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Autor Tópico: Livros  (Lida 71206 vezes)

vbm

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Re: Livros
« Responder #120 em: 2016-11-21 09:27:05 »
[ ] Além disso como em portugal não se pode falar de pobreza como no resto do mundo, fala-se em risco de pobreza. É outra habilidade dos artistas para manter a bola a rolar e os fundos para estes estudos a fluir.

[ ]

Gostei do teu libelo, automek! Não interessa se tens razão ou não. O libelo está bom. É verosímil. Há essa tendência de explorar filões quando prometem não  se esgotar tão cedo! Os monopolistas é isso que fazem. Os comerciantes do intelecto, idem! Gostei. Aplica o esquema mutatis mutandis; ele rende.

Sobre a questão de fundo, automek, eu proponho realmente a  tese, moderada, de John Rawls: é justificável a desigualdade de rendimentos que favoreça - e não agrave - a sorte das classes mais desfavorecidas. É verdade que  centenas de milhões de pessoas, deixaram, na China, de viver na miséria e ascenderam uma vida de classe média, e além disso já não se morre à fome na China. O mesmo não se passa na Índia, onde aliás nem sequer está contido o crescimento demográfico, como já está na China. Deste modo, quando o papa alerta para a desigualdade crescente na distribuição da riqueza, eu entendo isso como a reprovação de o capitalismo estar a atrasar-se imenso na erradicação da miséria, a qual, aliás, não independe do controlo demográfico, com Malthus demonstrou há mais de duzentos anos!

vbm

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Re: Livros
« Responder #121 em: 2016-11-21 09:34:46 »
Basta ler os clássicos do século XIX e início do século XX, dos países mais ricos do mundo (Inglaterra, França, Alemanha) para perceber que até pessoas com pequenos patrimónios próprios que tinham algum azar podiam cair na indigência a literalmente morrer de fome. Lê (de acordo com o tópico em que estamos), por exemplo, Servidão humana, de Somerset Maugham e vê como o protagonista esteve à beira do precipício.

O pessoal tinha muitos filhos. A fome é que verdadeiramente limitava a população. A guerra matava, em média, menos. A doença apanhava mais os mal nutridos.


Malthus descreve isso tudo na comparação do crescimento dos recursos segundo os termos de uma progressão aritmética e o das necessidades segundo os de uma progressão geométrica: a débacle é inevitável. Mais sucintamente ainda pode dizer-se: <num meio finito, nenhum elemento pode crescer ilimitadamente.>

vbm

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Re: Livros
« Responder #122 em: 2016-11-23 09:54:22 »


Não li este livro. Mas um amigo da net, num fórum de livros, leu-o e descreveu-o.
Trocámos este diálogo. Pareceu-me interessante a ficção profética
sobre o que advém, à la longue - 1870-2033 (163 anos) -
do sistema meritocrático (incontrolado)!

Vejam o que ele diz:

Ele - «"The Rise of the Meritocracy  1870-2033"
                     Michael Young - Pellican Book, 1958

Ensaio, sátira, romance distópico que descreve a criação da meritocracia no Reino Unido, entre 1870 e 2033. A própria palavra meritocracia foi cunhada pelo autor nesta obra, com a intencionalidade de lhe dar um cariz negativo embora tenha ficado para a história essencialmente com um sentido positivo!

É muito interessante verificar que a Sociedade distópica que é descrita é muito parecida com as nossas Sociedades actuais. Revela como o princípio da hereditariedade, na Sociedade de Castas foi substituído pelo princípio do mérito, numa restruturação do sistema de classes hierárquico. Como o princípio da igualdade foi substituído pelo princípio da igualdade de oportunidades e como no final as diferenças económicas e socias e a distância entre as classes voltou a aumentar... Até à Revolta do partido populista que ocorre inesperadamente para o autor em 2034! Leitura muito interessante...»


Eu - «Uma capa chamativa, bem expresiva: uma progressão decrescente em 163 anos, do quadruplo ao mérito de um só...

