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Autor Tópico: Livros  (Lida 69937 vezes)

vbm

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Re:Livros
« Responder #60 em: 2015-03-27 08:14:05 »


Li. Já foi traduzido e editado em português
- pré-abortográfico -; vale a pena ler!

Zel

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Re:Livros
« Responder #61 em: 2015-03-27 12:04:26 »
ja li, recomendo

vbm

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Re: Livros
« Responder #62 em: 2015-05-03 23:36:56 »
Na p. 73 do "Capital" de Picketty, ed. da Harvard estima-se que o produto mundial haja crescido de 1913 a 2012, 3% ao ano, a população mundial 1.4% ao ano, e [consequentemente] o produto per capita, 1.6% ao ano.

Se imaginarmos que a primeira taxa caia para metade e a segunda decresça 0.1% ao ano, teríamos no final do século 2013-2112, o resultado seguinte:

População mundial: 7 000 000 * 0.999 ^100 = 6 333 550 000;
Crescimento do Produto per Capita = 1.015/0.999 = 1.016

o que representaria  quase o quíntuplo do nível de vida actual:

1.016^100 = 4.898.

Positivo para os meus trinetos e tetranetos!

SkinnyThing

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Re: Livros
« Responder #63 em: 2015-05-04 09:17:43 »


Gostava de deixar aqui um livro que mudou muito a minha forma de pensar. É um livro que junta vários conceitos "Early Retirement Extreme (ERE) is a movement of individuals integrating ideas from anti-consumerism, DIY, the Renaissance man ideal, home economics, individualism, environmentalism, and rentier capitalism", com o objetivo principal de em relativamente pouco tempo podermos deixar de depender do salário para "viver".

No entanto, aconselho este livro até mesmo para aqueles que gostam do que fazem no seu emprego, pois vai muito além de "juntar dinheiro para deixar de trabalhar". Existe também um site, forum e wiki com o mesmo nome do livro se tiverem algum interesse.

vbm

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Re: Livros
« Responder #64 em: 2015-05-04 16:17:54 »
Deve ser interessante. Ter o rendimento suficiente
para levar uma vida de ócio, desde que se tenha
a sabedoria de assim estar,
é por certo um
dos gostos
de viver!

O único livro, de alguma 'macroeconomia sociológica'
que li sobre o assunto foi este:



Serge Latouche, Pequeno Tratado do Decrescimento Sereno,
(«Petit Traité de la Décroissance Sereine», 2007),
Trad. Victor Silva, Edições 70, Lisboa, 2011




Encontrei no meu word, alguns escritos
sobre Latouche. Edito o primeiro (de 2011).
Se for do agrado do fórum, tenho algo
mais, que é interessante.

Aqui vai a minha primeira, espontânea, reflexão:

Eis um título que me suscitou curiosidade por propor um resultado que nunca vi defendido embora o suspeite necessário: um decrescimento sereno! Sempre considerei que o capitalismo produz uma importante porção de bens e serviços que não serve para nada, de utilidade nula!

Por outro lado, repugnou-me desde novo a desenfreada mercantilização de cada segmento de prazer, apropriando-se os capitalistas da natureza, para cobrar preços por actividades que, — sei —, são livres e exercidas gratuitamente nos países menos desenvolvidos; rarificam assim a abundância natural,
pelo fraccionamento de serviços e bens,
que passam a vender a preços desmesurados
que os povos pagam, subjugados pelo comércio capitalista.


Por fim, sempre fui e sou consciente da validade objectiva da lei de Malthus, que é aliás logicamente incontroversa, porque não pode haver nenhum desenvolvimento ilimitado de qualquer singularidade dependente dum meio finito, limitado!

Por estas razões, era grande a minha curiosidade de ver como o autor trataria estes “adquiridos” do meu pré-juízo e como proporia o que se me afigurava deveras adequado: um decrescimento da produção, particularmente a dos bens e serviços inúteis!

