A história de Zark Al Banu Al Sassan
Nasci, Comendador dos Crentes em Baghdad.
Tive a sorte de os meus pais serem pessoas de posses; quando morreram deixaram-me uma pequena fortuna que fiz aumentar, trabalhando arduamente, dia e noite.
A certa altura era já o dono de oitenta camelos, que alugava aos mercadores quando formavam as suas caravanas
Frequentemente eu próprio os acompanhava nas suas viagens e regressava sempre com gordos lucros.
Certo dia, regressava eu de Bassorá, onde tinha adquirido um carregamento de mercadorias destinadas à India, quando ao meio dia parámos num lugar solitário que prometia boa pastagem para os meus camelos.
Descansava à sombra de uma palmeira quando um
derviche, que se dirigia a pé para Bassorá, se sentou a meu lado.
Eu perguntei-lhe de onde vinha e para onde ia e rapidamente fizemos amizade, partilhámos a comida que trazíamos e satisfizemos a nossa fome.
Enquanto comíamos o derviche mencionou que num lugar muito perto dali, se encontrava escondido um tesouro tão grande que mesmo depois dos meus camelos serem carregados até mais não poderem, o esconderijo pareceria tão cheio com se nunca tivesse sido tocado.
Estas palavras fizeram a cobiça crescer como um tumor dentro de mim, turvando-me a visão da virtude e da honradez.
Dirigi-me ao derviche e disse: bom derviche, posso ver claramente que as riquezas do mundo nada são para ti.
Qual seria a utilidade de tal tesouro, para ti? Só e viajando a pé, apenas poderias carregar contigo uma mera mão cheia.
Diz-me onde está esse tesouro e eu carregarei os meus oitenta camelos e dar-te-ei um deles como penhor da minha gratidão.
Certamente a minha oferta não soava muito magnificente, mas para mim era generosa; a ganância havia capturado o meu coração e quase julguei os setenta e nove camelos que me caberiam, como uma soma irrisória.
O derviche detectou claramente o que passava pela minha cabeça, mas não deu qualquer sinal do que pensava do que pensava da minha proposta.
Meu Irmão, disse-me calmamente, sabes tão bem como eu que a tua proposta é injusta. Poderia ter guardado o meu segredo, e ficado com o tesouro só para mim.
O facto de ter mencionado a sua existência, mostra que tenho confiança em ti e que esperava ganhar a tua gratidão para sempre, fazendo a tua fortuna assim como a minha.
Eu não podia negar a razoabilidade das palavras do derviche; mas a ideia do vagabundo vir a ser tão rico como eu era-me insuportável.
Não havia, no entanto, utilidade em discutir a questão; eu tinha que aceitar as condições do homem ou chorar até ao fim da minha vida, a perda de tão grande riqueza.
Assim, reuni os meus camelos e disse ao derviche para indicar o caminho.
Depois de andarmos algum tempo chegámos a um local que parecia um vale mas com uma entrada tão estreita que os meus camelos só podiam passar um por um.
O pequeno vale era confinado por duas montanhas com paredes tão lisas que nenhum humano as poderia escalar.
Parámos quando nos encontrávamos mais ou menos a meio do vale.
Faz os teus camelos deitarem-se neste espaço, disse ele, de forma a que os possamos facilmente carregar. A seguir iremos pelo tesouro.
Fiz o que me era pedido e juntei-me a ele que tentava acender um pequeno fogo com alguma lenha seca.
Assim que o acendeu, lançou-lhe uma mão-cheia de incenso e pronunciou algumas palavras que eu não entendi.
Uma grossa coluna de fumo subiu no ar do vale.
O derviche separou o fumo em duas colunas e então eu vi algo que me deixou paralizado de espanto
A face da montanha abria-se lentamente e um palácio esplêndido aparecia.
Comendador dos Crentes, a luxúria pelo ouro tinha tomado posse de mim. Nem me deti para examinar as riquezas. Caí sobre uma pilha de ouro perto de mim e desatei a enfiar freneticamente as moedas num saco que tinha trazido.
O derviche começou também a trabalhar. Mas cedo notei que apenas recolhia pedras preciosas. Pensei que deveria fazer o mesmo.
Finalmente os camelos foram carregados com o máximo que se podia carregar e restava selar o tesouro e tomarmos cada um o seu caminho.
No entanto, em vez de se pôr imediatamente a caminho o derviche dirigiu-se a um grande vaso dourado, explendidamente trabalhado, e de lá tirou uma pequena caixa de madeira, que escondeu no interior das suas vestes, dizendo que continha um unguento especial.
Então, mais uma vez ateou o a fogueira, lançou-lhe incenso e murmurou o feitiço desconhecido.
A rocha fechou-se; nenhuma irregularidade se via agora na face da montanha.
continua...