Fui ver no Infopédia o significado de distopia, que me remeteu para o de antiutopia e define-a assim:«representação ou descrição de uma sociedade futura caracterizada por condições de vida alienantes ou extremas, que tem como objetivo criticar tendências da sociedade atual, ou alertar para os perigos de determinadas utopias».

Ora, realmente, nós vemos tanta inépcia nos lugares de decisão que todos ansiamos por uma sociedade meritocrática! Só que, na verdade, verosímil é que as castas se reconstituem... Mas como será essa revolução populista de 2033? Trump, 17 anos antes, já mostra como será a campanha desse futuro 2034! :))»


Ele - Sim Vasco concordo contigo! A minha leitura da obra mostra-me a substituição da aristocracia do sangue britânica, amplamente feudal (Sociedade de castas, hierárquica), pela meritocracia, que tem que ver com esforço e inteligência (e educação esmerada para os melhores como vem na obra...).

Engraçado que na obra a causa desta mudança social de fundo, foi económica, ou seja aumentar o crescimento económico, pela melhor distribuição da inteligência, de forma a associar o poder e a inteligência!

Na sociedade meritocrática descrita existe perfeita igualdade de oportunidades, de maneira que os indivíduos dotados (de mérito) das classes baixas têm acesso ao ensino esmerado e virão a pertencer às classes altas.

Todos têm oportunidade de pertencer às altas classes dirigentes, com grandes salários e prestigio! Os que não conseguem (por falta de inteligência p ex) são os falhados, a grande maioria, que forma as classes de pouco valor, na base da pirâmide com poucas ou nenhumas condições de vida...

Acaba por ser construída uma nova aristocracia, desta feita do mérito! Na sociedade descrita a democracia acaba por ser esvaziada, até porque se virmos bem a aristocracia é diferente da democracia e estas são no seu sentido pleno incompatíveis!

O autor, na vida real dirigente do Labour britânico na sua época, crítica o Labour e os socialistas em todo o ensaio por terem desistido da principio da igualdade original em favor de um novo princípio, bem diferente, que é o da igualdade de oportunidades.

O princípio original permitia a ascensão da maioria, enquanto o novo apenas de uns poucos, que "arrecadam" quase tudo. Neste sentido serão os partidos populistas a exigir novamente o poder do povo, o derrube da meritocracia pela democracia! É fantástico como o autor acaba por ter esta presciência em 1958! E sim os Trumps estão aí e só espero que os moderados emendem a mão e rápido!!!»



vbm

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Viagens na minha terra
« Responder #123 em: 2016-11-26 21:35:00 »
Recordando um texto de Almeida Garrett,

«Não: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? - Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já devia andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, número de corpos que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro, seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis».

Almeida Garrett, in 'Viagens na minha Terra', cap. III.

Incognitus

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Re: Viagens na minha terra
« Responder #124 em: 2016-11-26 23:50:45 »
Recordando um texto de Almeida Garrett,

«Não: plantai batatas, ó geração de vapor e de pó de pedra, macadamizai estradas, fazeis caminhos de ferro, construí passarolas de Ícaro, para andar a qual mais depressa, estas horas contadas de uma vida toda material, maçuda e grossa como tendes feito esta que Deus nos deu tão diferente do que a que hoje vivemos. Andai, ganha-pães, andai; reduzi tudo a cifras, todas as considerações deste mundo a equações de interesse corporal, comprai, vendei, agiotai. No fim de tudo isto, o que lucrou a espécie humana? Que há mais umas poucas dúzias de homens ricos. E eu pergunto aos economistas políticos, aos moralistas, se já calcularam o número de indivíduos que é forçoso condenar a miséria, ao trabalho desproporcionado, à desmoralização, à infâmia, à ignorância crapulosa, à desgraça invencível, à penúria absoluta, para produzir um rico? - Que lho digam no Parlamento inglês, onde, depois de tantas comissões de inquérito, já devia andar orçado o número de almas que é preciso vender ao diabo, número de corpos que se tem de entregar antes do tempo ao cemitério para fazer um tecelão rico e fidalgo como Sir Roberto Peel, um mineiro, um banqueiro, um granjeeiro, seja o que for: cada homem rico, abastado, custa centos de infelizes, de miseráveis».

