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Autor Tópico: Portugal falido  (Lida 3444197 vezes)

Reg

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Re: Portugal falido
« Responder #21980 em: 2024-03-22 16:32:43 »
quando o jogador nem aparece para chadrez  sequer, nada nasce nas terras conquistadas

so estados falhados e corruptos

nos ultimos 50 anos americanos   e franceses etc fazeram estados


mas nem um unico e estado de geito... ou aliados


pombos nao jogam...

fica dono terra sozinho com corruptos


poder pombos e deixar la terras onde nada nasce!
« Última modificação: 2024-03-22 16:47:59 por Reg »
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Re: Portugal falido
« Responder #21981 em: 2024-03-22 16:55:40 »
Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém


o Reino de Deus não haveria de ficar restrito apenas ao povo de Israel. Aquele era somente um estágio temporário que daria lugar a um novo estágio, um estágio final e superior do Reino de Deus.

Por isso os profetas profetizaram sobre a expansão do Reino de Deus sobre toda a terra, onde judeus e gentios haveriam de se juntar em total rendição e obediência a Deus, cujo reino jamais teria fim


Jesus declarou abertamente que nasceu e veio para ser um Rei  e seu reino era no ceu!



 Ele se referia às profecias desses profetas bíblicos sobre Seu retorno à Terra para estabelecer esse reino. Em Sua longa profecia em resposta a esta pergunta de Seus discípulos: “Qual será o sinal da Tua vinda e do fim dos tempos?” (Mateus 24:3, NVI), Ele descreveu a chegada de Seu reino divino na Terra para inaugurar uma nova era e acabar com todos os governos liderados por seres humanos com sua história de abuso, opressão, morte e destruição.



 disse que esse reino foi planejado “desde a fundação do mundo”. E o objetivo do grande plano de Deus para a humanidade é que todos recebam essa bênção — tendo um relacionamento próximo, amoroso e reverente com Deus — e herdem esse reino, que foi preparado para eles. E Jesus será o Rei desse reino. Jesus veio anunciar como podemos fazer parte desse reino — esse era o cerne de Sua mensagem de arrependimento e fé no evangelho



E tem mais profecias sobre esse tempo no livro de Isaías: “Gente de muitas nações virá e dirá: ‘Venham, vamos subir ao monte do SENHOR , à casa do Deus de Jacó. Ali Ele nos ensinará Seus caminhos, e neles andaremos’. Pois a lei do SENHOR sairá de Sião; sua palavra virá de Jerusalém. O SENHOR será mediador entre os povos e resolverá os conflitos das nações. Os povos transformarão suas espadas em arados e suas lanças em podadeiras. As nações deixarão de lutar entre si e já não treinarão para a guerra
« Última modificação: 2024-03-22 17:16:19 por Reg »
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Re: Portugal falido
« Responder #21982 em: 2024-03-22 17:19:15 »
Depois de milhares de anos de história humana marcada por guerras, violência e corrupção, Jesus Cristo liderará um enorme esforço de reeducação



para reino que existiu durante....1 civlizacao humana



Ciro, rei da Pérsia: O Senhor Deus dos céus me deu todos os reinos da terra, e me encarregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém
« Última modificação: 2024-03-22 17:20:28 por Reg »
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Re: Portugal falido
« Responder #21983 em: 2024-03-22 17:22:32 »
Mas o que tornará o governo de Deus na Terra diferente de todos os governos, reinos e impérios anteriores? Jesus descreveu esse contraste em uma gentil repreensão a Seus discípulos que, mesmo sabendo que Ele estava destinado a ser rei, estavam disputando egoisticamente posições de poder e prestígio. E o que Jesus disse a eles?

“Bem sabeis que pelos príncipes dos gentios [as nações do mundo] são estes dominados e que os grandes exercem autoridade sobre eles. Não será assim entre vós; mas todo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal; e qualquer que, entre vós, quiser ser o primeiro, que seja vosso servo, bem como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a Sua vida em resgate de muitos” (Mateus 20:25-28).

Jesus foi cirúrgico nesse momento de ensinamento. Os discípulos dEle sabiam muito bem como os governantes romanos e seus lacaios eram abusivos e corruptos. Assim como muitos funcionários do governo hoje em dia, pois muitos deles usaram seus cargos para enriquecer-se enquanto “serviam” ao povo.
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Re: Portugal falido
« Responder #21984 em: 2024-03-22 17:25:18 »
Jesus deixou claro que Ele e aqueles que O seguem — e que governarão com Ele quando o Reino de Deus for estabelecido na Terra


jesus  nao veio jogar chadrez


odo aquele que quiser, entre vós, fazer-se grande, que seja vosso serviçal; e qualquer que, entre vós, quiser ser o primeiro, que seja vosso servo, bem como o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e para dar a Sua vida em resgate de muitos”.
« Última modificação: 2024-03-22 17:26:38 por Reg »
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Re: Portugal falido
« Responder #21985 em: 2024-03-22 17:29:20 »
jesus era pombo


deixou terras romanas secas!


deixou  a terra sem fe nos romanos e seus lacaios



prova   e homem branco esta sempre espera fim imperios! ate hoje


senados e imperios ate hoje estao sempre espera do fim!

por causa do pombo  !
« Última modificação: 2024-03-22 17:39:19 por Reg »
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Re: Portugal falido
« Responder #21986 em: 2024-03-22 21:44:39 »
1914, a Primeira Guerra Mundial, não foi uma guerra de nações, e sim de blocos de nações imperialistas e industriais.


com um pombo na servia!


, não restam dúvidas entre os historiadores de que os responsáveis pela morte do arquiduque – o núcleo do generalato sérvio, apoiado pelo emissário imperial russo em Belgrado – queriam eliminar o sucessor ao trono, cujo objetivo era integrar na sociedade imperial os insatisfeitos grupos étnicos eslavos da monarquia. Desta forma, seria evitado o perigo de uma ruptura dos territórios sulinos, ou seja, a Eslovênia, Croácia, Dalmácia e Bósnia.

A declaração de guerra que deflagraria o primeiro grande conflito mundial foi feito pelo Império Austro-Húngaro à Sérvia a 28 de julho. Foi a primeira de uma série, que acabaria envolvendo toda a Europa.


Seu objetivo foi evitar que se concretizasse a ideia de Francisco Ferdinando, que queria aumentar a influência dos eslavos em detrimento dos húngaros.


Francisco Ferdinando foi morto a tiros, a curta distância, enquanto passeava por Sarajevo. A visita era uma tentativa do império, com sede em Viena, de demonstrar força na capital bósnia.
« Última modificação: 2024-03-22 22:03:07 por Reg »
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Re: Portugal falido
« Responder #21987 em: 2024-03-22 21:59:39 »
   trocou os hungaros

pelos eslavos do sul



trocou catolicos hungaros pelos ortodoxos  balcas


resultado foi guerra


bosnia tem  50% islamicos 30% ortodoxos


demonstrar força na capital bósnia !!!!
« Última modificação: 2024-03-22 22:32:33 por Reg »
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Re: Portugal falido
« Responder #21988 em: 2024-03-23 00:19:19 »
o que  e estado islamico

gaijos nascem em franca e inglaterra!


mercenarios...ou gaijos de fe!


mais parecem mercenarios



 ao contrário da cobertura dos noticiários, a maior parte das vítimas de atentados são mulçumanos. "Quando acontece atentado em alguns países chama a atenção, mas é regular, cotidiano em outros lugares


A primeira coisa é a origem do Estado Islâmico. A gente não pode tirar da questão. Como todo mundo sabe, a Arábia Saudita e, indiretamente, os EUA, além da própria França e da Inglaterra estiveram envolvidos na criação do Estado Islâmico. Era um pequeno grupo dentro da Al Qaeda e passou a ser abastecido com armas e inteligência durante todo esse tempo. O livro do jornalista Patrick Cockburn cita fontes e documentos mostrando isso.

