E assim a Adobe acabou com a pirataria14/05/2013 | 00:00 | Dinheiro Vivo
Por Ana Rita Guerra
Ao longo do tempo encontrei algumas teorias sobre como a Adobe ignorava a pirataria alarmante dos seus produtos para manter uma quota de mercado elevada. Como sobrevive dos pagamentos milionários das grandes agências e empresas de design gráfico, dependentes da Creative Suite, para pagar todo o desenvolvimento. Como não importa realmente mais cópia pirateada menos cópia pirateada se o peixe fosse pequeno.
Excepto algumas ideias peregrinas, acredito pouco que empresas, autores ou artistas achem piada a serem pirateados. Lembro-me também de ter entrevistado o director-geral da Adobe em Portugal, aqui há uns dez anos, e de ele me dizer que cerca de metade do software da Adobe era pirateado e esse era um grande problema de rentabilidade.
Por isso, não deixa de ser irónico que tenha havido reacções tão fortes ao anúncio da Adobe na semana passada, de que a Creative Suite 6 foi a última versão a ser vendida de forma tradicional pela empresa. A partir de agora, o Photpshop e companhia serão comercializados com subscrição. Záz. De uma assentada, e com a transição para a "nuvem", a Adobe minimiza, se não elimina mesmo, os elevados números de cópias pirateadas do seu software que andam por aí.
De imediato foi lançada uma petição na plataforma Change.org para que a Adobe mantenha a venda em pacote físico da suite. E quem fizer uma busca por "Adobe Creative Cloud" no Google vai ver a função de predição acrescentar um "download free" ou "download gratis". Neste momento, a Creative Cloud é apenas opcional. No futuro, será a única forma de usar os serviços da empresa.
As pessoas esperneiam e começam já à procura de borlas porque continuam a ter a ideia de que devem ter acesso a tudo sem pagar. Notícias, software, música, filmes, livros, tudo gratuito. "A publicidade paga", ouço dizer tantas vezes. E respondo: "qual publicidade, aquela que tentas saltar logo e contra a qual resmungas quando te aparece antes de um vídeo?".
Se os preços se mantiverem, a Creative Cloud vai custar 61,49 euros por mês, com contrato mínimo de um ano. No final dos doze meses, constitui um desconto face ao preço actual da versão em suporte físico, que custa cerca de 900 euros. Quem já tiver uma Creative Suite, a partir da versão 3, tem um desconto de 40% no preço mensal.
Ora, as versões pirateadas que andam por aí não vão deixar de funcionar automaticamente. Mas acabou-se a rambóia nas actualizações, porque um modelo de subscrição torna praticamente impossível a continuidade de uma prática ilegal.
O que os opositores da medida dizem é que pagar mensalmente pelo produto é pior que pagar uma vez e poder usar para sempre. Dizem que serão prejudicados, e o único beneficiado é a Adobe. Isto é verdade se alguém comprar a suite e quiser usar a mesma versão para sempre; mas se a ideia é ter o produto sempre actualizado, e a Adobe cumprir com escrúpulos o calendário de novidades, então não é bem assim.
Mais: isto será o standard no futuro. Não deve demorar muito tempo para que as caixas de software comecem a desaparecer das prateleiras, reais ou virtuais, e a subscrição se torne o normal. Só que as empresas terão de assegurar a mesma fiabilidade que a instalação nativa do software permite. Nada de apagões, nada de ataques de hackers, nada de falhanços imprevisíveis.
Mas, parafraseando um email que recebi quando a Adobe anunciou a intenção, "E assim a Adobe reduz a pirataria do seu software quase a zero."
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