Almeida Garrett, in 'Viagens na minha Terra', cap. III.

Não é grande coisa e um livro com coisas destas não devia estar no programa.

Geralmente quem assim fala não passa sem toda a produção dos outros. Apenas a dá como garantida. O papel, a caneta, a rotativa, a comida que o alimenta, as estradas e passeios por onde anda, a forma como se locomove, a luz que o ilumina. Dá tudo por garantido. Não se dá bem conta da aberração que escreve. E depois isto ressoa com determinado segmento, que escolhe o livro e o enfia pelas goelas das crianças abaixo.
« Última modificação: 2016-11-26 23:51:14 por Incognitus »
"Nem tudo o que pode ser contado conta, e nem tudo o que conta pode ser contado.", Albert Einstein

Incognitus, www.thinkfn.com

vbm

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Re: Livros
« Responder #125 em: 2016-11-27 11:19:47 »
Posso perfeitamente dar-te razão, porquanto sei o excedente da produção de valor ter de ser vultuoso para reintegrar toda a renovação dos meios e instrumentos de produção, assim como instruir novas gerações no conhecimento científico adquirido, preservar o engenho criativo e inovador de todos os que investigam a natureza, os que a observam, vigiam e protegem a sua fecundidade e habitabilidade do planeta, também a recompensa dos que já não ou ainda não trabalham, e dos que se ocupam gratuitamente em inúmeras tarefas não remuneradas, mas úteis e gratificantes. De qualquer modo, isto reconhecer não é, e nunca será, equivalente a compactuar com desigualdades crescentes sem notória utilidade e melhoria para as classes mais desfavorecidas, assim não só contendo-se, mas restringindo-se as desigualdades existentes. (Também tudo a par de uma política demográfica racional)
« Última modificação: 2016-11-27 11:21:00 por vbm »

Automek

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Re: Livros
« Responder #126 em: 2016-11-27 13:35:43 »
E tão mau como a mensagem é o próprio texto, super aborrecido.
Eu no 10º ou 11º ano levei com isto. Se não gostasse já de ler, como gostava, tinha ficado arrumado definitivamente para a leitura. Na minha opinião, as escolhas literárias oficiais do MNE são a maior fábrica de criar gente com aversão à leitura.

Este tipo de coisas leem-se quando já se tem alguma bagagem de leitura e voluntariamente. Eu gosto muito de ler, adoro o Eça e o Camilo, por exemplo, mas não sou capaz de ler Saramago, apesar de três tentativas (três obras diferentes), todas abortadas precocemente. Se me tivessem enfiado com o Memorial do Convento na escola tinha ficado a odiar o homem, mais o seu estilo literário.

vbm

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Re: Livros
« Responder #127 em: 2016-11-27 16:45:32 »
Pois, automek- Eu não sabia que aquele texto constava do ensino oficial. Transcrevi-o porque o vi citado na net e tive uma experiência particular com o romance "Viagens na minha terra"! Ofereceram-me, talvez, nos meus nove, dez anos. Tentei lê-lo. Não percebi nada! Especialmente, porque a 'Joaninha' aparece e depois desaparece e não percebi nada. Sempre que personagens aparecem e depois desaparecem, despisto-me! Foi também o caso, já 'milhões de anos depois' ao tentar ler o Fausto de Goethe: a 'Margarida' aparece e depois desaparece, e não percebi nada!

Contudo, o "Viagens na minha terra" deu-me um desfecho diferente! Uma filha minha, na altura adolescente, asseverou-me que o livro era muito bom. Resolvi (tentar) lê-lo de novo: que maravilha! Riquíssimo, fino, engraçado, curiosíssimo nas observações que faz, o próprio diálogo do autor com o leitor - especialmente, com as leitoras, posto que a história foi inicialmente publicada em fascículos, como se fosse uma 'banda desenhada', porém, literária - um encanto!

