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Autor Tópico: O cantinho dos Liberais  (Lida 58330 vezes)

vbm

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #380 em: 2019-11-01 13:03:54 »
[  ]
Só são ideias diferentes, como promete o Cotrim, porque poucos estão habituados a elas. Mas não são sexys ou bombásticas. E para ti que andas por aqui há tanto tempo, será mais do mesmo. Não vão propor nada que não se tenha falado no forum dezenas de vezes,.

Não senhor! É completamente diferente.

Agora, a direita, liberal e iliberal,
está na oposição. Estão muito
mais vivos e argutos e não
são os 'lambões' que lhes
está no costume ser.

De modo que, vou escutá-los, sim!

vbm

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #381 em: 2019-11-01 13:12:59 »
O teu chamado Pasquim é do mais liberal que se pode ser .

O Pasquim da Manhã
é a maior porcaria
de que eu já ouvi
falar, que aliás,
nunca li.

Pressinto a acefalia
dos que vejo a lê-lo.

« Última modificação: 2019-11-01 13:18:45 por vbm »

Counter Retail Trader

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #382 em: 2019-11-01 15:58:31 »
O que não é para ti Pasquim?

vbm

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #383 em: 2019-11-01 17:13:00 »
De certa maneira, o Expresso também pergunta isso pelo telefone
com inquéritos de opinião e promoções de assinatura
ao pedir-nos opinião sobre o seu jornal.

Pediu-mo recentemente; disse
o lia, para aí duas ou três
vezes por ano

e lamentava que já não fosse
como nos primeiros tempos
com colaboradores de
grande qualidade,
em que ler era
aprender!

É que sou do tempo do Expresso assim,
bem como dantes, o era do "Vida Mundial",
do "Jornal do Funchal" e do "Diário de Lisboa".

Agora!? Dez jornais, não comprados e não lidos,
dá para despoluir a cabeça e comprar um bom livro!

Não me regozijo com isto, é um facto.

Se a 'direita', quiser ter nível,
que o pague, seja séria,
e se vos constar,
algo estiver
a surgir,

avisem-me, por favor, pois que
em liberdade, me interesso.
« Última modificação: 2019-11-01 17:14:19 por vbm »

JohnyRobaz

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #384 em: 2019-11-01 20:37:50 »
Sim, enquanto é uma brincadeira de twitter e basta mandar umas bojardas pelo telemóvel de vez em quando pode ser, depois quando são eleitos e começam a ser escrutinados e têm que construir argumentação para se defenderem na praça pública, mete o rabinho entre as pernas e baza. E ainda é aplaudido.
Quem vai deixar as funções de presidente do partido foi o CGP que, caso não tenhas reparado, não foi eleito. E não foi eleito porque preferiu ir pelo Porto - por ser do Norte - onde seria extremamente difícil conseguir a eleição, em vez de ir, confortávelmente, por Lisboa (e sendo presidente do partido ninguém se oporia a isso). Até nisso deu o exemplo.

E para quem transformou uma "brincadeira de twitter" e "umas bojardas pelo telemóvel" num deputado na AR, no espaço de um ano, não está nada mal. O Livre, com Daniel Oliveira, Rui Tavares, Drago e Joana Amaral Dias, ao colo dos medias e depois de uma troika, conseguiu pouco mais do que metade em 2015. O mérito custa muito a engolir em Portugal.

Claro que agora toda a gente aplaudiria era o homem ficar lá com ordenado à conta da subvenção ou então, melhor ainda, ficar mais uns anos a trabalhar pro bono. Criticam os políticos profissionais, mas quando aparece um tipo que não faz da política profissão, e vai ganhar a sua vida, é um pulha. ;D

Não é um pulha e tem o seu mérito, obviamente, mas eu gostava de ter um Partido Liberal maior em Portugal, e espero sinceramente que a IL cresça e consiga mais deputados, mas para isso precisa de um líder com algum carisma e não sei se um ex-funcionário público e ex-BPP é alguém que vos serve como líder liberal em Portugal. Estar na política envolve espírito de missão, e pelos vistos para o CGP conseguir um deputado é missão cumprida. Para mim, estando no lugar dele, não seria. E sim, acho que os políticos devem receber, não devem trabalhar pro-bono. Ou queremos pessoas competentes e com espírito de missão ou só temos lá lixo sem receber mas a safar-se com aldrabices apenas focados nos interesses pessoais, porque não há almoços grátis.

