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Autor Tópico: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal  (Lida 141697 vezes)

Incognitus

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #460 em: 2016-11-15 17:17:18 »
[ ] Escorrer que é preciso mais igualdade é fácil, pois os seres humanos são estruturalmente invejosos e a pirâmide de riqueza vai sempre ter mais pessoas na base, seja qual for a riqueza absoluta de cada um.

Não se trata de conseguir mais igualdade! Nunca se tratou disso, aliás! Trata-se de a desigualdade que há ser mais benéfica do que prejudicial à melhoria do bem estar dos mais desfavorecidos. Economicamente, penso, este desideratum requer alguma redistribuição social de rendimento e apenas colide com a legitimidade de monopólios, os quais, se inevitáveis, devem ser administrados politicamente.

Uma coisa que eu acho é que poderia ser estabelecido um patamar mínimo, de comida, roupa, alojamento, etc, para lá da educação, saúde, etc. Esse patamar deveria ser em bens físicos de forma a que o seu custo relativo diminuísse ao longo do tempo, e o patamar deveria ser indesejável (para que as pessoas se esforçassem para sair dele). O patamar deveria estar acessível até a quem NÃO precisasse dele.

Tal seria justo.

Aqui tens a minha total concordância.

Posso dizer-te que a esquerda não apoiaria isto por pelo menos duas razões:
* "A dignidade".
* Por também estar acessível a quem não precisasse (a esquerda gosta intrinsecamente de punir quem quer que tenha mais rendimento ou riqueza, logo não gosta de dar acesso a apoios em condições iguais a essas pessoas).
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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Incognitus

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #461 em: 2016-11-15 17:18:34 »
Não me incomoda nada que parte dos impostos que me tiram da carteira seja para ajudar de alguma forma as pessoas que neste país têm acesso a menos recursos financeiros do que eu. Não só não me incomoda, como considero isso justo. Não é para alimentar oportunistas, é para ajudar quem realmente necessita, mas haverá sempre uma parcela que irá parar às mãos de quem não merece - é um dado adquirido e uma situação que é necessário combater.
Mas se não te importa e consideras justo então que sejas tu a ajudar. Não me arrastes é para ajudar alguém que eu não conheço e que não sei se merece a minha ajuda.
Eu não concordo em quem quer fazer altruísmo com o dinheiro dos outros (não leves isto para a ofensa).

Não levo nada para a ofensa. A conversa tem mantido todos os níveis de civismo e tolerância desejáveis, e é optimo que assim seja. Discutem-se ideias, não se discutem insultos.

Mas, como seria expectável, vamos concordar em estarmos em desacordo.

A meu ver, o problema dessa abordagem ("os outros que ajudem") é que a mairia das pessoas pensa dessa forma, e logo, nunca estarão/estariam dispostas a contribuir para ajudar a resolver um problema que é conceptualemte social (não individual), mesmo que não tenham feito nada directa ou pesoalmente para o criar.

Um dos grandes objectivos a atingir pela sociedade enquanto estrutura plural organizada de forma deliberada, e de onde se podem depois retirar benefícios individuais, é proporcionar a todos os cidadãos patamares mínimos de bem estar.  Para que isso seja possível, é necessário duas coisas: a contribuição de todos, e a existência de regras que contextualizem essas contribuições, quer o lado da "oferta", quer do lado da distribuição (por favor não façam associações ao manifesto comunista, porque não se trata desse tipo de "igualdade").

Se a maioria é contra ajudar, então não é democrático ajudar.

Se a maioria acha que só vale a pena ajudar com o dinheiro dos outros, isso não é ético.

-----------

Uma coisa que é aberrante em tal ajuda é o sistema até eliminar o agradecimento a quem ajuda, e pelo contrário constituir tal como uma obrigação, e a recepção da ajuda como um direito. O Automek já falou disso, Isto também não tem nada de ético.
« Última modificação: 2016-11-15 17:19:47 por Incognitus »
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

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vbm

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #462 em: 2016-11-15 18:51:18 »
Tens de dar um exemplo sem que tenha, pelo meio, a intervenção do estado.

