Tópico interessante, e como sempre neste fórum com umas trocas de ideias bem fundamentadas.
No fundo essa ideia de haver uma representação dos contribuintes é o que esteve na base do Parlamento em Inglaterra. Os senhores feudais queriam ter algum voto na matéria e não ter que obedecer cegamente a todos os "humores" do monarca.
Eu acho que não seria grande evolução em relação ao nosso sistema. Há grandes contribuintes líquidos que estão metidos até ao pescoço no lodaçal. Os beneficiários das obras das AE "fantasma", das obras da Parque Escolar, do SIRESP, etc. iriam votar contra medidas despesistas? Não me parece.
A questão é que mal arrancasse o debate público desse novo "sistema" de votação, os proponentes seriam cilindrados na arena pública.
Seriam catalogados como ditadores, não haveria hipótese. Seriam a partir desse momento uns párias.
Eu pessoalmente e embora tenha muitas ideias libertárias e também ache o nível de coleta de impostos um absurdo, não gosto da ideia de limitar o poder de voto. Isto é um debate que dá pano para mangas ... como seriam delineados os critérios para criar essa tal "ponderação" do valor do voto vs o nível de imposto? A partir desse momento estaríamos a criar um novo balanço de poder na sociedade.
Não é que eu seja naif e ache que o voto universal é algo magnífico. O que eu vou dizer é politicamente incorrecto, mas é o que eu penso: há pessoas que beiram a psicopatia, ou que são ignorantes a um nível tão básico que é óbvio que votaram "ao calhas", por questões de simpatia do candidato, ou por outro motivo qualquer que não tem relação com a competência. Há pessoas que tem atrasos visíveis, por exemplo. A questão é: quem definiria o que se qualifica como alguém "ignorante para votar"? Alguém como disfuncional? O estabelecer desses critérios, ou uma mudança posterior dos mesmos seria uma via excelente para manipular o poder.
Assim sendo a melhor via é tentar melhorar o nível médio de inteligência do cidadão. O problema é que mesmo isso não é fácil, e sendo realista, talvez nem interesse. É mais fácil manipular as pessoas dessa forma.
Uma questão interessante - e tenho pensado bastante nisso - é se no curto/médio prazo há esperança numa melhoria? Para mim há uma tendência (errada) para pensar no votante/cidadão médio como muito racional. Alguém que vai ponderar pros vs contras ...
Eu cada vez mais acho que acontece algo completamente diferente. Se virmos nos nossos contextos sociais e formos completamente frontais e analíticos, vemos que a mentira está em todo o lado. E que existe muita tendência para as pessoas serem atraídas por pessoas que tem o dom da palavra. Por pessoas que atenuam verdades duras.
Se aplicarmos isso à política, fica claro de entender que muitas vezes alguém com o dom da palavra, com boas expressões faciais e postura corporal, que venda promessas de esperança e confiança (escamoteando dados críticos) tem muito mais chance de colher votos que alguém que até pode ser sério e competente, mas é menos dotado em outras áreas.
Do meu ponto de vista isto deixa o palco aberto a autênticos charlatães e veda o acesso a muitos dos experts a que o Moppie se referia. Se alguém com conhecimento na matéria der indicações duras os políticos que estão no jogo de vender ilusões avançarão com essas directrizes?
O antídoto para essa tendência humana para aceitar a "charlatanice" é o conhecimento e principalmente as ciências exactas. Porque torna as pessoas mais críticas, mais cépticas e com uma capacidade de aceitação "porque sim" muito mais reduzida.
O problema, e o que devemos questionar é: estamos a ir nesse sentido? A minha percepção é que embora haja cada vez mais pessoas instruídas, há uma tendência para assimilar apenas os cabeçalhos, não ler textos complexos, ler apenas duma fonte, não consultar dados, etc.
E assim sendo, as pessoas basicamente votam com base naquilo que maquinas de PR cospem. Votam "ao calhas" ou pior ... votam manipuladas.