Muita gente diz que as moedas não valem nada intrinsecamente, e que por isso qualquer ficha de casino vale o mesmo. No entanto não é bem verdade:
-- uma moeda geralmente tem por detrás um estado ou conjunto de estados, e permite, por lei, comprar coisas e pagar impostos: interagir com o estado, coisa da qual ninguém se escapa
-- como as leis são feitas pelos estados, e os estados têm forças armadas e polícia e obrigam ao uso duma determinada moeda para pagar e receber valores, mais uma vez ninguém se escapa
-- como os estados são praí 1/3 a 1/2 da economia (basta ver o orçamento de estado português versus o PIB) o facto duma moeda ser impingida à força pelo estado tem muita força (passe o pleonasmo) mesmo sem o caráter de obrigatoriedade
O ouro é também entendido como uma moeda em muitos países. O ouro em barra ou amoedado não tem curso legal mas tem um estatuto especial, nomeadamente não paga IVA e afins. Além disso tem uma história de 5000 anos como sendo algo valioso, não pode ser produzido sem grande esforço, e tem usos industriais não irrelevantes.
Uma moeda virtual sem curso legal tem o quê a favor, e vale o quê? O mesmo que alguns contratos derivados ultra-especulativos, coisa que não é propriamente nova. Nesse aspeto tem um nicho que não é novo e que não é inexistente: a negociação desses contratos permite passar dinheiro de mão em mão.
Curiosamente muitos desses contratos têm pouco a ver com o subjacente, mas geram dinheiro para as corretores e passam dinheiro de especuladores desprevenidos para outros menos desprevenidos. Geram até mais negociação do que o subjacente. É curioso que os do costume (bancos+corretoras) se estejam a apossar do negócio das criptomoedas através de derivados, no fundo trazendo o controle de volta à malta do costume.
Enfim, vira o disco e toca o mesmo: negociar fichas de casino e cromos da bola!