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Autor Tópico: co-adopção por casais homossexuais  (Lida 13129 vezes)

John_Law

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Re:co-adopção por casais homossexuais
« Responder #40 em: 2014-01-21 23:04:09 »
nao vejo campanhas contra a descriminacao da poligamia, cambada de hipocritas  :D

Eu não tenho nada contra. E como libertário presumo que também não tenhas nenhum problema com isso. Vou assumir que estejas a gozar e não a sugerir isso como um argumento para o que quer seja.


já agora, o que acharias de ser possível adoptar por uma família poligâmica? um grupo de 2 a n pessoas que se juntassem para terem um filho adoptado...também vias isso com bons olhos?

acho que era interessante, já que é para destruir o modelo de família actual, este modelo apesar de ser actual pode nem ser muito natural na nossa espécie, não sabemos bem como os nossos antepassados viviam na idade da pedra. o modelo de família que utilizamos é bom por criar alguma competição entre sub-grupos da mesma tribo/sociedade principalmente hoje em dia por existir tanta propriedade privada, mas por haver uma familia monogamica caso um homem seja infértil faz com que a mulher não engravide e no passado prejudicaria a sobrevivência da tribo, já ouvi vários historiadores a defender que nalgumas tribos devia ser um grande bacanal e portanto todas as crianças tinham um conjunto de pais e não apenas um, afinal, nem se saberia bem quem era o pai

Muze, mudanças como esta não são para "destruir o modelo de família actual", são para alargá-lo a outras pessoas que cabem no conceito de família. Para quem quer ou queria constituir família com o seu parceiro, sendo ambos de sexo diferente, não muda nada. :)

Não conheço bem a história da organização familiar pré-humanidade e depois mas, como dizes, a razão pela qual um qualquer modelo social antropológico é normal é porque houve uma razão biológica ou sociológica que a fez ser. Provavelmente mesmo se amanhã se tornasse legal esse tipo de uniões a esmagadora maioria dos casamentos continuaria a ser monogâmico o que pode sugerir um que temos um tendência natural a formar casais monogâmicos... Mas até que ponto não será essa tendência influenciada pelo ambiente?...  Enfim... Há-de haver literatura interessante sobre isso, de qualquer forma isso não tem nada que ver a questão da co-adopção.

Zel

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Re:co-adopção por casais homossexuais
« Responder #41 em: 2014-01-21 23:11:17 »
Eu entao acho que ate pode ser uma bençao a crianca ser diferente, aprende depressa a estupidez que eh ligar a opiniao dos outros e pode ser q isso salve a sua vida da mediocridade geral a que a maioria esta condenada
« Última modificação: 2014-01-21 23:19:39 por Neo-Liberal »

John_Law

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Re:co-adopção por casais homossexuais
« Responder #42 em: 2014-01-21 23:17:40 »

A única coisa a recear é a eventual descriminação da criança, principalmente na escola (é a única coisa que eu vejo de mais complicado).. É certo sabido que a criança vai levar gozo na escola se os colegas souberem. No entanto, na verdade, a co-adopção é apenas legalizar o óbvio.

Significa isto que a referida descriminação já acontece, pelo que tema não é conversa por ai.

Ok, Thorn, mas repara, como disseste essa alteração não muda nada, portanto invoca-lo nesta altura não faz sentido. Mas mesmo tomando isso em consideração: a discriminação existe porque é baseada num preconceito; esse preconceito pode surgir em relação a religião, classe social, orientação sexual dos pais, etc.

É porque se problema for a maldade infantil a SS iria ter começar a tirar a custódia dos filhos a pais que não podem comprar roupa de marca aos filhos...

