Grande depressão

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A fotografia Migrant Mother, uma das fotografias americanas mais famosas da década de 1930, mostrando Florence Owens Thompson, mãe de sete crianças, de 32 anos de idade, em Nipono, Califórnia, Março de 1936, em busca de emprego ou de ajuda social para sustentar a família. O seu marido tinha perdido o emprego em 1931, e morrera no mesmo ano.

A Grande Depressão, também chamada Crise de 1929, foi uma grande recessão económica mundial que começou na maioria dos países em 1929, persistiu ao longo da década de 1930 e terminou apenas com a Segunda Guerra Mundial. A Grande Depressão é considerada o mais longo e pior período de recessão económica do século XX. Este período de recessão económica causou taxas de desemprego elevadas, quedas drásticas do produto interno bruto de diversos países, bem como quedas drásticas na produção industrial, nos preços das acções e em praticamente todos os indicadores da actividade económica, em diversos países do mundo.

Os historiadores apontam frequentemente o dia 29 de Outubro de 1929 como o início da Grande Depressão. Porém, as taxas da produção industrial americana tinham começado a cair em Julho desse ano, causando um período de leve recessão económica que se estendeu até 29 de Outubro. Nesse dia, conhecido como a Terça-Feira negra, as cotações na bolsa de valores de Nova Iorque, a New York Stock Exchange, caíram drasticamente. Milhares de accionistas perderam, literalmente da noite para o dia, grandes somas em dinheiro. Muitos perderam tudo o que tinham. A quebra na bolsa de valores de Nova Iorque piorou drasticamente os efeitos da recessão já existente, causando grande deflação e queda das taxas de venda de produtos que, por sua vez, obrigaram ao fecho de inúmeras empresas comerciais e industriais, elevando assim drasticamente as taxas de desemprego.

Os efeitos da Grande Depressão foram sentidos no mundo inteiro. Estes efeitos, bem como a sua intensidade, variaram de país para país. Outros países duramente atingidos pela Grande Depressão, além dos Estados Unidos, foram a Alemanha, Austrália, França, Itália, o Reino Unido e especialmente o Canadá. Porém, em certos países pouco industrializados à época, como a Argentina e o Brasil, a Grande Depressão acelerou o processo de industrialização.

Os efeitos negativos da Grande Depressão atingiram o seu ápice nos Estados Unidos em 1933. Nesse ano, o Presidente americano Franklin Delano Roosevelt aprovou uma série de medidas conhecidas como o New Deal. Essas políticas económicas, adoptadas quase simultaneamente por Roosevelt nos Estados Unidos e por Hjalmar Schaact <ref name=SCHAACT>Hitler Takes Power: Hitler Appointed Chancellor: Germany Recovers from the Depression. MacroHistory.</ref> na Alemanha nazi foram, 3 anos mais tarde, racionalizadas por Keynes na sua obra clássica Teoria Geral do Emprego, do Juro e da Moeda.<ref name=TEORIA>KEYNES, John Maynard. Teoria geral do emprego, do juro e da moeda (General theory of employment, interest and money).</ref>

O New Deal, em conjunto com programas de ajuda social realizados por todos os estados americanos, ajudaram a minimizar os efeitos da Depressão a partir de 1933. A maioria dos países atingidos pela Grande Depressão recuperaram economicamente a partir de então. Nalguns países, a Grande Depressão foi um dos factores primários que ajudaram a ascensão de regimes de extrema-direita, como os nazis comandados por Adolf Hitler na Alemanha. O início da Segunda Guerra Mundial terminou com qualquer efeito remanescente da Grande Depressão nos principais países atingidos.

Causas da Grande Depressão

Economistas, historiadores e cientistas políticos têm criado diversas teorias para a causa, ou causas, da Grande Depressão, com surpreendente pouco consenso. A Grande Depressão permanece como um dos eventos mais estudados da história da economia mundial. Teorias primárias incluem a quebra da bolsa de valores de 1929, a decisão de Winston Churchill de que o Reino Unido adoptasse novamente o padrão-ouro em 1925 (que causou massiva deflação no Império Britânico), o colapso do comércio internacional, a aprovação do Acto da Tarifa Smoot-Hawley em 17 de Junho de 1930, que aumentou os impostos de cerca de 20 mil produtos estrangeiros nos Estados Unidos, a política da Reserva Federal dos Estados Unidos da América e outras influências.

