Teoria interessante vindo de um prof. catedrático
Economia feminina
por Pedro Arroja
21-01-2013
(publicado no Vida Económica)
Uma das características do pensamento científico moderno, nas ciências naturais como nas ciências sociais, é a proibição tácita de se falar de Deus. E, no entanto, nenhuma civilização, passada ou presente, alguma vez existiu sem a ideia de Deus. A civilização ocidental ou cristã não é excepção.
A linha que hoje divide os países em dificuldades dentro da Zona Euro – Portugal, Grécia, Itália e Espanha, os chamados PIGS – daqueles que não estão em dificuldades é uma linha religiosa. Aqueles são os países que não foram penetrados pelas ideias da Reforma Religiosa do século XVI e permaneceram católicos (ou no caso da Grécia, ortodoxos, uma concepção do Cristianismo muito próxima do catolicismo).
Devido à sua situação geográfica, e tendo a Espanha como tampão, Portugal é o país da Europa menos tocado pelos ventos das ideias protestantes e permanece até hoje, talvez, o país de cultura mais profundamente católica em toda a Europa.
A Reforma Protestante, que teve origem na Alemanha, rapidamente se espalhou aos outros países do centro e norte da Europa e às Ilhas Britânicas. Os reformadores contestaram a autoridade do Papa e a intermediação da Igreja entre o homem e Deus. Acabaram com a veneração dos santos e também com a veneração de Maria para só aceitarem a veneração de Cristo – o princípio protestante Solo Christus.
A rejeição da Igreja e de Maria não são independentes, porque a Igreja se vê a si própria, teologicamente, como uma figura de Mulher, e vê Maria precisamente como sendo a Primeira Igreja. Ora, a consequência da rejeição protestante de Maria foi a de tirar a mulher do pedestal em que ela se encontra na cultura católica, para dar primazia à figura do homem (Solo Christus).
O catolicismo é uma cultura feminina que atribui primazia à mulher (Maria) e aos valores femininos. O protestantismo tornou-se uma cultura feminina que atribui primazia ao homem (Cristo) e aos valores masculinos. E embora todos os valores humanos se encontrem igualmente em homens e mulheres, eles encontram-se geralmente de uma forma mais acentuada num dos sexos do que no outro. Acontece assim com a agressividade, a amabilidade, a força física, a racionalidade, a emotividade, etc.
As consequências económicas que daqui resultaram são extraordinárias e explicam muito das nossas dificuldades actuais. Levando o argumento ao extremo, o que se pode esperar, em termos de produtividade, se se puser um grupo de homens em concorrência com um grupo de mulheres no campo, numa fábrica ou mesmo num escritório, quem vai ganhar a corrida?
Mais importante ainda é a tendência para gastar em excesso em relação àquilo que se ganha. Devido à sua situação tradicional na família, as mulheres sempre gastaram mais do que aquilo que ganham, a diferença sendo-lhes dada pelo marido. O oposto vale para os homens, a diferença sendo entregue à mulher.
Não surpreende que os países de cultura católica, e feminina, como é Portugal, tenham uma grande tendência para gastar mais do que aquilo que ganham, uma característica que se exprime nos seus desequilíbrios externos permanentes. Uma mulher compra mais do que aquilo que vende, e por isso também Portugal ao longo de toda a sua história, e com raros anos de excepção, teve sempre um défice na sua balança comercial. É precisamente a enormidade dos défices externos que os PIGS tiveram nos últimos anos, e que foi facilitada pela liberalização dos mercados, que constitui hoje a origem de todas as suas dificuldades.
Por mais que se faça, uma mulher nunca será tão produtiva num campo ou numa fábrica, ou mesmo num escritório, como um homem (ceteris paribus). Por mais que se faça, uma economia de cultura feminina, como é Portugal, nunca será tão produtiva como uma economia de cultura masculina, como é a Alemanha ou a Finlândia.
Do mesmo modo, se se der a uma mulher perfeita liberdade para comprar e vender, ela vai comprar mais do que aquilo que vende. O oposto vale para o homem porque, se as coisas não fossem assim, a família há muito tempo que se teria tornado inviável como instituição. Ora, dê-se liberdade aos portugueses, que possuem uma cultura feminina, de comprar e vender no exterior – e foi isso que o Mercado único veio dar - e eles vão comprar mais do que aquilo que vendem. Dê-se idêntica liberdade aos alemães e o resultado oposto vai prevalecer.
Uma economia como a portuguesa não pode ser entregue ao liberalismo das trocas internacionais. Vai importar mais do que aquilo que exporta, vai gerar défices externos, vai endividar-se para financiar esses défices e, no fim, vai falir. As mulheres precisam de ser protegidas, e assim também Portugal, que é uma economia feminina.
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