Há outra questão, simples e objetiva. O que os EUA e a França têm a ver com o conflito na Síria ou no Iraque? As grandes potências assumem a responsabilidade por uma série de conflitos no mundo. Ao assumir, intervêm e se tornam alvos. Deixar de ser alvo é deixar de interferir.

Veja o caso da Turquia. O país, inicialmente, apoiava o Estado Islâmico, já que era conveniente que ele lutasse contra, de um lado, os curdos e, de outro, o Assad. De um ano para cá, a Turquia mudou de postura em relação ao Estado Islâmico por pressão norte-americana. O que aconteceu? Se tornou alvo do terrorismo.


Todos esses atores estão envolvidos. Infelizmente, o terror, ao invés de atacar forças militares e governamentais, atacava os civis desses países, que são as principais vítimas.

Há uma certa ambiguidade em relação ao Estado Islâmico então? Por isso ele conseguiu se expandir tanto?


Os jornalistas mais confiáveis dizem que a Turquia e Israel compram petróleo do Estado Islâmico. Essa é outra questão: como ele se mantém? Como compra arma, mantém um território do tamanho da Jordânia, exerce uma administração sobre seis milhões de pessoas? Essas coisas precisam ser investigadas, mas ninguém olha para isso.

Por que as potências mudaram de postura em relação ao grupo?


É aquela questão clássica: você apoia quando é pequeno, quando cresce e se torna tão poderoso quanto você, passa  a ser inimigo.


80% dos mortos, vítimas de terrorismo, são islâmicos e estão em cinco países: Síria, Iraque, Paquistão, Nigéria e Afeganistão. Se pegarmos o histórico, na França, se não me engano, da década de 50 até hoje, morreram 1.800 pessoas em ataque terroristas. Nesses países, morre esse número por mês.

Quando acontece atentado em alguns países chama a atenção, mas é regular e cotidiano nesses outros lugares.

Saddam era um ditador, um dos piores que já existiu. No entanto, até 2002, nunca tinha havido um atentado no Iraque.

Há também um exagero da ameaça do terrorismo. No Brasil, morrem 55 mil pessoas assassinadas por ano e se discute Estado Islâmico.




« Última modificação: 2024-03-23 00:34:30 por Reg »
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vbm

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Re: Portugal falido
« Responder #21989 em: 2024-03-23 08:54:01 »
Para lá da factualidade descrita
e da análise genética elaborada,
qual é a finalidade pretendida?

Reg

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Re: Portugal falido
« Responder #21990 em: 2024-03-23 10:30:35 »
não vão pousar as armas sem receber algo em troca.

estes lutam e pelo reino da terra!


merica....Passámos de 200 anos de Doutrina Monroe e intervenção profunda para liderar à distância”
« Última modificação: 2024-03-23 11:00:15 por Reg »
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Re: Portugal falido
« Responder #21991 em: 2024-03-23 11:04:42 »
https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5d/Territoires_de_l%27Etat_islamique_juin_2015.png


este mapa do estado islamico parece a babilonia !  onde nasceu civilizacao do deus unico


estado islamico nao ataca judeus!
« Última modificação: 2024-03-23 11:15:04 por Reg »
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Kaspov

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Re: Portugal falido
« Responder #21992 em: 2024-04-08 21:23:13 »
Em El Salvador há bons critérios para atraír imigrantes:


«"How To Make A Country Great": El Salvador's President Offers Free Passports For Highly-Skilled Workers

Tyler Durden's Photo

by Tyler Durden

Monday, Apr 08, 2024 - 09:15 AM


If you're curious about effective legal immigration measures, here's a good example: Nayib Bukele, the President of El Salvador, has extended an offer of 5,000 free passports for highly skilled professionals. This announcement was made on X on Saturday evening:

    We're offering 5,000 free passports (equivalent to $5 billion in our passport program) to highly skilled scientists, engineers, doctors, artists, and philosophers from abroad.

    This represents less than 0.1% of our population, so granting them full citizen status, including voting rights, poses no issue.

    Despite the small number, their contributions will have a huge impact on our society and the future of our country.

    Plus, we will facilitate their relocation by ensuring 0% taxes and tariffs on moving families and assets. This includes commercial value items like equipment, software, and intellectual property.

In the US, radical progressives in the White House, along with a complex web of taxpayer-funded non-governmental agencies, have facilitated the border invasion of more than ten million illegal aliens. It's evident that limited to no vetting of these migrants, unlike El Salvador - who wants only the best and brightest the world has to offer - is to appease their corporate donors with cheap labor, as well as the possibility of influencing the Census to push more Electoral College votes to Democrats.

Referring to Bukele's sound immigration plan, Tristan Tate said, "Now THIS is immigration done right!"

"El Salvador's immigration laws are based on common sense, meritocracy, and designed to meet the needs of the country. The US invites countries to empty out their prisons and mental institutions, and send them their worst," one X user said.

    This is how you make a country great.

    Meanwhile, the United States of America makes it impossible for people like this to get in but rolls a red carpet out for everyone who has a criminal record.
    — Joey Mannarino (@JoeyMannarinoUS) April 6, 2024

Another X user said, "This is how you make a country great. Meanwhile, the United States of America makes it impossible for people like this to get in but rolls a red carpet out for everyone who has a criminal record." 

Bukele isn't a genius. He just has common sense, unlike radical progressives who are dooming entire nations across the West through disastrous policies.»


https://www.zerohedge.com/geopolitical/how-make-country-great-el-salvadors-president-offers-free-passports-highly-skilled
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Re: Portugal falido
« Responder #21993 em: 2024-04-13 20:50:08 »
Não parece má ideia... pelo menos para mim, q não gosto nada de despesa pública e duvido mto da eficácia da intervenção do Governo na economia...   ;D


«Política

Governar em regime de duodécimos divide economistas

Mira Amaral reconhece que é uma solução que agrada a quem ‘não gosta de despesa pública e duvida da eficácia da intervenção do Governo na economia’. Já Luís Aguiar-Conraria diz que vive ‘muito bem com duodécimos’ e que um retificativo tiraria pressão ao PS para aprovar o Orçamento de 2025.

Sónia Peres Pinto

13 de Abril 2024

às
14:01

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Governar em regime de duodécimos divide economistas
Bruno Gonçalves

Com a geometria parlamentar saída das eleições de 10 de março, a hipótese de Portugal ser governado no próximo ano em regime de duodécimos tem vindo a ganhar terreno, até mesmo no PSD. Um cenário possível caso a proposta de Orçamento do Estado para o próximo ano seja chumbada no Parlamento, o que cria algumas reservas e divide opiniões junto dos economistas ouvidos pelo Nascer do SOL.

Luís Marques Mendes – que deu o tiro de partida para esta hipótese – já veio afirmar que «é uma má solução», lembrando que um chumbo em 2025 iria provavelmente repetir-se no ano seguinte. «Na prática, o país viveria dois anos em regime de duodécimos. Sem Orçamento durante 2025 e 2026. Até porque, de 9 de setembro de 2025 a 9 de março de 2026, o Presidente da República não pode dissolver a Assembleia da República», acrescentando que seria «um desastre político para o Governo», que ficaria «num pântano, fragilizado e de mãos atadas» – face à expectável pressão de alguns setores, a começar pelos funcionários públicos.

Ao nosso jornal, Luís Mira Amaral diz que, em termos constitucionais, o facto de um Orçamento ser chumbado não implica necessariamente que o Parlamento tenha de ser dissolvido, cabendo essa decisão ao Presidente da República, embora admita que «não seria desejável».