Reg

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #385 em: 2019-11-01 21:05:58 »
encontrar liberal em portugal com carisma oratoria dominadora trabalhar em empresas privadas  sem ser por taxo com vontade de missao


e como encontrar lesbica   preta esquerdista carismatica com oratoria dominadora


ou seja  e raro!  numa terra esquerdistas brancos!

e tem gostar ter vida publica..
nem todos sao como ventura gostam politica andar porrada  tipo um contra todos!
« Última modificação: 2019-11-01 21:17:43 por Reg »
Democracia Socialista Democrata. igualdade de quem berra mais O que é meu é meu o que é teu é nosso

Automek

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #386 em: 2019-11-01 23:36:53 »
Não é um pulha e tem o seu mérito, obviamente, mas eu gostava de ter um Partido Liberal maior em Portugal, e espero sinceramente que a IL cresça e consiga mais deputados, mas para isso precisa de um líder com algum carisma e não sei se um ex-funcionário público e ex-BPP é alguém que vos serve como líder liberal em Portugal. Estar na política envolve espírito de missão, e pelos vistos para o CGP conseguir um deputado é missão cumprida. Para mim, estando no lugar dele, não seria. E sim, acho que os políticos devem receber, não devem trabalhar pro-bono. Ou queremos pessoas competentes e com espírito de missão ou só temos lá lixo sem receber mas a safar-se com aldrabices apenas focados nos interesses pessoais, porque não há almoços grátis.

Eu ia responder mas o Helder Ferreira já respondeu, muito melhor do que eu poderia fazer:

Citar
Ao ler algumas reacções de adversários ideológicos à saída do Carlos Guimarães Pinto da presidência do IL, dei comigo a pensar quantas vezes sou provavelmente injusto com os outros, especialmente políticos.
Conheço o Carlos, sei as razões porque sai e se há alguma coisa que me poderia espantar é como ele se meteu naquilo e arranjou tempo para o fazer. Tem família, uma vida profissional bem sucedida e é o único "vai a todas" que conheço, melhor que eu. Durante um ano abdicou de tudo o que construiu durante uns quinze anos, sacrificou a carreira e a família para se dedicar ao IL. E se um ano não é grave, daqui a três arriscava não ter vida para onde voltar. É mau para o IL que ele saia, mas seria exigir-lhe demasiado que ficasse, se há coisa de que o liberalismo não precisa é mártires. E esse há-de ser sempre outro dos problemas de um Partido Liberal. Todas as pessoas disponíveis para colaborar, são gente com uma vida fora da política. Nenhum liberal consegue nem pode fazer carreira política, de uma maneira ou de outra, todos têm mais que fazer. Nesse sentido também se distinguem de todos os outros, não precisam da política para nada, não vivem nem querem viver da política e quando se dedicam a ela sacrificam mais que o que ganham.

Automek

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #387 em: 2019-11-28 10:37:11 »
Citar
Iniciativa Liberal quer custos do empregador com trabalhador no recibo de vencimento
Deputado do partido entende que ao constar no recibo o verdadeiro valor da contribuição social de 34,75%, “a percepção do custo do Estado Social tornará os cidadãos mais exigentes com as despesas do Estado”.

A Iniciativa Liberal apresentou esta quarta-feira um projecto de lei para que passem a estar plasmados no recibo de vencimento dos trabalhadores por conta de outrem os custos suportados pela entidade patronal no âmbito das contribuições para a Segurança Social.

