https://www.youtube.com/watch?v=yXQViqx6GMY&list=PLCwAHfhr-Gc-GAB61potMEXOD9So7CrRR&index=2porque anglosaxonicos dominam o natal
O feriado religioso mais popular da cristandade carrega em si próprio uma grande contradição: é durante as celebrações de Natal que ao menos quatro dos sete pecados capitais, condenados pelo cristianismo, são mais venerados – a gula, a luxúria, a avareza e a inveja.
A festividade cristã se tornou uma das datas comerciais mais lucrativas e, embora esse fenômeno não seja essencialmente norte-americano, ele se agudizou à medida que avançava a hegemonia sociocultural e econômica dos EUA
Segundo Miller, o Natal moderno mistura o corte de árvore da tradição alemã, o preenchimento de meias da tradição holandesa, o envio britânico de cartões natalinos e a manjedoura dos presépios típica dos italianos. Além disso, os dois artistas responsáveis pelas representações visuais mais influentes da figura do Papai Noel tinham fortes antecedentes europeus: no século 19, o cartunista Thomas Nast (nascido na Alemanha em 1840) e, no século 20, o ilustrador publicitário Haddon Sundblom (norte-americano de ascendência sueca e finlandesa).
Entretanto, para o professor de estudos de mídia George Mckay, da Universidade de East Anglia, houve nos EUA um elemento fundamental para que todos esses símbolos oriundos de ritos cristãos e pagãos se aglutinassem em um só arquétipo moderno de festejo natalino:
o fenômeno do consumo de massa.
O Natal disseminado como ocasião de consumo de massa impulsionou o feriado como “festival global”. Se o Natal contemporâneo, de fato, envolve uma amálgama de costumes, geralmente específicos de nações, regiões ou até aldeias, também está integrado à formação de símbolos e costumes “globais”, isto é, influenciados pelos processos de globalização e americanização. Na própria sequência de “’festivais de consumo” no calendário norte-americano, que inclui o Halloween e o Dia de Ação de Graças, somente o Natal alcança o status de festejo global, tendo como principal figura visual o Papai Noel, um personagem criado nos EUA
Figura sagrada feita sob medida para um mundo secular, o Papai Noel moderno é fruto da fusão sincrética de vários personagens diferentes trazidos por imigrantes europeus aos EUA. É o que aponta Claude Lévi-Strauss em seu clássico ensaio “O suplício do Papai Noel” de 1952, em que analisa um caso ocorrido no Natal anterior em Dijon, na França, quando católicos e luteranos se uniram para queimar um boneco de Papai Noel em uma fogueira em protesto pela “crescente paganização do dia de Natal” – um episódio que o jornal espanhol El País apelidou de “o último auto de fé da Europa”. Para o antropólogo francês, a variedade de nomes dados ao personagem – Papai Noel, São Nicolau ou Santa Claus – demonstra que ele é resultado de um “fenômeno de convergência e não um protótipo antigo conservado por toda parte”.
O marketing da mídia norte-americana, incluindo o cinema hollywoodiano e sua música popular, se integra à presença política, econômica e militar dos EUA em todos os continentes, propagando os costumes e valores norte-americanos, bem como o próprio idioma inglês em todo o mundo. Segundo o professor George Mckay, nesse jogo, a novidade se sobrepõe à tradição e a nostalgia à história, e a mídia de massa e a mercantilização desenfreada nos negam agência em nossas próprias escolhas culturais.