Para já, Marcelo Rebelo de Sousa defendeu não passar de um exercício de futurologia comentar um cenário em que o Executivo terá de governar em regime de duodécimos, sublinhando que o Orçamento está em vigor há apenas quatro meses. «Isso é futurologia. Temos um Orçamento que está em vigor há quatro meses e já estamos a falar do que acontece daqui a oito ou nove meses», afirmou o chefe de Estado nesta semana.

Mira Amaral diz, no entanto, que esta solução é vista com bons olhos para quem «não gosta de despesa pública e para quem tem dúvidas da eficácia da intervenção do Governo» na economia. «Essa malta fica encantada com os duodécimos porque não se faz um puto e é maneira de não se poder gastar mais». Mas lembra que, nesse cenário, seria o Orçamento Retificativo a vigorar em 2025, que já irá contar com um aumento da despesa e, no seu entender, «bastante superior» ao que conta atualmente.

O economista não hesita: «Este não é um caminho técnico, é um caminho político. Os partidos e principalmente o PSD que formou o Governo fizeram promessas e têm de cumprir alguma coisa, caso contrário é um descrédito total».

‘Vivo bem com duodécimos’

Mais entusiasmado com esta solução está Luís Aguiar-Conraria. «Vivo muito bem com duodécimos. Achei um disparate Marcelo Rebelo de Sousa ter convocado eleições porque o PS não conseguiu aprovar o Orçamento de Estado, na altura, tal como achei agora um disparate ter andado a adiar as eleições para permitir que houvesse a aprovação do Orçamento», refere ao Nascer do SOL.

O economista recorda ainda que Portugal viveu neste regime quase seis meses, depois de António Costa ter ganho as eleições em 2022 com maioria absoluta. «Nessa altura, não houve problema nenhum. Entre o Governo tomar posse, apresentar o Orçamento, ir à generalidade e ser aprovado, ir à especialidade e voltar a ser aprovado passou-se praticamente meio ano».

Mas, para isso, defende que o Orçamento a vigorar teria de ser um Retificativo: «Se não houver Orçamento de Estado Retificativo, isso queria dizer que a AD estaria a governar em 2024 e depois em 2025 com um Orçamento do PS, e aí já me parece um bocado pesado».

Ainda assim, reconhece que o Governo teria menor margem de manobra, já que a flexibilidade aí seria muito curta. «No fundo, seria aplicar o Orçamento de 2024 mês a mês, em que não há flexibilidade de se poder aumentar a despesa todos os meses e algumas teriam de ser adiadas para o mês seguinte de forma a poderem ser encaixadas. Mas de certa forma obriga a não aumentar muito a despesa, o que é uma boa forma de controlar a despesa pública porque não se pode aumentar os gastos», acrescenta.

Pressão sobre o PS?

Luís Aguiar-Conraria diz também que, se houver um Retificativo, a governabilidade já não recai sobre um Orçamento aprovado pelo PS. E esclarece: «É o que foi aprovado pelo PS mas com a correções que a AD fizer. Por isso é que me parece que há tanta boa vontade do PS para aprovar o retificativo, pois assim retirar a pressão de terem de aprovar o Orçamento de Estado para 2025, daí a disponibilidade pela carta enviada».

Em causa está a disponibilidade, manifestada esta semana pelo secretário-geral do PS, Pedro Nuno Santos, para negociar um acordo que, em 60 dias,  permita encontrar soluções que valorizem as carreiras e os salários na Saúde, Segurança, Justiça e Educação. E, se necessário, materializá-lo através de Orçamento Retificativo. Luís Montenegro aceitou o repto do secretário-geral do Partido Socialista, afirmando que os dois devem agendar uma reunião «quando for oportuno», mas só depois de ouvir os setores.

Também Mira Amaral reconhece que em relação ao que se tem assistido em torno do comportamento dos partidos «não é possível fazer pressão sobre os líderes partidários, já que vão jogar em função da performance do Governo e da visão que a opinião pública tenha sobre o Governo». E acrescenta: «Se o Governo estiver a fraquejar é tiro e queda para o deitarem abaixo, mas se tiver criado uma imagem que a malta acredita então pensam duas vezes. Por aquilo que conheço, esse tipo de pressões não funciona para os líderes políticos, é musica celestial».

Quanto à revisão em baixa do crescimento da economia portuguesa pelo Conselho das Finanças Públicas (CFP), que antecipa uma desaceleração da atividade económica para 1,6% em 2024 (2,3% em 2023), seguido de uma recuperação para 1,9% e 2,1% em 2025 e 2026, respectivamente, o economista lembra que «o CFP aprecia do ponto de vista técnico orçamental, mas o Governo que entrou em funções comprometeu-se perante a opinião pública, por isso, alguma coisa vai ter de cumprir. E se há coisa que é evidente é que a despesa pública vai aumentar. O problema que tem é que não é uma despesa não recorrente, ou seja, fica para sempre. Mas isso não é economia, é política», conclui.

Outro risco apontado pela entidade liderada por Nazaré da Costa Cabral diz respeito à eventual não aprovação de legislação necessária à autorização dos desembolsos do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), devido ao novo quadro parlamentar, o que poderá penalizar a FBCF (formação bruta de capital fixo) projetada.

sonia.pinto@nascerdosol.pt»


https://sol.sapo.pt/2024/04/13/governar-em-regime-de-duodecimos-divide-economistas/
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Re: Portugal falido
« Responder #21994 em: 2024-04-17 02:49:23 »
Uma entrevista extraordinariamente interessante acerca do Portugal falido:

Passos Coelho sobre os anos da troika: “Era obrigatório ser bem sucedido”

Observador

https://www.youtube.com/watch?v=Al7tonWkFeU
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Re: Portugal falido
« Responder #21995 em: 2024-04-18 02:55:44 »
Uma entrevista muito interessante a um professor:


«Cultura
António Carlos Cortez. ‘Estamos a formar alunos para a delinquência’

A cumprir 25 anos de poesia, fala-nos da sua tripla condição de poeta, crítico literário e professor. Sentiu cedo a vocação para o ensino mas hoje diz-se desencantado. ‘Uma escola que não coloque as humanidades no centro não é uma escola, é uma fábrica’.

José Cabrita Saraiva
31 de Março 2024

às
12:09

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António Carlos Cortez. ‘Estamos a formar alunos para a delinquência’

Miguel Silva

No pequeno escritório onde conversamos só há espaço para uma secretária e duas cadeiras, porque tudo o resto está preenchido por estantes com livros, alguns deles edições raras, todos visivelmente manuseados, lidos, marcados com post-its. Há mais na sala, no quarto e até na despensa. «Não tenho televisão, recuso», diz-nos António Carlos Cortez. «Não gosto de modas. Lembro-me sempre de uma frase de Leopardi: ‘A moda é a mãe da morte’. Não tenho carro, não tenho carta de condução. Não sou casado, não tenho filhos. Concebi a minha vida assim, dedicada ao ensino, à literatura, à investigação literária».

Licenciado em Estudos Portugueses, estreou-se há 25 anos na poesia. Terminou por estes dias a sua tese de doutoramento, sobre o Mal na obra do seu amigo Gastão Cruz, poeta e crítico falecido em 2022, e acaba de publicar pela D. Quixote Um Canto na Espessura dos Textos – Leituras da poesia de Nuno Júdice.

Mas o que nos traz a sua casa hoje, mais do que a sua obra como crítico, ensaísta ou poeta, é a sua experiência como professor do ensino secundário. Recorda que em vinte anos apenas mandou um aluno para a rua e explica como consegue fazer com que os jovens se interessem por Camões.