“Esta situação ajuda a propagar a ideia de que o custo do Estado Social é apenas suportado por esta fracção, quando existem outros 23,75% que são pagos pela entidade patronal, valor que não é, consequentemente, integrado no vencimento do trabalhador, mas que representa um custo para empregador”, justifica o partido no mesmo texto.
...
https://www.publico.pt/2019/11/27/politica/noticia/iniciativa-liberal-quer-custos-empregador-trabalhador-recibo-vencimento-1895396

O Daniel Oliveira apressou-se a ironizar mas saiu-lhe mal. É que a ideia dele devia ser mesmo implementada para as pessoas perceberem que a escola pública e gratuita custa, na verdade, uns 500 euros por mês (pagos pelo próprio ou por outros em seu nome).
E se calhar percebiam que a consulta, pela qual esperaram dois anos, afinal custa o mesmo ou mais do que no privado.

Incognitus

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #388 em: 2019-11-28 12:57:12 »
Sim. Aliás se tal fosse proposto, ao fim de algum tempo veríamos o Daniel Oliveira a opor-se  :D
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

vbm

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #389 em: 2019-11-28 12:59:33 »
Citar
Iniciativa Liberal quer custos do empregador com trabalhador no recibo de vencimento

Acho muito bem!
E, na comunicação social,
deveria ser proibido os locutores
soletrarem comparações entre salários mínimos
(que quase nada pagam de imposto) com salários
brutos elevados sem explicitação do valor líquido
de contribuições e impostos retidos!

kitano

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #390 em: 2019-11-28 16:06:26 »
Eu colocava ligeiramente diferente. Em vez de custo total para o empregador, colocava tudo no bruto do colaborador. Assim o pessoal sentia melhor o que sai da sua esfera pessoal.
"Como seria viver a vida que realmente quero?"

Automek

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #391 em: 2019-11-28 16:13:52 »
Sim, isso era ainda mais dramático. A proposta é esta, com uma linha com o custo total para a empresa:



Melhor que isto era entregar o dinheiro todo às pessoas e obrigá-las a irem pagar mensalmente os impostos. Dar e faze-las passar pela dor de lho tirarem.  :D


Elder

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #392 em: 2019-11-28 17:22:16 »
Se o contribuinte percebesse que o custo para o Estado do filho estar numa escola publica, sem funcionários, com professores desmotivados, com amianto, sem aquecedores, etc é praticamente o mesmo de andar no Colégio Privado, o debate do cheque escola aparecia logo a seguir.

O problema nisso é depois, com as escolas públicas vazias, o que se fazia aos XX milhares de professores ou XX milhares de funcionários....

kitano

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #393 em: 2019-11-28 17:33:41 »
Atenção que as empresas têm outros custos obrigatórios com os trabalhadores. Seguros e agora desconto para o fundo de compensação, medicina no trabalho e outras coisinhas...

Só porque o valor do seguro não vai para o estado, não deixa de ser um custo obrigatório.
"Como seria viver a vida que realmente quero?"

Automek

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #394 em: 2019-11-28 17:49:39 »
Se o contribuinte percebesse que o custo para o Estado do filho estar numa escola publica, sem funcionários, com professores desmotivados, com amianto, sem aquecedores, etc é praticamente o mesmo de andar no Colégio Privado, o debate do cheque escola aparecia logo a seguir.

O problema nisso é depois, com as escolas públicas vazias, o que se fazia aos XX milhares de professores ou XX milhares de funcionários....

O truque do colectivismo é tirar-te 500 em impostos e dar-te um serviço gratuito que nem 300 vale. Como é gratuito a populaça exulta, sem perceber que foi roubada em, pelo menos, 200.

JohnyRobaz

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #395 em: 2019-11-28 23:36:22 »
Se o contribuinte percebesse que o custo para o Estado do filho estar numa escola publica, sem funcionários, com professores desmotivados, com amianto, sem aquecedores, etc é praticamente o mesmo de andar no Colégio Privado, o debate do cheque escola aparecia logo a seguir.

O problema nisso é depois, com as escolas públicas vazias, o que se fazia aos XX milhares de professores ou XX milhares de funcionários....

Das duas uma, até podia haver uma optimização residual, admito isso, mas o número de crianças iria ser o mesmo, e ou as necessidades escolares ficariam as mesmas, portanto os professores e funcionários apenas mudariam de patrão, ou metade das crianças ficaria sem poder ir à escola, por não poder pagar o colégio privado.