Já agora, aproveito: ando a ler uma obra, traduzida, de 1850 - escripta no português de então (adoro consoantes dobradas e consoantes mudas a abrir vogais!) - de Eugene Sue, Os Mysterios do Povo, uma maravilha em 'banda literária' da história da Gallia, civilização primitiva, anterior a Roma, com influência ou conhecimento da cultura grega, depois subjugada por César, a seguir aceite com alguma autonomia, depois conquistada por Francos (tribo germânica), de seguida cristianizada e brutalizada pelos bispos de Roma, resistindo com alguma individualidade na Bretanha e na Borgonha, até à final conquista da liberdade, com a revolução de 1789, que finalmente abole toda a tirania da realeza e do clero, instaurando a liberdade e a igualdade de todos os cidadãos perante a lei. Interessante!

Vou no tempo de Carlos Martel, o que derrotou os Árabes na sua invasão da Europa, na batalha de Poitiers, em 730 d.C., o avô de Charlemagne, qui a eté couronné à Aix-la-Chapelle roi des Francs le jour de Nöel du l'an 800 :)) Uma história monumental, mas recorte fiel da história de França, segundo o ângulo de uma etnia específica - os gaullezes - subjugados! Estou a gostar.

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Aldous Huxley
« Responder #128 em: 2016-11-28 16:20:32 »


Uma aula da 5ª classe primária — miúdos de dez, onze anos —
numa lição bi-semanal de Filosofia elementar aplicada,
n' A Ilha de Huxley:

«Seja,

P = 1, 2, 3, ..., n  (pessoas)
S = o sistema de símbolos utilizados pelas pessoas para falarem umas com as outras;
       as palavras são públicas; pertencem a todos os que falam uma determinada língua;
       encontram-se registadas em dicionários.
A = acontecimentos; o que acontece é relativamente público; também o é aquilo que acontece quando alguém fala ou escreve; mas as coisas que se passam no interior das pessoas são particulares.

Alguém é capaz de sentir o que sente outra pessoa? Não.
Toda dor (o prazer também) é distinta e separada em cada pessoa.
Cada uma das dores que alguém sente é estritamente particular.
Não existe maneira de fazer passar uma a experiência de um centro de dor
para outro centro de dor.
Nenhuma comunicação é possível excepto a que se obtêm directamente através do sistema de símbolos S.

Dores particulares em cada pessoa, 1, 2, 3, ..., n.
Informação sobre dores particulares cá fora, em S, onde podemos proferir uma palavra
única pública — dor — para n experiências particulares relativas à dor, cada uma delas talvez tão diferentes de todas as outras, como diferentes são os nossos rostos.

Uma palavra só consegue representar a maneira como as coisas ou os acontecimentos da mesma natureza se parecem uns com os outros. É essa a razão por que a palavra é pública. E, sendo pública, não pode necessariamente representar a maneira como os acontecimentos da mesma espécie geral são diferentes uns dos outros

Em resumo:

•   Palavras — públicas;
•   Acontecimentos — mais ou menos públicos;
•   Centros de dor e de prazer — estritamente privados.

Mas, será mesmo assim? Não haverá, no fim de contas, uma qualquer espécie de comunicação entre as pessoas sem ser por meio das palavras mas directamente?

O que será o círculo abrangente de P, S e A: tudo separado, individuado, e no entanto uno. As pessoas, os acontecimentos, as palavras — tudo a manifestação de quê?
Quem o pode conceber? O Espírito, a Essência, o Vácuo?
Realmente essa totalidade é bem um conceito in vacuo.
Quem, do seu exterior, o concebe?
Em rigor, tal conhecimento não se pode ministrar;
cada pessoa é esse próprio conhecimento.»

Op. cit., pp. 270-73


Notável! :)
« Última modificação: 2016-11-28 16:21:21 por vbm »

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Gianfranco Sanguinetti
« Responder #129 em: 2016-12-05 15:40:29 »


A mais reveladora denúncia dos métodos de actuação
da polícia política do Estado, no caso do rapto
e assassinato de Aldo Moro!

O modo de descobrir a verdade?
Está enunciado nesta tese: 

<No espectáculo a realidade encontra-se sempre às avessas.>

Gianfranco Sanguinetti, Do Terrorismo e do Estado,
editora Antígona, Lisboa, 1981, p. 77


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Re: Livros
« Responder #130 em: 2017-03-19 16:51:40 »
«Quelle importance ce qu'on est,
ce qu'on pense, ce qu'on va devenir?

