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Autor Tópico: "Dont't fight the tape", POR JESSE LIVERMORE  (Lida 3969 vezes)

Joao-D

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"Dont't fight the tape", POR JESSE LIVERMORE
« em: 2013-07-25 23:13:34 »
Autor: Activo Bank

"DON'T FIGHT THE TAPE", POR JESSE LIVERMORE (PARTE I)

Ao longo dos anos, apareceram no mundo da especulação financeira, alguns investidores que se tornaram celebridades. Na Newsletter de hoje, iremos partilhar alguns detalhes da vida de um desses homens: Jesse Lauriston Livermore, um americano do início do século XX, considerado por muitos como o melhor especulador da sua época ou mesmo de todos os tempos e, ainda hoje considerado, um ícone da história de Wall Street.

Esta será a primeira edição sobre a história de Jesse Livermore e que iremos concluir na nossa próxima Newsletter.

A infância

Jesse Lauriston Livermore, J.L. como gostava que os amigos o tratassem, nasceu a 26 julho de 1877 em Shewsbury, Massachussetts. Ótimo aluno de matemática resolvia equações de cabeça como um verdadeiro computador. Uma vez desafiou a professora para ver quem resolveria mais rapidamente um problema complexo: ele ganhou! O seu pai retirou-o da escola aos 13 anos, dizendo-lhe que o seu futuro era a agricultura e que para isso, a educação era completamente desnecessária. Fingindo aceitar o plano do pai, esperou a melhor oportunidade para fugir a esse destino e, com apenas 14 anos e 5 dólares no bolso, J.L. escapou da quinta e meteu-se num camião com destino a Boston.

A adolescência em Boston

Aos 14 anos, J.L. era um rapazinho bonito, simpático e muito inteligente. Quando chegou a Boston e saiu do camião onde viajava à boleia, parou em frente ao escritório da corretora Paine Webber a observar os rapazes que andavam de um lado para o outro a atualizar o grande quadro de ardosia com os preços das ações que chegavam diretamente de Wall Street, quase como que se de uma dança ritmada se tratasse.

Os investidores sentavam-se na sala, de frente para o quadro, num grande frenesim e ocasionalmente iam ao corretor comprar novas posições ou vender as suas. Livermore, com um fato maior do que o seu tamanho, comprado pela mãe para durar muito tempo, decidiu entrar no escritório e pedir emprego. O dono ao vê-lo entrar percebeu que ele era apenas um miúdo vindo do campo e começou a interpelá-lo:

“O que é que queres daqui miúdo?”
“Um emprego” - respondeu J.L.
“És bom com números?”
“Sim.”
“Vês ali aqueles miúdos?” - apontou o chefe.
“Sim.”
“Bem tu és pequenito mas vou-te dar uma oportunidade. Não me vais deixar mal pois não?”
“Não, senhor.”
“Então começas já. Tira o casaco do teu irmão mais velho e vai para o quadro.”

Passados uns minutos, o chefe foi ter junto dele e perguntou-lhe:

“Não queres saber quanto te vou pagar?”
“Quanto me vai pagar?"
“6 dólares por semana” - afirmou o chefe.
“Miúdo, nunca mais faças isso. Negoceia sempre. Se tivesses negociado talvez pudesses receber 7 dólares. Negoceia sempre.”

Livermore adorava o seu trabalho porque tinha uma excelente memória fotográfica. Podiam gritar-lhe vários preços de seguida que ele conseguia escrevê-los todos no quadro. A par disso, J.L. ia apercebendo-se de que os clientes da corretora muitas vezes investiam de forma aleatória, comprando frequentemente, com base em palpites de terceiros.

À noite, no quarto, escrevia os preços das ações no seu diário e rapidamente percebeu que existiam padrões nos movimentos dos preços e que estes padrões se repetiam. Começava agora a compreender o mercado e as suas regras, mas faltava o mais importante: investir com o seu próprio dinheiro.

Certo dia, ao almoço, um amigo incitou-o a apostar em bucket shops, casas onde se apostava na subida ou descida de um determinado ativo ganhando com as perdas dos clientes e que, à data, eram legais em alguns estados dos EUA. Na primeira jogada, J.L. fez mais de $3 dólares de lucro. Ficou contente: era agora um investidor.

Daí para a frente, sempre fiel ao seu diário e às tendências que descobria nos movimentos das ações, comprava ou vendia de acordo com as orientações que os seus números mostravam. Nesta altura já tinha compreendido que investir com base em opiniões alheias normalmente resultava em perdas de capital.