Não há. Só o estado, ou um município, ou qualquer colectividade territorial que proceda à produção ou distribuição da utilidade gerida sem roubalheira sindical ou gestionária. É a única forma de lidar com um monopólio que não possa evitar-se ou contrariar-se pela concorrência.

Automek

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #463 em: 2016-11-15 18:57:31 »
Tens de dar um exemplo sem que tenha, pelo meio, a intervenção do estado.

Não há. Só o estado, ou um município, ou qualquer colectividade territorial que proceda à produção ou distribuição da utilidade gerida sem roubalheira sindical ou gestionária. É a única forma de lidar com um monopólio que não possa evitar-se ou contrariar-se pela concorrência.
Então não percebo o teu ponto a falar de coisas que não existem. Em mercado livre os monopólios tendem a não perdurar. Se houver dinheiro em cima da mesa para ganhar isso provocará o aparecimento de outras empresas para o ganharem, deixando de haver monopólio.
Se existem por acção do estado então a culpa não é do mercado livre mas sim do estado.

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #464 em: 2016-11-15 19:09:25 »
A desigualdade de rendimentos NÃO vai tender a diminuir. Pelo contrário, as tarefas de maior valor cada vez estão disponíveis para menos seres humanos as conseguirem desempenhar. E mesmo noutras competitivas, os melhores valem infinitamente mais que os médios ...

Insisto que numa filosofia política para o nosso tempo, ninguém busca anular desigualdade de rendimentos. Tal seria contraditório com a eficiência económica do sistema de produção e distribuição de bens. O que se pretende é não excluir a generalidade da população do progresso geral da sociedade. Para tal, concordo deva acudir-se às necessidades extremas dos inaptos a sobreviverem sem ajuda, e em relação aos trabalhadores menos qualificados o nível de remuneração deve quedar-se pelo que a economia possa suportar para os empregar, mas o leque de rendimentos, do mínimo ao máximo, só é legítimo se o sistema económico tender a melhorar a condição de vida dos menos favorecidos, logo, a diminuir: sem isso, a sociedade não vale nada e o povo deve é sublevar-se, não submeter-se.

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #465 em: 2016-11-15 19:17:20 »
Insisto que numa filosofia política para o nosso tempo, ninguém busca anular desigualdade de rendimentos. Tal seria contraditório com a eficiência económica do sistema de produção e distribuição de bens. O que se pretende é não excluir a generalidade da população do progresso geral da sociedade. Para tal, concordo deva acudir-se às necessidades extremas dos inaptos a sobreviverem sem ajuda, e em relação aos trabalhadores menos qualificados o nível de remuneração deve quedar-se pelo que a economia possa suportar para os empregar, mas o leque de rendimentos, do mínimo ao máximo, só é legítimo se o sistema económico tender a melhorar a condição de vida dos menos favorecidos, logo, a diminuir: sem isso, a sociedade não vale nada e o povo deve é sublevar-se, não submeter-se.[/size]
O inaptos (totais) são uma pequeníssima parte da sociedade (apesar de quem ouvir os comentadores parecer que toda a gente é inapta e coitadinha).
Os trabalhadores menos qualificados ajudam-se fazendo com que as empresas concorram e lutem por eles, aumentando a oferta de salário.
Deixem dinheiro na mão das pessoas e que estas o gastem em produtos e serviços. É o melhor que podem fazer pelos menos qualificados.

vbm

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #466 em: 2016-11-15 19:42:22 »
Então não percebo o teu ponto a falar de coisas que não existem. Em mercado livre os monopólios tendem a não perdurar. Se houver dinheiro em cima da mesa para ganhar isso provocará o aparecimento de outras empresas para o ganharem, deixando de haver monopólio.
Se existem por acção do estado então a culpa não é do mercado livre mas sim do estado.

