ADOLFO,e o dente!
Ando por aqui sem nada para fazer,fecho os olhos,a memoria aparece,e divirto-me lembrando-me do passado.
Nasci no Norte da Madeira,numa altura em que Salazar,envoiou tropa,para evitar o desenbarque na costa da ilha.Ainda estou para saber,se ele queria evitar o desembarque dos alemaes ou dos americanos.
A minha memoria recua ao tempo em que a guerra ja tinha acabado,mas a tropa continuava la,instalada ,e de noite pegavam nas espingardas,e passavam o tempo com elas espetadas para o mar.
Estava em casa,no ninho da Melra,a casa onde vivia com os meus pais,o sarampo,impedia-me de sair de casa.
De repente,o gordo e anafado Adolfo,subia lentamente por um carreiro que o levava ao alto da freguesia.Meia duzia de soldados escondidos nas vinhas,saltaram para a estrada,socos e pontapes,e deixaram Adolfo desmaiado.Muito gritei,mas ninguem me ouviu,e desde esse dia tomei-o como amigo!
Ja tinha para ai uns 6 anos,quando o meu pai me acordou.Veste-te,vais comigo a Sao Vicente,Sede do Concelho!
Meu pai,uma incognita para mim,tinha sido nomeado ha um mes,presidente da Camara.A porta abriu-se,o Vinha,um matulao enorme,segurava o Adolfo pelo pescoco.O pobre do Adolfo,tinha sido apanhado a roubar couves no quintal do Vinha.
Meu pai tinha o unico carro da freguesia,um monstro americano que mal cabia na estrada de terra,acabada de fazer,para atraves de um furado ligar as duas freguesis.Iamos todos calados,eu entre o meu pai e o Adolfo.Chegados a uma casa de pedra,o pai pegou numa chave enorme,abriu a porta,e atirou o Adolfo la para dentro,para cima de um molho de palha.
Mal acordei,o pai voltou a chamar-me,vamos a prisao soltar aquele desgracado e vou aproveitar para pedir a demissao,de Presidente,nao sei porque me meti nisto!
La chegados a porta da prisao abriu-se,o Adolfo dormia descansado.Foi um martirio para o acordar,e pior ainda,convence-lo,para sair da preisao....senhor Presidente,estou aqui tao quentinho!
A casa do meu bisavo estava em obras,e fomos viver para uma casa no centro da freguesia com tres quartos.Descobri logo que tirando o tapete,via-se um buraco no soalho.Em baixo o Adolfo tinha montado uma sapararia,ou melhor um cubiculo onde ele fazia botas com as peles das vacas.Gostava muito dele,era um homem cheio de humor,solteiro e folgazao.Gostava dele e de lhe fazer partidas.Afastava o tapete,enchia um copo com agua,e deitava a agua para cima da careca dele.Adolfo gritava,nao sabia de onde a agua vinha,era no tempo que na minha terra,ainda nao tinham descoberto,nem a electricidade,nem a agua canalizada.
Um dia,o Adolfo gritava de dor.A cara inchada,um dente tinha apodrecido dentro da sua boca.
O seu compadre Afitadinho,arranjou logo a solucao.Compadre amarra-se um fio ao dente,da-se um puxao,e o dente deixara de o incomodar.
Ja era noite quando sairam.Afitadinho amarrou o dente e na porta da casa onde vivia,deu um puxao.Adolfo deu um grito e caiu inanimado.Afitadinho fugiu para dentro de casa a tremer de medo,tinha morto o seu compadre.
A noite foi longa,e de manha ouviu bater a porta.Cheio de medo,deveria ser a policia,abriu e logo viu a cara do compadre Adolfo,que mais parecia a Lua,tao inchada estava.
Sempre com o fio pendurado na boca foram os dois para a sapataria,Adolfo insistiu,e Afitadinho puxou com forca.
Ouviu-se um grito que atravessava monte e vales,e da boca do Adolfo saiu um dente,e litros de sangue.
Adolfo mete a mao na boca para sentir a caverna.Meu estupor,enganaste-te no dente,deixaste o dente podre E ARRANCASTE AQUELE QUE ESTAVA BOM!