Aos 15 anos já tinha juntado $1.000 (cerca de $23.000 em valores atualizados) e em pouco tempo Livermore tornou-se conhecido de todos os donos de bucket shops de Boston. Ele ganhava tantas vezes que foi simplesmente proibido de se aproximar destas casas.

Há males que vêm por bem e para J.L. esta interdição acabou por precipitar a sua decisão de deixar Boston e mudar-se para o grande centro financeiro, onde tudo acontecia: Nova Iorque (NY).

Nova Iorque

Apesar do seu sucesso nas bucket shops, Livermore chegou a Manhattan com $2.500, fruto de muitos ganhos mas também de algumas perdas. Nunca culpara os mercados pelos seus erros; pelo contrário, tentava sempre analisar o que tinha corrido mal para não cair na mesma armadilha na vez seguinte. O seu primeiro grande ensinamento foi:

Só se deve investir no momento certo, quando todos os fatores estão a nosso favor. Ninguém deve estar constantemente a investir. Há momentos em que um investidor deve saber retirar-se do mercado.

A sua fama de jogador (“Boy Plunger” como lhe chamavam em Boston) já tinha chegado a NY e uma vez que nesse Estado, as bucket shops estavam proibidas, J.L. decidiu lançar-se na bolsa.

As suas primeiras tentativas não correram bem e dessa experiência retirou outra lição: na bolsa quando se perde perde-se tudo. Se nas bucket shops, as perdas dos jogadores, consumiam 10% do seu capital, na bolsa, as mesmas perdas poderiam ser muito superiores. A partir daí criou a sua segunda regra:

Estabeleça limites! Nunca tolere uma queda no preço superior a 10%. Se estiver a perder 10% feche imediatamente as posições.

Em vez de desistir, como a maioria dos investidores faria, uma tarde, depois da bolsa fechar, J.L. entrou na corretora onde trabalhara durante anos e pediu um empréstimo ao dono e seu amigo, E. F. Hutton:

“Preciso de um empréstimo Ed."
”“Quanto precisas?”
“Mil dólares” - pediu Livermore
“O dinheiro estará amanhã na tua conta!”

Entretanto, J.L., casou com Netit Jordan natural de Indianápolis e que ele conhecera no tempo das bucket shops. Ao fim de algum tempo em Wall Street, os seus investimentos começaram a correr mal, levando-o à falência em 1901. A solução que lhe ocorreu foi a de pedir a Netit para penhorar a sua coleção de joias, que ele mesmo lhe oferecera e cujo valor era de $12.000. Contudo, ela recusou-se terminantemente a fazê-lo e esta falta de confiança fez com que a sua relação nunca mais tenha sido a mesma, acabando o casamento, num trágico divórcio.

Perto dos 30 anos e com a experiencia acumulada, J.L. conseguiu montar o seu primeiro escritório com uma linha direta para um corretor em Wall Street. De facto Livermore tinha aprendido, da pior forma, que decidir sobre informação atrasada seria a morte do seu negócio e por isso decidiu mudar de tática: em vez de especular, iria estudar bem o mercado antes de investir.

A sua estratégia, que manteve ao longo da sua vida baseou-se em três grandes passos:

1.   Estudar o mercado e seguir a sua tendência. J.L. não tinha qualquer problema em entrar longo ou curto no mercado, desde que estivesse de acordo com a tendência.

2.   Testar o mercado. J.L. utilizava a técnica de sondagem ao mercado. Primeiro investia 20% do capital. Quando confirmasse o seu entendimento investia mais 20%. Ao lucrar com o segundo lote compraria mais 20% e só depois de ganhar com o terceiro investimento colocaria os restantes 40% perfazendo a totalidade do capital. Esperar que o mercado mostre que estamos certos é fundamental para ganhar dinheiro.

3.   Ser paciente e esperar pelos factos. Não vender as posições assim que se começa a ganhar dinheiro mas esperar por lucros generosos. J.L. costumava dizer que milhões foram perdidos em bolsa apenas devido à impaciência dos investidores.


No final de 1906 a sua estratégia começou a dar frutos. Nesta altura, J.L. apercebeu-se que o mercado estava a atingir um pico e começou a abrir posições curtas (a investir na queda do mercado). Demorou algum tempo, mas em Outubro de 1907, o caos tomou conta de Wall Street: uma crise de liquidez levou a que o preço das ações caísse a pique com perdas de quase 50% em relação ao máximo do ano anterior. A crise só não foi pior graças à intervenção do banqueiro mais poderoso da época, J.P. Morgan, que obrigou os restantes banqueiros a utilizarem as suas reservas para injetarem liquidez no mercado.