On est quelque part dans le paysage
jusqu'au jour où on n'y est plus.»


Yasmina Reza, Babylone,
Flammarion, 2016, p.12

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Re: Livros
« Responder #131 em: 2017-04-26 12:51:33 »
Algures o disse: estou no intermezzo de uma cirurgia ocular,
de modo que de um olho, vejo ao perto, d'outro vejo ao longe!
Ora, esta é a melhor condição para ler da Bíblia!
Encontrei assim esta passagem, de que gostei
(mas atenção!, não tem a ver com a Korea,
que se verá como se desenrola.)


É apenas a expressão da alegria de um Justo:


«Senhor, tu és o meu Deus;
eu te exaltarei, apregoarei o teu nome,
porque fizeste maravilhas,
realizando os teus antigos e fiéis desígnios.

Porque tu reduziste a cidade a um montão de pedras,
a cidade forte a um ruína;
a cidadela dos estranhos não é mais uma cidade,
jamais será reedificada.

Por isso te louvará um povo forte,
a cidade das nações robustas temer-te-á,
porque te tornaste fortaleza para o pobre,
fortaleza para o necessitado na sua tribulação,
refúgio contra a tempestade, sombra contra o calor.
Com efeito, o orgulho dos poderosos é como um fura-
cão que investe contra uma muralha

Como o ardor sobre uma terra árida,
humilharás a insolência dos bárbaros;
como o calor ardente por uma nuvem
assim se extinguirá o canto triunfal dos tiranos.»

(Isaías, 25 - 1 a 5 )
« Última modificação: 2017-04-26 12:52:54 por vbm »

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Re: Livros
« Responder #132 em: 2017-05-27 17:52:35 »
Vi hoje um novo tópico de «Livros recomendados»
do camarada neoliberal.

Por outro lado, gostei do postal de abertura
da smog, a livros de educação recenseados
e comentados.

Fui assim encaminhado para o meu próprio
tópico de «Livros» e ´pesquei' esta belíssima
citação de Nietzsche na Gaia Ciência:


A  propósito da clareza. — Quando se escreve é não somente para ser compreendido, mas também para não o ser. Um livro não fica diminuído pelo facto de um indivíduo qualquer o achar obscuro: ( ) Qualquer espírto um pouco distinto, qualquer gosto um pouco elevado escolhe os seus auditores; ao escolhê-los fecha a porta aos outros. As regras delicadas de um estilo nascem todas daí: são feitas para afastar, para manter a distância, para condenar o «acesso» de uma obra; para impedir alguns de compreender, e para abrir o ouvido aos outros, os tímpanos que nos são parentes.

Quanto a mim, digo-o aqui para nós, não permitirei nem à minha ignorância nem à minha vivacidade que me impeçam de vos ver claramente, ó meus amigos: ( ) Porque me sirvo dos problemas profundos como se fossem banhos frios: mal entro, saio logo. Este método, há-de dizer-se, impede de descer o suficiente, de ir ao fundo? trata-se de superstição de hidrófobo ( ) falam sem experiência. Ah! se soubessem como o frio torna as pessoas ágeis!... E de resto, diga-se de passagem: acreditais realmente que uma coisa se mantenha obscura porque não fizemos mais do que aflorá-la, deitar-lhe um olhar de passagem, lançar-lhe uma vista de olhos de passagem? ( ) Há pelo menos certas verdades ( ) que só é possível apanhá-las de surpresa: é surpreender ou largar... Enfim a minha exigência tem outra vantagem: ( ) sou forçado a ser muitas vezes rápido para que me compreendam ainda mais rapidamente.

Eis o que diz respeito à minha brevidade; já o mesmo não sucede tão brilhantemente com a minha ignorância, que não dissimulo. ( ) O que vem a ser necessário para que um espírito se alimente? nenhuma fórmula pode responder à pergunta, mas ( ). Não é a gordura que um bom dançarino pretende obter da sua alimentação ( ) ... e não conheço nada que um filósofo goste mais do que ser um bom dançarino.