——————————————————————————————————


« Última modificação: 2015-05-07 12:41:40 por vbm »

Zel

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Re: Livros
« Responder #65 em: 2015-05-04 16:30:22 »


Gostava de deixar aqui um livro que mudou muito a minha forma de pensar. É um livro que junta vários conceitos "Early Retirement Extreme (ERE) is a movement of individuals integrating ideas from anti-consumerism, DIY, the Renaissance man ideal, home economics, individualism, environmentalism, and rentier capitalism", com o objetivo principal de em relativamente pouco tempo podermos deixar de depender do salário para "viver".

No entanto, aconselho este livro até mesmo para aqueles que gostam do que fazem no seu emprego, pois vai muito além de "juntar dinheiro para deixar de trabalhar". Existe também um site, forum e wiki com o mesmo nome do livro se tiverem algum interesse.


ja li. mas acho que esta tudo no blog, nao sei se vale a pena gastar no livro.
entao skinny, ja te reformaste com 7k ano? tens plano?

vbm

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Re: Livros
« Responder #66 em: 2015-05-04 20:04:06 »
Na p. 73 do "Capital" de Picketty, ed. da Harvard estima-se que o produto mundial haja crescido de 1913 a 2012, 3% ao ano, a população mundial 1.4% ao ano, e [consequentemente] o produto per capita, 1.6% ao ano.

Se imaginarmos que a primeira taxa caia para metade e a segunda decresça 0.1% ao ano, teríamos no final do século 2013-2112, o resultado seguinte:

População mundial: 7 000 000 * 0.999 ^100 = 6 333 550 000;
Crescimento do Produto per Capita = 1.015/0.999 = 1.016

o que representaria  quase o quíntuplo do nível de vida actual:

1.016^100 = 4.898.

[ ]

E se a população, nos próximos 150 anos regredisse para
o volume demográfico de 3 500 000 000 de habitantes
que era a população existente em 1950?


Teríamos 3 500 000 000 / 7 000 000 000 = 0.5
0.5 ^(150^-1) = 0.5^0.00666 = 0.99538 = 1+d
i.e.,
d (taxa de decrescimento populacional) = (-) 0.00461 = (-) 0.461%

Se nesse período de século e meio, o produto mundial anual crescer 1/2% ao ano,
o produto per capita ainda assim elevar-se-ia acima do quadruplo do nível actual:

(1.005 / 0.99538)^150 = 1.009664 ^150 = 4.232


Ou seja, matematicamente, o único nível de vida
que parece não se aguentar é o figurar-se
o crescimento demográfico não parar!

SkinnyThing

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Re: Livros
« Responder #67 em: 2015-05-04 20:25:45 »
Deve ser interessante. Ter o rendimento suficiente
para levar uma vida de ócio, desde que se tenha
a sabedoria de assim estar,
é por certo um
dos gostos
de viver!


Atenção que isso é uma das falsas ideias à cerca deste livro. O autor apesar de não precisar de trabalhar continuava todos os dias a realizar tarefas produtivas que lhe davam prazer. A ideia de que um reformado só joga golfe e vê televisão é deprimente na minha opinião.


ja li. mas acho que esta tudo no blog, nao sei se vale a pena gastar no livro.
entao skinny, ja te reformaste com 7k ano? tens plano?

O blog e até mesmo o forum tem muita informação, mas acho um livro algo mais organizado. E não esquecer que um livro é sempre algo que podemos vender mais tarde.

Neo-Liberal tens as PM bloqueadas?
« Última modificação: 2015-05-04 20:30:56 por SkinnyThing »

Zel

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Re: Livros
« Responder #68 em: 2015-05-04 21:21:03 »
Deve ser interessante. Ter o rendimento suficiente
para levar uma vida de ócio, desde que se tenha
a sabedoria de assim estar,
é por certo um
dos gostos
de viver!


Atenção que isso é uma das falsas ideias à cerca deste livro. O autor apesar de não precisar de trabalhar continuava todos os dias a realizar tarefas produtivas que lhe davam prazer. A ideia de que um reformado só joga golfe e vê televisão é deprimente na minha opinião.


ja li. mas acho que esta tudo no blog, nao sei se vale a pena gastar no livro.
entao skinny, ja te reformaste com 7k ano? tens plano?

O blog e até mesmo o forum tem muita informação, mas acho um livro algo mais organizado. E não esquecer que um livro é sempre algo que podemos vender mais tarde.