Automek

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #396 em: 2019-11-29 09:09:57 »
Os burros do Mercadona a pagarem mais do que o SMN e a fazerem contratos sem termo. Pensei que isto não existia nos gananciosos do sector privado, sem que o estado os obrigue.

JohnyRobaz

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #397 em: 2020-01-18 15:35:57 »
A diferença entre Liberalismo (na minha óptica) e o Libertarianismo (ou liberalismo, segundo a óptica de muitos), e o mito da pura meritocracia, explicados num excelente texto publicado aqui:

https://www.scimed.pt/geral/o-mito-da-meritocracia-a-piada-que-se-transformou-num-dogma/?fbclid=IwAR3uLd2lfVP6955Hi_XAUymUB_xajuRrw468FbAVU8BTtGGB0bb0wOXcBao

O MITO DA MERITOCRACIA, de João Júlio Cerqueira:

O termo “meritocracia” foi criado por Michael Young, quando escreveu o romance satírico em 1958, “The Rise of Meritocracy”. No livro, Young descrevia um tipo de auto-ilusão em que as pessoas ricas se convenciam que a sua riqueza era evidência da sua superioridade moral. A piada é que a sátira virou dogma. Hoje vivemos da meritocracia. Onde nos convenceram que aquilo que alcançamos depende apenas da nosso trabalho árduo e perseverança. Se não consegues, a culpa é tua. Não te esforçaste o suficiente.

Não só isso, como se criou outra piada interessante. A ideia da meritocracia começou por ser uma ideia anti-aristrocrática já que, cada um de nós, independentemente das nossas origens, poderia ser rico, famoso e bem sucedido dependendo apenas do nosso mérito. No entanto, esta atitude/ideologia transformou-se num modelo de perpetuação de uma nova aristrocacia, já que um dos maiores fatores para ser bem sucedido na vida é ser filho de pessoas bem sucedidas. Mesmo que tenham más notas na escola.

E ser filho de pessoas bem sucedidas influencia o nosso futuro sucesso de duas formas. Os genes que herdamos e o ambiente familiar e sócio-económico em que somos criados.  Dado que ninguém escolhe o seu próprio genoma, não estou a ver onde está o mérito disso. E como ninguém escolhe a família onde nasce – se rica se pobre, com bom ou mau aporte nutricional, se bem conectada em termos sociais ou nem por isso, se numa família estruturada ou não – também não me parece que seja possível atribuir o nosso mérito a essas ocorrências.

Aliás, uma das passagens do Behave, do Salpolsky, que mais me impressionou, foi esta:

“A conexão entre a adversidade infantil e a maturação frontocortical é visível quando se estuda a pobreza infantil. O trabalho de Martha Farah, da Universidade da Pensilvânia, Tom Boyce, da UCSF, e outros demonstra algo ultrajante: aos cinco anos, quanto menor o estatuto socioeconómico de uma criança, em média, (a) maiores os níveis basais de glicocorticóides e/ou mais reativa a resposta ao stresse glicocorticóide, (b) mais fino é o córtex frontal e menor o seu metabolismo, e (c) mais fraca é a função frontal em relação à memória operacional, regulação das emoções, controlo de impulsos e tomada de decisões executivas; além disso, para obter uma regulação frontal equivalente, as crianças com estatuto socioeconómico mais baixo devem ativar mais o córtex frontal do que as crianças com estatuto socioeconómico mais alto. Além disso, a pobreza infantil prejudica a maturação do corpo caloso, um feixe de fibras axonais que conectam os dois hemisférios e integram a sua função. Isso é tão errado – escolha estupidamente uma família pobre para nascer e, no jardim de infância, a probabilidade de ter sucesso nos testes de marshmallow da vida já estão contra si.

Pesquisas consideráveis ​​concentram-se em como a pobreza “penetra na pele”. Alguns mecanismos são específicos para o ser humano – se é pobre, é mais provável que cresça próximo de toxinas ambientais, num bairro perigoso, com mais lojas de bebidas alcoólicas do que os mercados que vendem vegetais; é menos provável que frequente uma boa escola ou tenha pais com tempo para ler para si. É provável que na sua comunidade tenha pouco capital social e você, baixa auto-estima.”

