Particularmente nas eleições autárquicas os partidos e candidatos não se dão ao respeito, depois não é de admirar que os eleitores os ignorem e se abstenham. Quando há um "independente jurássico" a concorrer, os partidos o que fazem é meter lá um candidato fraquinho, quando deveria ser o contrário, deveriam lá meter um candidato suficientemente forte para anular o cacique.
Depois há outros casos em que há quem concorra como cabeça de lista e perdendo abandona o cargo de vereador. Isso é uma falta de respeito por quem vota neles, chega a ser uma traição. Quem lhe confiou o voto deveria tê-lo como interlocutor no município até ao fim do mandato. Deveria ficar lá a fazer o seu papel de fiscalização do executivo. Uma oposição forte tem um papel relevante no funcionamento da democracia. Agora se o líder da oposição abandona, os restantes da equipa ficam por lá desencabeçados a arrastar-se deixando quem ganha as eleições fazer as asneiras que que bem entende. Estes lugares são muito cobiçados porque é uma espécie de "quem ganha leva tudo", fica com caminho livre, as oposições nos municípios são um enfeite.
Há também a organização administrativa do território que está desactualizada. As três mil e tal freguesias deveriam acabar e ficarem apenas os 308 municípios, que deveriam perder competências para uma entidade administrativa intermédia entre o município e o poder central, que poderia ser atribuída às actuais 18 capitais de distrito. Todos os eleitores do distrito elegeriam o presidente do distrito.
Actualmente a capital de distrito é uma figura decorativa, mas que de alguma forma é usada em seu benefício próprio por centralizar alguns serviços do estado. Mas depois não retribui aos concelhos desse distrito os benefícios que recebe deles por via dessa centralização local. Há uma centralização local das capitais de distrito em relação aos munícipios e destes em relação às freguesias. No fundo, e no caso dos municípios, há um orçamento para uma dada área do território que é gasto maioritariamente na sede do concelho. Por exemplo Cascais e Gaia tem freguesias do interior do concelho despovoadas e pobres. Isto mostra também o relativismo do conceito de interior.
Por isto os eleitores abstêm-se, não se vêem representados por quem se apresenta às eleições locais, e isso é em parte por culpa da má organização administrativa. As eleições seriam muito mais participadas se os eleitores, por exemplo, das áreas metropolitanas de Lisboa e do Porto pudessem votar para a eleição destes dois presidentes. Alguém de Oeiras ou Loures, p.e., pode não se sentir motivado a ir votar, mas muito provavelmente estaria mais motivado e decidido se pudesse participar na eleição do presidente de Lisboa.