Trading - Acções cíclicas

Da Thinkfn
Revisão das 18h55min de 1 de outubro de 2008 por Bmwmb (discussão | contribs)

(dif) ← Revisão anterior | Revisão atual (dif) | Revisão seguinte → (dif)

O Trading em acções cíclicas pode considerar-se um caso especial dentro do Trading em geral. Acções cíclicas, são aquelas cujas empresas actuam num mercado relativamente maduro que sofre oscilações fortes e regulares de procura e preços.

Essas acções, também elas, tendem a transaccionar em ciclos. Algumas indústrias conhecidas como cíclicas são por exemplo: praticamente todas as que envolvam commodities, maquinaria pesada, automóveis, pasta e papel, equipamento de produção de semicondutores (e por vezes, os próprios semicondutores, embora aqui se possa falar de crescimento substancial a prazo), etc.

As acções cíclicas transaccionam segundo padrões relativamente estáveis, consoante várias variáveis. Assim:

Cíclicas versus crescimento económico

As acções cíclicas dependem fortemente do crescimento económico, pois regra geral necessitam existir uma pressão da procura que quase esgote a capacidade da oferta da indústria, para que os preços dessa indústria subam significativamente dando lucros substanciais a todos os players. Assim, as cíclicas tendem a subir exactamente antes do início de um ciclo positivo de crescimento económico, e tendem a ter o seu pico de preço quando o ciclo económico ainda não atingiu o seu máximo, ou seja, as cíclicas transaccionam ligeiramente adiantadas (até cerca de 6 meses) face ao ciclo económico.

Cíclicas versus taxas de juro

As acções cíclicas tendem a subir, e a ter melhor performance que o mercado em geral, no final do ciclo de baixa de taxas de juro e durante a primeira parte da subida destas. A razão é simples, estando as cíclicas adiantadas face ao ciclo económico, também o estarão face às taxas de juro, porque as taxas de juro tendem a acompanhar o ciclo económico. Assim sendo, é de comprar cíclicas não quando as taxas de juro começam a descer, mas sim quando se prevê que deixarão de descer e o próximo movimento deverá ser para cima (isto em relação às taxas de juro de referência de curto prazo,mais previsíveis, já que as de longo prazo, ditadas pelo mercado, tenderão a mover-se ao mesmo tempo que as cíclicas).

De notar que nem todas as cíclicas se encontram determinadas pelo ciclo económico e de taxas de juro, podendo responder mais a variáveis internas do seu mercado, e portanto sendo mais previsíveis pelos dois pontos seguintes.

Cíclicas versus múltiplos de mercado

Aqui está um dos erros mais comuns para investidores fundamentalistas quando pensam em comprar cíclicas. As cíclicas NÃO se compram quando estão baratas em termos de múltiplos presentes ou previstos para o futuro próximo. Pelo contrário, as cíclicas compram-se quando esses múltiplos são elevados, e vendem-se quando são baixos. Isto porque invariavelmente quando os múltiplos são mais horríveis é quando se está próximo de um fundo do ciclo, e quando são mais baixos, aproxima-se um topo. Por exemplo, empresas de pasta de papel como a Ence (ou mesmo a Portucel, no passado), chegaram a transaccionar a PER’s de 2.5 nos topos do ciclo da pasta. Esses PERs só existiam por uma única razão: porque o ciclo positivo terminaria em menos de 1 ano...

Porém, há que adicionar algo a esta lógica: quando se pensa em comprar uma cíclica na fase negra do ciclo, tem que se ter o cuidado de seleccionar uma que não corra risco de falência, isto porque em indústrias fortemente cíclicas nos fundos do ciclo uma das coisas que retira capacidade do mercado (ou a concentra em menos players) são precisamente as falências. Ou seja, convém seleccionar cíclicas que possuam um balanço forte o suficiente para sobreviver a parte má do ciclo. E dentro do possível, para diminuir o risco, também convém procurar as cíclicas que produzem com menores custos dentro do sector, isto porque mesmo que o ciclo mau se prolongue, essas tenderão a sobreviver sempre (e possivelmente nem chegarão a apresentar prejuízos).

Cíclicas versus o preço do produto final

As cíclicas vendem-se quando o preço do produto final está em espiral de subida, e idealmente, quando se fala já de faltas (shortages) desse mesmo produto final. Vendem-se quando as capacidades de produção estão a trabalhar a 100% e parece impossível produzir mais. E compram-se quando o preço do produto final implodiu, as taxas de ocupação da capacidade são extremamente baixas e idealmente os preços estão até abaixo dos custos de produção variáveis da maior parte dos produtores, e praticamente todos os players apresentam prejuízos.

A razão tende a ser simples. Quando se chega à situação de falta de produto, os preços tendem para o irracional em alta e deixam de ter espaço para subir, ao passo que existe quase sempre uma situação de sobreinvestimento em capacidade nessa altura, pois todos os players estão a dar lucros imensos. Assim, num curto espaço de tempo um grande aumento de capacidade de produção atinge o mercado, e passa-se rapidamente de falta de capacidade para excesso da mesma.

No caso dos preços abaixo dos custos variáveis, o que acontece é que rigorosamente ninguém investe em capacidade, logo qualquer pequena subida da procura terá rapidamente um impacto importante. Além disso, as perdas para alguns players serão tão grandes que eles se retirarão do mercado ou retirarão a capacidade produtiva menos eficiente, reduzindo a capacidade geral da indústria.

Conclusão

Sempre que estiver a equacionar a compra de uma acção, pergunte-se se ela não será cíclica. Se for, tenha cuidado mesmo se ela parecer atractivamente valorizada (ou seja, mesmo que ela tenha múltiplos baixos). Um verificar do passado no mercado em que a empresa actua deve rapidamente mostrar se este foi cíclico ou não. Um gráfico de longo prazo com várias montanhas e vales também é uma pista. Múltiplos baixos após uma subida enorme, num gráfico desse tipo, são outra pista.

Autor

Incognitus, em 20/6/2005

Comentários

Existe no fórum um tópico destinado a comentar este artigo:

Disclaimer

Este comentário é um artigo de opinião e nunca uma recomendação de compra ou venda. Alerta-se ainda que a compra ou venda é da responsabilidade do investidor bem como o lucro ou perda daí existente. O Autor pode ter, e provavelmente tem, posições nos títulos referidos neste artigo. Em caso de dúvidas, deverá o investidor procurar um intermediário financeiro, a Euronext, ou a CMVM.