Um choque em cadeia

Da Thinkfn

Dois carros têm um acidente sem importância. Mas, porque há nevoeiro, piso molhado ou apenas distracção, muitos outros condutores não conseguem evitar bater-lhes. E aquilo que começou por ser um pequeno acidente transforma-se numa tragédia com mortos, feridos graves e dezenas de viaturas destruídas.

O dólar, face à melhoria dos deficits gémeos, valoriza-se. As commodities, incluindo o crude, que são pagas em dólares, ajustam o preço dos físicos às suas moedas de origem, caindo os contratos dos futuros, em dólares.

Os Hedge Funds que estão longos em commodities e energia e curtos em dólares, entram em competição, para desatar o nó antes dos outros. Gera-se o pânico. O volume brutal, movimentado estes dias, em commodities, energia e moeda vai muito para além de uma simples rotação.

E o refúgio nos Treasury Bonds a 10 anos foi impressionante, com compras massivas ao melhor, realizadas por fundos. A recente emissão perdeu 5% do seu Yield num dia!

Um trend destes é difícil de parar, tal como o choque em cadeia em piso molhado.

Porque podem seguir-se enormes pedidos de resgate nos Fundos, antes que as partes valham ainda menos. Curiosamente o maior perigo vem dos Fundos europeus e asiáticos, que não têm as cláusulas de prazos de resgate longos, da maioria dos americanos.

Não há pior situação para os preços como quando os vendedores não vendem porque querem, mas porque são obrigados a isso.

Como tudo isto, analisado objectivamente, não passa de uma sobre-reacção, acelerada pelo disparo dos Stop loss em cadeia, talvez o fim-de-semana faça assentar a poeira e, na segunda-feira, haja uma travagem eficaz.

Por mim, sinto-me bem com 50% de liquidez. Se o pânico continuar e as empresas de Energia e Minérios (que continuam a ser tão necessários como há 10 dias para satisfazer a procura da China e Índia) atingirem preços de saldo, quero ser comprador e não vendedor.


A outra guerra.

Diz-se que, para se iniciar um Bull Market é necessário escalar uma “muralha de medo”. Parece que alguém está a tentar, pois o Nasdaq ia por outra estrada, viu o choque em cadeia à distância, e nem parou para olhar.

O NYSE, o Amex, o CME, o Nymex e o Forex é que estavam por lá todos a dizer que a culpa era do outro, a tentar salvar os vivos, a avaliar os estragos e, alguns, até já a negociar com sucateiros os seus carros amolgados.

Sabendo-se motor dos anteriores Bull Markets subiu 0,7 % (Composite) 1,1% (Nas100) e o seu filhote preferido, o dos Semicondutores, nada menos de 2,8% (querida Dell) ! Não fez mais do que dar continuidade ao up trend iniciado em 29 de Abril, depois daquele duplo (ou triplo?) fundo. A novidade é que fechou acima da sua MM50, coisa que não acontecia desde princípio de Março.

Tecnicamente, mais uma ou duas semanitas assim, e todas as suas médias móveis (dos 10 aos 200 dias) fazem uma super Golden Cross. Seria ouro sobre azul, passe o pleonasmo, e outros indicadores apontam para essa possibilidade: o Stochastic voltou aos valores de Dezembro, o MACD virou positivo, o que não acontecia desde meados de Janeiro. O “sell in May and go away” pode, este ano, ser substituído por um rali de Verão.


A minha estratégia.

Cancelar todas as ordens de compra que estejam no sistema. Porque as quedas podem ser muito maiores, permitindo comprar mais barato.

Cancelar todos os Stop loss (estavam em 15%) activos. Porque a Carteira E+M já tem 50% de liquidez e, em situação de pânico, as vendas ao melhor arriscam-se a ser ruinosas. Prefiro decidir caso a caso de acordo com as informações que o Mercado der.


Autor

Fogueiro, em 14/5/2005