Podes falar-me um pouco sobre estes livros?

Isto é metade da minha biblioteca, o equivalente a 7000 livros. E depois tenho mais uns 7000 na casa do meu pai, em Alvalade. Como sabes, fui livreiro da Bertrand, fartei-me de comprar livros com 50% de desconto…

Esse foi o núcleo inicial?

Não. Esta biblioteca tem duas… três origens. Esta edição, vê lá [passa-nos para a mão Páginas de Doutrina Estética, de Fernando Pessoa, com seleção e organização de Jorge de Sena], encontrei-a na rua. Isto diz muito do país. É uma edição raríssima. O Bénard da Costa perdeu a dele e fez nos anos 90 um artigo onde pedia a quem a tivesse que o contactasse que ele pagava o que fosse preciso. Em 95/ 96 eu trabalhava como coordenador de ação social na Junta de Freguesia de Benfica e ligaram-me porque tinham despejado um caixote enorme de livros, na Avenida Gomes Pereira. Peguei em sacos e lá fui. Ao mesmo tempo, tive um querido professor que me ofereceu também vários livros ao longo do ensino secundário. E depois dá-se um caso muito curioso, que é como adquiri esta coleção da Imprensa Nacional Casa da Moeda.

Queres contar?

Sou filho de pais separados e fui criado pelos meus padrinhos de baptismo. A minha madrinha Antónia, de quem tenho muitas saudades, nasceu em 1926, e trabalhou na indústria conserveira. Não teve estudos nenhuns, era analfabeta. O meu padrinho Armando nasceu em 1925, era um homem da Voz do Operário e tinha uma boa biblioteca na Calçada do Tojal, onde eu vivi. Sucede que nessa mesma rua havia a mercearia da Dona Rosa. Como era típico nas mercearias nos anos 70/ 80, tinha dois pisos: o rés-do-chão era o comércio, e depois tinha no piso subterrâneo uma zona com galinhas, coelhos que ela esfolava para vender, etc., e uma divisão para os almoços. Nessa divisão havia um móvel, a cobrir toda a parede, com a coleção da Imprensa Nacional, porque havia um senhor que morava na rua que trabalhava lá e levava os livros repetidos para a Dona Rosa. Quando fiz o meu 12.º ano e fui para a faculdade, a Dona Rosa ofereceu-me a coleção. Portanto fui apanhado entre três fogos: o meu padrinho Armando, que era um homem culto, a coleção da Imprensa Nacional da Dona Rosa, e a formação na escola, porque tive a sorte de ter esse professor, José de Almeida Moura, a quem devo muitíssimo.

A experiência na Bertrand do Chiado também foi importante para a tua formação?

Foi fundamental. Trabalhei com gente muito boa. Alguns livreiros, que vinham dos anos 60/70, ainda se lembravam de ver lá o Aquilino Ribeiro. Fui livreiro durante seis anos, fiz o meu curso a trabalhar e a estudar. Foi óptimo, até porque não havia computadores e nós tínhamos de saber tudo de cor. A organização da Bertrand do Chiado, tal como está hoje, de certo modo foi a equipa com quem eu trabalhava que a fez. E tive a sorte de trabalhar também com o Eduardo Boavida, grande editor e livreiro, com quem aprendi muitíssimo. Ele percebia muito de livros e ouvia os livreiros que considerava que tinham sensibilidade para o livro. Isto enquanto estás a fazer um curso em Letras… Quando os meus colegas iam de fim de semana à sexta-feira, eu ia para a Bertrand do Chiado trabalhar até domingo. E foi muito bom.

Nota-se bem que estes teus livros foram lidos, estão cheios de marcas.

Tenho muitos defeitos, mas há um a que consegui escapar: gosto de trabalhar e de estar muitas horas a ler. E depois tive a sorte de me dar com uma geração de poetas a que à partida a nossa geração já não teria acesso. Fui amigo do António Ramos Rosa, por exemplo.

Como o conheceste?

Através da professora Paula Cristina Costa, que me perguntou um dia se eu gostaria de o conhecer. E se havia poeta que eu andava a ler nessa altura era o António Ramos Rosa. Tornámo-nos amigos, visitava-o com frequência, e ele em 2005 convidou-me para organizar um livro seu e para fazer um posfácio, o que para mim foi um marco. Depois a amizade com o Gastão Cruz e com outros poetas – o António Osório, o Nuno Júdice, a Ana Marques Gastão e a mais antiga de todas, com a Lídia Jorge.

Gastão Cruz é o tema da tua tese de doutoramento, que terminaste agora.

‘Figurações do Mal em Gastão Cruz’. Entreguei para revisão científica. Foram dois anos intensos de leitura mas escrevo sobre a poesia dele há mais de 15.

O facto de o teres conhecido dá-te um conhecimento mais íntimo da obra dele?

Dá, mas justamente por ser muito amigo dele tive dificuldade em arrancar para uma leitura distanciada e mais fria. Já com essa distância, posso dizer que é o poeta que melhor leu o nosso tempo, e que melhor leu a questão do trágico, do mal, do desespero e da morte nos últimos 40 anos. É um poeta de poemas breves, lapidares. Um pouco como Camões, consegue chegar a grandes sínteses existenciais. Tenho muitos versos dele na minha cabeça. Até isso acho que aprendi com o Gastão. Ele sabia muita poesia de cor e fez-me saber muita poesia de cor.

Tens mantido sempre a relação com a Academia desde que terminaste a licenciatura?

Fui mantendo. Porque também devo muito à universidade. E creio que a universidade portuguesa, ao nível da investigação, faz um trabalho extraordinário, com revistas, com sites, congressos, colóquios. Como professor, isso é fundamental. Fechar-me só no ensino, não ter um pé na cultura, não ter um pé na literatura, nas artes, para mim nunca fez muito sentido.

Tens experiência como professor tanto no ensino público como no privado. É muito diferente?

Tenho para mim que a formação de professores é extremamente pobre em Portugal. A classe docente…

Sai mal preparada?

Mal preparada, com poucas leituras, e vai exercer a profissão, muitas vezes, de forma meramente instrumental.

De forma burocrática?

Cumprir um horário de trabalho, dizer umas coisas, cumprir aspetos burocráticos e ter o ordenado ao fim do mês. A minha concepção de professor é completamente diferente – até por ter sentido a minha vocação de professor muito cedo, com 13, 14 anos. Apesar de algum desencanto que se abateu sobre mim nos últimos cinco anos, continuo fiel a essa ideia de que o professor, seja em que área for, tem de ser, por um lado, um leitor compulsivo, para poder dar aulas em que todos os saberes se podem integrar, e, por outro lado, alguém disponível para a investigação e para a descoberta de outras artes.

Esse desencanto resulta de algum acontecimento concreto?

Não. Resulta do congelamento das carreiras, dos salários baixos numa profissão que deveria chamar os melhores, da indisciplina geral dos alunos, do desinteresse manifesto de uma geração nascida já em tempo de digitalização, das consequências negativas da pandemia, a somar ao ambiente muitas vezes de delação, de perseguição, de controle…

Entre professores?

Tudo isso concorre para que haja um desencanto geral da maioria dos professores em Portugal. Desencanto e abandono. Estamos a hipotecar seriamente o nosso quotidiano para os próximos anos. Temos cada vez mais sinais de violência, desde logo nas escolas, e ninguém fala disto. Um ministro da Educação que se preze deveria ser alguém com conhecimento do país real.

Do que se passa nas escolas?

Ir às escolas sem aviso prévio, porque no dia em que vão fazer visitas às escolas está tudo bonito para receber o senhor ministro. O Robert Kennedy, em 68, fez visitas a bairros pobres de Nova Iorque e de outras cidades americanas, levando a imprensa atrás de si, porque se tratava, de facto, de mostrar o país real.