O que eu acho é que devíamos desejar todos é que esse preconceito seja eliminado, e isso não é difícil, é só olharmos para a história e ver o quanto o mundo civilidade já mudou. O quão normal era um casal inter-racial há 40 anos atrás? Que recepção teria um miúdo numa escola portuguesa que os colegas vissem usar um kippah, comparado com que seria há 50 anos atrás?...

muze

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Re:co-adopção por casais homossexuais
« Responder #43 em: 2014-01-24 20:12:13 »
sim o ambiente mudou completamente e faz com que em geral sejamos heterossexuais monogâmicos, hoje em dia termos consciência de como se fazem os filhos, e os homens por isso talvez protejam ainda mais as suas crianças, temos a propriedade privada e as heranças por isso dá jeito saber de quem são os filhos, e também temos consciência das doenças sexualmente transmissíveis...

não percebo bem qual foi a vantagem de se restringir o modelo de família e de em alguns casos até se proibir a homossexualidade, não sei o que a sociedade em geral ganha com isso, mas gosto da ideia de se conseguir tirar métricas de vários modos de vida, não quer dizer que se deva de proibir modos de vida que fiquem mal nas estatísticas, mas esses dados talvez ajudassem as pessoas a tomar decisões mais acertadas para a sua vida

Automek

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Re:co-adopção por casais homossexuais
« Responder #44 em: 2014-02-19 19:11:29 »
Citar
Coadoção: TC declarou inconstitucional proposta de referendo

O Tribunal Constitucional (TC) declarou esta quarta-feira «inconstitucional» a proposta do Parlamento para a realização de um referendo sobre a coadoção e adoção de crianças por casais homossexuais.

De acordo com o acórdão, os juízes do palácio Ratton consideraram que a acumulação de duas perguntas no mesmo referendo – uma das quais sobre a adoção plena -, impede «a perfeita consciencialização, por parte dos cidadãos eleitores, da diversidade de valorações que podem suscitar».
O TC aponta que as duas perguntas podem levar «à contaminação recíproca das respostas, não garantindo uma pronúncia referendária genuína e esclarecida».

O órgão argumenta ainda que a proposta é inconstitucional uma vez que prevê apenas a participação dos cidadãos eleitores recenseados no território nacional, sem abrir o universo aos residentes no estrangeiro.
http://diariodigital.sapo.pt/news.asp?id_news=686193



Aqueles que andam sempre com o Jorge Miranda ao colo convinha verem que o homem também se engana quanto às decisões:
Coadoção: Jorge Miranda considera que proposta de referendo não é inconstitucional

karnuss

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Re:co-adopção por casais homossexuais
« Responder #45 em: 2014-02-27 12:14:13 »
 ;D


Jsebastião

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #46 em: 2016-01-29 22:28:57 »
Penso que este artigo se adeque a este tópico, se bem que fale da adopção em geral, e não apenas por casais homosexuais.

“Crianças abandonadas têm cérebros mais pequenos e perdem massa cinzenta para sempre”

Citar
O cérebro das crianças abandonadas perde massa cinzenta para sempre, comprometendo o seu futuro. Pais que pressionam demais os filhos também causam problemas. Charles Nelson, neurocientista, explica.

Charles Nelson é professor de pediatria na Universidade de Harvard e durante anos estudou o desenvolvimento do cérebro de crianças sujeitas a condições extremas, como o abandono e os maus tratos. As conclusões a que chegou são surpreendentes. Estas crianças, quando não são retiradas desses ambientes num curto espaço de tempo — até aos dois anos — sofrem danos irreversíveis no cérebro. Perdem massa cinzenta e o seu Quociente de Inteligência não ultrapassará os 60/ 70.

Ficar numa instituição também não é uma boa solução. Para Charles Nelson não há dúvidas: uma família de um pai, uma mãe, dois pais, duas mães ou um pai e uma mãe é sempre melhor do que uma instituição, por melhor que essa instituição seja.

Mas e nas famílias “normais”? Podemos estimular o cérebro de uma criança para que ele se desenvolva mais? E até que ponto é que puxar demasiado pelos filhos pode ser prejudicial?

Charles Nelson esteve em Portugal para participar na conferência Love Synapses, organizada pela Fundação Brazelton/ Gomes Pedro e o Observador falou com ele. Charles Nelson é professor na Universidade de Harvard

– Qual é o objecto do seu estudo?

Estudo o desenvolvimento do cérebro em bebés e crianças e o que lhes acontece quando passam por coisas más. Durante 15 anos estudei bebés, que hoje são adolescentes, que foram abandonados em crianças e tiveram de ser criados em instituições públicas, em orfanatos. Estudei crianças de um bairro de lata no Bangladesh, que são expostas a todo o tipo de coisas horríveis. Estudei crianças no Brasil que crescem em bairros com elevados níveis de violência. Estudo coisas terríveis.