Contrariamente às perdas generalizadas que geraram o pânico nos investidores, os lucros de J.L. aumentavam a cada minuto uma vez que, há meses, vinha investindo nessa queda do mercado.

Numa tarde, um velho amigo seu de um banco de investimento, Warren Augustus Reed, ligou-lhe após ter falado com o seu chefe:

“J.L. pediram-me para falar contigo sobre os teus investimentos e para te suplicar que pares de investir na queda do mercado. Eu sei que queres lucrar mas de vez em quando temos de olhar para um bem maior.”
“Auggie, este pedido veio do teu chefe?”
“Não, veio de uma pessoa muito mais poderosa do que o meu chefe.”

Livermore sabia de quem é que o seu amigo estava a falar: do próprio J.P. Morgan.

“Tens a certeza?”
“Absoluta! Eu estava com o meu chefe quando ele ligou. J.L. tens mesmo de parar se não em poucos dias não teremos bolsa, apenas caos.”

Livermore ponderou por uns momentos e disse:

“Podes dizer ao teu chefe que concordo com ele. Amanhã de manhã fecharei as minhas posições curtas e depois disso começarei a comprar. Compreendo perfeitamente a gravidade da situação.”

Jesse Livermore estava no auge: não só tinha juntado uma pequena fortuna de $3.000.000 como tinha partilhado o poder com um dos homens mais influentes do país. Nesse ano comprou o seu primeiro iate – Anita Venetian – de 202 pés (62 metros) e viajou até Palm Beach para gozar as férias com que sempre sonhara: apanhar sol, pescar tubarões e atuns e, principalmente, sair do frenesim de Wall Street.

THE COTTON KING
“The only time when I really lost money was when I broke my own rules”


Foi numa dessas estadias em Palm Beach que J.L. conheceu Percy Thomas, o “Rei do Algodão” que tinha perdido vários milhares a investir no preço dessa matéria prima.

Tornaram-se grandes amigos, jantavam sempre juntos no Bradley Beach Club e rapidamente J.L. começou a ficar enfeitiçado pelas suas teorias sobre o negócio do algodão. Apenas um pequeno, mas incómodo, pensamento se mantinha na cabeça de Livermore:

“Como é que Thomas está falido se sabe tanto?”

Acabando sempre com a mesma resposta:

“Talvez seja algo que me está a escapar na minha estratégia. De certeza que há uma forma mais inteligente de analisar o negócio do que a minha.”

E assim começou a investir em algodão e a quebrar várias das suas preciosas regras. Logo na primeira compra começou a perder dinheiro. Em vez de fechar as posições, como sempre havia feito, comprou mais, na esperança que o ativo invertesse a tendência. Fechou outras posições, onde estava a ganhar, para poder alocar a totalidade do capital ao investimento em algodão (e assim baixar o preço médio do investimento exposto nesse ativo).

Quando se deu conta do erro e fechou as posições não só tinha perdido todo o seu capital como devia $1 milhão a credores. O efeito persuasor do “Rei do Algodão” tinha-lhe custado caro! Ao rever a sua atuação, algo que sempre fez de forma fria e racional após uma perda, percebeu que o seu grande erro foi o de não seguir as suas próprias regras.

Tudo isto se resume numa frase de Livermore:

“Don’t fight the tape!”

Não vale a pena tentar contrariar o mercado porque o mercado tem sempre razão e prova-nos isso da pior forma. Aprendeu uma lição da qual não se esqueceria para o resto da sua vida. Isto explica porque deixou quase de falar com terceiros sobre as suas táticas e porque pedia encarecidamente que não lhe fossem dados palpites sobre investimentos.

(continua...)

“Don’t fight the tape” significa “Não lute contra a fita” uma vez que as cotações de Wall Street chegavam as corretoras através de uma impressora de fita. Isto significava em modo geral que não vale a pena contrariar o mercado.

Na elaboração desta Newsletter foram consultadas as seguintes obras:"Jesse Livermore: The World's Greatest Stock Trader by Richard Smitten" e "How To Trade In Stocks by Jesse Livermore".

Joao-D

  • Visitante
Re:"Dont't fight the tape", POR JESSE LIVERMORE
« Responder #1 em: 2013-08-16 13:42:40 »
Autor: Activo Bank

Tal como prometemos, com esta Newsletter iremos completar o relato da vida de Jesse Lauriston Livermore. Uma vida cheia de energia.

Mais do que a sua vida, esperamos conseguir transmitir-lhe o seu legado que ainda hoje, um século depois, se mantém atual.