Neo-Liberal tens as PM bloqueadas?

ja te desbloqueei

vbm

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Re: Livros
« Responder #69 em: 2015-05-04 22:47:41 »
[ ] O autor apesar de não precisar de trabalhar continuava todos os dias a realizar tarefas produtivas que lhe davam prazer.

É a minha ideia de ócio!

vbm

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Re: Livros
« Responder #70 em: 2015-05-10 11:12:13 »
Prevejo que a moda em livrarias finas vá ser a que já assoma na Pó dos Livros,
da Duque d'Ávila: alguma selecção editorial e uma secção de edições antigas
e mesmo de livros usados, tipo alfarrabista.

Realmente, dado o padrão geral de edição em massa de artefactos tipográficos, que parecem livros, mas não são livros, e vão para a máquina de guilhotinar papel ao cabo de um mês de escaparates, - edições ainda por cima ortografadas no abortográfico que o governo de 'sócrates-coelho' adoptou -, as livrarias finas têm de destacar-se pela diferença, a qual é, de alguma selecção editorial e livros de alfarrabista!

Nesse assomo de moda, (re)encontrei um pequeno grande livro de filosofia, de autoria do meu professor liceal - aliás, do Colégio Almeida Garrett, do Porto -, o Dr. José Pecegueiro, ao tempo um jovem judeu, magro, branco, diplomado por Coimbra, e que incutiu em nós o gosto pela reflexão científica e filosófica. Já conhecia a obra, perdida nalgum baú ou estante de alguma das mudanças de casa! Comprei-a, reli-a, encadernei-a.



O livrinho intitula-se Problemas da Ciência e da Filosofia Contemporânea. Excelente! Deve observar-se que no século 20 produziu-se mais filosofia do que nos 25 séculos anteriores! E a maior parte desse pensamento originou-se nas universidades americanas, que aliás recebeu inúmeros professores imigrantes da Europa.

Vou transcrever aqui um extracto, provocatoriamente, para «aprofundar antipatias»
entre os adeptos ferrenhos da democracia das opções do homem comum! :):

«O mais convicto de todos os homens é o homem comum, é o homem virado para as coisas concretas; mas a verdade também é que em nenhuma circunstância o homem comum contribuiu para o progresso teórico do saber; se o homem comum pudesse impor a sua filosofia à totalidade dos homens, farisaicamente perseguindo os que não fossem da confraria do concreto, se ele tivesse a possibilidade de cortar de vez – e algumas vezes, infelizmente, alcandorado ao poder quase o tem conseguido! – esses maravilhosos voos da fantasia abstracta que alguns grandes espíritos da humanidade se têm dado ao trabalho de cultivar sob o nome de ciência e filosofia; se fosse possível, ao homem comum, proibir por decreto o nefando crime de «voltar as costas à realidade», ver-se-ia a mesma humanidade lentamente regressar ao seio acolhedor da madre Natura, confundir-se e identificar-se com as coisas, em lenta mas cada vez mais concreta simbiose, a tal ponto concretizada que, por fim, nos não distinguíamos dos répteis, dos vermes, dos arbustos rastejantes – e longamente a erva por todos os lados sobre nós e  em nós cresceria como musgo verde altos muros de velha casa senhorial recobrindo. Então, sim! nossa angústia existencial se dissiparia, e a eterna felicidade inconsciente das coisas que não sentem, nem querem, nem pensam, de novo reencontraríamos.»

José Pecegueiro, Problemas da Ciência e da Filosofia Contemporânea,
Atlântida Editora, S.A.R.L, Coimbra, 1966, pp. 54-55.


(Note:  o tom exortativo dirigido a jovens adolescentes  de colégio.
O  livro , claro, não é todo neste tom. É obra meritória, aborda os temas
da filosofia e epistemologia contemporânea.)

« Última modificação: 2015-05-11 21:39:08 por vbm »

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Re: Livros
« Responder #71 em: 2015-06-07 20:44:10 »
Ainda a propósito de Lucrécio,



eis o relato da origem e desenvolvimento da civilização humana,
logo após a invenção do fogo - e o cozinhar os alimentos :) -,
depois de mostrar como a linguagem e o nomear as
coisas surgiu naturalmente entre os humanos
[e, digo eu, - que o li algures -, a linguagem
só começou, depois dos hominídeos terem deixado a floresta
e o seu imenso bruá cacofónico, e migrado para a savana,
onde o silêncio envolvente, tornava audível
a articulação dos sons da fala! :)]

 

Uma maravilha!


