Síntese, publicada hoje no Jornal de Negócios (Bloomberg),
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O que torna uma possível recessão diferente da última grande crise financeira
Políticas monetárias mais duras para combater a inflação fazem soar alarmes quanto a uma possível recessão.
O cenário de uma recessão a nível global continua a dar que falar, à medida que os bancos centrais endurecem as políticas monetárias para fazer face à inflação. Mesmo que não chegue a tal, a verdade é que as economias estão sob forte pressão. Contudo, há dez aspetos que tornam esta crise muito diferente da grande crise financeira de 2008, que ficou conhecida como a crise subprime.
Inflação
A inflação está a atingir os níveis mais elevados em décadas em quase todos os países, mesmo em países como a Suíça e o Japão, onde habitualmente tal não se regista.
Emprego
A situação atual é também diferente neste campo. No final de janeiro de 2013, já no pós-crise financeira, a taxa de desemprego nos Estados Unidos situava-se nos 8%. Agora, mantém-se nos 3,6%.
Europa sob stress
Ao contrário do que aconteceu há mais de um década, em que a economia alemã prosperava enquanto as vizinhas afundavam, desta vez o que está em causa é a pressão sob a indústria alemã devido ao aumento dos preços da energia e a luta para substituir o fornecimento de gás da Rússia. Se em 2012 a Alemanha apresentava um elevado excedente orçamental, agora está em défice.
Realidade do spread é diferente
Os países europeus periféricos, como Portugal, Espanha e Itália, continuam a ter de pagar mais do que a Alemanha para se financiar no mercado de dívida. Contudo, esta diferença é agora menos avassaladora do que em 2012, quando vários países foram forçados a pedir resgate.
Confiança do consumidor
Apesar de a confiança dos consumidores estar em má forma, a saúde financeira dos indicadores de consumo estão em muito melhor estado face a qualquer período da última grande recessão. Os incumprimentos das famílias aumentaram drasticamente em 2006 e 2007, o que levou à grande crise financeira, e assim se mantiveram durante várias anos mesmo após o pior ter passado. Neste momento, não se verifica nada semelhante.
Habitação
Esta é uma clara diferença. Os preços da habitação começaram a afundar no início de 2006, antes da grande crise financeira. Um cenário que não se regista atualmente, uma vez que até agora o índice de preços da habitação ainda não começou a cair.
Não há falta de dinheiro, mas sim de bens
Há dez anos o mundo enfrentou uma escassez de dinheiro, com consumidores e países incapazes de fazer face às suas obrigações financeiras. Hoje em dia, a escassez está essencialmente relacionada com matérias-primas, sobretudo energia. Se olharmos para a grande crise de 2008, a Fed desempenhou um papel importante no arrefecimento da crise ao abrir uma ‘swap line’ com outros países de forma a aliviar a pressão sobre a liquidez do dólar. Atualmente, os países procuram novas fontes de gás e outras commodities, e não propriamente dinheiro.
Capital vs força de trabalho
No início da primavera em 2007, a taxa de desemprego nos Estados Unidos começou a aumentar, tendo, poucos meses depois, o índice do S&P 500 atingido o maior pico antes da crise financeira. Desta vez, os papéis estão invertidos. As bolsas estão a cair há quase oito meses, enquanto a taxa de desemprego recusa aumentar.
Produção industrial
Nos Estados Unidos, a produção industrial começou a cair no início de 2008. Desta vez, continua a bater novos máximos.
Distribuição de aumentos salariais
Os aumentos salariais para aqueles com ordenados mais baixos nos Estados Unidos ultrapassam em muito aqueles destinados aos cidadãos com ordenados superiores, sendo um ambiente completamente distinto daquele vivido a partir de 2008.