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Autor Tópico: O monstro continua a almoçar  (Lida 3585 vezes)

Kin2010

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O monstro continua a almoçar
« em: 2014-10-17 21:28:15 »
Este artigo parece-me bom. O actual governo, "neo-liberal"? É uma história inventada.


Rui Ramos, O Observador, 17-10-2014


Este orçamento não é, como o país dos comentários quer acreditar, o resultado das limitações de Passos Coelho. É o resultado dos recursos de Portugal e da Europa, que ainda não chegaram aos limites.

Toda a gente arranjou maneira de se zangar com o Orçamento. A acusação mais curiosa foi esta: afinal, depois de tanta “austeridade” e de tanto “neo-liberalismo”, nada mudou. Quando muito, algumas tendências estão mais moderadas. Falta de zelo? Irresponsabilidade, como insinuam aqueles que agora se lembram de que “vamos para a parede”? Não. A razão é mais simples: “nada mudou”, porque nada, até agora, teve de mudar.

Em Portugal, o governo, como seus antecessores, encontrou sempre mais receita fiscal, e espera este ano encontrar ainda mais. E na Europa, por entre muita tensão franco-alemã, o BCE não deixou faltar dinheiro. Hans Werner Sinn explicou isso num artigo que, pelos vistos, toda a gente em Portugal teve o cuidado de não ler: a UE restabeleceu, por via pública, a circulação de capitais outrora efectuada por via privada entre o norte e o sul. Para que serviram os biliões de euros gerados pelo BCE? Entre outras coisas, para os países do sul continuarem a financiar défice atrás de défice, com juros cada vez mais baixos. Há neste momento outra bolha de crédito, que o BCE se prepara para insuflar ainda mais com o seu novo esquema de financiamento ao sector privado. A “deflação” deixa os prelos do BCE funcionarem sem descanso. Não há crescimento económico, mas há muito dinheiro barato a andar de um lado para o outro.

Por que razão, nestas circunstâncias, teria o governo cortado a despesa pública? Para ressuscitar as manifestações, as aulas magnas, as “grândoladas” e os acórdãos do Tribunal Constitucional de que, entretanto, já ninguém se lembra? O grande ponto é este: neste momento, graças ao apoio da troika e agora do BCE, os custos de mudar continuam a ser maiores do que os custos de adiar as mudanças. Imaginem isto: se o governo já é denunciado como “neo-liberal” por nos deixar uma despesa pública corrente igual, em termos de PIB, à de 2010, o que diríamos e o que faríamos se a tivesse diminuído? Ou se tivesse obtido reduções de salários e de pensões, não através de cortes temporários, mas da reformulação das estruturas? A verdade é que não foi necessário (e só por isso não foi “possível”).

E depois, há isto, que o véu mitológico da austeridade esconde pudicamente: no geral, vivemos bastante bem. O crescimento económico é baixo ou nulo, o desemprego juvenil é alto, mas tudo o mais é excelente, se comparado com o que era no passado, ou com o que ainda é no resto do mundo. Nunca vivemos tanto tempo e com tanta saúde, e por alguma razão será. Mais: os nossos salários reais desceram, mas, como vários economistas insistem em dizer sem nós ouvirmos, são ainda muito elevados para a nossa produtividade média. Mudar? Para quê?

Este orçamento não é, como o país dos comentários quer acreditar, o resultado das limitações de Passos Coelho. É, pelo contrário, o resultado dos recursos de Portugal e da Europa, que, pelos vistos, ainda não chegaram aos limites. Sem isso, já estaríamos no lazareto da bancarrota, ao lado da Argentina. Assim, quase parece que o nosso destino é o Japão: uma economia que não cresce, mas que tem dinheiro.