Um novo Livermore

Em 1915, Livermore não aguentava mais estar fora de jogo e sabia que era o momento certo para reentrar na Bolsa e vencer. Depois de um longo período de abstinência, ganhou coragem, entrou no escritório de um antigo benfeitor e pediu novamente um empréstimo:

“Preciso de um empréstimo Charles.”
“Quanto precisas?”
“Tu decides, não estou em posição de argumentar.”
“Terás à tua disposição a partir de amanhã uma linha de 5.000 ações.”- propôs o amigo.

Consciente de que era pouco dinheiro, as suas decisões de investimento teriam que ser certeiras.
Ao analisar o mercado, escolheu comprar ações de uma empresa de aço: uma escolha óbvia já que o mundo se encontrava a meio de uma Grande Guerra.

Novamente utilizou a técnica de sondagem do mercado (investindo faseadamente) e ao fim de alguns dias, o preço da ação disparou de $98 para $145 perfazendo um lucro de aproximadamente $50.000.

A sua confiança estava novamente recuperada!

Os investimentos seguintes correram tão bem que um ano depois, J.L. já tinha juntado um capital de $500.000.
O passo seguinte foi pagar a todos os seus antigos credores, algo que tinha aprendido com o seu pai: um homem distingue-se pela sua honestidade.

O ano de 1917 foi especialmente feliz para Livermore, não só na esfera profissional mas também na sua vida pessoal. Através de um amigo – Flo Ziegfeld - dono de um clube noturno, conheceu Dorothea Wendt – Dorthy – a mulher com quem casaria e teria dois filhos.

“J.L., há uma pessoa que gostava que conhecesses. Uma rapariga que quando aparece ilumina a sala toda! Tens de a conhecer, tenho a certeza que ela também iluminará a tua vida.”
“Muita diversão faz um homem pobre” - respondeu Livermore.
“Então J.L., a vida são dois dias, não a desperdices”

Foi amor à primeira vista.

A dançarina baixinha e com uns lindos olhos verdes, tinha arrebatado o coração de Livermore. A partir daí, J.L. passou a ir todas as noites ver o seu espetáculo e a jantar com ela sempre que podia, enchendo-a de jóias e presentes. Casaram-se a 2 de Dezembro de 1918, ela com 18 anos e ele com 40 e Dorthy seria para sempre a alegria da vida de J.L.

Livermore queria dar à sua mulher, tudo o que ela merecia e mais. Depois do casamento, foram viver para uma casa luxuosa no centro de Nova Iorque, mobilada com o melhor que poderia existir: tapetes persas, quadros de pintores famosos nas paredes, lençóis de algodão egípcio, almofadas com penas de ganso …. Nada era demais para Dorthy.

Na área dos negócios, J.L. fez nessa altura mais uma descoberta importante para os seus investimentos:

As empresas de uma indústria seguem sempre a tendência da indústria, nomeadamente as empresas líderes. Por exemplo, se a indústria automóvel está a crescer porque a procura de automóveis está a aumentar, de certeza que empresas como a Ford ou a Chrysler irão observar uma subida no preço das suas ações.

Desta primeira, Livermore deduziria uma segunda regra:

Se uma ação não se está a comportar de acordo com o movimento da indústria é melhor ter cuidado! Esta situação muito provavelmente significa que existem problemas com a empresa.

Em resumo, um investidor deverá ser muito cauteloso nos investimentos que faz e não investir sem pensar ou apenas com base numa tendência. Livermore passou a focar-se em poucas indústrias e a analisar apenas os seus líderes. Afinal, se poderia fazer dinheiro com os mais poderosos de cada setor para quê investir nos segundos?

Em 1919 nasceu o seu primeiro filho – Jesse Jr.

Depois do bebé nascer mudaram-se para uma zona mais calma, fora de Nova Iorque, mas nem por isso para uma casa menos sumptuosa.

Livermore conseguiu novamente impressionar a sua mulher comprando uma casa com 29 quartos e 12 casas de banho, uma sala com uma mesa de jantar onde podiam sentar-se 42 pessoas, barbearia, sala de jogos, e até uma cervejeira uma vez que Dorthy havia descoberto que um dos empregados sabia fazer cerveja e por isso decidiu criar a sua própria marca. A nova casa de J.L. era invejada pelos melhores hotéis dos Estados Unidos.

Dorthy era o oposto de Livermore, se ele era reservado, ela era expansiva; se ele era taciturno, ela irradiava alegria e quando ele se sentia perdido era sempre nela que encontrava a solução.