«E a propósito do fogo não te interrogues para contigo:
foi o raio que primeiro fez descer o fogo à terra para os homens
e foi a partir daí que todo o ardor da chama se espalhou.
Com efeito, vemos muitos corpos inflamados pelos fogos celestes,
quando um golpe do céu lhes comunica  o seu calor.
E, contudo, quando uma árvore frondosa, vacilando fustigada pelos ventos,
se agita e se encosta aos ramos de outra árvore, nasce da fricção
um fogo de fortes forças, e brilha por vezes o férvido calor da chama,
enquanto os ramos e os troncos se friccionam entre si.
Qualquer destas coisas pode ter dado o fogo aos mortais.
Depois, o sol ensinou a cozinhar os alimentos
e a amolecer com o calor da chama,
porque os homens viam muita coisa a amolecer nos campos,
vencidas pelos golpes dos raios e pelo calor do sol.
Depois, com o passar do tempo, aqueles que tinham mais engenho
e inteligência ensinavam a mudar a vida com as novas invenções e com o
fogo,
começaram a fundar cidades e os próprios reis
começaram a estabelecer cidadelas, protecção e refúgio para si próprios,
a dividir os gados e a distribuirem os campos,
de acordo com a beleza, com as forças e a inteligência de cada um.
Na verdade, a beleza foi de grande importância e as forças tinham grande
valia.
Depois, inventou-se a propriedade e foi descoberto o ouro,
que facilmente retirou aos fortes e belos o favor,
com a maior parte a seguir o séquito do mais rico,
por muito fortes que sejam ou dotados de um belo corpo.
Mas se alguém orientar a sua vida com recta razão,
a grande riqueza para o homem é viver frugalmente
com espírito tranquilo: com efeito do pouco nunca há falta.
Mas os homens quiseram ser ilustres e poderosos,
para que a sua fortuna perdurasse com sólidos alicerces
e, opulentos, pudessem passar uma vida tranquila.
Em vão, pois competindo para alcançar o pico das honrarias,
encheram de perigos o caminho e a inveja
como um raio, derruba-os lá do alto com um golpe,
e precipita-os  ignominiosamente no negro Tártaro,
pois a inveja abrasa as coisas mais excelsas como um raio,
de forma que de um modo geral é muito mais satisfatório
que um homem pacato obedeça em vez de querer governar,
exercendo o poder, e dominar reinos.
Por isso, deixa-os lá suar em vãos esforços,
labutando ao longo do estreito caminho da ambição,
pois o que sabem vem-lhes do que  os outros dizem e pedem coisas
a partir do que ouviram, mais do que a partir dos próprios sentidos.
E isto não acontece mais agora do que aconteceu antes e do que será no
futuro.
Ora, mortos os reis, jazia destruída a prístina majestade dos tronos
e os ceptros soberbos, e a insígnia ensanguentada  da cabeça real
chorava ao ver sua excelsa honra sob os pés do vulgo.
Na verdade, é calcado com sofreguidão excessiva aquilo que antes se
temeu.
E assim o poder regressava à escumalha e às multidões
e cada um reclamava para si o poder e o posto mais elevado.
Depois, houve quem ensinasse a nomear um magistrado
e a estabelecer direitos, para que quisessem ter leis.
Na verdade, o género humano, cansado de passar o tempo na violência,
enfraquecia devido às inimizades, razão de sobra para de bom grado
se submeter a leis e a um rigoroso Direito.
Isto porque aquele que se preparava para ferir na sequência da ira
o fazia com mais violência do que agora é permitido por leis justas.
Foi por isso que os homens se enfadaram de passar os seus dias em
violências.
Desde então, o pavor das punições mancha as alegrias da vida.
De facto, a violência e o ultraje enredam aquele
de quem partiram e a ele regressam na sua maioria,
e não é fácil levar uma vida tranquila e calma
a quem viola com as suas acções os comuns pactos da paz.»