Mas estas pessoas, para além de terem nascido numa família com condições sócio-económicas favoráveis e terem a bênção genética, também conseguiram ter o “mérito” de nascer num país, numa sociedade, capaz de aproveitar todo o seu esforço e mérito. Como exemplo, se fossem mulheres e nascessem na Arábia Saudita, dificilmente iriam conseguir alcançar alguma coisa de relevante, dadas as limitações impostas às mulheres nessa sociedade. Ou se tivessem nascido numa aldeia na Nigéria e a vossa aldeia fosse dizimida pelo Boko Haram e vocês transformados em Crianças-Soldado, dificilmente iriam ter capacidade para criar uma Startup fantástica na área da Inteligência Artificial. Portanto, parabéns pela vossa sorte.

Os “Meritocráticos” Versus Instituições Governamentais
A coisa mais perversa associada a esta ideia da meritocracia, é que levou a uma corrente liberal anti-Estado. No fundo, a lógica é a seguinte: “se eu fui bem sucedido na vida à conta do meu esforço e tu não foste bem sucedido porque és um preguiçoso e não te esforçaste o suficiente, porque é que eu tenho que pagar mais impostos para te sustentar a ti?”

Surge assim a ideia do “Self Made Man” criado no vazio, como se não tivesse sido o Estado (ou seja, todos nós), os responsáveis pela criação das infraestruturas, das instituições e serviços que permitiram ao “Self Made Man” prosperar. Mas o mais importante, é que o Estado é dos poucos mecanismos que poderá impor um verdadeiro sistema meritocrático, ajudando a reduzir as desvantagens existentes entres os diferentes estratos sociais, para que as crianças que tiveram o azar de ser menos afortunadas nos ambientes em que nasceram, tenha menos desvantagens em comparação às crianças que nasceram em “berços de ouro”. Um estudo da OCDE mostra quantas gerações são necessárias para subir no estrato sócio-económico. E não há surpresas…países nórdicos, conhecidos pela sua menor desigualdade sócio-económica, permite uma mais rápida mobilidade social. (Ver imagem)

Não só isso, como o desrespeito pelo Estado demonstrado por esta ala meritocrática é um pontapé na boca a todos nós, já que o investimento público em investigação, inovação, tecnologia é um dos grandes pilares que permite que estes “Self Made Man” vão surgindo. O telemóvel que temos na mão, é graças ao investimento do Estado. Mesma coisa para GPS, baterias de lítio, airbags e a Internet. E a mesma coisa para muitos dos fármacos que consumimos hoje em dia (1, 2, 3).

Mas não é apenas isso. É a sociedade e todas as instituições criadas pela sociedade que permitiram a evolução cultural e a acumulação de conhecimento. Portanto, quando um “Self Made Man” cria alguma tecnologia revolucionária, o mérito dele é uma ínfima parte de todo o processo de criação, já que assenta em conhecimento produzido por milhares de pessoas que o antecederam. Aliás, hoje em dia grandes descobertas são feitas por equipas de pessoas e não por uma pessoa só, dada a complexidade cada vez maior em fazer avançar o conhecimento e produzir tecnologia.

Mas mais…estes Meritocratas não seriam nada, na ausência das pessoas “sem grande mérito” ou status social, que lhes produzem a comida, constroem a casa, mantém os sistemas de canalização, de eletricidade e aquecimento, fazem recolha do lixo, etc. Aqueles funcionários sem mérito que recebem pouco, mas que mantêm todas as nossas infrastruturas a funcionar.

Citando o Ricardo Lopes, do Canal Dissenter, esta atitude dos meritocratas “é uma falta de respeito abjecta pela sociedade em que vivem, pela longa história da humanidade e o nível mais alto de arrogância e egocentrismo que alguém pode atingir.“

O Meritocrata não é nada sem a sociedade em que está inserido e as condições que essa sociedade lhe proporcionou para se transformar neste “Self Made Man”, super empreendedor, que enriqueceu imenso graças a uma ideia genial criada às costas de milhares de pessoas que contribuíram para que essa ideia genial pudesse ter surgido.