– E que a que conclusões chegou?

A conclusão não surpreendente é que as más experiências, que acontecem cedo na vida das crianças, podem ter um impacto no desenvolvimento. Depois, durante o que chamamos de período crítico, o cérebro precisa de experiências que ocorram em alturas específicas para que se consiga desenvolver de forma normal. Quando se falham essas janelas temporais, o desenvolvimento da criança atrasa­-se. Para uma criança aprender a falar, tem que ouvir uma linguagem numa determinada altura. Se quiser que ela desenvolva a visão, tem que ser exposta ao mundo visual. A parte surpreendente é o quão regulados são estes períodos temporais. É fácil falhar uma oportunidade.

– Não há tempo para esperar…

Vamos usar os Estados Unidos como exemplo. As crianças que crescem num lar onde são sujeitas a maus tratos, onde os pais lhes batem ou as negligenciam, o que muitas vezes acontece é que os casos não chegam ao conhecimento das autoridades ou, quando chegam, demora-­se muito tempo até retirar a criança desse lar. Nessa altura, o desenvolvimento do cérebro já foi, possivelmente, alterado permanentemente. Essas são algumas das conclusões. Ao outro problema chamamos de “resgatar o período crítico”. Por exemplo, vejo que os seus olhos são perfeitamente alinhados, mas quando vemos bebés com os olhos tortos ou com os olhos a deambularem no campo de visão, esses problemas têm que ser tratados durante os primeiros dois anos de vida. De outro modo, ficarão com problemas permanentes na visão.

Em Itália e noutros sítios, alguns trabalhos recentes sugerem que poderá haver tratamentos, em idade adulta, para este tipo de problemas. Mas são experimentais e não estão prontos para serem consumidos. Agora pense nos milhões de crianças no mundo, a quem acontecerem coisas más. Tipicamente, se não intervimos nos primeiros anos, os efeitos podem ser permanentes. Mas há estudos recentes, na área da neurociência, que fizeram a sugestão entusiasmante de que poderão ser desenvolvimentos tratamentos para resolver estes problemas em idade adulta. Um estudo publicado esta semana estimou que um milhar de milhão de crianças é todos os dias exposta a violência. Ou seja, um quarto das crianças do mundo, até aos 17 anos.

Além disto, temos 100 milhões de orfãos e oito milhões que vivem em orfanatos e instituições. Uma enorme quantidade de miúdos estão expostos a isto. É um grande problema de saúde pública.

– Descobriu o que acontece ao cérebro das crianças quando são expostas a este tipo de experiências?

Entre as muitas coisas más que podem acontecer ao cérebro numa fase inicial da vida, a pior é negligenciá-­lo. Vou fazer uma analogia com os computadores. O cérebro infantil não sabe estabelecer ligações e está à espera de receber um conjunto de instruções, de códigos que digam, faz isto, e isto e aquilo. Quando não o recebe, desmorona-­se, não sabe como funcionar. Num estudo que fizemos na Roménia, observámos que a atividade elétrica do cérebro é muito menor em crianças que estavam em orfanatos, em comparação com as que não estavam. Se as retirarmos de uma má instituição e as pusermos numa boa família, a atividade cerebral fica normalizada, embora isto tenha que ser feito até aos dois anos de idade. Depois realizámos ressonâncias magnéticas aos cérebros dessas crianças, entre os 8 e os 10 anos, e descobrimos que as crianças que estavam numa instituição tinham cérebros mais pequenos, com menor quantidade de massas cinzenta e branca.

A massa branca, que é a que carrega os impulsos elétricos, contudo, aumentava um pouco se essas crianças fossem retiradas das instituições e colocadas numa família de acolhimento. A massa cinzenta, contudo, não apresentou qualquer melhoria. E isso pode significar que tenham perdido células ou as ligações entre elas. e esse efeito pode ser permanente. Quando nascemos temos demasiadas células e demasiadas ligações e começamos a seleccioná-las (deitamos fora as que não interessam e investimos nas que são importantes). E o que pensamos que acontece nestes casos é que o cérebro descarta ligações e células em demasia, porque vimos que as instruções sobre o que fazer não estavam lá. Estes efeitos são muito sérios, porque, se forem permanentes, provavelmente não haverá tratamento para os reverter.