Lucrécio, Da natureza das coisas («De rerum natura», I a.C.),
Trad., introd. e notas: Luís Manuel Gaspar Cerqueira,
Relógio D’Água, Lisboa, 2015, Livro V, 1091-1155


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Re: Livros
« Responder #72 em: 2015-06-08 13:35:46 »
Uma das utilidades agradáveis e surpreendentes
da obra imortal do materialismo do epicurista
Lucrécio é a riqueza da linguagem
e do vocabulário, a explicação
vívida de todos os cinco
sentidos na visão e
compreensão
do mundo!

Uma maravilha!
(Claro em português sem abortográfico!)

vbm

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Re: Livros
« Responder #73 em: 2015-06-10 23:09:35 »


«A ilha da Utopia tem duzentas milhas na sua maior largura,
ficando esta situada na parte média da ilha.
Essa largura diminui gradual e simetricamente
do centro para as duas extremidades,
de maneira que toda a ilha forma
como que um círculo de quinhentas milhas de perímetro
e apresenta a forma de um crescente
cujas pontas estão afastadas cerca de onze milhas.»

«O mar enche toda essa imensa reentrância;
as terras adjacentes que se desenvolvem em anfiteatro
quebram o furor dos ventos,
mantendo o mar sempre calmo
e dando àquela grande massa de água
a aparência de um lago tranquilo.»

«A parte côncava da ilha constitui como que
um único e vasto porto acessível por todos os lados
à navegação»

Thomas Morus, Utopia

vbm

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Re: Livros
« Responder #74 em: 2015-07-09 18:20:40 »
Por agora, devo iniciar a leitura da tetralogia de Thomas Mann, de José e os Seus Irmãos. São quatro volumes da Livros do Brasil, mas faltava-me o primeiro, pelo que nunca me dispus a lê-lo sem primeiro ler o primeiro. Obtive-o, há pouco tempo, numa edição do Diário de Notícias, creio que de uma colecção editada há uns anos sobre obras de literatura de Prémios Nobel. Este, foi o premiado de 1929! :)

Assim, estou a começar a ler, devagar, como convém em obras bem escritas.
Fiquei encantado com a abertura! Parece-me que este 1º volume é todo relativo
aos primeiros relatos da Bíblia sobre o povo de Abraão, Isaac e Jacob!

Achei magnífica a forma como Thomas Mann subtiliza
a busca das origens, a genealogia de cada um,
finalmente fixada no mito, uma narrativa
possível nos bastidores do tempo.

Vejam.



São as primeiras linhas daquela história magistral.

«É muito fundo o poço do passado.
Não seria melhor dizermos que é um poço sem fundo?

Sim, um poço sem fundo, se o passado a que nos referimos
(e talvez só neste caso) é o da espécie humana, a enigmática essência
de que fazem parte as nossas existências, naturalmente insatisfeitas
                                             e sobrenaturalmente desditosas.

O mistério dessa enigmática essência abrange, sem dúvida,
o nosso próprio mistério - é o alfa e o ómega de todos  os nossos problemas -
ligado estreitamente a tudo o que dizemos, dando uma significação a todos os nossos esforços.

Quanto mais fundo sondamos, quanto mais longe buscamos o mundo inferior do passado,
mais as remotas origens da humanidade, a sua história e a sua cultura se nos revelam
                                                                                                imperscrutáveis.

Quanto mais longe nos aventuramos nas sondagens, mais distante
nos parece o fundo do poço e,

à medida que vamos descobrindo novos pontos de apoio
e atingindo aparentes metas,

mais longe temos de levar a nossa sonda,
que se estira e aprofunda cada vez mais,

como se tudo quanto encontramos de investigável
estivesse preparado  para zombar das nossas laboriosas pesquisas,
tal como um navegador que segue ao longo da costa e não pode prever
                                                                                o termo da viagem.

Após cada descoberta, ele avista inesperadamente,
por trás de um promontório, outro promontório,
e assim se vê forçado a cobrir novas distâncias.


