O impacto da concorrência

Da Thinkfn
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Quando estamos a considerar um investimento, nem tudo são números. Também se tem forçosamente que fazer uma análise qualitativa da empresa em que pensamos investir e do mercado em que se insere. Uma das coisas que temos que compreender é qual o potencial para a entrada de novos concorrentes e qual a concorrência que se está a dar dentro do próprio mercado. Nos últimos dias, temos assistido à forma como a entrada de novos concorrentes num mercado anteriormente pouco concorrencial, pode provocar quedas significativas nas acções presentes nesse mercado.

Foi o caso com Taser (TASR), após a aparição da Stinger Systems (STIY.PK) com o primeiro produto equivalente. Ou a iminente entrada da famigerada Microsoft (MSFT) no campo dos anti-virus, antes dominado pela McAfee (MFE) e pela Symantec (SYMC), o que provocou quedas a estas duas empresas. Ou a menos assustadora entrada da Comcast (CMCSA) na telefonia fixa, que afectou ligeiramente as “Bells”.

Também vimos um exemplo do impacto no mercado da ameaça (infundada) da entrada de um novo concorrente, neste caso na queda da Sirius (SIRI) e da XM Satelitte (XMSR) apenas porque um analista expressou a opinião de que a Direct TV (DISH) poderia entrar no mercado da radiofonia por satélite.

Dado o impacto que a concorrência tem nos mercados, gostaríamos portanto de tecer algumas considerações qualitativas sobre o poderá significar este fenómeno na sua postura de investimento/especulação.

Assim, numa indústria a entrada de novos participantes fortes parece-nos pior para a rendibilidade, do que a existência de participantes estáveis em guerra de preços. A base instalada faz com que não se possa baixar os preços para capturar novos clientes, pois o impacto dessa descida por canibalização nos clientes já existentes torna a estratégia pouco lucrativa. No caso de um novo entrante, todos os clientes são novos clientes, não existe canibalização.

Ou seja, não é somente objectivo achar indústrias que estejam ou venham a sofrer de uma tendência a seu favor, mas também que possuam barreiras à entrada de novos concorrentes. As barreiras, por sua vez, quando mais “incorpóreas” forem melhor, pois de outra forma a implicação de gastos contínuos de capital também é negativa para a avaliação da empresa.

O identificar de uma tese favorável a uma indústria, sem a existência dessas mesmas barreiras, pode significar a diferença entre um investimento e um trade. Isto porque uma tese e correspondente tendência gerará certamente muito entusiasmo (vide As Teses e as Tendências), e durante algum tempo crescimento muito favorável nas companhias afectadas, possivelmente seguido de boa rendibilidade. Isto atrairá investidores e pode até provocar uma bolha temporária nessa indústria. Porém, é a mesma atractividade para os investidores públicos que vai gerar investimentos e novos entrantes na indústria se não existirem barreiras. Como cada novo entrante verá quase sempre o preço como factor para crescer mais rápido, rapidamente se evolui para margens mais baixas que afectam todos os participantes, principalmente os já estabelecidos.

Logo, se participar na tendência altista que esta euforia pode provocar, é de manter sempre a consciência de que o mesmo poderá ser temporário devido às características próprias (ausência de barreiras). Quer isso dizer que a primeira grande queda possivelmente não será recuperada (podem existir factores estruturais identificáveis nessa queda).

Por fim, estas considerações não são universais. Indústrias existem que parecem permanecer numa guerra constante de preços, como é o caso das Linhas aéreas, embora estranhamente mesmo com margens reconhecidamente baixas não parem de entrar novos concorrentes. Ou seja, não obstante as generalidades aqui descritas, uma observação cuidada do comportamento dos actores na indústria em questão é sempre necessária.


Autor

Incognitus, 12/1/2005

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