Investimento no contrário

Da Thinkfn

Em finanças, um contrarian é aquele que tenta lucrar investindo de uma maneira que difere da sabedoria convencional, quando a opinião de consenso parece estar errada.

Um contrarian acredita que certos comportamentos colectivos dos investidores podem levar a avaliações erróneas exploráveis nos mercados de valores mobiliários. Por exemplo, o pessimismo generalizado numa acção pode conduzir a cotação a valores tão baixos, que sobrestima os riscos da empresa e subestima os seus prospectos de retorno à rendibilidade. Identificando e comprando tais acções em dificuldades, e vendendo-as depois da recuperação da empresa, pode levar a ganhos acima da média. De igual forma, um optimismo generalizado pode levar a cotações injustificadamente elevadas, que mais cedo ou mais tarde serão acompanhadas de quedas, quando essas espectativas não se concretizam. Evitando tais investimentos sobre-publicitados, evitam-se as prováveis perdas. Estes princípios gerais podem ser aplicados independentemente do investimento em causa, seja uma acção, um sector industrial, um mercado ou classe de activos.

Os contrarians são por vezes considerados como perma-bears, i.e. participantes do mercado que permanentemente têm uma visão tendenciosa para um mercado em baixa. Contudo, um contrário não tem necessariamente uma visão negativa do mercado de acções em geral, nem acredita que este está sempre sobre-avaliado, ou que a sabedoria convencional está sempre errada. Em vez dissso, um contrarian procura oportunidades de compra ou venda de activos específicos quando a maioria dos investidores parece estar a fazer o oposto, ao ponto do activo ficar erroneamente preçado. Embora seja mais provável identificar mais oportunidades de compra quando os mercados estão em queda (e vice-versa), estas oportunidades podem ocorrer em períodos em que o mercado em geral está a subir ou a descer.


Semelhanças com o investimento no valor

O investimento no contrário está relacionado com o investimento no valor pois o contrarian também procura activos erroneamente preçados e compra aqueles que parecem subavaliados pelo mercado. Alguns investidores de valor, como o John Neff, questionaram se realmente existe tal coisa como um "contrarian", vendo-o essencialmente como um sinónimo de investimento no valor. Uma possível distinção é a de que uma acção de valor, em teoria financeira, podem ser identificadas por métricas financeiras tais como o book value ou o PER.

Um investidor contrarian pode olhar para estas métricas, mas também está interessado em medir o "sentimento" em relação à acção entre os outros investidores, tais como a cobertura por analistas do lado vendedor e previsões de ganhos, o volume, e os comentários dos media sobre a empresa e seus prospectos de negócio.

No exemplo de uma ação que caiu por causa do excesso de pessimismo, podem-se ver semelhanças com a "margem de segurança" que o investidor de valor Benjamin Graham procurava aquando da aquisição de ações: –essencialmente, a possibilidade de adquirir acções a desconto do seu valor intrínseco. Sem dúvida essa margem de segurança é mais provável existir quando a acção caiu bastante, e esse tipo de queda é usualmente acompanhado de notícias negativas e pessimismo generalizado.

Investidores contrarian notáveis

David Dreman é um gestor de carteiras frequentemente associado ao investimento no contrário. É autor de vários livros sobre o tema e escreve a coluna "Contrarian" da revista Forbes.

John Neff, que durante vários anos geriu o fundo Vanguard Windsor, é também considerado um contrarian, se bem que ele se descreva como um investidor no valor (e questionou a distinção).

Exemplos de investimento no contrário

Cães do Dow é sem dúvida um exemplo de uma estratégia contrária simples. Ao comprar as ações do Dow Jones Industrial Average que têm o dividend yield relativo mais elevado, o investidor está frequentemente a comprar muitas das companhias em "dificuldades" entre essas 30 acções. Estes "Cães" têm rendimentos elevados não porque os dividendos aumentaram, mas sim porque o preço das acções caiu. A empresa está em dificuldade, ou simplesmente no ponto baixo do seu ciclo económico. Comprando repetidamente tais acções, e vendendo-as quando já não satisfazem os critérios, o investidor nos "Cães" compra sistematicamente as empresas menos amadas do Dow 30, e vende-as quando estas se tornam de novo populares.

Durante a bolha dot com os investidores teriam ganho em evitar as acções tecnológicas que eram o objecto da atenção da maior parte dos investidores. Classes de activos como as acções de valor e os fundos de investimento imobiliários eram largamente ignorados pela imprensa financeira da época, apesar das valuações historicamente baixas, e muitos dos fundos dessas categorias perderam activos. Estes investimentos tiveram ganhos substanciais no meio das grandes quedas do mercado de acções americanas em geral, quando a bolha se esvaziou.

Relação com a finança comportamental

Os contrarians estão a tentar explorar alguns princípios da finança comportamental e existe uma sobreposição significativa entre estes dois campos. Por exemplo, estudos em finança comportamental mostraram que os investidores como um grupo tendem a sobreponderar as tendências recentes quando prevêem o futuro; uma acção com um mau comportamento recente continuará fraca, e uma acção com bom comportamento continuará forte. Isto dá credibilidade à crença contrarian de que activos podem cair "demasiado" durante períodos de notícias negativas, devido a suposições incorrectas dos outros investidores relativas aos prospectos a longo prazo da empresa.

David Dreman está no Conselho de Redacção do Institute of Behavioral Finance.

Indicadores contrários

Alguns indicadores que identificam o posicionamento dos investidores no mercado, são por vezes utilizados como potenciais indicadores contrários, por revelarem um posicionamento demasiado positivo ou negativo da generalidade dos investidores, levando assim a que se torne provável um movimento exactamente oposto aquele em que a maioria se posicionou. Exemplos desses indicadores contrários são:

  • O rácio put/call;
  • Medidas de volatilidade como o VIX;
  • Níveis de dinheiro nos fundos de investimento;
  • Capas de revistas/jornais de grande circulação extremamente bullish ou bearish.

"Contrarians" fora do mundo financeiro

Em anos recentes, o termo "contrarian" tem sido usado para descrever cientistas e outras pessoas que se opõem ao consenso científico vigente sobre determinadas questões, nomeadamente relacionadas com o aquecimento global [1]. A sua utilização, assim como o termo "céptico do aquecimento global", geralmente não é considerada pejorativa e é amplamente utilizada por ambas as partes da controvérsia do aquecimento global [2].

Ver também

Links externos