os latinos do leste!
O príncipe Radu, marido de Margarida, herdeira da coroa romena, esteve em Portugal, para uma conferência no Mosteiro da Batalha, e falou ao DN da herança latina e da vocação ocidental do seu país.
porque a Europa de Leste é um lugar muito difícil na Terra. Na nossa história nada dura mais de 50 anos, há sempre um terramoto, um desastre, um incêndio ou uma guerra e nada é para sempre. Eu, com a aproximação dos 60 anos, compreendo agora que na vida nada é para sempre e que nenhuma vitória é definitiva.
Mas a nação romena foi capaz de sobreviver a todas os invasores, a todos os impérios, a todas as alterações de fronteiras.
Sim, conseguimos isso miraculosamente, mas penso que esse milagre tem uma explicação e uma das razões é o forte regresso às raízes, às raízes latinas. No fim de contas, esta mistura de população local, que eram os dácios, e o império latino é uma fonte de orgulho para os romenos.
A antiga Dácia, submetida por Trajano, é também uma fonte de orgulho para os romenos?
Sim, os romenos têm orgulho nas suas raízes latinas. Toda a gente menciona o facto de o Império Romano ter conquistado a Dácia, mas isso não é um motivo de humilhação ou tristeza, pelo contrário, é razão para orgulho. Além disso, penso que o estarmos rodeados por sociedades, países e potências eslavos, além da proximidade do Médio Oriente, é muito importante. Sabe que Portugal assim como Espanha são muito influenciados pela extraordinária riqueza do mundo árabe, do mundo muçulmano, portanto consegue imaginar como foi para nós, que estávamos tão perto do Império Otomano, do Médio Oriente. Hoje em dia viajamos de avião para Istambul - são 40 minutos de voo -, é mais perto ir de Bucareste a Istambul do que ir a Budapeste.
A Roménia é uma República desde a Segunda Guerra Mundial, primeiro como um Estado comunista, agora como uma democracia. Em termos da Casa Real, que o senhor representa nesta visita, qual é a importância que pensa que tem a memória dos reis, especialmente do Rei Miguel, até para a identidade nacional?
É mais do que uma memória. É precisamente esse o ponto. No nosso país a dinastia era muito, muito jovem, ao contrário da Áustria, da Rússia, da Alemanha ou da Grã-Bretanha; na Roménia a dinastia existia apenas há cinco gerações, foi estabelecida, tal como a Casa Real, a família, em 1866. Isso faz com que tenha pouco mais de 150 anos e torna a dinastia, a instituição da coroa, uma coisa importantíssima, as pessoas associam os reis à parte democrática da nossa história, não à parte medieval da nossa história, como neste país muito antigo que é Portugal ou em Espanha ou noutro lugar. Assim, não tem que ver com memória - não houve tempo, em 150 anos, para desenvolver uma memória -, tem que ver simplesmente com identidade. O povo sabe que foi Carlos I, que era, já agora, irmão da vossa rainha D. Estefânia, quem fez a Roménia moderna, foi ele que construiu, literalmente, as instituições que trouxeram a modernidade ao país e obteve a independência da Roménia. É tão simples como isto: nós tornámo-nos um Estado independente graças a ele e durante o deu tempo. O rei seguinte, Fernando, era meio português, pelo lado da mãe. Eles tornaram a Roménia grande e ganharam a Primeira Guerra Mundial. Depois disso, Carlos II foi o único monarca da Roménia suficientemente azarado para ter aquela Europa louca à sua volta, ou seja, eram os anos trinta, um vizinho era Hitler o outro era Estaline. O que fazer neste tipo de situações? Apenas tentar sobreviver, e ele conseguiu, nos dez anos do seu reinado, o maior desenvolvimento económico do país de sempre, de sempre; no seu tempo, a moeda romena era igual ao franco belga e ao franco suíço. Depois veio o mais extraordinário de todos, o rei Miguel.
Rei Miguel, que morreu no ano passado com 96 anos, era um herói para os romenos
a verdadeira familia europeia
bsolutamente. Fazer parte dos valores e da civilização ocidental. Como disse, nós não éramos democráticos antes da chegada do rei Carlos, ele era um europeu, era um príncipe nascido na Alemanha, a sua mulher era alemã, o casal seguinte era alemão e britânico, o que veio a seguir era britânico e romeno, a minha sogra era francesa. Então, todos temos a noção de que a Coroa é também uma ponte entre países da Europa e isso não vai desaparecer tão depressa. Mas dito isto, as dificuldades da União Europeia atualmente são conhecidas pela sociedade romena, as pessoas falam sobre isso, não é uma surpresa mas, mesmo assim, continuam empenhadas nela.