A dificuldade está na proposição-premissa <os monopólios tendem a não perdurar>, ou seja em supores que o mercado livre elimina todos os monopólios: justamente, isso não acontece. Esse é o fundamento do pessimismo de David Ricardo. Ele não destitui a vantagem competitiva das inovações que têm, com boas razões, a sua fase de vida monopolista e generosa retribuição de lucros, decrescentes no tempo, naturalmente. Schumpeter modela essa economia muito bem. Mas os monopólios incontornáveis são mais radicais e não podem abolir-se! É verdade que o comércio internacional pode atenuar o poder monopolista, mas não o elimina. Vê o caso do petróleo saudita: o barril extraído daquele subsolo custa quatro a cinco vezes menos do extraído em plataformas do mar do Norte (suponho, ou presume)! Ora, se o consumo total requer a produção saudita e a do mar do Norte, a vantagem monopolista saudita é de quatrocentos ou quinhentos por cento sobre o da Europa do Norte! E porquê há-de esse lucro ser todo embolsado pelos governo saudita!? Expropriada tal produção, o sobre-lucro poderia redundar numa subvenção da cotação do petróleo para todos os consumidores. Como disse, de algum modo, o comércio internacional tende a reequilibrar os ganhos, desde que  a Arábia Saudita não faça como a Alemanha, - que exporta, poupa e não importa -, e faça como tem feito: equipa as suas cidades de tudo quanto precisa para se modernizar! Mas é discutível que não fosse preferível, no geral, ter o petróleo mais barato. Depois, claro, tudo se complica com as questões ambientais, etc. Mas isto é um exemplo. Há outros. O mais radical é a propriedade da terra. Embora, também aqui, a liberdade contratual de comprar e vender, atenue o imobilismo dos recursos e possa encaminhá-los para finalidades produtivas...

D. Antunes

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #467 em: 2016-11-15 20:06:17 »
Uma questão, o ser humano está pejado de desigualdades. Porque é que eliminar as desigualdades se aplica apenas ao plano económico/produção?

Penso esta resposta: não se aplica só no plano da produção; as sociedades só subsistem em regime da natureza transformada em estados de direito. Nestes, um indivíduo com um handicup natural tem ainda o direito à existência, como o não teria num mero estado natural.

Mutatis mutandis, no mundo económico, onde a desigualdade material é aceite, desde que não diminua o nível da sua proficiência à melhoria da condição de bem estar dos mais desfavorecidos (Rawls)

Talvez não seja a solução ecléctica do 'meio termo' aristotélico, mas é uma linha hábil de cálculo (vectorial) a que os indivíduos se sujeitam colectivamente, sob pena de derrocada civilizacional.

Isso continua a ser o plano económico. Tem o direito à existência via um apoio material dos restantes.

Mas existem mais desigualdades. Uns são mais bonitos que os outros, e por isso têm mais sexo que os outros. Porque é que não se reduz essa desigualdade coercivamente?

Ahaha... que tal um "cheque bordel", para distribuir pelos feios? "Feios" a avaliar por uma comissão especializada que elaboria uma série de parâmetros "objectivos" para determinar um índice de aceitação social dos candidatos.

Ora, acho que sabes muito bem por que razão isso não se faz.

