O cantor e as suas bailarinas, podem ir comprar uns sapatos (se as bailarinas comprarem tacões altos acho que a medida fica totalmente validada! ) ou podem ir à padaria. E o padeiro pode comprar sapatos também.
Ainda que seja assim, estamos a dizer que a bailarina, o cantor ou o padeiro têm mais direito ao par de sapatos do que quem ganhou realmente o dinheiro e foi forçado a abdicar do par de sapatos compulsivamente.
Isto é bastante imoral porque não estamos a falar de funções essenciais do estado (embora às vezes me pareça que o Tony Carreira, o Manuel de Oliveira e os quadros do Miró são coisas sem as quais as pessoas não vivem - o Maslow é que não os conheceu quando criou a pirâmide )
Sim, realmente não são funções mesmo essenciais do estado (como seriam a justiça, segurança, saúde, educação).
Eu apenas defendo que o cantor ou a bailarina recebam caso consigam capturar capital estrangeiro. Eles vão colocar mais dinheiro no pool que está em circulação e o resto da população pode beneficiar disso. Logo eles são "peças" com uma função. Se for apenas "porque sim" não concordo (como já tinha dito anteriormente). Aí eles não estão (como disseste) a ganhar realmente o dinheiro. Agora se eles contribuírem para algo já não estamos a pagar "para nada". Mas repito e aí alinho contigo; não tenho ilusões, o processo é arbitrário, não tenho ilusões relativamente a isso.
No teu exemplo, quem abdicou de comprar os sapatos pode ter rendimentos com base num negócio que funciona (em parte) com os impostos colectados da bailarina e do cantor.
Só sou favorável quando usado com critério.
A questão é que a vida em sociedade (pelo menos por enquanto e com o enquadramento que temos) vai precisar sempre dum governo e de regras (em que grau, funções, etc é que é o cerne da coisa).
E isso no fundo acarreta sempre opções.
Mesmo uma ausência de acção ou legislação é uma opção (e atenção eu não estou a criticar, em muitas situações pode ser perfeitamente válido).
Um governo, que por exemplo, não legisla a produção e utilização dum composto tóxico (produzido pela empresa A). Vamos imaginar que esse composto é cancerígeno. O capital público é que irá suportar essa ausência de legislação, gastando uma enormidade de dinheiro em tratamentos (via SNS) e no pagamento da baixa médica. Temos também o facto de a empresa que paga o funcionário ficar prejudicada e com o rendimento afectado (a empresa pode ser privada, vamos chamar empresa B).
A ausência de legislação neste caso beneficiou a empresa A, os seus empregados (e os acionistas, caso seja aplicável).
As farmacêuticas que fornecem a medicação beneficiam, bem como os fornecedores de material hospitalar (e os seus empregados e acionistas), mas por outro lado têm que pagar impostos para sustentar o SNS, mas no final o saldo deve ser positivo.
A empresa B e a população geral é basicamente apenas penalizada. Paga impostos para sustentar o gasto do SNS (e ainda pode ficar doente).
Logo as interações são complexas e até a ausência de intervenção pode não ser neutra.