Quando falas de violência nas escolas referes-te a alguma coisa a que tenhas assistido?

Há um ambiente de ameaça permanente em relação aos professores. Conheço um pouco da realidade brasileira e há uns anos a minha editora de lá enviou-me alguns vídeos de como eram as aulas. Não é anarquia, é barbárie.

Mas isso no Brasil.

Nós estamos a caminhar para aí.

Quando dizes barbárie eram alunos em cima das mesas, a agredir professores…?

A completa ausência de disciplina, de saber estar, de querer saber, de envolvimento pedagógico. Vou falar de um exemplo óbvio. Será que as pessoas não se lembram do caso da Escola Carolina Michaëlis, no Porto, da aluna que se dirige à professora, tratando-a por tu? ‘Dá-me o telemóvel!’ e vem todo um rol de ofensas. Não se lembram?

Os telemóveis na escola são um problema?

A minha experiência de 20 anos foi sempre boa. Fosse por ordem da escola, fosse por os alunos saberem que eu não pactuo com isso, o telemóvel nunca foi problema. Mas tenho ido a muitas escolas onde não há a lucidez para proibir o telemóvel.

Ou a coragem…

A lucidez e a coragem. Estamos a falar de verdadeira dependência. De toxicodependência, porque aquilo é uma droga. E enquanto os sucessivos ministros insistirem na ideia de que a tecnologia, o digital, o computador, é que vai pôr as crianças e os jovens a escrever e a ler e a terem curiosidade, nós estamos simplesmente a mentir. A mentir-nos, mentir aos pais e, sobretudo, a mentir aos alunos.

É a própria escola que exige que os alunos trabalhem com o computador, é a escola que convida o ladrão para dentro de casa.

Isso tem de ser denunciado. Estive há um bocado em Colares num auditório com 50 alunos do oitavo ano. Logo ao início, disse-lhes: ‘Meus amigos, telemóveis não. E agora temos três hipóteses: ou isto vai correr bem, ou vai correr mais ou menos, ou corre mesmo mal. Eu quero que corra bem. E vou começar por uma afirmação. Estão-vos a roubar o futuro de cada vez que vos dizem que ser adolescente é ser mal comportado e ter uma ideia de liberdade que é o ‘eu quero, posso e mando’. Estão-vos a roubar a cultura e a imaginação’. Ouviram calados e no fim falámos, foi muito bom. Vou lá voltar.

Mas muitos professores não têm essa autoridade e perdem o controlo completo das turmas.

Muitas das pessoas que estão hoje no ensino – claro que também acontece noutras profissões – jamais se perguntaram: ‘O que é que eu gosto de fazer?’. Portanto vivem vidas infernais. O professor é a âncora da turma, é ele que faz com que os alunos se interessem ou se desinteressem. Faz com que haja disciplina ou com que aquilo seja uma rebaldaria. E está ali também para ouvir, para perceber as frustrações, os abismos de cada aluno.

Com turmas de 30 alunos é complicado ter essa abordagem individualizada.

Por isso é que a literatura é tão importante. Porque fala da condição humana. Quando eles leem Camões ou Cesário Verde, ou pensam sobre o problema da educação romântica n’Os Maias, que faz com que o Pedro da Maia se suicide, que faz com que o Carlos se envolva com a irmã, e responda ao Ega que não se arrepende de nada, nem mesmo de ser o causador da morte do avô Afonso, é aí que a literatura chega a 30, 40, 50 alunos. Porque joga com símbolos, joga com o enigma, joga com as grandes questões da condição humana. Só que a literatura, a história, a arte foram postas de parte. Está aí o resultado.

Ensinaste Camões?

Muito. Fiz Estudos Camonianos com o professor António Martins, estou permanentemente ligado a Camões.

Essa dupla condição de poeta e professor é-te útil para fazer com que os alunos gostem de Camões?

Espero que sim. Até por gostar daquelas formas fixas – o soneto, a redondilha… gosto muito de trabalhar isso.

Quando ensinas Camões sentes que os alunos se interessam? Não é algo demasiado distante?

Ninguém é bom juiz em causa própria, mas gostam.

Mais da lírica ou d’Os Lusíadas também?

Há um lado simbólico n’Os Lusíadas que é preciso dar a conhecer. Que viagem é aquela que o Gama faz à Índia? É uma viagem iniciática do sujeito à procura de si mesmo. Por que razão ele enfrenta o Adamastor no canto V? É um tópico da literatura clássica, o tópico da catábase, da descida aos infernos. O herói, a meio da vida, enfrenta o seu Adamastor. Quando lemos as estrofes e desmontamos a engenharia frásica de Camões, e relacionamos com esta ideia de iniciação, eles gostam muito. Camões é inesgotável. E as reflexões no Canto VII, estrofes 78 a 87, deviam ser lidas em todas as escolas.

Do que tratam?

É uma nova proposição, onde diz quem não vai cantar. Não vai cantar os que servem os seus apetites esquecendo o bem público; não vai cantar os que só usam as leis e as regras para explorar o povo; não vai cantar aqueles que, com mão rapina e escassa, exploram o povo e os trabalhos alheios que eles não passam. É, no fundo, o catálogo de injustiças sociais que nós estamos a viver hoje.

E há tempo para o professor dar esses conteúdos?

Eu sempre tive tempo. É uma questão de método. Os primeiros 45, 40 minutos, têm de ser de grande capacidade expositiva. E depois há uma segunda metade da aula em que eles têm de fazer coisas muito clássicas: ler, escrever, fazer cópia, ditar respostas. Mas a maioria escolhe o caminho mais fácil. Seguir manuais, que são um convite à preguiça e a aulas sempre desinteressantes. É pôr toda a gente no rolo compressor. Por isso é que os alunos, e com razão, dizem não gostar da escola. Eu tenho pena.

O que eu noto é que os miúdos estão muito tempo na escola e mas depois não sabem coisas elementares.

Porque as sucessivas reformas estigmatizaram, por um lado, a ideia do professor como alguém que sabe expor matérias, e, por outro, técnicas antigas de redação de texto. Compare-se o exame nacional de Português de 1997, que tem apenas duas perguntas, com a enxurrada de perguntas para mentecaptos dos exames nacionais dos últimos dez anos. O que temos hoje? Alunos que saem do 12.º ano, não sabem escrever, não leram nada, mas têm médias de 18, 19, 17. Estamos a mentir.

Encontra-se grandes calinadas nos testes?

Vi coisas em exame nacional impressionantes. Mas não fixei. Até porque acho que esses erros grosseiros são, no fundo, o espelho do péssimo ensino que há em Portugal. Insisto nesta ideia: uma escola que não coloque as humanidades e as artes de novo no centro do processo educativo não é uma escola, é uma fábrica. E continuaremos a ter alunos que são pouco menos que delinquentes. Estamos a formar para a delinquência.

A poesia e a docência são atividades que exerces de forma independente ou contaminam-se?

Há uma linhagem, por assim dizer, do professor que também é crítico, poeta, ensaísta, que é alguém que escreve, que pensa, que gosta de livros. E eu inscrevo-me nessa tradição. Vinte e cinco anos depois de me ter estreado na poesia e 23 anos depois de começar a fazer permanentemente crítica e ensaio, essa tripla condição de alguém que dá aulas, escreve poesia e escreve sobre a poesia dos outros é o que dá sentido e energia a um quotidiano difícil. Nunca ninguém em Portugal, salvo exceções, viveu dos seus livros. Eu não vivo dos meus livros. Mas também não sei se queria, porque gosto muito de ser professor.»


https://sol.sapo.pt/2024/03/31/antonio-carlos-cortez-estamos-a-formar-alunos-para-a-delinquencia/
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Re: Portugal falido
« Responder #21996 em: 2024-04-18 07:43:59 »
Perpassei os olhos pela entrevista.
Interessante. No fundo, toda a vida,
se algo nos prende a atenção, subtrai-nos
a outras experiências, a gama potencial
de possibilidades, 'colapsa', determinada
na vivência real, na qual acabámos
por vincar um sentido.

