eu sou filho, neto e bisneto de professores "publicos" e andei no público, logo parece-me um bocado generalização sem fundamento objectivo. Não sejamos mais papistas que o papa.
Eu não estou a generalizar. Estou a citar casos concretos e reais de pessoas que defendem a escola pública como sendo boa e cujos filhos não andaram na escola pública. Maior hipocrisia não há. E não me refiro à hipocrisia de eles próprios pagarem para ter uma coisa melhor do a boa escola pública, mas à de não aceitarem que as pessoas tenham idêntica liberdade de escolha, com custo idêntico para o estado, e impedirem a competição de escolas uma com as outras, sejam elas públicas ou privadas.
mas eu defendo uma contribuição X para cada aluno. Se os pais querem gastar mais que esse valor, que paguem a diferença. Mais igualitário que isto, é complicado.
quanto ao hospital da luz e quejandos, é natural que o façam... qd preciso de algo que sei que é melhor no privado, vou lá à procura, mesmo que pague 600€ por uma ressonância, como me aconteceu quando precisei de uma e a lista de espera para "urgentes" num dado hospital publico, era de apenas 6 meses (podia ter colocado uma cunha, mas pensei que estaria a tirar o lugar a outro "urgente" que provavelmente já estaria à espera os ditos 6 meses)... Qd um familiar meu teve um cancro no rim, também mandei para o privado, no sitio onde se tiram as melhores ressonâncias para o sistema renal em lisboa. No entanto, para a cirurgia, fui à procura do melhor sitio para o fazer, que por acaso era no público (aliás, grande parte das grandes cirurgias são melhores no público).
Assim, não defendo muito essa ideia de "o privado é que é bom" (aliás, já aconteceu um amigo ir à Luz e sair de lá com o diagnóstico e o tratamento errado e prejudicial)... Acho que a pessoa deve tentar informar-se onde é o melhor e o estado comparticipar X pelo tratamento. O resto ou paga o seguro ou a pessoa.
Moppie, isso funciona quando não ganhas 600 euros por mês e/ou quando tens um sibsistema qualquer tipo ADSE. Caso contrário sujeitas-te a tudo o que o público te ofereça e para onde, até agora, te mandavam fazer a consulta ou a cirurgia.
O que é hipócrita é ver gente a dizer que o sistema de saúde público é muito bom mas quando precisa de ir ao otorrino não vai ao médico de família e não fica à espera de ser referenciado. Vai é logo ao hospital da luz e resolve o problema porque sabe o que o muito bom do público é uma m* em demora.
Eu tenho um amigo meu que está há 8 meses à espera de uma consulta de ortopedia. Se calhar não é urgente. Mas se 8 meses é um sistema muito bom para um não urgente vou ali e já venho. E casos destes são mato no SNS. Otorrino e cardiologia é para esquecer aqui na minha zona.
Já agora, por curiosidade, o que é queres dizer com "No entanto, para a cirurgia, fui à procura do melhor sitio para o fazer, que por acaso era no público". Mesmo que descobrisse o melhor sitio e médico como é que uma pessoa normal conseguia ir para lá ? (sem cunhas, obviamente).
Basta enganares o sistema e dares uma morada associada ao hospital de referência OU seres referenciado pelo hospital em que estás a ser seguido (no caso em apreço, disse ao médico assistente que a justificação para o envio era simples: cirurgia complicada, com taxa de mortalidade não desprezivel e onde o centro de referência nacional é o Hospital Y. Naturalmente, tenho alguma vantagem sobre o "Zé", porque tenho uma noção de onde a cirurgia tem uma maior probabilidade de sucesso. Mesmo assim, não se safou de passar um mês nos cuidados intensivos). Não foi preciso qualquer cunha, foi apenas preciso ter conhecimento (e perguntar a colegas) sobre qual seria a melhor opção. O caso foi apresentado em reunião de decisão clinica multidisciplinar interhospitalar e foi decidido pela cirurgia no Hospital Y.
Acho que a partir de agora, basta pedires ao teu MGF para te enviar para o hospital que desejas.
Quanto ao teu comentário do sistema publico é muito bom - ele de facto o é. É capaz de ser o melhor da Europa em termos de resultados vs dinheiro investido... O outcome é geralmente bom, embora haja muitos erros médicos (nota que "erros médicos" são terceira causa de morte nos EUA e em quase todos os países da UE não deve ser muito diferente).