Houve gente que, a propósito de tudo isto, se lembrou do velho “monstro” que o professor Cavaco Silva, nos seus tempos de naturalista, identificou um dia no “pântano” pré-histórico de António Guterres. Sim, o nosso monstro está vivo e muito bem de saúde. E sabem porquê? Porque nunca lhe faltou almoço. Não tenham ilusões: o monstro só vai extinguir-se quando não houver que comer, isto é, quando o imposto em Portugal deixar de render e quando o BCE, terminada a “deflação”, não puder imprimir mais euros. Mas tudo isto quer dizer uma coisa: as mudanças que não fizemos até agora por opção, vão um dia acontecer por necessidade. Só que talvez já não sejam reformas, graduais e planeadas, mas revoluções, súbitas e caóticas.


JoaoAP

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #1 em: 2014-10-17 22:24:26 »
As grandes mudanças que deviam ser feitas, não foram.

Mas, foram dados alguns passos para pelo menos não terem aumentado ainda mais os problemas.
Neste ponto o governo fez algum trabalho.
Também algumas empresas encetaram mudanças.

A balança comercial, não mudou?
Não houve cortes de salários? O RSI, os abonos, apoios, ... não redurizam?
Os principais ministérios não cortaram?

Se não fossem os juros, não estávamos melhor?

JoaoAP

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #2 em: 2014-10-17 22:45:07 »
Diria:
O Monstro ainda está por cá, não morreu! Mas, está a começar a ficar esfomeado... e parece que vem aí alguém que o vai alimentar novamente.

Thunder

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #3 em: 2014-10-29 18:26:02 »
Foi o que referi no outro tópico.
Um governo que em 2013 gastou 13,89G € en aquisição de bens e serviços e em 2014 irá gastar cerca de 12,50G € na mesma rubrica não pode ser liberal. É incrível que continuem com esse cliché.


Concordo com o geral do artigo. Estas partes resumem tudo:

"neste momento, graças ao apoio da troika e agora do BCE, os custos de mudar continuam a ser maiores do que os custos de adiar as mudanças. Imaginem isto: se o governo já é denunciado como “neo-liberal” por nos deixar uma despesa pública corrente igual, em termos de PIB, à de 2010, o que diríamos e o que faríamos se a tivesse diminuído? Ou se tivesse obtido reduções de salários e de pensões, não através de cortes temporários, mas da reformulação das estruturas? A verdade é que não foi necessário (e só por isso não foi “possível”).

"Este orçamento não é, como o país dos comentários quer acreditar, o resultado das limitações de Passos Coelho. É, pelo contrário, o resultado dos recursos de Portugal e da Europa, que, pelos vistos, ainda não chegaram aos limites. Sem isso, já estaríamos no lazareto da bancarrota, ao lado da Argentina. Assim, quase parece que o nosso destino é o Japão: uma economia que não cresce, mas que tem dinheiro."

"e quando o BCE, terminada a “deflação”, não puder imprimir mais euros. Mas tudo isto quer dizer uma coisa: as mudanças que não fizemos até agora por opção, vão um dia acontecer por necessidade. Só que talvez já não sejam reformas, graduais e planeadas, mas revoluções, súbitas e caóticas."
« Última modificação: 2014-10-29 18:26:32 por Thunder »
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vbm

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #4 em: 2014-10-29 19:32:44 »
Está tudo muito bem, no artigo do Rui Ramos. Porém, não vejo uma só palavra aos ganhos monopolistas da edp, da galp, dos duopolistas merceeiros, e das bancarrotas da praça.

Thunder

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #5 em: 2014-10-29 19:40:19 »
Está tudo muito bem, no artigo do Rui Ramos. Porém, não vejo uma só palavra aos ganhos monopolistas da edp, da galp, dos duopolistas merceeiros, e das bancarrotas da praça.