Conclusão
Portanto, o nosso mérito será qualquer coisa como 90% sorte, 10% esforço. Certamente que ver as coisas desta forma tira muito glamour a todas as nossas conquistas sociais. Mas é a realidade.

Que fique claro, não se está a falar contra os empreendedores. Eles têm mérito e alguns deles revolucionaram a sociedade em que vivemos. Agora, que se acabe com esta ideia que surgem no vazio, que o seu mérito é exclusivamente seu e que os com pouco mérito o são por “preguiça” e “não se terem esforçado o suficiente”. Obviamente que também existem os preguiçosos, mas a generalização como forma de atacar o Estado Social para reduzir a contribuição do “Self Made Man” via impostos para a sociedade, é só ridícula.

E, para quem acha que o “Self Made Man” conseguiu erguer-se à custa de um trabalho imenso, investindo 100 horas por semana na sua carreira, desengane-se. Os CEOs trabalham em média 60 horas por semana. Não é mau…mas agora vamos imaginar a mãe solteira com dois empregos, a receber o ordenado mínimo, sem ajuda em casa para tomar conta dos filhos, o que significa que ainda tem que fazer a lida doméstica e acompanhar as crianças na escola…faltará esforço a esta pessoa? Onde está a sua recompensa por este esforço? Ou terá tido azar relativamente às suas condicionantes de vida?

E terminamos com um vídeo do Rationality Rules, que devia ser visto por todos estes Self Made Man liberais, que pensam no Estado como um sorvedouro de impostos inútil, que apenas serve para matar a iniciativa privada:

https://www.youtube.com/watch?v=e5GB5mZb0yM&feature=emb_title

jeab

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #398 em: 2020-01-18 17:11:00 »
A diferença entre Liberalismo (na minha óptica) e o Libertarianismo (ou liberalismo, segundo a óptica de muitos), e o mito da pura meritocracia, explicados num excelente texto publicado aqui:

https://www.scimed.pt/geral/o-mito-da-meritocracia-a-piada-que-se-transformou-num-dogma/?fbclid=IwAR3uLd2lfVP6955Hi_XAUymUB_xajuRrw468FbAVU8BTtGGB0bb0wOXcBao

O MITO DA MERITOCRACIA, de João Júlio Cerqueira:

O termo “meritocracia” foi criado por Michael Young, quando escreveu o romance satírico em 1958, “The Rise of Meritocracy”. No livro, Young descrevia um tipo de auto-ilusão em que as pessoas ricas se convenciam que a sua riqueza era evidência da sua superioridade moral. A piada é que a sátira virou dogma. Hoje vivemos da meritocracia. Onde nos convenceram que aquilo que alcançamos depende apenas da nosso trabalho árduo e perseverança. Se não consegues, a culpa é tua. Não te esforçaste o suficiente.

Não só isso, como se criou outra piada interessante. A ideia da meritocracia começou por ser uma ideia anti-aristrocrática já que, cada um de nós, independentemente das nossas origens, poderia ser rico, famoso e bem sucedido dependendo apenas do nosso mérito. No entanto, esta atitude/ideologia transformou-se num modelo de perpetuação de uma nova aristrocacia, já que um dos maiores fatores para ser bem sucedido na vida é ser filho de pessoas bem sucedidas. Mesmo que tenham más notas na escola.

E ser filho de pessoas bem sucedidas influencia o nosso futuro sucesso de duas formas. Os genes que herdamos e o ambiente familiar e sócio-económico em que somos criados.  Dado que ninguém escolhe o seu próprio genoma, não estou a ver onde está o mérito disso. E como ninguém escolhe a família onde nasce – se rica se pobre, com bom ou mau aporte nutricional, se bem conectada em termos sociais ou nem por isso, se numa família estruturada ou não – também não me parece que seja possível atribuir o nosso mérito a essas ocorrências.

