Já começo é a desconfiar de que há malta armada em engraçada a fazer queixa de racismo de tudo de propósito para generalizar e diluir o problema, tirando as atenções dos casos realmente graves e com motivações raciais, que existem, e dar a ideia de que os movimentos anti-racistas são ridículos, dando força a movimentos contrários. Ver racismo nesta música é, no mínimo, uma palhaçada.
Seria uma possibilidade, mas este tópico está pejado de idiotices que vêm da cátedra, desde Seattle dizer que o ensino da matemática é racista, até Oxford banir os aplausos porque as pessoas ficam intimidadas, passando por uma branca não poder usar rastas (entre outras) porque é apropriação cultural.
Isto não são maluquinhos que existem em todas as sociedades. É gente com cursos, mestrados, doutoramentos, ideias propagandas em universidades. Não há razão para pensar que Portugal estaria a salvo de imbecis idênticos (o Mamadou, que é do racismo, esteve no protesto de 2017 contra a estátua do PAV, por exemplo).
Pode ser o que dizes, mas dado o exagero em que já se caiu, pode também ser real e é bem possível que seja real. Quem vê no PAV um colonialista, facilmente encontra aqui um racismo qualquer.
Há aí vários pontos que misturados parecem uma escandaleira global mas é preciso alguma calma. Vamos por pontos:
1 - Seattle diz que o ensino da matemática é racista. Ora bem, isto dito assim é idiota. Fui tentar perceber, e do que vi não posso concluir que é assim tão idiota, mas é algo que eu encararia dando pouca importância. Isto é dito numa entrevista a um professor, creio eu, de Seattle, sobre o seu projecto de tornar o ensino em geral mais inclusivo a todas as etnias, onde fala depois nesta questão do ensino da matemática:
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“When students can see themselves in curriculum and see diversity in curriculum, they respond better,” Au said. “And, it can help white students understand themselves better. Structural racism in the country has mistaught white people about themselves — that they don’t have culture, that they don’t have roots.”
This mindset extends to mathematics and science, Castro-Gill said.
“There are studies that talk about specifically black and brown students not being seen as scientists or mathematicians … It affects their efficacy, their ability to engage in that kind of learning,” she said. “That’s why identity is so core to math and science.”
It’s not that the formulas and equations taught in current math classes are racist, Castro-Gill said — it’s about how they’re used in daily life.
“Nowhere in this document says that math is inherently racist,” she said. “It’s how math is used as a tool for oppression."
(...)
2 - Oxford banir os aplausos. Esta também parece idiota, mas acima de tudo não parece ter nada a ver com racismo, homofobias, machismos, etc. Ou seja, dificilmente incluiria no "politicamente correcto". O que aconteceu foi que o que me parece ser a associação de estudantes ter feito um pedido (aceite pela universidade) para que os aplausos fossem substituídos por jazz hands porque os aplausos provocam problemas em pessoas que sofrem de ansiedade. O problema da ansiedade existe, é real, mas eu não percebo nada sobre ele, pelo que não sei se é uma medida meritória ou não. De qualquer forma, não me parece que tenha nada a ver com politicamente correcto, ninguém julgou ninguém, foi apenas uma proposta aceite que não acusa nem discrimina nada nem ninguém.
3 - O caso das Rastas é um caso típico de discriminação racial invertida. É como um branco não deixar um preto usar gravata, ou outro acessório qualquer criado por brancos. É uma pura estupidez vinda de atrasados mentais. Creio que essa não foi "institucionalizada".
4 - Não gosto de ataques generalizados à instituição Universidade. É atacar o ensino, a formação superior, que é a fonte do progresso. Há problemas em várias universidades? Claro que sim, e deve-se discuti-los e resolve-los, pontualmente. E não generalizar o que não faz sentido generalizar.
5 - Por último, o a estátua do Padre António Vieira. O padre é uma personalidade com um valor inestimável da nossa cultura, dos nossos melhores escritores e humanistas. E os Mamadous e outros sabem isso, e até diria que reconhecem isso (a grande maioria deles). Agora, isso não quer dizer que não se possa desgostar ou protestar contra uma estátua. Cada um pode ter a sua livre opinião sobre obras de arte que estão no espaço público, e eles têm a sua, e têm direito a tê-la. Se queres saber a minha, também não acho a estátua feliz. É paternalista e anacrónica. Não faz sentido criar uma estátua daquelas em 2017 para o espaço público num estado laico, com os meninos indígenas, quase desumanizados (uns selvagens) sob a alçada da cruz cristã, que está ali para os salvar. É normal haver pessoas que não se identifiquem com o que a estátua representa, estando a falar de algo feito em 2017, e isto nada tem a ver com a pessoa PAV. Se a estátua fosse do século XVII era uma coisa, fazê-la em 2017 é a meu ver criticável. De todas as formas, tudo é criticável, desde que com argumentos. A liberdade de expressão existe e deve ser preservada para isso mesmo. Coisa diferente é vandalizar ou destruir, totalmente condenável e inaceitável.