PS, PSD e CDS podem afastar-se da maioriaLusa, 26 Mai, 2014, 10:15O sociólogo Adelino Maltez defendeu hoje que o resultado das eleições europeias mostra a existência de uma fragmentação política em Portugal que poderá levar os partidos PS, PSD e CDS a perder a maioria para governar.O resultado das europeias "pronuncia uma novidade no sistema político português e no regime que é a soma do PS e PSD e CDS poder nem sequer ter força para encabeçar uma maioria", afirmou em declarações à agência Lusa.
Para Adelino Maltez, a votação apresentou "uma fragmentação à esquerda e à direita", como demonstrou o facto de o partido Livre ter ultrapassado, no concelho de Lisboa, o Bloco de Esquerda, podendo também verificar-se, no curto prazo, outros fenómenos como o desenvolvimento de uma extrema-direita em Portugal.
"Podemos entrar numa criatividade do sistema político português, porque ele também está muito velhinho", referiu o politólogo e professor universitário.
Em relação aos resultados da Europa no conjunto, Adelino Maltez destacou o facto de Portugal ter entrado novamente em contraciclo.
"A maioria da Europa votou à direita -- isto excluindo a extrema-direita -- e Portugal tem, sem dúvida, o terceiro partido socialista mais votado da União Europeia e, certamente, um dos maiores partidos comunistas da Europa senão do mundo", disse.
De acordo com o investigador, "toda a Europa entrou em complexidade", já que, apesar de o PP ter ganhado em Espanha, a esquerda republicana da Catalunha e os independentistas tiveram um crescimento exponencial".
Lembrando o "mosaico" que a Europa demonstrou ser, Adelino Maltez sublinhou que os resultados das europeias mostram "sinais de convergência e de divergência" com a integração e afirmou que "se houver políticos à altura, [esta votação] pode contribuir para a integração dos europeus no sistema e fazer com que isto não seja apenas um jogo entre o partido socialista europeu e o partido popular europeu".
Já o reforço da extrema-direita na Europa e nomeadamente em França é, para Adelino Maltez, um bom sinal para a democracia.
"É bom as pessoas utilizarem os partidos políticos [para se expressarem] e não andarem a partir montras nem darem tiros. A democracia existe para expressar todos. A votação de extrema-direita é uma vitória da democracia porque é pelo voto que eles se expressam", alegou o politólogo.
Também o recorde da abstenção é visto por Adelino Maltez como uma decisão a respeitar.
"Há muitos que não foram lá [votar] porque pensaram muito bem. E muitos foram votar branco, o que também é um voto consciente", defendeu, acrescentando que "a decisão de nada dizer é uma decisão".
Em Portugal, o PS venceu as eleições europeias de domingo, com uma margem inferior a quatro pontos percentuais sobre a Aliança Portugal (PSD/CDS-PP), e a abstenção atingiu o valor recorde de 66%.
A CDU conseguiu um dos seus melhores resultados de sempre -- e deverá passar de dois para três eurodeputados -, o BE caiu para menos de metade em relação a 2009 e a surpresa da noite foi o resultado do MPT -- Partido da Terra, com a eleição pelo menos do seu cabeça-de-lista, António Marinho e Pinto.
http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=740204&tm=155&layout=121&visual=49