                  (Gaia Ciência, Livro V, § 381)


Smog

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Re: Livros
« Responder #133 em: 2017-05-27 22:19:00 »
Bom, eu gosto mais do termo borboleta. Gosto de ser uma borboleta. :P
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vbm

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Re: Livros
« Responder #134 em: 2017-05-27 22:29:04 »
«Borboleta» lembra-me sempre tempos de criança
no jardim, a ver exactamente borboletas
a esvoaçar entre as folhas e flores
no traçado dos canteiros!


Só muito mais tarde, no estudo
de Geografia e capítulo da Metereologia,
privei com o «efeito-borboleta», o das
tempestades na China por um bater
de asas na Califórnia!

E mais tarde ainda, já depois dos computadores
pessoais, e das folhas de cálculo, a importância
altamente elástica das pequenas alterações
paramétricas e premissas de partida em
qualquer sistema de cálculo dedutivo...

Smog

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Re: Livros
« Responder #135 em: 2017-05-27 22:44:57 »
Vasco,
na biologia os insectos passam por metamorfoses e vão do ovo ao insecto perfeito. Uma borboleta é a última fase num processo de metamorfose.
Bom, se evoluir ...mudo de bicho  :P

Agora,
a bailarina é do ti Frederico e eu (que tinha comprado o Zaratustra) fiquei horrorizada pelos comentários que li acerca dele e que vinham de pessoas que vergaram a espinha ao escritor... nunca pude com isso, dá-me náuseas ver alguém adulto papaguear um autor sem ter espírito critico- é um estado adolescente na leitura/escrita.
Bom, acabei por não ler. Talvez um dia vença a repugnância já que ele não tem culpa.
Mas gosto dos teus trechos da Gaia Ciência... talvez gaste dinheiro nele. ;D
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Re: Livros
« Responder #136 em: 2017-05-28 18:50:28 »
Lê a Gaia Ciência! São reflexões aforísticas, mas explicadas ou justificadas na preferência perspectivística que adoptam que são interessantes de ler. Mas tu não gostaste do Zaratustra!? Foi a minha paixão aos dezassete anos, e reli-o várias vezes ao longo do tempo, sempre com prazer, embora com fulgor mais temperado. Aliás, a impressão que o Nietzsche de Zaratustra me causou foi tão forte que se não fosse outro meu ídolo na mesma idade, Omar Khayyam (e também Ortega y Gasset) eu ficaria 'chalupa'! Mais tarde, a filosofia, a lógica, Russell e Popper, obtemperaram aquela admiração por Nietzsche, mas não a anularam.

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Re: Livros
« Responder #137 em: 2017-05-28 19:13:21 »
Nem li. Eu sou assim, de humores. 8)
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Re: Livros
« Responder #138 em: 2017-06-09 23:07:50 »
Mais uma reflexão espantosa de Nietzsche, no Gaia Ciência:


Só criando. — O que me custou e me custa ainda constantemente mais sofrimento, é dar-me conta de que é infinitamente mais importante conhecer o nome das coisas do que saber o que elas são. A sua reputação e o seu nome, o seu aspecto e a sua importância, a sua medida tradicional, o seu peso geralmente aceite — todas as qualificações que estiveram na origem dos frutos do erro e do capricho, na sua maior parte, roupagens que se lançaram sobre elas sem tomar a precaução de as adaptar à sua essência e nem sequer à sua cor de pele — tudo isso, à força de ser acreditado, de se transmitir, de se fortificar em cada nova geração, acabou por formar o seu corpo; a aparência primitiva acaba sempre por se tornar a essência e fazer o efeito da essência! Bem louco quem acreditasse que basta recordar essa origem e mostrar esse véu nebuloso da ilusão para destruir o mundo que passa por essencial, a que se chama «realidade»! Só criando o podemos aniquilar!... Mas não esqueçamos também isto: é que basta forjar nomes novos, novas apreciações e novas probabilidades para criar com o tempo também «coisas» novas.

               (Gaia Ciência, Livro II, § 58)

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Re: Livros
« Responder #139 em: 2017-06-09 23:13:00 »
Como dizia Álvaro de Campos " a máscara agarrou-se à pele".

 ;D
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