O poder dos incentivos

Da Thinkfn

Uma das facetas pouco discutidas da presente bolha de crédito e respectivo rebentamento, é o quanto foi necessário que as estrelas, ou melhor, os incentivos, se alinhassem para produzir um fenómeno tão forte, que no seu cúmulo chegou a levar ao emprestar de milhões de dólares a desempregados, criando coisas tão líricas quanto as NINJA Loans (No Income No Job or Assets) ou as Liar Loans (Stated Income).

De facto, toda a estrutura desde os devedores, aos brokers, aos originadores, aos gestores de estruturados, aos investidores nestes estruturados foi tomada de assalto por uma onda de incentivos coincidentes quase sem par. Vejamos.


Compradores de Casas

Os Compradores de casas acederam a uma especulação sem risco, visto que financiavam 100% da compra, ou mesmo mais de 100% recebendo cashback na escritura.


Brokers/Originadores

Os Brokers, recebiam uma margem maior para empréstimos de elevado risco, pois estes pagavam um spread/taxa superior aos de baixo risco. Além disso recebiam as suas comissões pela originação do crédito “à cabeça” e vendiam instantaneamente o crédito gerado livrando-se do risco.


Agências de Rating

As Agências de rating colaboraram com os criadores de estruturados, recebendo destes uma comissão aquando da atribuição do rating ao estruturado.


Criadores de Estruturados

Os criadores de estruturados procuravam comprar empréstimos de maior risco/spread/taxa de juro, já que isso facilitava a criação de uma estrutura com margem elevada, ainda dispondo de folga para as tranches de overcollaterization, etc.


Hedge Funds

Os Hedge funds compradores das tranches dos estruturados aplicavam uma estratégia de positive carry, comprando as tranches de estruturados com taxas ligeiramente superiores ao mercado, e alavancando essas taxas várias vezes com recurso ao crédito a preços de mercado.


Subscritores de Hedge Funds

Os subscritores desses hedge funds baseados em estratégia de positive carry, tinham acesso a rendibilidades elevadas com aparente baixa volatilidade, já que esta rendibilidade era simplesmente a diferença entre o spread das tranches de estruturados detidas pelos fundos, e o spread do crédito disponível para o hedge fund “vezes” a alavancagem, ao passo que a volatilidade era praticamente inexistente pois os preços das tranches que davam origem à rendibilidade eram estabelecidos essencialmente por modelos (ou dealer quotes, também elas muitas vezes vindas de modelos).


Autor

Incognitus, em 11/9/2007

Comentários

Pode comentar este artigo no Fórum no seguinte tópico.

Disclaimer

Este comentário é um artigo de opinião e nunca uma recomendação de compra ou venda. Alerta-se ainda que a compra ou venda é da responsabilidade do investidor bem como o lucro ou perda daí existente. O Autor pode ter, e provavelmente tem, posições nos títulos referidos neste artigo. Em caso de dúvidas, deverá o investidor procurar um intermediário financeiro, a Euronext, ou a CMVM.