Kaspov

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Re: Portugal falido
« Responder #21997 em: 2024-04-25 01:41:52 »
+ 1 CdK com mto interesse:

PT
1:09 / 2:13:02

CdK |043| Nuno Palma: A História do País Explica-nos a Situação a que Chegámos?

https://www.youtube.com/watch?v=pgMdhrmtp2w
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Re: Portugal falido
« Responder #21998 em: 2024-04-25 04:27:46 »
Entrev. (parte I) mto int., acerca do 25 de Abril:


«Carlos de Matos Gomes. ‘O 25 de Abril é um ato também de disciplina’

Fez o curso de Comandos e aos 20 anos já liderava um grupo de combate. Fez três comissões – Moçambique, Angola, Guiné – e integrou o movimento dos capitães. Nesta primeira parte da conversa, que continua na próxima edição, recorda a sua experiência em África e as circunstâncias que levaram à revolução.
José Cabrita Saraiva
24 de Abril 2024

às
22:19

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Carlos de Matos Gomes. ‘O 25 de Abril é um ato também de disciplina’

Criado pelos pais com «uma grande liberdade», desde muito novo se habituou a assumir responsabilidades. Com apenas 12 anos, fugiu de um campo de férias no Norte de Espanha e andou uma semana por sua conta em Salamanca, vivendo de arrumar carros e engraxar sapatos, como conta no livro de memórias Geração D – Da ditadura à democracia (Porto Editora), agora publicado. Carlos de Matos de Gomes nasceu em 1946 em Vila Nova da Barquinha e estudou em Tomar, onde conheceu Salgueiro Maia. Desportista nato, fez natação, montou a cavalo, jogou hóquei e futebol. Depois da Academia Militar, entrou para o curso de Comandos. Entre 1967 e 1974 fez comissões em Moçambique, Angola e Guiné, onde se encontrava quando se deu o 25 de Abril, tendo participado em operações como a Nó Górdio e a Ametista Real. Integrou o movimento dos capitães, e, de regresso a Lisboa, decidiu que não voltaria a vestir o camuflado, mas o seu amigo Jaime Neves convenceu-o a ser fundador da unidade de Comandos da Amadora.

Também se tem dedicado à escrita. Sob o pseudónimo Carlos Vale Ferraz (que adotou em homenagem a um tio) publicou os romances Nó Cego (1982), Os Lobos não usam coleira (1995, adaptado por António-Pedro Vasconcelos ao cinema, com o título Os Imortais) e Angoche – Os fantasmas do Império (2021).

Combateu em África, tendo feito a sua primeira comissão em Moçambique. Como se prepara um jovem de 20 anos para ir para uma guerra?

Desde sempre a preparação dos guerreiros obedece aos mesmos princípios. Em primeiro lugar é necessário haver estabilidade emocional para poder continuar a raciocinar e a deter todas as suas capacidades num ambiente de grande tensão. Há pessoas emocionalmente mais estáveis, outras menos, mas isso é uma questão que também se treina. Quanto à aptidão física, tem duas finalidades. Uma é dotar aquele guerreiro de força e resistência para enfrentar o ambiente hostil dos campos de batalha, seja num deserto, seja numa zona pantanosa, seja numa floresta, seja na guerra urbana. A outra finalidade é dotá-lo de confiança em si mesmo: ele saber que tem condições físicas para ultrapassar um obstáculo, transportar um peso ou qualquer outra coisa que seja necessária. Dá autoconfiança e, aliás, é o que se faz também com os atletas de alta competição.

Por falar nisso, há quem diga que nunca se pode treinar a marcação de penáltis, porque não há maneira de recriar todo o ambiente e a pressão de um estádio cheio, numa final em que tudo se vai decidir com aquele pontapé.

Sabemos que o treino que fazemos num cenário real tem uma eficácia de apenas 30%. A minha geração viveu a experiência de saber que, chegando aos 18 anos, iniciava um percurso que iria terminar sete anos depois, e que incluía uma passagem por um cenário de guerra, com maior ou menor violência – porque havia os que iam combater diretamente e havia os que iam combater em áreas de retaguarda, ou estar ligados aos apoios de serviço, à logística, etc.

Como é que se prepara um jovem com 20 anos para o dilema de matar ou morrer?

As pessoas não se preparam para isso. Isso é uma decorrência da nossa situação. Nós não nos preparamos para a morte, embora o ser humano seja o único que sabe que vai morrer. A guerra tem grau de incerteza maior do que outro tipo de atividades. Mas a experiência e o treino ajudam a suportar e a conviver com essa incerteza.

Um dos problemas do Corpo Expedicionário Português na Grande Guerra, em 1917-18, foi precisamente a falta de preparação. Houve o chamado milagre de Tancos, porque foi muito rápido, mas depois percebeu-se que os soldados não tinham recebido uma formação adequada…

Mas aí ninguém estava preparado. Tanto que se dizia: ‘Já vamos passar o Natal a casa’ e depois a guerra durou quatro, cinco anos. Foi uma guerra em que as tropas se enterraram porque houve uma alteração tecnológica decisiva. A introdução da metralhadora impediu o movimento das tropas apeadas, porque eram ceifadas, e obrigou-as a enterrarem-se. E a guerra só se resolve depois com a introdução do carro de combate. Tinha a blindagem, que defendia da metralhadora, e tinha as lagartas, que permitiam passar por cima das trincheiras. É essa alteração que faz com que a guerra tenha durado aquele tempo, e tenha terminado naquelas circunstâncias.

Disse que um dos objetivos da preparação é o soldado ter confiança em si próprio. Quando partiu para Moçambique sentia essa confiança?

A guerra é uma aventura, porventura a mais antiga aventura da humanidade.

Isso apela aos jovens?

Cada geração enfrentou as guerras de acordo com as experiências do passado. Mas é uma experiência única para cada um. Não há maneira de fazer ensaios gerais, vamos sempre deparar-nos com situações novas. Os navegadores portugueses, quando saíram daqui, também foram enfrentar uma situação desconhecida.

No seu caso, partiu com entusiasmo, com curiosidade, com receio…?

Penso que ninguém vai para nenhuma guerra com entusiasmo. Entusiasmo só nas claques de futebol. Agora, é criado à volta das partidas sempre um ambiente de grande tensão que tente suprimir exatamente as reações de receio, e que faça uma lavagem que ‘encandeie’ aqueles que que vão combater. É curioso verificar que as partidas para a I Guerra Mundial são muito parecidas com as partidas para a Guerra Colonial. Uns iam de comboio, depois embarcavam, havia sempre uma fanfarra, o barulho era importante, havia os apitos dos comboios, havia as famílias que gritavam, havia os discursos. É sempre criado um ambiente de falso entusiasmo, de excitação, que evita o receio e facilita a separação entre os que partem e os que ficam.

Uma certa encenação?

É sempre uma encenação. É a mesma coisa que os grandes espetáculos desportivos. Aliás, os grandes espetáculos desportivos representam os confrontos da guerra.

Não sei se usou a expressão ‘lavagem ao cérebro’.

Nós vivemos permanentemente a ser manipulados. Aquilo que nos é dito nunca é…

A verdade toda.

