Mas venha o novo PREC ... nacionalizar a barbearia do sacana do meu barbeiro que todos os anos sobe o preço do meu corte de cabelo , ao mesmo tempo que eu vou tendo menos para cortar ... fascista ...
O Estado nacionalizou um terço da economia
Em 1975, de um momento para o outro, o Estado português viu-se proprietário de 1300 empresas. De alguns potentados industriais, certamente, de empresas de sectores estratégicos para qualquer economia.
Mas também de barbearias na Baixa de Lisboa, de restaurantes nas maiores cidades, de alguns hotéis, de modestas fábricas de transformação de tomate e de um cortejo muito pitoresco de pequenas e médias empresas espalhadas pelo País que vieram no arrasto da nacionalização dos grandes grupos. Estes, muito dentro do espírito da época, tinham tentado diversificar o mais possível a sua actividade, penetrando em sectores completamente diversos do negócio de origem.
A seguir ao Verão Quente, quando terminou o Processo Revolucionário em Curso (Prec), o
Estado português tinha-se transformado no maior conglomerado da Europa, no maior grupo empresarial fora dos países de economia planificada. Falou-se num peso de 30% do PIB nacional, cálculos mais recentes apontam para um VAB das empresas públicas sobre o PIB de 19,8% em 1978, contra 24,7% da Itália e 12,9% da França - embora nestes dois países o Estado não detivesse monopólios de sectores vitais, como a banca.
"Na Europa dos anos 70, no segundo pós-guerra, as nacionalizações não são um exclusivo da esquerda", observa Pedro Lains, investigador do Instituto de Ciências Sociais (ICS) e coordenador da HistóriaEconómicadePortugal,1700- -2000, publicada este ano. "Em Portugal tem-se olhado de mais para as motivações ideológicas das nacionalizações. É necessário observar também as circunstâncias concretas da economia que, naquela altura, criaram as condições para que fosse dado esse passo."
Tradição estatista. Em 1975, no 11 de Março, quando se derrotou o alegado golpe dos spinolistas que permitiu ao PCP empurrar o Governo de Vasco Gonçalves e o Movimento das Forças Armadas (MFA) para a estatização de empresas, Portugal não era uma economia liberal. Pelo contrário apesar da sua matriz predominantemente privada, organizara-se num modelo fortemente condicionado pelo Estado, quer como cliente, quer como regulador, quer, sobretudo, como protector das pressões da concorrência externa.
Embora com intuitos reformistas, é dentro desta mentalidade que em Outubro de 1974 começa a ser elaborado o Plano Melo Antunes, a cargo de uma equipa constituída por José Silva Lopes, Rui Vilar, Maria de Lourdes Pintasilgo e Vítor Constâncio, todos da esfera socialista, todos membros do Governo de Vasco Gonçalves. Quanto mais meses passavam, mais o plano se transformava num modo de fazer face ao agravamento da situação económica, na qual a euforia revolucionária e os efeitos do choque petrolífero de 1973 tinham colocado todos os indicadores no "vermelho".