Trading - Acções cíclicas II

Da Thinkfn

O Artigo Trading - Acções cíclicas já apresentou os principais conceitos a ter em conta quando transaccionamos acções de empresas que laboram em actividades cíclicas.

Este artigo, servirá para extender o anterior, acrescentando alguns pontos que se podem revelar úteis na pesquisa de hipóteses especulativas ou de investimento, também em actividades cíclicas.


Vendedores de Capacidade

Imagine uma Indústria Cíclica, como a pasta de papel, o aço, ou a construção de habitações. Agora imagine quem vende o equipamento que permite a essas indústrias laborar. Se a Indústria final é cíclica, a Indústria que lhe vende o equipamento ainda mais cíclica será.

Enquanto a Indústria final assiste a flutuações dos preços e margens, e por vezes a flutuações significativas das quantidades que lhe são pedidas, as Indústrias que lhe fornecem equipamento de produção são muito mais radicais. Existindo sobrecapacidade na Indústria final, os fornecedores de equipamento novo vêem as suas vendas cair drasticamente (ficando só praticamente a venda de manutenção ao equipamento já existente), e quando existe falta de capacidade na Indústria final, praticamente todos os players desta estarão a encomendar equipamento ao mesmo tempo.

Devido a esta característica, as indústrias que vendem capacidade são na sua maior parte maus negócios, além de tendencialmente serem negócios fortemente globalizados (o que permite diminuir um pouco a sua ciclicidade, ao fornecer a mesma indústria em vários países, por vezes em ciclos diferentes).

Normalmente, entre a encomenda de capacidade e a sua entrega existe um “lag” considerável. Isto permite uma coisa curiosa. Imagine que identificou um aumento substancial da procura de aço, dos preços do aço e das margens das metalúrgicas. Infelizmente, todos os papéis dessa indústria já anteciparam a retoma e já subiram imenso. Aqui, pode dar-se o curioso de agora ter uma certeza – que essa indústria vai encomendar muita capacidade – certeza essa que o mercado pode ainda não ter descontado, não obstante as empresas do aço já terem subido. Portanto, neste cenário poderia especular na subida dos fornecedores de capacidade à indústria cíclica que entretanto já arrancou ...

... o que nos leva a um caso mais genérico.

Os Fornecedores de Indústrias Cíclicas

Se perdeu o comboio num arranque de uma dada indústria cíclica, pode sempre estudar o produto que esta produz, para determinar os seus componentes, o processo como é produzido, etc. A lógica é simples: procurar fornecedores da indústria cíclica que sejam suficientemente dependentes desta de forma a que o arranque da indústria cíclica lhes provoque uma melhoria substancial do negócio. Verificar se o mercado ainda não descontou essa melhoria, e se não o tiver feito e esses papéis apresentarem avaliações razoáveis, especular na subida dos ditos.

Os exemplos deste caso são inúmeros: fornecedores de titânio e alumínio após o arranque de um ciclo na indústria aeronáutica; fornecedores de fornalhas ou componentes destas após um arranque da indústria do aço; fornecedores de materiais de construção e equipamento de construção após um arranque da indústria imobiliária, etc.

Obviamente existirão casos em que o arranque da indústria final coincidirá logo com o arranque dos fornecedores, mas aqui como em tantas outras coisas por vezes o mercado “esquece-se” de um dado sector beneficiado. A ideia está em identificar esses sectores antes do mercado, mas baseando-nos já na certeza de que a indústria final já arrancou (tornando inevitável o arranque da indústria fornecedora).


Aviso ...

Tal como indicado atrás, muitos dos fornecedores de indústrias cíclicas (particularmente fornecedores de equipamento), são ainda mais cíclicos que a indústria para a qual vendem. Por essa razão, são particularmente perigosos de comprar se essa compra não for feita muito próximo do início do ciclo. Tal como as outras empresas cíclicas, eles tenderão a ter múltiplos baixos APÓS subirem muito (tanto em termos de cotações, como vendas e resultados), o que pode ser fortemente enganador. Aqui a maior segurança vem acima de tudo de as cotações ainda não terem subido muito, de os fundamentais ainda não terem reflectido o novo ciclo, e de mesmo assim as valorizações serem razoáveis.


Autor

Incognitus, em 17/5/2006

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