Nesta casa davam festas todas as semanas e os convidados vinham das mais variadas áreas da sociedade americana: desde o cinema (Charles Chaplin era presença habitual) até à ópera (Madam Schumann-Heink), da música clássica até aos grandes empresários americanos. Foi nestas festas que J.L. acabou por conhecer muita gente influente como Alfred Sloan, CEO da General Motors ou Walter Percy Chrysler fundador da Chrysler Corporations.

Uma década atarefada
Em 1923, quando nasceu o seu segundo filho – Paul – Livermore abriu um novo escritório na 5ª Avenida longe da euforia de Wall Street. Nesse escritório, uma das paredes era toda coberta de ardósia, onde quatro ou mais rapazes (“chalkboard boys” como ele tinha sido aos 14 anos) atualizavam ao minuto os preços das ações.

Estes rapazes estavam proibidos de falar enquanto atualizavam o quadro e estavam ligados diretamente aos telefonistas de Wall Street o que fazia com que soubessem os preços cerca de 15 minutos antes da maioria das pessoas. J.L. já tinha aprendido a importância de ter informação sempre atualizada!

Os rapazes colocavam ao lado dos preços um conjunto de códigos que ajudavam J.L. a compreender as tendências do mercado. J.L. nunca explicaria estes códigos a ninguém e os próprios chalkboard boys estavam proibidos de os descodificar a quem quer que fosse. Um dia, Livermore comentaria com o seu filho Paul:

“Vês filho, aqueles símbolos no quadro são tão claros para mim como as notas de uma pauta são claras para um maestro. O quadro e aqueles rapazes estão a tocar uma sinfonia e tudo faz sentido para mim. “

Os anos foram passando e Livermore continuou a ganhar dinheiro com os seus investimentos, o que, a par de alguns escândalos na sua vida pessoal, faziam dele uma das figuras públicas mais comentadas pelos jornais e revistas de sociedade.

Apesar de continuar a investir de acordo com a tendência de crescimento do mercado, no final de 1928 Livermore começou a suspeitar que o mercado estava a atingir o seu máximo. As suas ferramentas de análise técnica começavam a mostrar alguma resistência e J.L. perguntava-se se estaria iminente apenas uma correção do mercado ou se estes poderiam ser os primeiros sinais de inversão.

Os seus instintos não podiam estar errados: por alguma razão o New York Times lhe chamava “The Great Bear of Wall Street”. De facto, como em 1907, os sinais eram mais que evidentes:

As grandes empresas (líderes de indústria) não conseguiam aumentar o preço das suas ações;

Os melhores investidores começavam a libertar-se das suas posições vendendo-as a pequenos investidores que nada percebiam de mercados

Toda a gente investia! Barbeiros a engraxadores, donas de casa e agricultores, todos negociavam em bolsa aliciados pela utopia do dinheiro fácil e garantido
No ínicio de 1929, Livermore começou a abrir pequenas posições curtas para testar o mercado. Infelizmente entrou demasiado cedo, com o mercado ainda a subir e este erro de timing custou-lhe $250.000.

Porém, o seu quadro de ardósia não lhe mentia e por isso não desistiu. Pela segunda vez entrou curto no mercado e este reagiu novamente contra ele; J.L. teve de fechar novamente as posições.

No verão de 1929, pela terceira vez, repetiu a estratégia de teste ao mercado e, desta vez, já obteve lucro: não foram grandes lucros mas mostraram que a sua intuição (que ele dizia não ser intuição mas a experiência de vários anos na bolsa) estava correta. Era o momento para shortar(1) o mercado em grande!

No dia 24 de Outubro de 1929 – a famosa quinta-feira negra – várias ações entraram em queda livre sem qualquer rede que as amparasse: General Electric, Chrysler, International Telephone and Telegraph, AT&T, US Steel, etc.

Ao meio dia, mais de $8 milhões de ações já tinham sido vendidas e $15 mil milhões tinham-se perdido, fazendo desaparecer as poupanças de grande parte dos cidadãos americanos: empresários faliram numa questão de horas, especuladores arruinados suicidaram-se das mais variadas formas (atirando-se de janelas de hotéis, bebendo veneno ou simplesmente apontando uma arma à cabeça) e um pouco por toda a América, o cenário era de verdadeiro cataclismo.

Os homens mais poderosos do país, entre eles o presidente Hoover, Andrew W. Mellon, secretário do Tesouro, e os líderes da banca como J.P. Morgan Jr. juntaram-se para tentar, sem sucesso, travar o caos.