– Mas quais são as consequências concretas que isso terá na vida dessas crianças?

Funcionalmente, serão crianças com um QI entre os 60 e os 70 [segundo a classificação de Wechsler, o valor da inteligência média é entre 90 e 109, mas estes valores são controversos]. Terão problemas em termos de elevadas funções cognitivas. Por exemplo, estamos a ter uma discussão em que ambos achamos que temos razão. Se eu tiver muita flexibilidade cognitiva, vou mudar de ideias se, com o tempo, você apresentar um argumento melhor. Mas se não tiver essa flexibilidade, isso não acontecerá. Estas funções são prejudicadas, a memória fica reduzida, a linguagem é afetada e a capacidade de termos relações fica devastada. A nossa capacidade de termos relações adultas está ligada às relações que os bebés constroem cedo na vida com o pai ou com a mãe. E não se trata de relacionamentos íntimos, mas de relações sociais.

Resumindo, se estas crianças têm QI’s reduzidos, má memória, má capacidade de planeamento, más capacidades linguísticas e reduzida aptidão de planeamento, como se vão tornar membros da sociedade? Portanto, a preocupação é que os eventos tóxicos que acontecem numa fase prematura da vida também podem ter um enorme impacto económico, porque estas crianças não estarão preparadas para serem pessoas que contribuam para a sociedade.

– Os seus estudos centram-­se em casos extremos, mas pode isto ser aplicado a famílias e crianças ditas normais? Algumas das maiores discussões entre pais focam­-se entre deixar o bebé experimentar por ele próprio ou obrigá­-lo, por exemplo, a ter uma rotina de sono. Ninguém costuma pensar nisto como algo tóxico ou extremo. A neurociência estuda este tipo de eventos, mais quotidianos?

Nem por isso e a razão é que a maioria das pessoas foca­-se nos eventos extremos, como a pobreza ou o stress. As crianças que vivem e são criadas em famílias com lares normais serão membros normais da sociedade, a não ser que sofram de uma doença mental grave ou de uma deficiência física debilitante. Durante muitos anos, até provavelmente há 15 ou 20 anos, grande parte do foco estava em crianças normais, que não estavam expostas a ambientes adversos. Descobrimos diferenças individuais que afetam os resultados. Como o temperamento, por exemplo. 15% dos bebés são muito tímidos e a maioria continua a sê-­lo em idade adulta. Isso pode ser muito debilitante. Se os virmos numa sala de aula, são aqueles que se sentam a um canto e não interagem com as outras crianças.

Se esses miúdos forem educados num lar onde os pais não os pressionem, os apoiem e entendam os momentos pelos quais eles estão a passar, eles vão, gradualmente, dessensibilizar­-se. Mas, num lar diferente, a mesma criança poderá enfrentar os pais e desafiá-­los. O meu filho, por exemplo, jogou futebol e hóquei durante muitos anos. Ia aos jogos e estavam lá pais inacreditáveis, a gritarem aos filhos de seis anos e a chamar-­lhes nomes por falharem um golo. Essas crianças correm o risco de ter problemas psicológicos, embora ainda estejam dentro dos limites. Podem crescer a odiar o pai, mas não terão um QI de 60 ou um cérebro mais pequeno.

–  Com base nas conclusões dos seus estudos, será que é possível enriquecer as atividades cerebrais das crianças?

Ah, já parece os pais dos meus alunos em Harvard. Quer inventar a super criança. Bem [pára uns segundos para pensar], vamos pensar em habilidade cognitiva, na inteligência. Não sabemos qual é a contribuição que os genes e a educação dos pais têm nesse campo. Digamos que um pai quer que o filho vá para a melhor universidade do mundo, se torne no Steve Jobs e vá liderar a Apple. Sabemos que os pais que pressionam muito os filhos podem criar crianças com muitos problemas. Está a perguntar se há maneira de os incentivar sem criar problemas. A resposta é sim, se isso for feito dentro dos limites do que a criança é capaz de fazer. Se o seu QI estiver nos valores normais, não é possível que cresça até ao 180. Se a criança nascer com o potencial de ter um QI de 130, é capaz de conseguir puxá-­lo até aos 150, com certas experiências. Mas há um limite. Mas agora deixe-­me perguntar­lhe: o que queria dizer com enriquecer?