Aliás, uma das passagens do Behave, do Salpolsky, que mais me impressionou, foi esta:

“A conexão entre a adversidade infantil e a maturação frontocortical é visível quando se estuda a pobreza infantil. O trabalho de Martha Farah, da Universidade da Pensilvânia, Tom Boyce, da UCSF, e outros demonstra algo ultrajante: aos cinco anos, quanto menor o estatuto socioeconómico de uma criança, em média, (a) maiores os níveis basais de glicocorticóides e/ou mais reativa a resposta ao stresse glicocorticóide, (b) mais fino é o córtex frontal e menor o seu metabolismo, e (c) mais fraca é a função frontal em relação à memória operacional, regulação das emoções, controlo de impulsos e tomada de decisões executivas; além disso, para obter uma regulação frontal equivalente, as crianças com estatuto socioeconómico mais baixo devem ativar mais o córtex frontal do que as crianças com estatuto socioeconómico mais alto. Além disso, a pobreza infantil prejudica a maturação do corpo caloso, um feixe de fibras axonais que conectam os dois hemisférios e integram a sua função. Isso é tão errado – escolha estupidamente uma família pobre para nascer e, no jardim de infância, a probabilidade de ter sucesso nos testes de marshmallow da vida já estão contra si.

Pesquisas consideráveis ​​concentram-se em como a pobreza “penetra na pele”. Alguns mecanismos são específicos para o ser humano – se é pobre, é mais provável que cresça próximo de toxinas ambientais, num bairro perigoso, com mais lojas de bebidas alcoólicas do que os mercados que vendem vegetais; é menos provável que frequente uma boa escola ou tenha pais com tempo para ler para si. É provável que na sua comunidade tenha pouco capital social e você, baixa auto-estima.”

Mas estas pessoas, para além de terem nascido numa família com condições sócio-económicas favoráveis e terem a bênção genética, também conseguiram ter o “mérito” de nascer num país, numa sociedade, capaz de aproveitar todo o seu esforço e mérito. Como exemplo, se fossem mulheres e nascessem na Arábia Saudita, dificilmente iriam conseguir alcançar alguma coisa de relevante, dadas as limitações impostas às mulheres nessa sociedade. Ou se tivessem nascido numa aldeia na Nigéria e a vossa aldeia fosse dizimida pelo Boko Haram e vocês transformados em Crianças-Soldado, dificilmente iriam ter capacidade para criar uma Startup fantástica na área da Inteligência Artificial. Portanto, parabéns pela vossa sorte.

Os “Meritocráticos” Versus Instituições Governamentais
A coisa mais perversa associada a esta ideia da meritocracia, é que levou a uma corrente liberal anti-Estado. No fundo, a lógica é a seguinte: “se eu fui bem sucedido na vida à conta do meu esforço e tu não foste bem sucedido porque és um preguiçoso e não te esforçaste o suficiente, porque é que eu tenho que pagar mais impostos para te sustentar a ti?”

Surge assim a ideia do “Self Made Man” criado no vazio, como se não tivesse sido o Estado (ou seja, todos nós), os responsáveis pela criação das infraestruturas, das instituições e serviços que permitiram ao “Self Made Man” prosperar. Mas o mais importante, é que o Estado é dos poucos mecanismos que poderá impor um verdadeiro sistema meritocrático, ajudando a reduzir as desvantagens existentes entres os diferentes estratos sociais, para que as crianças que tiveram o azar de ser menos afortunadas nos ambientes em que nasceram, tenha menos desvantagens em comparação às crianças que nasceram em “berços de ouro”. Um estudo da OCDE mostra quantas gerações são necessárias para subir no estrato sócio-económico. E não há surpresas…países nórdicos, conhecidos pela sua menor desigualdade sócio-económica, permite uma mais rápida mobilidade social. (Ver imagem)

Não só isso, como o desrespeito pelo Estado demonstrado por esta ala meritocrática é um pontapé na boca a todos nós, já que o investimento público em investigação, inovação, tecnologia é um dos grandes pilares que permite que estes “Self Made Man” vão surgindo. O telemóvel que temos na mão, é graças ao investimento do Estado. Mesma coisa para GPS, baterias de lítio, airbags e a Internet. E a mesma coisa para muitos dos fármacos que consumimos hoje em dia (1, 2, 3).

