Uma relação fundamental em economia
é a do dinheiro com a produção de bens e serviços,
e o respectivo comércio, – compra, venda –,
oferta e procura ao preço corrente em vigor.
Nos livros aprendemos a equação simples, quase 'einsteiniana', – -:) –,
que relaciona a circulação da moeda com a das transações de bens e serviços:
(1) MV = PT
O stock de moeda – notas de banco, espécies metálicas, depósitos bancários –, (M), multiplicado pela velocidade de circulação da moeda, (V), i.e., o número de vezes que o stock de dinheiro roda nas transações da economia durante um período de tempo – ano, mês, semana, dia, hora – iguala o volume de transações (T) multiplicado pelo nível médio de preços (P), i.e., o valor total das compras / vendas de bens e serviços de uma economia em dado período de tempo.
Como estatisticamente se acumulam estes agregados, teria curiosidade de saber – cheguei, em novo, a desejar entrar nessa carreira profissional de estatístico, mas ninguém liga nenhuma ao que um jovem deseja ou não, e portanto não sei como se trabalham estes agregados macroeconómicos e monetários.
Sei, contudo, – ensinam-nos no curso de economia –, que o produto social durante um ano, o PIB(pm), o Produto Interno Bruto a preços de mercado, é a quantidade, (q), de bens e serviços produzidos nesse ano, avaliados ao preço médio de venda, (p).
(2) PIB(pm) = p.q
Ora, este valor do produto anual iguala o rendimento, (y), de quem o produz, a saber o salario, (s), dos que trabalharam para a sua produção, – de que vivem mais a família –, e o rendimento proporcionado pelo excedente do preço de venda dos bens e serviços sobre o salário pago a produzi-los, rendimento que podemos denominar de lucro, (l), o qual é distribuido pelos detentores dos meios de produção nesta utilizados, – rendas, juros, lucros –, assim como pelo Estado nos impostos directos (incidente sobre salários e lucros) e indirectos (cobrados no preço de mercado das transações) ou simplesmente tributados por uma taxa sobre o valor do património de que cada cidadão é proprietário, ceda-o ou não ao processo produtivo (portanto, puro ónus, ou expropriação parcial, de fortuna pessoal).
(3) y = p.q = s + l,
ou,
(3’) l = y – s,
Pressupondo, globalmente, y > s, – não sendo o caso, só pode ser s = y, com l = 0, o que implica a colectivização da totalidade dos meios de produção, a abolição da economia de mercado, e o planeamento central de toda a produção por assalariados, eles próprios nomenklatura partidária dirigente do Estado –, teremos
(4) y/s = m > 1
ou,
(4’) y = m.s
Ora, posto que o rendimento, y, é a monetarização do produto social, PIB(pm), eles se igualam em cada período, pelo que temos,
(5) PIB(pm) = y = p.q = m.s
Não sei como os estatísticos calculam o índice de preços, p, dos bens e serviços transacionados, mas por certo partem da cifra de negócios, do total de vendas da indústria dos bens de consumo e de investimento concluídos, acabados e vendidos no ano, e a dividem pelo índice de preços de alguma amostragem representativa desse conjunto de bens, de forma a alcançarem o rácio representativo do produto quantitativo, real, q, dos bens e serviços produzidos num ano-base a preços constantes, o que lhes permitirá comparar números reais de produção de ano para ano.
Também, não sei explicitar a relação que existe entre o nível geral de preços, P, das transacções comerciais totais da equação monetária (1), com os índice de preços, p, das amostragens da indústria, mas é evidente que ambos variam directamente com a massa monetária, M, injectada na economia, e com a velocidade, V, da circulação da moeda, causando tanto menor poder de compra de uma soma dada de dinheiro, ou de cada nível de rendimento salarial, ou global e colectivo, quanto maior for o nível de preços da produção.
A equação (5), y = p.q = m.s liga as variáveis que queremos observar e comparar no tempo.