– Não estava a falar em pressiona­-las demasiado, mas de criar um meio termo.

E não é isso que a maioria dos pais faz? Não queremos que o pêndulo baloice muito. O que me preocupa é o lado extremo, que é muito perigoso. Nos EUA, há pais que pensam que, a não ser que o filho frequente o jardim de infância certo, quando têm três ou quatro anos, não conseguirá entrar na universidade certa. Pensam que isso determina o futuro universitário, 15 anos depois. Há pais que querem ensinar crianças de três anos a ler. Se mostrarem interesse, há que encorajá-­las, claro, mas não podemos forçá-­las pela goela abaixo.

– Em que ponto é que isso se torna um problema?

O que um bom pai faz é ler a criança. Se deteta sinais de que o facto de puxar pelo filho lhe está a causar stress, ou ansiedade, ou angústia, então deve recuar. Se o pai puxa pelo filho e a criança responde bem, está tudo ok.

– Mas se um pai está no extremo de puxar muito pelo filho, como é que consegue reparar nisso? Porque pode sempre pensar: “Ok, ele não gosta disto, mas é para o bem dele, um dia vai percebê-­lo, quando tiver sucesso”.

O exemplo clássico é a música. A maioria das crianças que começam com aulas de música muito cedo odeiam praticar. Os pais obrigam­-nas a praticar, mas se falar com a maioria dos músicos profissionais, eles vão agradecer aos pais por os terem obrigado a treinar, apesar de, naquele tempo, ser uma fonte de discussão. Mas uma coisa é dizer que se tem de praticar, outra é dizer que é um menino feio ou estúpido se não praticar. Essa é a linha da qual estamos a falar. Não há problema em puxar pelas crianças, desde que saibamos o ponto em que temos de recuar. No caso dos pais que não sabem, que não conseguem captar os sinais, os filhos terão problemas.

– Que tipo de problemas?

São problemas que terão tendência a aparecer cedo, mas persistirão no tempo, no caso de os pais continuarem a insistir. A ansiedade será o primeiro, seguido da depressão. Depende do que os pais fizerem à criança,­­ se apenas a pressionam ou se é um abuso verbal ou emocional. Se forem exigentes, mas estiverem a pensar nos interesses da criança, é diferente dos momentos em que os pais quebram a tal linha limite. A questão está nos pais, nos que nunca foram muito bem sucedidos e querem à força que o filho tenha sucesso. Estão a viver através da criança, aí é que surgem os problemas.

– Porque se foca mais nos extremos e não estuda tanto isto?

Primeiro, porque um neurocientista olha para casos extremos esses casos e, em segundo, porque estou mais preocupado nos milhões de crianças que não têm hipótese nenhuma na vida, ao invés das crianças que apenas têm pais que os pressionam.


– Pode aplicar as conclusões a que chegou, relativas às crianças em situações limite, às políticas de adoção e de famílias de acolhimento? Acha que algo tem de mudar?

Sim, já falei com muitos advogados sobre isto. Têm de prestar atenção aos períodos críticos. Muitas vezes, a justiça demora demasiado tempo a tomar uma decisão sobre o futuro da criança. Insiste em dar segundas hipóteses aos pais e a inseri­-los em programas, sem se aperceberem que os danos causados se vão acumulando e podem ser irreversíveis. Depois, há que treinar os assistentes sociais para reconhecerem problemas e intervirem mais cedo. A lei tem de mudar.

Já usei Portugal como exemplo. Portugal tem muitas crianças a crescerem em instituições, o que não é bom. Por isso, têm de arranjar alternativas aos cuidado dos orfanatos. Mas se um pai abandona um bebé, então o que temos de fazer é encontrar uma solução permanente. Uma família de acolhimento é algo temporário, por isso será que podemos colocá-­los para adoção, a nível interno ou internacional? O importante é não as deixar em instituição ou orfanatos.

– Nem em instituições que sejam consideradas boas?

