Produtores de commodities a longo prazo

Da Thinkfn

As commodities estão na moda, um pouco devido ao fenómeno da procura Chinesa, descrito em A Procura Chinesa, um pouco devido à bolha mundial de liquidez, cujo resultado está descrito em O Debaseamento da Moeda Fiduciária.

Como praticamente todas as commodities estão a subir de preço rapidamente, as empresas que as produzem também sobem. Então minas dos mais diversos minérios, produtoras de bens energéticos, empresas de transportes, produtoras de aço, são esses os sectores que têm dominado as tabelas de maiores subidas nos últimos 2-3 anos.

Embora possa existir razão para alguns casos específicos, como as petrolíferas, devido à teoria descrita em O Pico do Petróleo, este artigo serve para explicar uma outra realidade:

Praticamente todas estas empresas que agora estão na moda (sectores inteiros) se vão revelar MAUS investimentos, ainda que possam a curto prazo ser bons trades/especulações, devido às tendências de alta fortíssima.

Porque digo isto? Poder-se-ia pensar que a razão era tão somente porque a maioria das commodities são cíclicas, logo portam-se como descrito no artigo Trading - Acções cíclicas.

Mas a razão é mais fundamental. A razão é que estamos a falar de commodities. Commodities são bens indiferenciados, que qualquer um pode produzir.

O que é que acontece quando, como hoje, as empresas que produzem esses bens estão todas a gozar de ROE’s fantásticos? Bem, elas expandem a produção, e entram também muitos novos concorrentes no mercado a tentar aproveitar estes ROE elevados fáceis. Afinal, tratam-se de produtos que não são protegidos nem por propriedade intelectual, nem por marcas.

Assim, começam-se a observar por todo o mundo reabertura de minas que passaram anos ou décadas fechados, erguem-se novas siderurgias a grande velocidade, etc.

Cada um desses novos entrantes conta com o preço actual ou com um preço ligeiramente inferior para a commodity em causa no seu plano de negócios. O que cada um não conta, é que existam tantos outros a fazer o mesmo. E no fim, quando todos estão instalados, todos TÊM que vender para manter estruturas pesadas (a maior parte das indústrias que produzem commodities são capital-intensivas, pois devido ao bem ser indiferenciado, evoluiu-se para economias de escala muito grandes). Ora, custos fixos elevados e custos variáveis baixos fazem com que, uma vez que se começa a produzir, está-se obrigado a produzir e vender ... a qualquer preço.

É por isto que os negócios que dependem de commodities a prazos longos são negócios de retornos baixos (excepto, normalmente, para um ou dois produtores por indústria, os produtores de menores custos). É por isto que embora estes sectores estejam agora super-quentes, a prazo se vão revelar novamente maus negócios.

Dito isto, o mercado não é completamente cego, e seja por identificar estes sectores com sectores cíclicos, seja por se dar conta desta realidade das commodities a longo prazo, os múltiplos a que a maioria destas empresas transacciona são relativamente (e enganadoramente) baixos.


Autor

Incognitus, em 3/4/2005

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