Ao contrário de todos, Livermore não parava de lucrar: no final desse ano a sua fortuna valia cerca de $100.000.000, o equivalente a mais de 1 bilião de dólares nos dias de hoje. Foi acusado de, em parte, ter provocado aquela crise pois começara a investir contra o mercado algum tempo antes e os ataques pessoais e à sua família, por carta ou por telefone, foram constantes nas semanas seguintes.

O crash de 1929 solidificou muitas das convicções de Livermore. Uma delas, bastante valiosa foi o timming do mercado: Afinal é tão importante saber se o mercado irá inverter como saber quando irá inverter.

Livermore foi dos primeiros investidores a desenvolver e utilizar ferramentas de análise técnica.
Para definir o momento de viragem do mercado, J.L. utilizou uma estatística que mais tarde explicaria aos seus filhos: os pontos pivot, que ainda hoje são muito utilizados para definir a tendência do mercado.

O ponto pivot não é mais do que a média aritmética entre o preço máximo, o preço mínimo e o preço de fecho de um ativo.

Se o mercado estiver numa tendência crescente, no dia seguinte o ativo deverá negociar acima deste ponto; pelo contrário, se o mercado estiver em recessão, o ativo estará a negociar abaixo do ponto pivot do dia anterior.
Os pontos pivot não devem ser utilizados isoladamente: uma boa análise deve conjugar várias outras ferramentas e medidas como suportes e resistências.

No seu livro How to Trade Stocks publicado em 1940, Livermore escreveu bastante sobre este tema:

 “Os Pontos Pivot são a medida necessária para negociar e vencer. Um investidor tem de ser paciente, porque leva tempo até que um ativo percorra o seu caminho lógico e natural. (...) Eu ganhei sempre dinheiro quando fui paciente e negociei nos pontos Pivot. “

"Não há nada novo em Wall Street ..."

Os anos 30 chegaram para Livermore cheios de esperança, mas rapidamente mostraram a sua decadência; não tanto nos investimentos mas na sua vida pessoal: Dorthy debatia-se com um grave problema de alcoolismo e o seu filho mais velho, Jesse Jr., agora um adolescente, ia pelo mesmo caminho.

J.L., passava cada vez mais tempo fora de casa e começara a frequentar clubes noturnos e a sair com raparigas mais novas o que o conduziu vertiginosamente para um divórcio escandaloso, em Setembro de 1932, ao fim de 14 anos de casamento.

Livermore conheceu entretanto aquela que viria a ser a sua última mulher: Harriet Metz Noble, dona de uma considerável fortuna e bastante mais nova do que ele. Casaram-se em 1933.

Contudo, os escândalos continuaram a fustigar a família: as discussões entre a ex-mulher, que ficara com a guarda dos filhos e, Jesse Jr., eram cada vez mais graves a ponto de no dia de Acção de Graças de 1935 Dorthy (sob o efeito do álcool) ter alvejado o filho a poucos milímetros do coração levando-o quase à morte.

Livermore já não sentia a mesma energia, perspicácia ou vontade de investir e todos estes acontecimentos, a par de alguns problemas financeiros bem como do fracasso do seu livro após o lançamento, submergiram o “The Great Bear of Wall Street” numa depressão profunda.
 
Na noite de 27 de novembro de 1940 Livermore e Harriet saíram para jantar no seu clube favorito – Stork Club. Um fotógrafo perguntou se podia fotografá-los e J.L. respondeu:

“Claro que sim. Porém esta será a última fotografia que me tira porque amanhã partirei para uma longa viagem.”

A sua mulher ficou surpresa e perguntou-lhe o que é que ele queria dizer com aquilo ao que J.L. respondeu, sorrindo:

“Querida, é apenas uma piada.”

No dia seguinte almoçou sozinho como já era habitual, no Sherry Netherland Hotel, no número 745 da 5ª Avenida.
Durante o almoço escrevia apressadamente no seu bloco de notas como se quisesse dizer muita coisa mas tivesse pouco tempo.

A meio da tarde, depois de ter ido ao escritório, voltou ao hotel para uma bebida. Bebeu o seu cocktail, dirigiu-se ao lobby do bar como se estivesse a encaminhar-se para a casa de banho, entrou no bengaleiro, e com a sua pistola suicidou-se com um tiro na cabeça.

Deixou apenas uma nota para a sua mulher que nunca foi revelada.

Em Fevereiro de 1941, a declaração de bens de Livermore demonstrava $10.000 em propriedades e cerca de $360.000 em dívidas.

