Smog,
Ouve esta historinha: eu fumei durante 50 anos. Comecei muito novo e acabei muito tarde. Houve um tempo, estava nos trópicos, onde passei a fumar o divino tabaco de enrolar. Adorei. Formar o cigarro com os dedos aprende-se rápido. Era uma delícia, o tabaco, o tacto, e o que mais me encantava era, se parava em qualquer intricado problema a resolver e pousava o cigarro para mais alguns cálculos, ele esperava por mim: apagava-se, sem se consumir :). Maravilha! O cigarrinho era retomado exactamente no ponto em que fora deixado. De regresso à Europa, notei na travessia do canal da Mancha, vários "colegas" de cigarros de enrolar :). Mas em Portugal, "chapéu", nada ou pouco havia. Acabaram-se-me as últimas bolsas da marca que fumava e tinha aprovisionado: o Bison. Mudar de marca, nunca é a mesma coisa, o mesmo prazer. Mas não queria perder o gosto do cigarro mais pequenino, não-comercial, sem papel de chumbo... Tive de passar para outra hábito: adoptei os Definitivos. Numa entrevista de emprego para a CUF, cheguei mesmo a pedir licença para fumar. O administrador ficou entusiasmado quando me viu a sacar um Definitivos. Era um cigarro antigo e fora de moda, mas como todas as outras marcas, era d' A Tabaqueira, a fábrica de uma das áreas de negócio da CUF. E disse: «- Dê-me cá um desses mata-ratos que já não fumo há tantos anos!» :))
Mas, enfim, não era prático continuar a sonhar e desejar os cigarros de enrolar. Uma marca que era espantosamente saborosa era o Camel sem filtro, mas deixaram de importar, passou só a haver com filtro, todo o sabor se perdia. Só nos E.U., reencontrei o Camel sem filtro, delicioso, mas caríssimo!
Numa outra estadia nos trópicos - também só um ano, não mais - viciei-me no excelente dunhill, importado da África do Sul e barato. O inconveniente, foi em Portugal, onde era caríssimo, o mais caro de todos. Mas fumei-o. Com prazer. Foi a minha última marca.
Deixei de fumar de uma noite para o dia seguinte! Completamente. E já há alguns anos! Nunca mais fumei. Poupo por ano o suficiente para uma folgada viagem ao estrangeiro. No entanto, não obstante tal economia, nem por isso consegui passar a ir ao estrangeiro... Como dizem os economistas, isso de poupar no cigarro para gastar a viajar, só com a cláusula ceteris paribus :))
Mas, digo-te, não deixei de fumar por qualquer magia de força de vontade. Balelas, isso da força de vontade. Deixei de fumar porque desintoxiquei. Nunca senti vontade. Talvez, durante a 3ª semana sem fumar andasse um bocadito irritado, mas nada de especial e passou. Adquiri um hábito novo e tão estúpido como fumar: durante 3 anos fiz sudoku's! Uma estupidez. Igualzinho à estupidez da meditação dependurada num cigarro! lol. Mas, também, o sudoku me passou, e larguei-o definitivamente, há já muito tempo.
Nunca imaginei que deixar de fumar fosse tão fácil! E era grande fumador. É simples, não apetece. E há uma coisa que um meu irmão, também ex-grande fumador, me dizia e tinha e tem razão, e eu digo o mesmo: «Olha, eu, sem fumar, consigo fazer tudo o que tu fazes!» :)) Bem verdade. Incluindo as pausas de não fazer nada. lol
post-scriptum: - Há um detalhe que se calhar foi importante. Deve ter sido. Eu estive internado com soro um dia e meio, e um cunhado meu, médico, resolveu colocar-me aqueles adesivos de nicotina na pele. Usei-os em doses decrescentes, em três fases, durante, já não me lembro, mas algo entre 1 mês e meio e dois meses, o máximo. Acho que foi isso que me desintoxicou. No entanto, no passado anterior já havia tentado os adesivos, mas além deles, continuava agarrado ao cigarro. O dia e meio a soro, deitado, talvez tenha sido determinante. Eu sei que 24 horas sem fumar já correspondem a uma importantíssima desintoxicação dos pulmões. Um mês, então, é uma limpeza de mais de 50% dos pulmões. Depois, simplesmente não se precisa de fumar. Porém, é arriscado infringir a abstinência. Porque, o organismo lembra-se da volúpia do tóxico