Sebastião, imagina dois homens jovens:
-um até tem uma razoável apresentação, é simpático, mas é pouco dotado para o trabalho e também não gosta muito de vergar a coluna;
-o outro é um pouco mais feio, mas é um trabalhador empenhado.
Agora imagina que ambos pretendiam a mesma miúda. Talvez a miúda preferisse o segundo, se considerasse que com o primeiro a sua vida seria uma tragédia financeira. Mas se o estado taxar fortemente o segundo e subsidiar o primeiro, já não haveria como hesitar, ficava com o primeiro.
Estás a ver o que o estado protector faz ao incentivo para trabalhar? E que tipo de características estamos a seleccionar para as gerações futuras?
“Price is what you pay. Value is what you get.”
“In the short run the market is a voting machine. In the long run, it’s a weighting machine."
Warren Buffett

“O bom senso é a coisa do mundo mais bem distribuída: todos pensamos tê-lo em tal medida que até os mais difíceis de contentar nas outras coisas não costumam desejar mais bom senso do que aquele que têm."
René Descartes

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #468 em: 2016-11-15 20:11:39 »
A dificuldade está na proposição-premissa <os monopólios tendem a não perdurar>, ou seja em supores que o mercado livre elimina todos os monopólios: justamente, isso não acontece. Esse é o fundamento do pessimismo de David Ricardo. Ele não destitui a vantagem competitiva das inovações que têm, com boas razões, a sua fase de vida monopolista e generosa retribuição de lucros, decrescentes no tempo, naturalmente. Schumpeter modela essa economia muito bem. Mas os monopólios incontornáveis são mais radicais e não podem abolir-se! É verdade que o comércio internacional pode atenuar o poder monopolista, mas não o elimina. Vê o caso do petróleo saudita: o barril extraído daquele subsolo custa quatro a cinco vezes menos do extraído em plataformas do mar do Norte (suponho, ou presume)! Ora, se o consumo total requer a produção saudita e a do mar do Norte, a vantagem monopolista saudita é de quatrocentos ou quinhentos por cento sobre o da Europa do Norte! E porquê há-de esse lucro ser todo embolsado pelos governo saudita!? Expropriada tal produção, o sobre-lucro poderia redundar numa subvenção da cotação do petróleo para todos os consumidores. Como disse, de algum modo, o comércio internacional tende a reequilibrar os ganhos, desde que  a Arábia Saudita não faça como a Alemanha, - que exporta, poupa e não importa -, e faça como tem feito: equipa as suas cidades de tudo quanto precisa para se modernizar! Mas é discutível que não fosse preferível, no geral, ter o petróleo mais barato. Depois, claro, tudo se complica com as questões ambientais, etc. Mas isto é um exemplo. Há outros. O mais radical é a propriedade da terra. Embora, também aqui, a liberdade contratual de comprar e vender, atenue o imobilismo dos recursos e possa encaminhá-los para finalidades produtivas...[/size]
Bom, se a Arábia Saudita tem o monopólio do petróleo no seu solo é porque o próprio estado detém esse monopólio e não o liberaliza. É a intervenção do estado que o provoca. Além disso a AS não é a única produtora de petróleo do mundo. É um mau exemplo em dois sentidos.

A verdade é que não consegues dar grandes exemplos de monopólios que tenham perdurado em mercado livre, sem que isso tenha resultado da intervenção estatal. Talvez arranjes 1 ou 2 que historicamente perduraram mas não mais que isso.

O imobilismo dos recursos não é monopólio. É uma decisão económica tomada livremente. Ninguém deve ser obrigado a usar um recurso seu contra a sua vontade (senão tínhamos de exigir a quem tem casa de férias que alojasse lá alguém que não tem casa uma vez que apenas usa a casa durante muito pouco tempo).

vbm

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #469 em: 2016-11-15 20:16:37 »
Não. Não tens razão e não é nada disso. Hei-de elaborar (se elaborar!). Mas é tudo economia, nada senão economia. O que não implica que seja intocável. Toca-se e toca-se imparavelmente!

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #470 em: 2016-11-15 20:19:19 »
A meu ver, o problema dessa abordagem ("os outros que ajudem") é que a mairia das pessoas pensa dessa forma, e logo, nunca estarão/estariam dispostas a contribuir para ajudar a resolver um problema que é conceptualemte social (não individual), mesmo que não tenham feito nada directa ou pesoalmente para o criar.

