Eu por acaso acho que eventualmente poderá ser possível casar o desenho inteligente com a evolução. Para tal, será praticamente bastante acreditar no livre arbítrio em vez de no determinismo.
Se um dado estado do universo só puder levar a outro, o futuro está todo pré-determinado mesmo que não seja possível calcular o futuro. Isto é o determinismo.
Se existir livre arbítrio de alguém dentro do sistema, então o futuro não está pré-determinado e é impossível de calcular mesmo que se tivessem todos os dados de um estado do Universo. Porém, há outra consequência, para um organismo "superior" ter livre arbítrio, o livre arbítrio, ainda que incrivelmente condicionado, tem que fluir até à sua particula mais pequena! Porque se a um nível elementar o ser estivesse condicionado por leis imutáveis, então no seu agregado não teria livre arbitrio. Ora, isto abre a hipótese de que a matéria, desde o nível mais elementar, tenha "alguma" (pode ser ínfima) capacidade de decisão. O que torna aquilo que vai acontecer mesmo à partícula mais elementar como sendo o resultado de uma distribuição de probabilidades e não uma certeza. O que é compatível com a física quântica.
Essa distribuição de probabilidades esbate-se mutíssimo numa quantidade grande de partículas (uma escala "menos microscópica") porque a interacção entre elas vai condicionar ainda mais a liberdade de cada uma "decidir" (isto é compatível com a física clássica). Mas ao existir a possibilidade de cada uma decidir, possibilidade essa tanto maior quanto mais as partículas estejam livres da interacção das outras (portanto maior em gases -- onde pode ser exagerada -- ou ... líquidos, geralmente presentes em todas as formas de vida), forma-se a possibilidade de essas partículas se agregarem em seres microscópicos também eles com alguma capacidade de decisão!
E isso abre a possibilidade de, com maior ou menor grau (agora impossível de estabelecer, isto seria uma coisa ainda muito crua), parte do desenho dos seres, desde os mais microscópicos, ter uma componente de "desenho inteligente". Desenho esse similar ao que ocorre a uma escala muito maior, quando uma cidade é desenhada pelos seus constituintes, em vez de ser desenhada "top down". Ou seja, há a possibilidade de existir desenho inteligente, mas não ditado por uma "entidade superior" e sim um desenho inteligente de baixo para cima, extremamente condicionado, e em que a evolução depois vai ainda apurando os desenhos que vão surgindo (a par com muita aleatoriedade).
Esta teoria maluca é minha, nunca vi similar em lado nenhum, mas a mim parece-me bastante consistente e "possível", ao contrário do desenho inteligente creaccionista, e em parte à evoluçao "pura", embora acredite que a evolução represente o maior papel em tudo isto (o que implicaria capacidades de desenho e decisão a um nível muito baixo muito condicionadas).
Isto também poderia explicar coisas como a emergência da vida não ser totalmente ao acaso (embora novamente fosse muito dependente das condições locais serem suficientemente favoráveis para que a latitude das decisões elementares tivesse sequer a opção de iniciar vida).
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Dito isto, eu tanto posso acreditar nisto como noutra coisa qualquer. Simplesmente parece-me uma teoria plausível e sem grandes buracos, que agora eventualmente seria de reduzir a hipóteses testáveis.