Não. Confesso, sou contra a solução da instituicionalização em quase todos os casos. Mas não sou ingénuo. Se pensar no Médio Oriente , no Afeganistão e no Iraque, por exemplo,­­ ou em África, haverá órfãos em qualquer local onde haja um cenário de guerra ou doença. Nem sempre é razoável dizer que oito mil crianças cujos pais morreram com o ébola vão ser adotadas. Como uma solução a curto ­prazo, uma instituição pode ser uma solução, mas apenas durante alguns meses, caso se tratarem de bebés. Se forem crianças ou adolescentes, os casos mudam. Se tiverem 15 anos, o efeito de ir para um orfanato não se compara ao que um bebé de um ano sentirá.

– Então acha que, na maioria dos países europeus, nenhuma criança deveria chegar a um orfanato?

Sem dúvida. Parece surpreendida…

– É que às vezes pensamos nas instituições e reconhecemos que, mesmo sem terem lá os pais, as crianças não sofrem de violência ou de maus­tratos, portanto, o que falta?

Várias coisas. Lá não há realmente um adulto que invista nas crianças. Estão lá porque são pagos para estar a tomar conta delas. Depois há turnos, por isso várias pessoas poderão tratar da mesma criança. E devido ao rácio de crianças, um adulto pode, ao mesmo tempo, ter de cuidar de dez crianças, o que privará a criança da atenção individualizada que teria se estivesse com uma família. Já estive em boas instituições, e o bom aqui significa que tinham um melhor rácio entre crianças e funcionários ­­— talvez de cinco para um. Mas a criança sente sempre uma sensação de abandono.

– A partir de que idade começa a senti­-lo?

Depende. Se tiverem sido abandonados à nascença, quanto tiverem poucos anos de idade percebem que estão ali por não terem pais. Mas se lá chegarem já com alguma idade, percebem imediatamente o que aconteceu.

– E se tiverem dois anos?

Essa é a altura mais difícil. Vão perceber que algo lhes foi retirado, mas sem compreenderem exatamente o quê. Talvez consigam formar um novo laço, mas esse é o problema das instituições. Imaginemos que tenho dois anos, os meus pais morrem e chego a um orfanato. A quem me afeiçoo? Com quem formo uma ligação? Preciso de uma pessoa que se chegue à frente e, realmente, tome conta de mim. Mas essa pessoa irá sempre para casa ao final do dia, ter com a sua família. Por isso, quem cuidará de mim?

– Isso tem implicações no desenvolvimento do cerébro.

Enormes. A primeira está na capacidade em criar relacionamentos. Temos de pensar que, a partir do momento em que afeta o comportamento, o cérebro já está afetado. O que não sabemos é o que acontece ao cérebro de crianças que estão em boas instituições e que lá chegam com dois anos, em vez de bebés. Estamos a pensar fazer estudos em outras partes do mundo para abordar esta questão. A única forma de aproximar uma instituição de uma família é ter adultos que lá estejam 24 horas por dia, como se faz em alguns locais em África. Se lá estiverem assim, todos os dias da semana, parece uma família.

– Uma família numerosa…

Há adultos que têm um papel permanente na vida de uma criança. Muitas vezes perguntam-­me isto: crescer numa família com oito ou nove irmãos não será o mesmo que estar num orfanato? Porque, nesses casos, o mais novo recebe a atenção dos mais velhos, mesmo que os pais estejam lá sempre, pois não conseguem prestar a mesma atenção a dois miúdos ou a dez. Mas não deixam de ser os pais.

– Há alguma solução para isto?

Não sei, mas gostaria de saber, por isso é que tento trabalhar com a UNICEF, para ir a locais diferentes e tentar coisas diferentes. O meu problema é que sei qual é o problema, mas desconheço a solução. É irritante ouvir pessoas a criticar os problemas e, depois, quando perguntos por soluções, elas dizem que não sabem. Na Serra Leoa, onde o vírus do ébola mais atacou, houve milhares de crianças que ficaram sem pais. E o pior foi que ninguém se aproximou dessas crianças, por pensarem que estavam infetadas. As pessoas usavam aqueles fatos de proteção para irem ter com as crianças, o que era assustador. Nessa situação, que é extrema, porque não se colocaram as crianças com famílias em vez de instituições? Mesmo que não fosse uma solução permanente, ao menos era similar ao ambiente ao qual estavam habituadas.