Tens pouca fé na humanidade. A empatia pelo semelhante é uma das características do ser humano. Diria mesmo que é uma suas melhores qualidades.

É curioso que tenhas tão pouca fé no teu semelhante enquanto individuo que opta ou não por ser generoso, no entanto acreditas que pessoas como o José Sócrates, Armando Vara, Oliveira e Costa, Dias Loureiro, Isaltino Morais, Duarte Lima, Valentim Loureiro, etc, etc, através das suas responsabilidades governativas, consigam atenuar a diferença de rendimento entre os demais sem um objectivo maior que é perpetuar-se no poder.

Eu acredito que é importante haver uma redistribuição, mas também sei que os sujeitos acima mencionados, e mesmo os políticos actuais, não o fazem sem terem uma agenda própria, que é manter-se o máximo tempo possível no poder, aproveitando as mordomias no estado e depois, se tudo correr bem, dar o salto para uma qualquer empresa do PSI/multinacional.   


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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #471 em: 2016-11-15 21:10:55 »
[ ] Escorrer que é preciso mais igualdade é fácil, pois os seres humanos são estruturalmente invejosos e a pirâmide de riqueza vai sempre ter mais pessoas na base, seja qual for a riqueza absoluta de cada um.

Não se trata de conseguir mais igualdade! Nunca se tratou disso, aliás! Trata-se de a desigualdade que há ser mais benéfica do que prejudicial à melhoria do bem estar dos mais desfavorecidos. Economicamente, penso, este desideratum requer alguma redistribuição social de rendimento e apenas colide com a legitimidade de monopólios, os quais, se inevitáveis, devem ser administrados politicamente.

Uma coisa que eu acho é que poderia ser estabelecido um patamar mínimo, de comida, roupa, alojamento, etc, para lá da educação, saúde, etc. Esse patamar deveria ser em bens físicos de forma a que o seu custo relativo diminuísse ao longo do tempo, e o patamar deveria ser indesejável (para que as pessoas se esforçassem para sair dele). O patamar deveria estar acessível até a quem NÃO precisasse dele.

Tal seria justo.

Tal seria aquilo que tu consideras justo. Alguns quererão mais e poderão voluntariamente contribuir. Outros menos e, segundo o que habitualmente defendes, não deveriam ser obrigados a contribuir para o que consideras justo.
“Price is what you pay. Value is what you get.”
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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #472 em: 2016-11-15 21:18:21 »
Não me incomoda nada que parte dos impostos que me tiram da carteira seja para ajudar de alguma forma as pessoas que neste país têm acesso a menos recursos financeiros do que eu. Não só não me incomoda, como considero isso justo. Não é para alimentar oportunistas, é para ajudar quem realmente necessita, mas haverá sempre uma parcela que irá parar às mãos de quem não merece - é um dado adquirido e uma situação que é necessário combater.
Mas se não te importa e consideras justo então que sejas tu a ajudar. Não me arrastes é para ajudar alguém que eu não conheço e que não sei se merece a minha ajuda.
Eu não concordo em quem quer fazer altruísmo com o dinheiro dos outros (não leves isto para a ofensa).

Não levo nada para a ofensa. A conversa tem mantido todos os níveis de civismo e tolerância desejáveis, e é optimo que assim seja. Discutem-se ideias, não se discutem insultos.

Mas, como seria expectável, vamos concordar em estarmos em desacordo.

A meu ver, o problema dessa abordagem ("os outros que ajudem") é que a mairia das pessoas pensa dessa forma, e logo, nunca estarão/estariam dispostas a contribuir para ajudar a resolver um problema que é conceptualemte social (não individual), mesmo que não tenham feito nada directa ou pesoalmente para o criar.

Um dos grandes objectivos a atingir pela sociedade enquanto estrutura plural organizada de forma deliberada, e de onde se podem depois retirar benefícios individuais, é proporcionar a todos os cidadãos patamares mínimos de bem estar.  Para que isso seja possível, é necessário duas coisas: a contribuição de todos, e a existência de regras que contextualizem essas contribuições, quer o lado da "oferta", quer do lado da distribuição (por favor não façam associações ao manifesto comunista, porque não se trata desse tipo de "igualdade").

