O lado escuro de Carlos Ghosn

Da Thinkfn

Na imprensa tradicional, criam-se vilões e heróis como se de um filme de cowboys se tratasse. Tudo parece a preto e branco. Os heróis só fazem bem, e os vilões são maus e acabou-se.

É por isso que por vezes convém entender que os heróis nem sempre são imaculados. Não estamos a falar de condutas pessoais que sejam por outros vistas como incorrectas, mas sim e mesmo condutas dentro da esfera profissional na qual foram dados como heróis, infalíveis e irrepreensíveis.

Hoje, abordamos Carlos Ghosn. O grande arquitecto da recuperação da Nissan no Japão, e agora o novo CEO da Renault. O homem é tão famoso que até é herói de banda desenhada no Japão. E diga-se, a sua fama é justificada, pois a Nissan corria para a falência antes de ele a liderar.

Mas serão tudo rosas, nunca terá Carlos Ghosn errado?

Nem tanto.

O que pensaria se Carlos Ghosn tivesse no seu passado recente sido administrador de uma empresa que deixou pouco a desejar à Enron? Pois bem, Carlos Ghosn pertenceu de facto ao Board de uma empresa que era a segunda maior cliente da Arthur Andersen no sector energético (a seguir à Enron), que teve problemas contabilísticos graves, que embelezou os seus relatórios e contas, que participou na crise energética da Califórnia, e que em última análise ... faliu. E isto quando poucos trimestres antes nada nas contas o faria prever (se estas fossem verdadeiras).

Pois é ... Carlos Ghosn era administrador da Mirant Corporation, durante o período em que a Mirant implodiu ... e mais ainda, ele serviu no comitê de auditoria, que deveria ter supervisionado a contabilidade da Mirant, precisamente o­nde os problemas mais graves ocorreram.

Como se vê, nem todos os heróis têm o seu armário livre de esqueletos. E heróis menores podiam nem nunca o ter sido, com uma nódoa destas na carreira.


Autor

Incognitus, em 27/4/2005

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