Jesse Lauriston Livermore escreveu a história da sua vida pelas suas próprias mãos, um verdadeiro “self-made-man”, o símbolo do “american dream” que ainda hoje faz sonhar tantos e tantos homens por todo o mundo.

Mais do que a sua vida, do que a sucessão das suas ascensões e declínios, Livermore deixou um legado que ainda hoje, um século depois, se mantém atual:

“Não há nada novo em Wall Street ou na especulação. O que aconteceu no passado irá acontecer novamente no futuro. Isto acontece porque a natureza humana não muda e são exatamente as emoções que se metem no caminho da inteligência” - Jesse Livermore

“Desde sempre, as pessoas têm vindo a investir da mesma forma nos mercados como consequência da sua ganância, medo, ignorância e esperança. Esta é a razão pela qual os padrões se repetem de forma constante nos mercados”- How to Trade in Stocks, Jesse Livermore, 1940.

gaia

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Re:"Dont't fight the tape", POR JESSE LIVERMORE
« Responder #2 em: 2013-08-16 14:19:00 »
Boa ideia,  João .  ;)

Joao-D

  • Visitante
Re:"Dont't fight the tape", POR JESSE LIVERMORE
« Responder #3 em: 2013-08-16 14:28:15 »
Não sei de onde o activo bank retirou esta parte do texto:

Citar
Deixou apenas uma nota para a sua mulher que nunca foi revelada.

Em Fevereiro de 1941, a declaração de bens de Livermore demonstrava $10.000 em propriedades e cerca de $360.000 em dívidas.

Há versões diferentes dos acontecimentos:

Citar
His body was found with an 8-page suicide note that in part read, "My dear Nina: Can’t help it. Things have been bad with me. I am tired of fighting. Can’t carry on any longer. This is the only way out. I am unworthy of your love. I am a failure. I am truly sorry, but this is the only way out for me. Love Laurie."

On November 28 1940, aged 63, he shot himself in a Manhattan hotel. Despite leaving a suicide note in which he described himself as a “failure”, he still managed to leave $5m behind for his heirs after his death.

Independentemente disso, concordo com a conclusão:

Citar
Mais do que a sua vida, do que a sucessão das suas ascensões e declínios, Livermore deixou um legado que ainda hoje, um século depois, se mantém atual:

“Não há nada novo em Wall Street ou na especulação. O que aconteceu no passado irá acontecer novamente no futuro. Isto acontece porque a natureza humana não muda e são exatamente as emoções que se metem no caminho da inteligência” - Jesse Livermore

“Desde sempre, as pessoas têm vindo a investir da mesma forma nos mercados como consequência da sua ganância, medo, ignorância e esperança. Esta é a razão pela qual os padrões se repetem de forma constante nos mercados”- How to Trade in Stocks, Jesse Livermore, 1940.


Joao-D

  • Visitante
Re:"Dont't fight the tape", POR JESSE LIVERMORE
« Responder #4 em: 2013-08-16 14:56:25 »
Top 3 Traders and their Massive Fortunes

http://www.mysmp.com/blog/top-3-traders-and-their-massive-fortunes.html


1. Jesse Livermore - Probably the Greatest Stock Trader who Ever Lived

Success formula

His career was impressive and fascinating; he started off as a board boy in the gambling industry only to end up becoming Wall Street's most influential trader fifteen years later.  By the age of 15, Jesse Livermore had already made $1000 (a rather important amount of money for 1890) by investing in the stock market solely through hunches and assumptions. 

Livermore is widely known to have made no less than $3,000,000 in one day during the financial market meltdown of October 1929, crashing the market into oblivion by short-selling stocks.

What happened to his fortune:

Enjoying a very lavish lifestyle and reportedly being very unstable both mentally and professionally, Jesse Livermore had in fact gone bankrupt and broke three times in his career. He made an immense fortune right before the great depression, but also lost money with ease. He owned several mansions around the world, fully staffed with servants and a fleet of limousines and he was quick to renounce his life partners for new women he met. In a moment of despair and depression, he shot himself dead in a hotel room in Manhattan.  He left behind $5,000,000 worth of cash, assets and stock and a good bye note addressed to his third and last wife.  Ironically, she herself had married four times before to husbands who all committed suicide.

Jesse Livermore in figures:

$100 million - Jesse Livermore was worth that amount of money at the peak of his career in 1929. In today's money that would be close to $13.7 billion; 3 - of his direct descendants (daughter, son and grandchild) ended their lives prematurely in poisonous gas suicides; 14 - the genius investor left his father's household and got his very first job at that age.