Eu diria que nisto consideras que os fins justificam os meios.

O teu fim (reduzir a desigualdade), justifica o meio (tirar a quem tem o produto do seu trabalho para dar a quem não produziu). No fundo, tornar quem produz escravo dos que não produzem.
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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #473 em: 2016-11-15 21:25:51 »

Eu diria que nisto consideras que os fins justificam os meios.

O teu fim (reduzir a desigualdade), justifica o meio (tirar a quem tem o produto do seu trabalho para dar a quem não produziu). No fundo, tornar quem produz escravo dos que não produzem.


O problema não é a ideologia , repartir é altruísta.
O problema é a falta de justiça subjacente à aplicação da ideologia.
Tudo isto culmina numa justificação que se materializa em fee's para aplicar essa transferência
de bens , de quem acumula , para que só beneficia

Automek

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #474 em: 2016-11-15 21:53:13 »
Eu acredito que é importante haver uma redistribuição
Eu também acredito, mas que seja voluntária. Eu dou a quem quiser e, se um dia precisar, quem quiser dá-me a mim.
Este "quem quiser" não precisa de ser 1 to 1 mas através de entidades locais, regionais e nacionais que estarão sob o escrutínio permanente dos dadores (porque, por ser voluntária, não necessita de qualquer controlo formal - uma instituição desaparecerá rapidamente se não servir a população na qual está inserida e/ou se se conhecerem abusos).

Eu estranho a falta de fé do Sebastião quando, sabendo que as pessoas estão asfixiadas por impostos e com pouco rendimento disponível, ainda assim conseguem por de pé uma organização enorme como o Banco Alimentar.

Isto para não falar na organização voluntária mais importante do país IMO: Bombeiros Voluntários.

O país está pejado de pessoas, vulgo carolas, que trabalham em prol dos outros. Agora imagine-se isto com muito mais dinheiro disponível.

Automek

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #475 em: 2016-11-15 21:56:06 »
Não. Não tens razão e não é nada disso. Hei-de elaborar (se elaborar!). Mas é tudo economia, nada senão economia. O que não implica que seja intocável. Toca-se e toca-se imparavelmente!
Já escreveste um sem número de linhas mas a única coisa que pedi era um ou dois exemplos de monopólios que tenham perdurado no tempo, em mercado livre, sem intervenção estatal.

Jsebastião

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #476 em: 2016-11-15 22:17:54 »
[ ] Escorrer que é preciso mais igualdade é fácil, pois os seres humanos são estruturalmente invejosos e a pirâmide de riqueza vai sempre ter mais pessoas na base, seja qual for a riqueza absoluta de cada um.

Não se trata de conseguir mais igualdade! Nunca se tratou disso, aliás! Trata-se de a desigualdade que há ser mais benéfica do que prejudicial à melhoria do bem estar dos mais desfavorecidos. Economicamente, penso, este desideratum requer alguma redistribuição social de rendimento e apenas colide com a legitimidade de monopólios, os quais, se inevitáveis, devem ser administrados politicamente.

Uma coisa que eu acho é que poderia ser estabelecido um patamar mínimo, de comida, roupa, alojamento, etc, para lá da educação, saúde, etc. Esse patamar deveria ser em bens físicos de forma a que o seu custo relativo diminuísse ao longo do tempo, e o patamar deveria ser indesejável (para que as pessoas se esforçassem para sair dele). O patamar deveria estar acessível até a quem NÃO precisasse dele.

Tal seria justo.

Aqui tens a minha total concordância.