Quando nos dizem ‘Vais defender a pátria’, a primeira questão era ‘o que é a pátria?’. ‘Que interesses estão a ser defendidos pela pátria para eu ir defender esses interesses?’. E depois tenho que diabolizar sempre o adversário e valorizar os meus.

No seu livro descreve uma emboscada em que acabam por apanhar civis quando julgavam que iam passar ali guerrilheiros. Isso dá-se em 67, se não me engano. No entanto, diz que foi em Maio ou Junho de 71 que começou a ter mais dúvidas sobre o que andava ali a fazer.

Quando se dá o episódio da emboscada, essas dúvidas não começam a andar-lhe na cabeça?

Nós nascemos com dúvidas e depois crescemos com elas. [risos] A tomada de consciência de uma determinada situação até depois estabelecer a rutura é um processo em que nunca sabemos qual é a gota de água que faz transbordar o copo. A rutura que a minha geração faz com o regime deve-se, por um lado, à percepção de que aquela guerra não tinha saída. É um primeiro ponto. E só depois disso é que entendemos que aquela guerra é injusta em sentido lato, isto é, o objetivo dela era contrário aos ventos da história, ao caminho que Portugal devia percorrer, na medida em que éramos europeus e devíamos seguir a política geral do espaço civilizacional em que estamos inseridos. E depois havia a questão da violência directa que ali ocorria. Havia a violência sobre eventuais inimigos e havia a violência que nós recebíamos. Portanto, são estes três níveis de consciência que se vão juntando até se perceber que se tem que fazer uma rutura completa para alterar a situação.

Na altura em que lhe é entregue o comando de um grupo de combate tem 20 anos. Não se podia casar, não podia tirar a carta, mas podia comandar homens na guerra.

É verdade. Fui sempre criado com uma grande liberdade, tive a felicidade de os meus pais me terem dado muitas responsabilidades desde muito jovem. Fui educado a não pedir muitas opiniões nem muitos conselhos. Era eu próprio que tinha que analisar as situações e tomar decisões. E, portanto, assumi essas responsabilidades com bastante naturalidade. Sabia que se eu era o comandante, era eu que tinha que tomar decisões, e isto era independente da minha idade.

Não sentiu que teve de crescer e amadurecer um bocado de repente?

Os militares que iam comigo, os sargentos e os praças, olhavam para mim como o comandante, e portanto eu não podia ser imaturo, ninguém admitia isso. Tinha que pensar e decidir por mim como cada um daqueles homens, que eram todos mais velhos que eu, iam ter que reagir.

E eles aceitavam isso bem?

Aceitavam. Os exércitos não são instituições democráticas. Eu tinha uma carta patente, isto é, tinha uma autoridade dada pelo Estado Português para ser oficial das Forças Armadas e para comandar.

Uma das coisas que sobressaem no livro é uma personalidade um bocado individualista…

Muito.

É curioso que depois tenha escolhido uma carreira em que a disciplina é fundamental.

Mas a disciplina nunca é incompatível com o pensamento autónomo. Todos nós nos movemos de formas condicionadas. Eu, por mais individualista que seja, se tiro a carta de condução, tenho que conduzir pelo lado direito e tenho de cumprir o código da estrada. O 25 de Abril é um ato também de disciplina, isto é: nós cumprimos as regras e o Estado também tem que cumprir as suas. Se houver um conflito, esse conflito tem que se resolver por uma rutura. Mas, entretanto, eu sou livre dentro da minha esfera de ação, não tenho que estar de acordo com os meus comandantes nem com os políticos. Tenho é que cumprir as regras gerais da sociedade na qual estou inserido. E uma delas é ser livre para pensar e ser livre para decidir. Quando eu era capitão de uma companhia de comandos, houve um oficial superior, o comandante do batalhão, que disse: ‘Olhe, eu amanhã vou consigo fazer a operação’. E eu digo-lhe: ‘Se for para fazer aquilo que eu faço, faço eu, não preciso que o senhor vá. Eu preciso é que o senhor esteja aqui no posto de comando, porque se eu tiver necessidade de apoios, eu quero que o senhor esteja aqui, que é a sua função, e a minha função é ir comandar esta tropa em operações. Se o senhor for, ficamos os dois mal’. Isto é que é a exigência da minha liberdade. Eu tinha uma responsabilidade, e não queria que ele interferisse. E ele tinha a dele.

E como é que esse oficial reagiu?

Bem.

Imagino que quem está nos Comandos tem de fazer alguma coisa do tipo juramento de bandeira.

Os paraquedistas faziam, mas nós não. Os militares que vinham para os Comandos já tinham jurado bandeira.

A certa altura não começa a haver um conflito entre a ‘promessa’ que fez as dúvidas que começa a ter?

Essa é a grande questão da minha geração. Nós jurávamos à pátria e à sociedade, não jurávamos ao regime. A nossa lealdade era para com a sociedade portuguesa, para com o Estado Português. E quando havia, e houve, um desfasamento entre aquilo que nós entendemos que eram os interesses da sociedade, do Estado, e os interesses do regime, fez-se a rutura. A nossa lealdade era para com os nossos concidadãos.

O 25 de Abril fez-se em grande parte para terminar com a guerra. Mas a guerra não foi iniciada por Portugal. Podemos dizer que o colonialismo configurava uma situação injusta, mas não conhecemos muitos casos de potências que tenham aberto mão das suas colónias. O Reino Unido, por exemplo…

Abriu.

Só deu a independência à Índia depois de muita luta. A mesma coisa com a França e a Argélia.

A descolonização é feita num cenário pós-IIGuerra Mundial em que as potências europeias já não têm condições para dominar o mundo e registam, aliás, uma destruição nos seus territórios que obriga a utilizar os seus recursos na reconstrução e não propriamente no domínio ultramarino. O colonialismo inglês ficava caríssimo. Eles fizeram contas, coisa que nós nunca fizemos, e aquilo dava prejuízo. Em todo o lado, os ingleses deixaram a situação armadilhada. A armadilha na Índia, que ainda hoje se vive, é separar os hindus dos muçulmanos, que deu 1 milhão e tal de mortos, 16 milhões de deslocados… A divisão foi feita por uma criatura que nunca tinha ido lá, um advogado, Radcliffe, que traçou um risco para dividir aquilo que hoje é o Paquistão da União Indiana. Depois ficou o Bangladeche, que ninguém soube bem o que havia de fazer.

O que li é que o Gandhi queria que fosse um só país e o Jinnah [primeiro líder do Paquistão] é que impôs um Estado à parte para os muçulmanos.

Isso são depois as guerras internas, mas quem tinha na altura força para impor uma solução eram os ingleses, e não o fizeram. Em África, deixaram as coisas também bastante armadilhadas. A África do Sul, por exemplo, não entrou na Commonwealth e ficou na mão dos nazis do partido nacionalista sul-africano. A situação não foi de forma nenhuma brilhante. No caso dos franceses, a Argélia era considerada um departamento, não uma colónia. É um outro processo. Na nossa geração, conhecíamos bem essas situações de descolonização inglesa e da descolonização francesa, e a conclusão que tirámos é que se as descolonizações não forem feitas transformam-se rapidamente em banhos de sangue. A situação tinha que ser resolvida, até porque não há guerras eternas. A ideia de derrubar o Governo desenrola-se rapidamente quando Marcello Caetano entra em conflito com o general Spínola e proíbe qualquer tipo de relação que leve a negociações com o PAIGC [movimento de libertação da Guiné e Cabo Verde, liderado por Amílcar Cabral]. Quando nós estamos na Guiné e sabemos que o comandante-chefe está em rutura com o chefe do Governo, que lhe disse que preferia uma derrota honrosa a negociar com terroristas, com a situação militar a degradar-se permanentemente, pensamos: ‘Isto tem que romper por um lado qualquer e vai romper pelo lado deles’. Porque nós é que tínhamos a força. Esse é o processo que leva ao 25 de Abril e é pelo facto de a situação na Guiné ser a mais crítica que o núcleo duro do 25 de Abril é constituído na quase totalidade por oficiais que estiveram na Guiné. O Otelo Saraiva de Carvalho esteve na Guiné, o Vasco Lourenço esteve na Guiné, o Mário Tomé esteve na Guiné, eu estive na Guiné, o Manuel Monge, o Almeida Bruno, o Carlos Fabião, o Garcia dos Santos, o Salgueiro Maia, todos estiveram na Guiné. Nós, na Academia aprendemos a fazer estudos de situação: quais são os meus meios, quais são os meios do inimigo, qual é o terreno, qual é a missão. Fazendo essa análise clássica, dissemos: ‘Não temos nenhuma hipótese’.

