Para abrir um pouco mais a mente
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> Eu proponho voltarmos a 6 de Abril de 2011 e revisitarmos o filme do
> Primeiro Ministro José Sócrates, qual animal feroz encostado as
> tábuas, forçado a pedir o resgate financeiro. Há um matador principal
> nesse filme da banca a tourear o poder político, a democracia, o
> Estado: Ricardo Salgado, CEO do BES e do Grupo que o detém e controla,
> o GES - Grupo Espírito Santo. O mesmo banqueiro que, em Maio de 2011,
> elogiava a vinda da Troika como oportunidade para reformar Portugal,
> mas recusava a necessidade de o seu Banco recorrer ao financiamento
> que a Troika destinava à salvação da banca portuguesa.
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> A maioria dos comentaristas que se arvoram em especialistas económicos
> passou o tempo, desde então, a ajudar a propalar a mentira de que a
> banca portuguesa - ao contrário da de outros países - não tinha
> problemas, estava saudável (BPN e BPP eram apenas casos de polícia ou
> quando muito falha da regulação, BCP era vítima de guerra intestina:
> enfim, excepções que confirmavam a regra!). Mas revelações recentes
> sobre o maior dos grupos bancários portugueses, o Grupo Espírito
> Santo, confirmam que fraude e criminalidade financeira não eram
> excepção: eram - e são - regra do sistema, da economia de casino em
> que continuamos a viver.
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> Essas revelações confirmam também o que toda a gente sabia - que o
> banqueiro Salgado não queria financiamento do resgate para não ter
> que abrir as contas do Banco e do Grupo que o controla à supervisão
> pelo Estado - esse Estado na mão de governantes tão atreitos a
> recorrer ao GES/BES para contratos ruinosos contra o próprio Estado,
> das PPPs aos swaps, das herdades sem sobreiros a submarinos e outros
> contratos de defesa corruptos, à subconcessao dos Estaleiros Navais de
> Viana do Castelo. À conta de tudo isso e de mecenato eficiente para
> capturar políticos - por exemplo, a sabática em Washington paga ao Dr.
> Durão Barroso - Ricardo Salgado grangeou na banca o cognome do DDT, o
> Dono De Tudo isto, e conseguiu paralisar tentativas de investigação
> judicial - sobre os casos dos Submarinos, Furacão e Monte Branco,
> etc.. e até recorrer sistematicamente a amnistias fiscais oferecidas
> pelos governos para regularizar capitais que esquecera ter parqueado
> na Suíça, continuando tranquilamente CEO do BES, sem que Banco de
> Portugal e CMVM pestanejassem sequer...
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> Mas a mudança de regras dos rácios bancários e da respectiva
> supervisão - determinados por pressão e co-decisão do Parlamento
> Europeu - obrigaram o Banco de Portugal a ter mesmo de ir
> preventivamente analisar as contas do BES/GES. A contragosto, claro, e
> com muito jeitinho - basta ver que, para o efeito, o Banco de
> Portugal, apesar de enxameado de crânios pagos a peso de ouro, foi
> contratar (cabe saber quanto mais pagamos nós, contribuintes) uma
> consultora de auditoria, a KPMG - por acaso, uma empresa farta de ser
> condenada e multada nos EUA, no Reino Unido e noutros países por
> violações dos deveres de auditoria e outros crimes financeiros e, por
> acaso, uma empresa contratada pelo próprio BES desde 2004 para lhe
> fazer auditoria...
>
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> Mas a borrasca era tão grossa, que nem mesmo a KPMG podia dar-se ao
> luxo de encobrir: primeiro vieram notícias da fraude monstruosa do
> GES/BES/ESCOM no BESA de Angola, o "BPN tropical", que o Governo
> angolano cobre e encobre porque os mais de 6 mil milhões de dólares
> desaparecidos estão certamente a rechear contas offshore de altos
> figurões e o povo angolano, esse, está habituado a pagar, calar e a
> ....não comer... Aí,
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> Ricardo Salgado accionou a narrativa de que "o BES está de boa saúde e
> recomenda-se", no GES é que houve um descontrolo: um buracão de mais
> de mil e duzentos milhões, mas a culpa é... não, não é do mordomo: é
> do contabilista!
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> Só que, como revelou o "Expresso" há dias, o contabilista explicou que
> as contas eram manipuladas pelo menos desde 2008, precisamente para
> evitar controles pela CMVM e pelo Banco de Portugal, com conhecimento
> e por ordens do banqueiro Salgado e de outros administradores do
> GES/BES. E a fraude, falsificação de documentos e outros crimes
> financeiros envolvidos já estão a ser investigados no Luxemburgo, onde
> a estrutura tipo boneca russa do GES sedia a "holding" e algumas das
> sociedades para melhor driblar o fisco em Portugal.
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> Eu compreendo o esforço de tantos, incluindo os comentadores sabichões
> em economia, em tentar isolar e salvar deste lamaçal o BES, o maior e
> um dos mais antigos bancos privados portugueses, que emprega muita
> gente e que obviamente ninguém quer ver falir, nem nacionalizar. Mas a
> verdade é que o GES está para o BES, como a SLN para o BPN: o banco
> foi - e é - instrumento da actividade criminosa do Grupo. E se o BES
> será, à nossa escala, "too big to fail" (demasiado grande para falir),
> ninguém, chame-se Salgado ou Espírito Santo, pode ser "too holy to
> jail" ( demasiado santo para ir preso).
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> Isto significa que nem os empregados do BES, nem as D. Inércias, nem
> os Cristianos Ronaldos se safam se o Banco de Portugal, a CMVM, a PGR
> e o Governo continuarem a meter a cabeça na areia, não agindo contra o
> banqueiro Ricardo Salgado e seus acólitos, continuando a garantir
> impunidade à grande criminalidade financeira - e não só - à solta no
> Grupo Espírito Santo.
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