Realidade nominal

Da Thinkfn
Revisão das 13h48min de 20 de maio de 2009 por Bmwmb (discussão | contribs)

(dif) ← Revisão anterior | Revisão atual (dif) | Revisão seguinte → (dif)

O Mercado de Capitais é uma “realidade nominal”.

Imaginemos a companhia A, que produz no ano 2006, 100 produtos e vende cada um deles a 10 Euros. Para produzir esses produtos, necessita da mão de obra de um trabalhador que ganha 500 Euros. Portanto, tem de lucro 100x10-500 = 500 Euros. Por sua vez, o capital da empresa A é representado por 1000 Acções, e estas transaccionam a um PER de 10. Logo, 500 (resultados) x 10 = 5000 ... a capitalização bolsista, e a acção cota a 5 Euros (5000 / 1000 o número de acções).

Agora, volvidos 10 anos estamos em 2016. Entretanto os preços subiram todos 100% (uma inflação de 7.2% ao ano). A empresa A continua, porém, a produzir os mesmos 100 produtos, só que agora vende cada um a 20 Euros, devido à inflação. Para produzir esses produtos continua a necessitar de um trabalhador que agora ganha 1000 Euros, também devido à inflação. Quer isso dizer que a empresa tem agora de lucro 100x20-1000=1000 Euros. Sendo o capital da empresa representado pelas mesmas 1000 Acções, e estando estas ainda avaliadas pelo mercado da mesma forma (PER de 10), temos ... 1000 (resultados) x 10 = 10000 ... a capitalização bolsista, e a acção cota a 10 Euros (10000 / 1000).

O que acabamos de ver? Que a empresa não aumentou de forma nenhuma nem a produção, nem a produtividade. Que os seus preços e custos apenas acompanharam a inflação. Que a sua avaliação pelo mercado se manteve constante (PER de 10).

E no entanto, a cotação está ao dobro, as vendas duplicaram e os resultados duplicaram. O que isto nos diz é que todas essas realidades são realidades nominais. Que no longo prazo, e devido à inflação, um manter do nível do mercado na prática significaria que esse mesmo mercado se encontraria cada vez mais barato (no caso acima, se a cotação se mantivesse nos 5 Euros, ao final de 10 anos o PER teria caído de 10 para 5).

Isto também significa que com o passar do tempo, as posições curtas encontram-se numa desvantagem brutal para as longas, a menos que exista deflação. Isto porque as cotações tendem, devido ao ilustrado, a acompanhar a inflação (e mesmo que não a acompanhem totalmente, que o façam apenas em parte, sobem na mesma e as posições curtas necessitam de uma queda nominal, não real!).

(Obviamente no curto prazo um excesso de inflação pode levar a uma subida de taxas de juro, que por sua vez levam a que o mercado transaccione com menores múltiplos. Porém, este aumento de preços tenderá sempre a ser cumulativamente acrescentado ao mercado, e mais tarde, quando eventualmente as acções conseguirem recuperar o mesmo nível de múltiplos, fazem-no inevitavelmente a cotações superiores. E pode até acontecer que no curto prazo os dois efeitos – diminuição de múltiplos, aumento das realidades nominais, se compensem ou levem até a uma subida de cotações.)

Autor

Incognitus, em 10/9/2006

Comentários

Existe no fórum um tópico destinado a comentar este artigo.

Disclaimer

Este comentário é um artigo de opinião e nunca uma recomendação de compra ou venda. Alerta-se ainda que a compra ou venda é da responsabilidade do investidor bem como o lucro ou perda daí existente. O Autor pode ter, e provavelmente tem, posições nos títulos referidos neste artigo. Em caso de dúvidas, deverá o investidor procurar um intermediário financeiro, a Euronext, ou a CMVM.