Há portanto origens provisórias constituídas praticamente, efectivamente,
pelos primórdios da tradição especial mantida por determinada comunidade,
por um povo, ou uma simples crença de família, e
a memória, embora certa
de que as profundezas não estão suficientemente fundadas,
fia-se nessas origens

:))
« Última modificação: 2015-07-09 22:09:18 por vbm »

Zenith

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Re: Livros
« Responder #75 em: 2015-07-09 18:38:35 »
Li essa tetralogia quando anadava no 1º ou 2º ano da universidade.
É realmente um livro soberbo na composição das personagens, adaptação áqueles tempos e descrição quase visual das cenas.
Não sei se foi o 1º ou 2º livro de T. Mann que li (tavez o 1º tenha sida a Montanha Mágica), mas fiqueo com paixão por esse escritor. Nesse ano devo ter lido toda a obra que está traduzida.
« Última modificação: 2015-07-09 18:40:21 por Zenith »

vbm

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Re: Livros
« Responder #76 em: 2015-07-09 20:25:10 »
Li essa tetralogia quando anadava no 1º ou 2º ano da universidade.
É realmente um livro soberbo na composição das personagens, adaptação áqueles tempos e descrição quase visual das cenas.
Não sei se foi o 1º ou 2º livro de T. Mann que li (tavez o 1º tenha sida a Montanha Mágica), mas fiqueo com paixão por esse escritor. Nesse ano devo ter lido toda a obra que está traduzida.


Sim, A Montanha Mágica é um espanto!

Inesperado e real aquele final nublado,
«sem saber ler nem escrever»!

O Doutor Fausto tem fragmentos primorosos,
mas não gostei ou não percebi.

Os Buddendbrook, encantou-me.
Gostei muito d'O Cisne Negro,
um 'Morte em Veneza' no feminino,
mas sem inclinação homossexual.

Um que adorei, foi o conto d'As cabeças trocadas,
na Índia profunda de Shiva! :))


Enquanto estudante, não tive muitas possibilidades
de tempo para a literatura, por causa da... economia a estudar!

Depois, mais tarde, o gosto pela filosofia,
a divulgação cultural da ciência (da Gradiva),
e o trabalho profissional só me deram pouco tempo
para a literatura... Mas, é imprescindível à formação
intelectual do espírito ler, ter lido, reler, alguns grandes
livros da literatura portuguesa e universal.
« Última modificação: 2015-07-09 20:27:31 por vbm »

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Re: Livros
« Responder #77 em: 2015-07-30 17:01:28 »
«Na sua indiferença, a noite conhece a verdade e
para ela nada representam os atilados preconceitos do dia.

O corpo de uma mulher é igual ao das outras,
bom para o amor, bom para a geração.

Só o semblante diferença um corpo de outro,
fazendo escolher um e não outro.

Mas o semblante é coisa do dia,
cheio de fantasias.

Para a noite, que sabe a verdade,
o semblante nada vale.»

:)

Thomas Mann, José e os Seus Irmãos
Joseph und seine Brüder»), Trad. Elisa Lopes Ribeiro
Trad. cedida por «Livros do Brasil», E. Bibliotex Editor, 2003, p. 235

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Re: Livros
« Responder #78 em: 2015-08-21 16:48:57 »
Excelente entrevista ao filósofo Eduardo Lourenço,
na revista LER nº 138 - Verão 2015:

«Por mais dependentes que estejamos dos artefactos
que inventamos, nós só temos existência em relação aos outros,
no espelho dos outros. Não há nenhuma coisa mirífica que possamos
inventar que suprima a única relação que nos importa a cada um de nós
                                                       que é a de uns com os outros.»
« Última modificação: 2015-09-11 09:43:35 por vbm »

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Re: Livros
« Responder #79 em: 2015-08-23 15:29:33 »
Prossigo com Thomas Mann,
agora na Colecção *Dois Mundos*
da «Livros do Brasil», Lisboa.



Poderia propor outros excertos,
lógico-religiosos, mas apresento
este que também é interessante! :)

«Pode-se abafar e matar um  acontecimento
com o silêncio que se faz à sua volta,
como se se lhe pusesse
uma pedra em cima.

Então, faltando-lhe o ar e a luz,
perde o fôlego e deixa de existir.

Crede-me, assim terminam muitas coisas
que se passaram, contanto que a respeito delas
                     se guarde silêncio sepulcral.»


op. cit.  p. 217