Assim, partindo da base dada num ano, pela equação (5), teremos no ano seguinte,
(6) (y + Dy) = (p + Dp).(q + Dq)
ou (y + Dy)/y = (p + Dp).(q + Dq)/p.q
ou (1 + Dy/y) = (1 + Dp/p).(1 + Dq/q)
ou, com Dy/y = dy; Dp/p = dp; Dq/q=dq
(6’) (1+dy) = (1+dp).(1+dq)
Mutatis mutandi, para a mesma equação de rendimento (5), y = m.s, temos
(7) (y + Dy) = (m + Dm).(s + Ds)
ou (y + Dy)/y = (m + Dm).(s + Ds)/m.s
ou (1 + Dy/y) = (1 + Dm/m).(1 + Ds/s)
ou, com Dy/y = dy; Dm/m = dm; Ds/s=ds
(7’) (1+dy) = (1+dm).(1+ds)
Podemos então examinar o crescimento económico de um ano para outro pelo balanceamento das equações (6’) e (7’):
(8) (1+dp).(1+dq) = (1+dm).(1+ds)
Não sei qual seja a proporção dos salários líquidos no PIB(pm), mas é possível que ronde 1/4 ou 1/3 do produto social, no máximo 2/5 porventura... (Não sei, mas gostava de saber),
De qualquer modo, no livro de Ludwig Erhard, ex-chanceler da República Federal Alemã e ministro de Economia de Adenauer, nos anos quarenta e cinquenta, Bem-estar para Todos, – que releio ao cabo de muitos anos –, ele pugna pela estabilidade monetária e impõe estrita vigilância da relação entre os aumentos de preços, (1+dp), e o aumento do rendimento colectivo que exceda o aumento da produtividade
(8’) (1+dp) = (1+dm).[(1+ds)/(1+dq)]
ou seja, os aumentos de preços – o 1º membro da equação –, que equivale a uma redução do poder de compra, são da responsabilidade daqueles que os provocam sejam eles os patrões – pela concorrência monopolista ou acordos de cartéis –; os operários – via aumento de salários que excedam o da produtividade –; ou o Governo e os deputados – seja pela tributação directa que determina os rendimentos deduzidos de impostos retidos na fonte, seja pelo imposto sobre o valor acrescentado na produção de cada empresa.
Assim, na Alemanha Ocidental, no septénio (t) 1955-61, a variação percentual (%) ocorrida ano a ano nos salários (s), rendimento colectivo (y), e produtividade (q) foi a das seguintes séries:
t 1955 56 57 58 59 60 61
ds – +8,0 +5,0 +6,6 +5,1 +8,9 +10,1
dy – +11,8 +12,2 +8,2 +6,3 +9,3 +10,8
dq – +1,4 +2,1 +2,7 +6,8 +6,4 +2,9
ou, em valores acumulados,
t 1955 56 57 58 59 60 61
(1+ds)^t 1,000 1,080 1,134 1,209 1,270 1,335 1,470
(1+dy)^t 1,000 1,118 1,254 1,357 1,443 1,577 1,747
(1+dq)^t 1,000 1,014 1,035 1,063 1,136 1,208 1,243
Destes dados, podemos retirar a evolução dos preços no septénio,
[(1+dy)/(1+dq)]^t = (1+dp)^t
(1,747/1,243) = (1+dp)^7
1,405 = (1+dp)^7
1,405 ^(1/7) = 1, 049
ou seja, uma inflação de 4,9% ao ano,
cuja responsabilidade se decompõe na dos sindicatos pelo excedente ocorrido no aumento de salários em relação ao aumento da produtividade
(1+ds)^7 = 1,470
1,470 ^(1/7) = 1,057
(1+dq)^7 = 1,243
1,243 ^(1/7) = 1, 032,
ou seja, em média, no septénio, os salários nominais cresceram 5,7% ao ano e não deveriam ter excedido 3,2% ao ano, que foi a média do aumento de produtividade do trabalho; pela diferença, 2,4 pontos percentuais, contribuíram para a inflação e consequente perda de poder de compra;
quanto aos patrões e ao Estado (o governo, pela autoridade tributária, e os deputados, pelas leis e orçamentos anuais aprovados) a sua quota de responsabilidade na inflação é a da contribuição que compuseram à dos assalariados, no aumento final dos preços, a saber
(1+dp)^t = (1+dm)^t * [(1+ds)/(1+dq)]^t (Vide 8’)
(1+dp)^7 = 1,405 = (1+dm)^7 * (1,470/1,243) = (1+dm)^7 * 1,183
1,405/1,183 = 1,188 = (1+dm)^7
1,188^(1/7) = 1, 025
ou seja, em média, no septénio, os patrões e o fisco elevaram os preços de mercado em 2,5% ao ano, a qual composta com a inflação salarial não justificada pela produtividade, 2,4% integram a inflação anual de 1, 025*1,024 = 1,049, i.e., 4,9% ao ano.
Bem, não sei propriamente se não haverá erro nestes raciocínios, – julgo que não –, mas o que eu gostava era de ver as contas nacionais reduzidas a um jogo aritmético simples das macrovariáveis económicas fundamentais: preço, produto real, salário, sobresalário ou excedente económico global e sua ulterior repartição pelas rendas monopolistas da propriedade fundiária, lucro intramarginal das empresas mais produtivas em cada ramo de actividade, salários líquidos de impostos deduzidos na fonte, imposto sobre o valor acrescentado, lucro bruto de reintegrações do capital técnico, etc.
É verdade, que para além da análise da interferência monetária na economia real através dos preços e dos impostos, há outra análise fundamental que equacionará o aforro, i.e., o rendimento não gasto em bens de consumo, o qual, pela oferta e procura de fundos para investimento, equacionará o investimento em meios de produção com o respectivo financiamento pelos capitais de aforro e de crédito prudencial disponível. Este é um aspecto dinâmico da análise económico-financeira pois, determina em que ramo de actividade investir prioritariamente pelo critério daquele que proporcione a taxa de retorno de cash-flow (lucro bruto de amortizações depois de impostos) mais elevada em comparação com a taxa de juro corrente no mercado de empréstimos de capital.