Posso dizer-te que a esquerda não apoiaria isto por pelo menos duas razões:
* "A dignidade".
* Por também estar acessível a quem não precisasse (a esquerda gosta intrinsecamente de punir quem quer que tenha mais rendimento ou riqueza, logo não gosta de dar acesso a apoios em condições iguais a essas pessoas).

A esquerda não apoiaria e a direita provavelmente também não.  :D

Mas pouco importa, infelizmente, porque estamos muito longe de uma proposta do género chegar sequer a debate.

O que eu acho complicado na tua ideia é determinar o patamar de qualidade base. Ou seja, como se poderia estabelecer uma proposta que fosse minimamente digna e indesejável ao mesmo tempo (para quem pretendesse usufruir das medidas).
 
«Despite the constant negative press covfefe,» - Donald

«Name one thing that can't be negotiated...» - Walter "Heisenberg" White---Breaking Bad

Automek

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #477 em: 2016-11-15 22:30:35 »
vida digna é um conceito impossível de ser definido com unanimidade. cada pessoa tem o seu padrão.
um africano, se lhe pedirem para definir "vida digna", é capaz de fazer uma descrição que, para um europeu, seria uma vida de miséria inaceitável.

Jsebastião

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #478 em: 2016-11-15 22:34:51 »
Não me incomoda nada que parte dos impostos que me tiram da carteira seja para ajudar de alguma forma as pessoas que neste país têm acesso a menos recursos financeiros do que eu. Não só não me incomoda, como considero isso justo. Não é para alimentar oportunistas, é para ajudar quem realmente necessita, mas haverá sempre uma parcela que irá parar às mãos de quem não merece - é um dado adquirido e uma situação que é necessário combater.
Mas se não te importa e consideras justo então que sejas tu a ajudar. Não me arrastes é para ajudar alguém que eu não conheço e que não sei se merece a minha ajuda.
Eu não concordo em quem quer fazer altruísmo com o dinheiro dos outros (não leves isto para a ofensa).

Não levo nada para a ofensa. A conversa tem mantido todos os níveis de civismo e tolerância desejáveis, e é optimo que assim seja. Discutem-se ideias, não se discutem insultos.

Mas, como seria expectável, vamos concordar em estarmos em desacordo.

A meu ver, o problema dessa abordagem ("os outros que ajudem") é que a mairia das pessoas pensa dessa forma, e logo, nunca estarão/estariam dispostas a contribuir para ajudar a resolver um problema que é conceptualemte social (não individual), mesmo que não tenham feito nada directa ou pesoalmente para o criar.

Um dos grandes objectivos a atingir pela sociedade enquanto estrutura plural organizada de forma deliberada, e de onde se podem depois retirar benefícios individuais, é proporcionar a todos os cidadãos patamares mínimos de bem estar.  Para que isso seja possível, é necessário duas coisas: a contribuição de todos, e a existência de regras que contextualizem essas contribuições, quer o lado da "oferta", quer do lado da distribuição (por favor não façam associações ao manifesto comunista, porque não se trata desse tipo de "igualdade").

Se a maioria é contra ajudar, então não é democrático ajudar.

Se a maioria acha que só vale a pena ajudar com o dinheiro dos outros, isso não é ético.

Parece que criaste aqui um autêntico espartilho lógico, que não deixa margem para fazer passar nenhuma solução.

Pegando na tua segunda frase, deixo uma questão: como se processam todas as decisões num sistema democrático? Não é a vontade de uma maioria fazer passar uma proposta contra a vontade de uma minoria? Ético ou não, será sempre mais ético do qualquer decisão tomada em qualquer outro sistema.



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Uma coisa que é aberrante em tal ajuda é o sistema até eliminar o agradecimento a quem ajuda, e pelo contrário constituir tal como uma obrigação, e a recepção da ajuda como um direito. O Automek já falou disso, Isto também não tem nada de ético.