Joao-D

  • Visitante
Re:"Dont't fight the tape", POR JESSE LIVERMORE
« Responder #5 em: 2013-08-16 15:22:36 »
Citar
Jesse Livermore had three wives during his lifetime. When he was about 23 years old, he married Netit Jordan. He showered her with lavish gifts including a honeymoon trip to Europe and jewelries worth a stunning $12,000. When he got broke at 1901, he asked Netit to pawn his gift but her refusal has put a strain in their relationship. Later on, Netit and Jesse separated. He rebounded from his financial losses by short-selling, got back up again in 1906 and made millions in 1907. This made the great banker, J.P. Morgan to come to him and beg that he refrain from short-selling to avoid the complete meltdown of the Stock Market. He then divorced his first wife on December 1,1918 leaving her half a million and their house in Long Island.

On December 2, 1918, he married Dorthea Wendt who was 18 at that time and was 23 years younger than him. If soulmates do exist then she was the one for him. They had two sons: Jesse Jr. and Paul. The saying that states behind every man’s success is a woman is probably true since Jesse Livermore made his biggest success during this time: a $100 million dollars, again from short-selling. However, even when married to what people today considered to be his one true love, Jesse Livermore foolishly refused to give up being a womanizer and this was one of his downfalls. His being a womanizer has hurt his wife so much that she drowned her sorrows with alcohol and developed an alcoholic problem. She also tried to get back at him by having an affair with a certain Agent Longcope whom she eventually married twenty minutes after her divorce.

After losing the love of his life, Jesse Livermore committed one mistake after another. His luck seemed to turned upside down. Ironically enough, he did not seem to see the deadly pattern when he married his third wife Harriet Noble, a widow of four men who all committed suicide. He married her in the year 1933 and seven years after, he committed suicide.

Joao-D

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Re:"Dont't fight the tape", POR JESSE LIVERMORE
« Responder #6 em: 2013-08-16 15:34:25 »
Citar
Jesse Livermore: World's Greatest Stock Trader book
by Richard Smitten  (Author)

One Review:

If you are a fan of Jesse Livermore and could only read one book on his trading and life, this would be the book to read. Many people tout "Reminiscences of a Stock Operator", but that book actually never details Livermore's trading system. Also, many individuals erroneously claim that "Reminiscences" detailed how J.P. Morgan personally asked Livermore to stop shorting the market during the 1929 crash, when he allegedly walked away with 100 million dollars. Since "Reminiscences" was published in 1923, this would be a neat trick. Actually, Morgan asked Livermore to stop shorting the 1907 crash, to avoid a banking crisis.

Smitten has had a lifelong interest in Livermore, and personally interviewed family members, including son Paul and late son Jesse Jr.'s wife, and has studied all of the available articles and literature on Livermore. Consequently, this book contains many details unavailable from any other published work on Livermore, including more details on his trading system and personal life.

This book also dispels the common myth that Livermore committed suicide after going broke for the last time. In actuality, when he died he had an irrevocable trust worth $1 million, and his wife reputedly removed about $3 million in cash and $1 million in jewelry from their apartment hours after he died. Livermore's trading skills would have always allowed him to trade himself back to significant wealth. It was his lifelong battle with clinical depression that was most likely the reason behind his suicide, not his trading results.

This book's greatest significance is the detailing of his trading system and rules, which if followed today would be just as successful, indicating that as Livermore stated, nothing really ever changes in the market except the participants. In regard to Livermore's many busts as a trader, his only significant flaw as a trader was his complete lack of caution when he saw an opportunity, and consequently went "all in". When he was right, he made millions, and when he was wrong, he lost millions. This tendency was exacerbated by the illiquidity and delayed quotations/information/executions of the day in which he traded.

valves1

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Re:"Dont't fight the tape", POR JESSE LIVERMORE
« Responder #7 em: 2013-08-16 18:39:22 »
Quando ele proferiu essa frase estava certo, embora muitos ensinamentos que ele deixou continuem validos, os mercados mudaram,
 obviamente que continuam a haver subidas e descidas a psicologia humana nao mudou embora os mercados tenham mudado ..
eu tenho reflectido profundamente sobre qual deve ser a postura de um investidor face aos mercados e cada vez mais me questiono se um acompanhamento destanciado face aos mercados nao e a melhor postura; ou seja a pergunta e se olhar para os mercados todos os dias de uma forma intensa  confere vantagem sobre um investidor distante mas atento  que olha aos mercados periodicamente sem o ruido do curto prazo distanciando -se deles como forma de o apreender melhor
« Última modificação: 2013-08-16 21:04:23 por valves1 »
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