Mas não é apenas isso. É a sociedade e todas as instituições criadas pela sociedade que permitiram a evolução cultural e a acumulação de conhecimento. Portanto, quando um “Self Made Man” cria alguma tecnologia revolucionária, o mérito dele é uma ínfima parte de todo o processo de criação, já que assenta em conhecimento produzido por milhares de pessoas que o antecederam. Aliás, hoje em dia grandes descobertas são feitas por equipas de pessoas e não por uma pessoa só, dada a complexidade cada vez maior em fazer avançar o conhecimento e produzir tecnologia.

Mas mais…estes Meritocratas não seriam nada, na ausência das pessoas “sem grande mérito” ou status social, que lhes produzem a comida, constroem a casa, mantém os sistemas de canalização, de eletricidade e aquecimento, fazem recolha do lixo, etc. Aqueles funcionários sem mérito que recebem pouco, mas que mantêm todas as nossas infrastruturas a funcionar.

Citando o Ricardo Lopes, do Canal Dissenter, esta atitude dos meritocratas “é uma falta de respeito abjecta pela sociedade em que vivem, pela longa história da humanidade e o nível mais alto de arrogância e egocentrismo que alguém pode atingir.“

O Meritocrata não é nada sem a sociedade em que está inserido e as condições que essa sociedade lhe proporcionou para se transformar neste “Self Made Man”, super empreendedor, que enriqueceu imenso graças a uma ideia genial criada às costas de milhares de pessoas que contribuíram para que essa ideia genial pudesse ter surgido.

Conclusão
Portanto, o nosso mérito será qualquer coisa como 90% sorte, 10% esforço. Certamente que ver as coisas desta forma tira muito glamour a todas as nossas conquistas sociais. Mas é a realidade.

Que fique claro, não se está a falar contra os empreendedores. Eles têm mérito e alguns deles revolucionaram a sociedade em que vivemos. Agora, que se acabe com esta ideia que surgem no vazio, que o seu mérito é exclusivamente seu e que os com pouco mérito o são por “preguiça” e “não se terem esforçado o suficiente”. Obviamente que também existem os preguiçosos, mas a generalização como forma de atacar o Estado Social para reduzir a contribuição do “Self Made Man” via impostos para a sociedade, é só ridícula.

E, para quem acha que o “Self Made Man” conseguiu erguer-se à custa de um trabalho imenso, investindo 100 horas por semana na sua carreira, desengane-se. Os CEOs trabalham em média 60 horas por semana. Não é mau…mas agora vamos imaginar a mãe solteira com dois empregos, a receber o ordenado mínimo, sem ajuda em casa para tomar conta dos filhos, o que significa que ainda tem que fazer a lida doméstica e acompanhar as crianças na escola…faltará esforço a esta pessoa? Onde está a sua recompensa por este esforço? Ou terá tido azar relativamente às suas condicionantes de vida?

E terminamos com um vídeo do Rationality Rules, que devia ser visto por todos estes Self Made Man liberais, que pensam no Estado como um sorvedouro de impostos inútil, que apenas serve para matar a iniciativa privada:

https://www.youtube.com/watch?v=e5GB5mZb0yM&feature=emb_title


Este artigo está de parabéns  :D  É para já o artigo Nº1 de bosta de 2020 e se tivesse aparecido em 2019 também ganharia o 1º lugar, tal é a bosta de artigo.
« Última modificação: 2020-01-18 17:11:53 por jeab »
O Socialismo acaba quando se acaba o dinheiro - Winston Churchill

Toda a vida política portuguesa pós 25 de Abril/74 está monopolizada pelos partidos políticos, liderados por carreiristas ambiciosos, medíocres e de integridade duvidosa.
Daí provém a mediocridade nacional!
O verdadeiro homem inteligente é aquele que parece ser um idiota na frente de um idiota que parece ser inteligente!

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Re: O cantinho dos Liberais
« Responder #399 em: 2020-01-18 17:32:51 »

Este artigo está de parabéns  :D  É para já o artigo Nº1 de bosta de 2020 e se tivesse aparecido em 2019 também ganharia o 1º lugar, tal é a bosta de artigo.

O teu argumento então ainda está mais de parabéns!  :D