Já sabemos que as PPPs principalmente rodoviárias e os preços garantidos das renováveis são cancros que pesam como um lastro na economia do país. Mas é como disse no outro tópico.... há suporte legal para o roubo.
No Negócios da Semana da semana passada, penso que falaram em perto de 5G € de défice tarifário. Uma insanidade! Desde quando produzimos o suficiente para suportar um lastro destes!  :o
« Última modificação: 2014-10-29 19:41:26 por Thunder »
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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #6 em: 2014-10-29 19:48:14 »
[ ]
No Negócios da Semana da semana passada, penso que falaram em perto de 5G € de défice tarifário. Uma insanidade! Desde quando produzimos o suficiente para suportar um lastro destes!  :o

A abertura da França/Europa à exportação da energia renovável de Portugal e Espanha, diminuirá a nossa factura energética nos próximos anos. A victória do Moreira da Silva não foi espectacular nem sequer reconhecida inequivocamente pela França, mas foi um primeiro avanço. Deveríamos avançar abruptamente para perceberem que não vamos brincar e temos e queremos pagar o que devemos para arrumar as contas.

bezanas

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #7 em: 2014-10-29 20:10:33 »
eu não acredito no Pai Natal... good luck pós acionistas chinas porque aqui no pasquim.. a conta da electricidade na vai descer...

Lucky Luke

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #8 em: 2014-10-29 20:54:47 »
um independente este Rui Ramos  ;D ;D ;D
e ainda há quem o leia  ;D ;D
pá leiam antes o Camilo Lourenço
esse produz pérolas ainda melhores
grandioso jornalista, com muita sabedoria de economia e também muito independente  ;D ;D
« Última modificação: 2014-10-29 20:56:06 por Lucky Luke »

bezanas

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #9 em: 2014-10-29 22:02:10 »
O observador tá a ficar tuga...  :P

Thunder

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #10 em: 2014-10-29 22:23:51 »
um independente este Rui Ramos  ;D ;D ;D
e ainda há quem o leia  ;D ;D
pá leiam antes o Camilo Lourenço
esse produz pérolas ainda melhores
grandioso jornalista, com muita sabedoria de economia e também muito independente  ;D ;D

Eu sinceramente não conheço vários artigos do tal Rui Ramos para ter opinião formada sobre se vale a pena ou não ler os artigos.
Mas é verdade que muitos dos artigos de opinião do Observador são claramente de direita.
Apenas achei que ele aborda pontos válidos. É claro que faltam ali explicações para explicar de forma mais neutra e abrangente as razões nossa situação delicada actual. Por exemplo as situações de desvio de capital público em n situações de obras públicas, etc, etc que ocorreram em vários governos anteriores.
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I. I. Kaspov

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #11 em: 2014-10-29 23:13:29 »
O Rui Ramos é um bom historiador e parece ter razão naquilo que diz...   :D
Gloria in excelsis Deo; Jai guru dev; There's more than meets the eye; I don't know where but she sends me there; Let's Make Rome Great Again!

Lucky Luke

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #12 em: 2014-10-30 01:48:32 »
O Rui Ramos é um bom historiador e parece ter razão naquilo que diz...   :D
o Rui Ramos é apenas um dos espertos que usa a técnica mais básica de sempre
mixa umas verdades com umas omissões para fazer passar a dama dele
manhas velhas

vbm

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Re:O monstro continua a almoçar
« Responder #13 em: 2014-10-30 10:05:54 »
O Rui Ramos é um bom historiador e parece ter razão naquilo que diz...   :D
o Rui Ramos é apenas um dos espertos que usa a técnica mais básica de sempre
mixa umas verdades com umas omissões para fazer passar a dama dele
manhas velhas

Pode ser. Provavelmente, até. Como dizes. Não obsta que a narrativa não seja apreciada. Pela concatenação do enredo historiado. Serve para agir? Bom, a meu ver, pode servir. Junte-se-lhe o que omite, reelabore-se o diagnóstico descritivo e avante com um programa mobilizador, distinguindo o que vale do que é embuste ou está podre. Tudo enraizado em materialismo económico, vontade política e lucidez constante.