Sim, as listas de espera em determinadas especialidades são uma brutalidade. Mas de quem é a culpa? Um exemplo simples é o de radiologia. Decidiram que os médicos radiologistas não podiam ter contratos nos hospitais onde tinham vinculo. Pagavam algo à volta dos 40€/h (brutos) ao radiologista para lá estar e muitos ficavam por lá por inércia (sabiam que podiam ganhar mais no privado, mas estavam contentes de trabalhar no público e do contacto do dia a dia com a realidade hospitalar. Deram-lhe a opção "ou ganha €20/hora ou temos de "let you go"". E o radiologista foi-se embora... para a clinica privada a ganhar os €20 brutos por uma ecografia que faz em 10 minutos. O mesmo podes dizer às outras especialidades, tais como dermatologia, cardiologia, anestesiologia (que passaram a ganhar 10x mais no privado), etc. E o mais engraçado é que o hospital, por falta de capacidade, passou a gastar o quintuplo do dinheiro pois teve de passar a mandar os doentes para serem vistos por radiologia no privado. :')))
Depois tens as consequências, como os radiologistas sairam, o serviço deixou de ter idoniedade para formação de novos especialistas - o que significa que para ires buscar novos radiologistas é mais complicado, porque a) ng quer estar num serviço sem colegas mais experientes para aprender, b) ng quer estar num serviço sem internos para ajudar e "puxar" pelo conhecimento e obrigar a estar sempre em cima das novidades, c) ninguém quer estar ao fim de 5 ou 6 anos de especialidade a mudar-se para outra terra e outro serviço quando já conhece o pessoal no serviço onde se formou e onde é necessário; d) ninguém quer ir para um hospital em que não se conhece ninguém (i.e. as pessoas ao longo da especialidade encontram e lidam com outros internos que estão em formação nesse local e, naturalmente criam rotinas de trabalho...)
Eu tenho um amigo meu que está há 8 meses à espera de uma consulta de ortopedia. Se calhar não é urgente. Mas se 8 meses é um sistema muito bom para um não urgente vou ali e já venho.
Depende do que ele tem e do que há à frente dele. Quando os recursos são limitados e a procura é elevada, arriscas-te a que isto aconteça. Mas para teres uma noção, também não é normal teres lista de esperas em verdes de 20h, como aconteceu em vários hospitais do país. Motivo: pessoas que vão para lá atravancar o sistema. Como eu apanhei uma vez, doente trazida pela filha há umas horas à espera no Serviço de Urgência porque "as unhas da mãe estavam brancas desde há uma semana" (bela urgencia, hein?). Demorei 1 min e uma pergunta a descobrir porquê e 14 min a explicar à filha que o motivo das unhas ficarem brancas é porque os novos sapatos da mãe apertavam-lhe os dedos à frente enquanto ela insistia que a mãe devia fazer um raio x às unhas. Ou seja, a filha em vez de pedir desculpa e sair envergonhada por ter ido a um serviço de urgências por algo ridiculo, ainda teimava que tinha razão e que tinha de fazer raio x às unhas (lol). Ao mesmo tempo, os nossos sistemas informáticos são de partir o coco a rir. Não é muito natural que demores 5 min a fazer uma consulta e 15 min a escrever a história e a passar exames.
Para te dar um exemplo, vê a imagem seguinte e imagina que no ecrã está uma receita que acabaste de passar por exemplo de paracetamol.
Aparece-te aquela parte de baixo com o OK. Se carregares no OK... tens de começar tudo de novo
))))) Porquê? Porque o sistema assume a prescrição, mas não a imprime. Antes de carregares no OK tens de ir ao botão da impressora e selecionares "imprimir receita para o exterior" e só depois é que podes dar o OK. Nota que para preencher a receita tiveste de carregar no OK prái umas cinco ou seis vezes... carregas a sétima e *puff" toca a voltar ao inicio! E também tens de ter a certeza que a impressora vai imprimir porque se ela falha por algum motivo, tens de andar às voltas outra vez. Ah... e quando o sistema falha, como foi tudo obrigado a ser digital e não há sistema de backup, tudo pára e o que é emergente é passado em formulários adaptados pelos médicos lol... mas é só a parte de imagiologia, porque nos nossos hospitais, os serviços de análises clinicas não conseguem processar os pedidos sem o sistema estar a funcionar. : ))) .
Outra interessante é os diagnósticos de saída, que são tão complicados de codificar, que o pessoal da cirurgia literalmente goza com aquilo e escolhe a codificação de diagnóstico de "acidente com nave espacial" para muitos diagnósticos da treta. Porque para codificares algo do género "unha encravada", tens de procurar quais as palavras que usaram para o termo "unha encravada" e depois ainda te aparece qual o dedo, o tipo de encravamento, etc. e se carregas no OK antes de tempo... tens de voltar tudo atrás e voltar a escolher as opções todas.
Por fim, e em MGF, cada centro de saúde tem o seu programa (e os programas não são compativeis entre si)... e com alguma regularidade, os programas crasham e dão erro. Claro que o natural seria telefonar ao apoio do programa - só que os mesmos não dão apoio porque alguém deixou de lhes pagar as licenças (por falta de fundos ou de autorização)
Enfim ... chega de off-topic