A solução será convencer mais famílias a acolherem crianças, nem que seja temporariamente. Outra solução poderia ser dá­-las para adoção, embora isso exija maiores cuidados, em termos de investigação dos pais que acolhem as crianças, porque há muitas pessoas com ideias perigosas, como o tráfico sexual.

– Quando disse que os cuidados de assistência social deviam estar mais atentos aos problemas das crianças, que problemas são esses?

Portugal, por exemplo, terá de ter uma economia muito forte para fazer isto. Penso que qualquer grávida deveria ter uma enfermeira que a acompanhasse durante a gravidez, e ela estaria treinada para detetar certos sinais. Dever­-se-­ia procurar sinais na mãe. Se era ou não, uma gravidez desejada, se a mãe está deprimida, se está ressentida por ter um bebé e o considera como a causa dos seus problemas. Ou podem procurar sinais que indiquem apenas que a mãe precisa de ser educada a ser mãe, a cuidar do bebé. Não existe um manual de instruções que ensine como ser pai. Alguns apenas precisam de ajuda. Não estou a falar de uma ajuda diária, mas apenas de algumas visitas durante a gravidez e outras tantas após o nascimento.

Hoje não o fazemos, em todo o mundo, porque assumimos que temos o direito individual de cuidarmos do nosso filho da maneira que entendermos. Não creio que essa seja a abordagem correta. Acho que temos a obrigação, enquanto sociedade, de cuidarmos das nossas crianças.
“O cérebro desenvolver-se-á sempre melhor num ambiente familiar, seja com heterossexuais, seja com um casal gay”

– Em Portugal, o Presidente da República vetou recentemente um projeto de lei para a adoção por casais do mesmo sexo. O argumento das pessoas que são contra este tipo de adoção alegam os interesses da criança, dizendo que ela ficará melhor numa instituição do que numa família onde não tenha um pai e uma mãe de sexos diferentes.

Existem sólidas provas e estudos científicos de crianças que crescem em famílias homossexuais. São tão saudáveis como crianças que cresceram em famílias heterossexuais e crescer numa família gay não tem qualquer impacto na orientação sexual da criança. Por isso, é muito melhor para uma criança estar numa casa com apenas um pai ou uma mãe, ou com pais homossexuais, do que estar num orfanato. De longe. Não votaria nesse homem agora.

– Portanto, e tendo em conta esses estudos, a conclusão é que o cérebro se desenvolverá sempre melhor se estiver no meio de um ambiente familiar?

Sempre. Mesmo se os pais forem gays.
« Última modificação: 2016-01-29 22:32:55 por Jsebastião »
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Deus Menor

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #47 em: 2016-01-29 22:35:17 »

Como é que podem existir sólidas , porque parto do princípio que sólido implica uma amostra muito significativa, se não
existem muitos casais Homossexuais que já adotaram?

Mais uma vez as minorias a forçar os moeurs por decreto...

Automek

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #48 em: 2016-01-29 22:50:48 »

Como é que podem existir sólidas , porque parto do princípio que sólido implica uma amostra muito significativa, se não
existem muitos casais Homossexuais que já adotaram?

Mais uma vez as minorias a forçar os moeurs por decreto...
Até podem ser as minorias a forçar mas parece-me que faz todo o sentido porque se:
1. As pessoas são livres para serem homossexuais
2. Qualquer pessoa individual pode adoptar, seja ou não homosexual
3. Um homosexual tenderá a viver com outro homosexual, podendo mesmo casar.

Então, o normal será um homosexual que é pai/mãe adoptiva também viver com outro homosexual. Ao tornar o outro também mãe/pai apenas se está a dar cobertura legal a uma coisa que na prática já existe e continuará a existir. Salvaguarda, quanto a mim, o interesse da criança.

Deus Menor

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #49 em: 2016-01-29 22:54:38 »
Salvaguarda, quanto a mim, o interesse da criança.

Tem de ser a regra nº1 , o pilar essencial.

Esta discussão faz-se com tempo , integrando estas mudanças gradualmente, para existir uma adaptação
social tranquila e não brusca.