Toda a gente refere que a Guiné era o cenário mais difícil. Isso deve-se a quê, à organização do inimigo, às condições do terreno…?

Deve-se a tudo. Por um lado, o ambiente físico era muito, muito desfavorável. Tem pântanos, porque com a mudança de maré um terço do território fica debaixo de água, com todas as dificuldades de movimentação que daí resultam, porque depois as terras emersas são relativamente pequenas e é onde está a tropa.

Ficam expostas.

Portanto são um alvo muito fácil. Depois o clima era tremendamente húmido e quente. E não havia nenhum recurso local, as tropas estavam completamente dependentes da logística daqui. Não havia frutas, não havia géneros frescos. Por fim, havia uma população muito diversificada, com 13 ou 14 etnias, cada uma com as suas idiossincrasias e, portanto, era muito difícil definir aliados e inimigos. Por outro lado, o PAIGC era liderado pelo político mais brilhante que existia entre os movimentos de libertação, o Amílcar Cabral, e tinha quadros melhores do que todos os outros, quase todos formados aqui em Portugal, que podiam operar máquinas e sistemas de armas muito mais evoluídos, o que acontecia com a artilharia deles, com a utilização de mísseis e mais tarde com a utilização de mísseis antiaéreos. E daí que a guerra fosse muito difícil. Em Maio de 73, as forças portuguesas na Guiné tinham à volta de 70 mortos, mais de dois mortos por dia. Isto, acrescido pela rutura que sabíamos que tinha existido entre o comandante-chefe e o presidente do Governo, dá uma situação insustentável.

É na Guiné que forma aquele batalhão de comandos africanos. Não é surpreendente que eles, apesar de tudo, se unam aos portugueses?

Não, a questão não é posta nesses termos. Aliás, todos os exércitos europeus que estiveram em África utilizaram tropas locais.

Mas aqui é-lhes dado um protagonismo especial.

Porque o general Spínola lhes atribui esse protagonismo. A tal rutura política com o Governo faz-se porque Spínola tem um programa de autonomia para a Guiné. Um programa em que ele lhes diz assim: ‘Vocês vão ter o futuro que escolherem’. E em seguida prepara um aparelho militar para sustentar as decisões que aquela população tomar. Formou a chamada Força Africana, um exército de guineenses que seria a grande unidade de intervenção e de poder. É este o projeto político que lhes apresentamos, e não propriamente ‘Tu vais-te juntar aos portugueses’.

Só que depois, com o 25 de Abril, eles ficam completamente ‘desamparados’.

Isso é um processo complexo, que tem que ser discutido noutro lado, que é como se lida com as africanizações – aquilo a que os franceses chamam ‘jaunissement’ – das forças. Em todas as descolonizações correu mal. Nesta podia ter corrido melhor. Mas foi assim.»


https://sol.sapo.pt/2024/04/24/carlos-de-matos-gomes-o-25-de-abril-e-um-ato-tambem-de-disciplina/
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Re: Portugal falido
« Responder #21999 em: 2024-04-25 04:31:59 »
Interessante, acerca dos PM's:


«Marcelo diz que Costa e Montenegro são ambos “lentos”, mas um é “oriental” e outro “tem comportamentos rurais”

Entre os dois, o chefe de Estado preferia Costa como primeiro-ministro.
Redação
24 de Abril 2024

às
20:10

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Marcelo diz que Costa e Montenegro são ambos “lentos”, mas um é “oriental” e outro “tem comportamentos rurais”
AFP

As surpresas das declarações do Presidente da República, conhecidas esta quarta-feira, dão razão a teoria de Cristiano Ronaldo dos golos e do ketchup. Quando Marcelo Rebelo de Sousa abriu a boca saiu tudo de uma vez.

Depois da notícia do corte de relações de Marcelo Rebelo de Sousa com o filho na sequência do caso das gémeas luso-brasileiras, e a forma irrefletida e blasé como falou do distanciamento familiar, chegam as descrições, sem qualquer filtro, do chefe de Estado sobre o líder do Governo do país.

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Marcelo cortou relações com o filho por causa do caso das gémeas

“Ele é uma pessoa que vem do país profundo, urbano-rural, com comportamentos rurais. É muito curioso, difícil de entender, precisamente por causa disso. Agora, é completamente independente, não influenciável e improvisador”, disse o Presidente da República sobre Luís Montenegro, perante uma plateia de, certamente, surpreendidos jornalistas estrangeiros a viver em Portugal, um deles repórter no Correio Braziliense que partilhou as declarações.

Mas Marcelo Rebelo de Sousa não ficou por ali, não se coibindo de dizer que teria preferido ficar com António Costa como primeiro-ministro até 2026, porventura esquecendo-se que foi sua a decisão de aceitar a demissão do então líder do Governo socialista e a convocação de eleições antecipadas.

“Se fosse o cidadão Marcelo Rebelo de Sousa, se eu tivesse que optar, viveria feliz com aquele primeiro-ministro até 2026”, disse, não se coibindo de apresentar a sua comparação entre o atual primeiro-ministro e o seu antecessor, que “por ser oriental, era lento, gostava de informar, acompanhar e entregar”.

“António Costa era lento, por ser oriental. Montenegro não é oriental, mas é lento, tem o tempo do país rural, embora urbanizado. Faz lembrar o antigo PSD, que era isso. O PS era Lisboa, a grande Lisboa, as áreas metropolitanas, e o PSD era o resto do país, sobretudo o Norte e o Centro-Norte”, adiantou.

Marcelo Rebelo de Sousa insistiu no caráter improvisador de Montenegro. “Todos os dias, tenho surpresas, porque ele é imaginativo e tem uma lógica de raciocínio como sendo de um país tradicional”, afirmou. “É estimulante, mas, para mim, dá muito trabalho”, acrescentou.

E nem poupou nos exemplos: “Ele (Montenegro) formou um governo de forma impensável. Só começou a convidar os ministros na manhã do dia de me entregar a lista, um risco. E foi tão sigiloso, que nenhum deles sabia do outro. Só foram se encontrar no dia da posse”.

Mais tarde, confrontado com as suas palavras, Marcelo Rebelo de Sousa manteve tudo o que disse, sem qualquer arrependimento e rejeitou que as suas apreciações tivessem sido depreciativas.

“Não, não, pelo contrário, foram muito explicativas, para jornalistas estrangeiros”.

Sobre Montenegro reiterou: “É um estilo que está a surpreender, vai surpreender. E por isso eu disse que há um lado imprevisível nele que tem a ver com essa imaginação, é verdade”, acrescentou.»


https://sol.sapo.pt/2024/04/24/marcelo-diz-que-costa-e-montenegro-sao-ambos-lentos-mas-um-e-oriental-e-outro-tem-comportamentos-rurais/
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