Nos EUA são precisos 9m para morrer às mãos de um polícia. Em Portugal foram 15 horas. A diferença é que o nosso ucraniano nunca teve direito a hashtag. E sem hashtag não há indignação.
https://31daarmada.blogs.sapo.pt/7063417.html
E outra da Zita Seabra, uma fascista
Morrer de tortura em Minneapolis ou no aeroporto de Lisboa
Segundo os jornais vêm a divulgar posteriormente, citando, entre outras fontes, a acusação aos inspetores do SEF, estiveram sentados em cima dele, esmagando-lhe o tórax contra o solo. Depois de Ihor ter sofrido um ataque epilético, caiu e partiu os dentes. Tinha sinais de pancada e morreu depois de horas de agonia, atado com fita cola e preso com algemas.
Segundo relata a jornalista Joana Gorjão Henriques (Público 10 de Maio): «O cidadão ucraniano que morreu no SEF do aeroporto esteve 15 horas manietado com fita-cola e algemas. Foi visto assim por enfermeiros, inspetores, chefes. Ficou numa sala preso, durante horas, com as calças pelos joelhos e cheiro a urina. O médico que passou o óbito não viu agressões e deu-a como morte natural. Auto de óbito do SEF também não refere qualquer lesão.»
No Observador de 1 de Abril, Sónia Simões e Kimmy Simões escrevem sobre as provas recolhidas pela PJ: «Ucraniano esteve fechado numa sala, após ter sido brutalmente agredido por três inspetores do SEF, durante 8 horas, segundo as provas recolhidas pela PJ. E foi encontrado já morto.» Continuam: «O corpo de Ihor Homenyuk, o ucraniano assassinado no aeroporto de Lisboa, apresentava tantos hematomas e tantos sinais de ter sido barbaramente espancado que quase não seria necessária uma autópsia para perceber qual tinha sido a causa da sua morte.»
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Assassinar barbaramente, por tortura, no aeroporto de Lisboa, um cidadão ucraniano, refugiado ou emigrante ilegal, é um sobressalto em qualquer Estado de direito. No entanto, não tenho notícia de nenhum sobressalto cívico em Portugal. Nada. Nenhuma manifestação no aeroporto, nenhuma homenagem, nenhum memorial, nenhum voto (que eu saiba) no Parlamento, nenhuma palavra do Presidente da República, nenhuma palavra do primeiro-ministro. Que tristeza.
E das organizações de direitos humanos? Onde estão as ONG’s, a Amnistia Internacional e o SOS Racismo? Que fizeram os Médicos Sem Fronteiras, que têm instalações no aeroporto de Lisboa? E a Ordem dos Médicos? Será verdade que um médico assinou uma declaração em que consta «morte natural»? Fez-se-lhe um inquérito? E o SEF é tutelado por quem? Os inspetores, que estavam em casa, continuam lá? E todos os funcionários e inspetores zelosos que passaram por lá foram acusados? E o sofrimento e medo das pessoas que estavam nas instalações, emigrantes com filhos, foram ouvidos os seus testemunhos? Havia, dizem, crianças por lá. Alguém afagou o seu medo e lhes deu colo?
Que importância tem para o mundo um ucraniano torturado e morto no aeroporto de Lisboa? E que, segundo a acusação, alguém se tenha sentado em cima do seu tórax e que tenha ficado em agonia horas, sem ser levado ao hospital? Algum deputado europeu se preocupou com isso e interrogou o governo português? Algum deputado português levou um voto ao Parlamento?
Importantes são as vítimas que possam ser usadas para fins políticos, que interessem a agendas da esquerda. Os outros apagam-se.
Chama-se a isto relativismo.
Mas o mundo só será melhor se uma vítima na América for igual a uma vítima em Portugal, independentemente de ser preto, branco ou amarelo. Morra em Hong Kong, em Minneapolis ou no aeroporto de Lisboa.
A industria da indignação sabe que nem todas as vitimas servem. Só servem aquelas vitimas que conseguem mover os clientes desta industria, os indignados que, por sua vez, são os que mexem com as audiências de TV e as correntes das redes sociais. Que interesse tem um ucraniano num aeroporto qualquer ? Já pelo Floyd, aí sim, vamos ter manifestação dos clientes indignados no Sábado em vários pontos.
Sempre fomos melhores a opinar sobre a quinta dos outros, do que a olhar para a nossa própria pocilga.
Sim, infelizmente o episódio do SEF não mobilizou tanta gente, mas pelo que sei houve declarações de indignação em muitas crónicas jornalísticas e por parte dos políticos em geral, inclusive do Cabrita, e isso foi discutido nos media, não foi ignorado. A própria direcção do SEF demitiu-se ou foi demitida.
Agora, o problema nos EUA é diferente porque se repete, porque o que se viu com o Floyd já tinha acontecido com Eric Garner e com muitos outros. E obviamente, o contexto histórico, algo que parece estar sempre a ser ignorado neste tópico, mobiliza as pessoas de outra forma. Não sei se antes do cidadão ucraniano mais foram mortos nestas condições pelo SEF, mas isso conta. E obviamente não estou a desculpabilizar o SEF, muito pelo contrário (acho que devem cumprir pena pelo que fizeram), mas se algo é visto como um episódio recorrente chateia mais as pessoas do que algo visto como um episódio pontual.
O que é relevante é que por trás de todos parece que está sempre o factor racista ou xenófobo. Não vou dizer que está certamente, porque senão teria que ir arrancar confissões aos que cometeram esses crimes, e não estou para isso.