O que me tira do sério é tomarem-nos por lorpas com estudos "sólidos" , quando existem muitos poucos casos
de adoção por casais homossexuais. Tem de ser hoje, tem de ser como nós queremos, etc...

Reg

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #50 em: 2016-01-29 23:03:24 »
Quando  começarem  divorcios, começar batalha pela custodia das crianças..como vai ser (nos hetero fica quase sempre com mae)....
« Última modificação: 2016-01-29 23:05:42 por Reg »
Democracia Socialista Democrata. igualdade de quem berra mais O que é meu é meu o que é teu é nosso

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #51 em: 2016-01-29 23:14:26 »
Quando  começarem  divorcios, começar batalha pela custodia das crianças..como vai ser (nos hetero fica quase sempre com mae)....

É uma questão que não deve ter a mais pequena influência quanto à decisão de permitir que casais homosexuais adoptem crianças.
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Reg

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #52 em: 2016-01-29 23:17:02 »
mas devia...  porque isto custodia sao verdadeiras batalhas..
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Jsebastião

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #53 em: 2016-01-29 23:18:36 »
Salvaguarda, quanto a mim, o interesse da criança.

Tem de ser a regra nº1 , o pilar essencial.

Se a adopção de crianças (independentemte da orientação sexual dos pais adoptivos) é do interesse da criança, então a salvaguarda dos interesses de casais homosexuais em poderem adoptar salvaguarda por inerência os interesses das crianças. Parece-me uma win-win situation.
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Jsebastião

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #54 em: 2016-01-29 23:19:11 »
mas devia...  porque isto custodia sao verdadeiras batalhas..

Não duvido, mas o que propões para atenuar o problema?
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Automek

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #55 em: 2016-01-29 23:19:20 »
Quando  começarem  divorcios, começar batalha pela custodia das crianças..como vai ser (nos hetero fica quase sempre com mae)....
Se não chegarem a acordo com custodia partilhada, ficará com um deles e visitas reguladas pelo tribunal, tal como acontece nos heterossexuais. Não vejo onde possa estar a questão.

Automek

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #56 em: 2016-01-29 23:20:58 »
mas devia...  porque isto custodia sao verdadeiras batalhas..
e não são nos hetero ? devemos proibir os hetero de adoptarem ?
uma batalha por um adoptivo é diferente se for um hetero a adoptar vs um homo a adoptar ?

Reg

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #57 em: 2016-01-29 23:24:12 »
mesmo com tribunais decidirem dar custodia as maes a coisa e muito feia as vezes temos casos extremos

claro e diferente..tribunais dao custodia as maes...  nos homos quero ver como vai ser com dois pais do mesmo sexo... 



maioria paises e isto..
Na maioria dos casos, essa posse e guarda é entregue à mulher que pela tradição da sociedade, também chamada de direito consuetudinário, teoricamente estaria mais adequada a assumir esse encargo.

mesmo assim temos divorçios feios para crianças

« Última modificação: 2016-01-30 00:20:00 por Reg »
Democracia Socialista Democrata. igualdade de quem berra mais O que é meu é meu o que é teu é nosso

kitano

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #58 em: 2016-01-30 19:35:01 »
Eu já fiz voluntariado numa instituição com crianças retiradas de pais disfuncionais...e cobsidero a institucionalização como algo violento e pouco desejável. E as condições eram muito boas...


"Como seria viver a vida que realmente quero?"

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Re: co-adopção por casais homossexuais
« Responder #59 em: 2016-01-30 19:43:25 »
Não só é muito importante retirar as crianças de ambientes disfuncionais, como também se torna urgente voltar a enquadrá-los numa família.

“Crianças abandonadas têm cérebros mais pequenos e perdem massa cinzenta para sempre”
http://observador.pt/especiais/criancas-abandonadas-cerebros-pequenos-perdem-massa-cinzenta-sempre/

Por isso acho que o direito da criança se sobrepõe a todos os outros.
“Our values are human rights, democracy and the rule of law, to which I see no alternative. This is why I am opposed to any ideology or any political movement that negates these values or which treads upon them once it has assumed power. In this regard there is no difference between Nazism, Fascism or Communism..”
Urmas Reinsalu