Não considero que seja uma "aberração" a falta de um agradecimento, até porque considero que muita gente se sente agradecida, do lado de quem recebe, e moralmente recompensada do lado que quem ajuda (sem ficarem melindrados pelo facto de não haver um "agradecimento oficial" ou pelo facto de ser uma obrigação contribuir).

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vbm

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Re: Colectivismo e Individualismo - Tópico principal
« Responder #479 em: 2016-11-15 22:38:37 »
Bom, se a Arábia Saudita tem o monopólio do petróleo no seu solo é porque o próprio estado detém esse monopólio e não o liberaliza. É a intervenção do estado que o provoca. Além disso a AS não é a única produtora de petróleo do mundo. É um mau exemplo em dois sentidos.

A verdade é que não consegues dar grandes exemplos de monopólios que tenham perdurado em mercado livre, sem que isso tenha resultado da intervenção estatal. Talvez arranjes 1 ou 2 que historicamente perduraram mas não mais que isso.

O imobilismo dos recursos não é monopólio. É uma decisão económica tomada livremente. Ninguém deve ser obrigado a usar um recurso seu contra a sua vontade (senão tínhamos de exigir a quem tem casa de férias que alojasse lá alguém que não tem casa uma vez que apenas usa a casa durante muito pouco tempo).

Os sauditas não liberalizam o petróleo que exploram por justamente ganharem muito mais em monopolizarem a sua produção! E mesmo que trespassassem esse negócio a terceiros cobrariam à cabeça, flat, o valor capitalizado da diferença  de rendimento em relação ao da média  no sector! De modo que pervertes falaciosamente o meu exemplo, apodando-o resultado de estatização, quando esta apenas se aproveita da situação monopolista a que acede.

E não são precisos grandes exemplos dos  ganhos monopolistas. Quaisquer exemplos comezinhos servem. Lê o "Economista disfarçado" de Tim Harford: A Starbucks abriu uma cafetaria numa esquina de Milão, junto de uma estação de metro, com uma freguesia espantosa para aviar café com uma margem de lucro unitária talvez mais de mil por cento! Não obstante, um economista, duzentos anos antes dessa loja abrir, previu que ela iria abrir falência!  E acertou. Faliu. Quem o previu foi David Ricardo. E como foi isso possível, nas condições daquela actividade comercial? Simples: por causa da renda exigida pelo proprietário do imóvel localizado onde a rentabilidade da cafetaria era máxima! A margem do negócio foi de tal modo absorvida pela renda do aluguer do espaço que o negócio faliu. Aqui tens a oposição clara entre o interesse produtivo e o interesse monopolista dos rentistas que se apropriam de valor sem nada propriamente produzirem.

Dir-me-ás que, justamente, a Starbucks faliu e o senhorio acabará por baixar a renda. É verdade, essa a espada de Damocles que pesa sobre os monopolistas: a liberdade contratual. Mas não deixa de constituir sempre um ónus que recai sobre a iniciativa privada, sobre tudo o que mexe e vive da negação-do-ócio, e drena a favor dos que vivem do ócio! No fundo, aliás, podes à vontade sair do exemplo da terra e da renda, e virares-te para todo e qualquer capital acumulado: qualquer negócio que dê sobre-lucro tenderá - como acima disse - a ser trespassado, transacionado, pelo valor capitalizado do seu rendimento à taxa de juro média do mercado, a qual tem essa qualidade rentista de onerar todos e tudo o que trabalha, produz e mexe!

Extrapolarás: 'Então é condenável o juro do capital?' Não. Quem trabalha, quem produz, o que não consome e aforra, tem o direito sobre o que poupa, produto do seu trabalho, e do juro módico que esse aforro lhe proporcione! Isso dinamiza a economia, torna-a séria, exigente de eficiência, de resultados e prosperidade. Certo. Mas não ao ponto de compactuar com o enriquecimento desmesurado e altamente concentrado, pelo menos se dessa situação não decorrer uma melhoria geral de bem estar para todos, e particularmente no modo de vida dos mais desfavorecidos!