebia por hora e têm apoios do Estado para um trabalho não menos nobre mas menos diferenciado, estando a receber tanto ou mais que eu estava, é licita a comparação. Mais, eu descontava bem mais contribuia bem mais que ela para pagar as suas idas ao hospital, à SS, ao SASE e cia... em troca de uma "talvez" reforma daqui a 36 anos.