Segundo teorias baseadas na economia capitalista, as causas da Grande Depressão concentram-se no relacionamento entre produção, consumo e crédito, estudado pela macro-economia, e em incentivos e decisões pessoais, estudados pela micro-economia. Estas teorias surgiram para ordenar a sequência de eventos que causou a implosão do sistema monetário do mundo industrializado e das suas relações comerciais. Outras teorias heterodoxas sobre a Grande Depressão foram criadas e gradualmente ganharam credibilidade. Estas incluem a teoria da actividade de longo ciclo, e a de que a Grande Depressão foi um período na intersecção da crista de diversos ciclos longos e concorrentes.

Mais recentemente, uma das teorias mais aceites entre economistas é a de que a Grande Depressão não foi causada primariamente pela quebra das bolsas de valores de 1929, alegando que diversos sinais na economia americana, nos meses, e mesmo anos, anteriores já indicavam que esta depressão estava a caminho dos Estados Unidos e da Europa. Actualmente, a teoria mais em voga entre os economistas é de Peter Temin. Segundo Temin, a Grande Depressão foi causada por uma política monetária catastroficamente mal planeada pela Reserva Monetária dos Estados Unidos da América, nos anos que precederam a Grande Depressão. A política de reduzir as reservas monetárias foi uma tentativa de reduzir uma suposta inflação, que somente agravou o principal problema na economia americana à época, que não era a inflação mas sim a deflação.

Quebra na Bolsa de Valores de Nova Iorque

Em 24 de Outubro de 1929, os preços das acções na Bolsa de Valores de Nova Iorque caíram subitamente. Estes preços estabilizaram ao longo do final da semana, para caírem drasticamente novamente na segunda feira, 28 de Outubro. Muitos accionistas entraram em pânico. Cerca de 16,4 milhões de acções foram subitamente colocadas à venda na Terça-Feira, 29 de Outubro, dia actualmente conhecido como Quinta-Feira negra. O excesso de acções à venda e a falta de compradores fizeram com que os preços destas acções caísse em cerca de 80%. Com isto, milhares de pessoas perderam grandes somas em dinheiro. Os preços destas acções continuaria a flutuar, caindo gradualmente nos três anos seguintes. As milhares de pessoas que tinham todas as suas riquezas na forma de acções eventualmente perderiam tudo o que tinham.

A súbita quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque causou grande incerteza entre a população americana quanto ao futuro do país. Muitos decidiram cortar gastos supérfluos. Outras pessoas, que haviam comprado produtos através de empréstimos e prestações, reduziram ainda mais os seus gastos, de forma a poupar dinheiro para efectuar pagamentos. A súbita queda nas vendas do sector comercial americano estendeu a recessão ao sector industrial e comercial dos Estados Unidos.

As altas taxas de juros dos Estados Unidos foram um dos factores que estenderam a Grande Depressão à Europa. Os países europeus - especialmente aqueles que utilizavam o padrão-ouro para manter um câmbio fixo com os Estados Unidos, foram obrigados a aumentar drasticamente as suas próprias taxas de juros, o que levou à redução de gastos por parte dos comerciantes e habitantes destes países, que levou a quedas na produção industrial.

A economia dos Estados Unidos da América entrou numa fase de grande recessão económica que perduraria até 1933. Durante este período, milhares de estabelecimentos bancários, financeiros, comerciais e industriais foram fechados. Outros foram obrigados a demitir parte dos trabalhadores e/ou a reduzir os salários em geral.

A Grande Depressão nos Estados Unidos da América

A Grande Depressão causou pobreza geral nos Estados Unidos e em diversos países do mundo. Aqui, uma família desempregada, vivendo em condições miseráveis, em Elm Grove, Califórnia, Estados Unidos.

Com a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque em 1929, bancos e investidores perderam grandes somas em dinheiro. A situação dos bancos era agravada pelo facto de que muitos deles tinham concedido grandes empréstimos a fazendeiros. Após o início da Grande Depressão, porém, os fazendeiros ficaram incapazes de pagar as dívidas, o que causou a queda dos lucros das instituições financeiras. Depositantes, temendo possíveis falências, removeram os seus fundos dos bancos, provocando o seu colapso. Quatorze mil instituições bancárias foram encerradas durante as décadas de 1920 e 1930.

Em 17 de maio de 1930, o governo dos Estados Unidos aprovou uma lei, o Acto Tarifário Smoot-Hawley, que aumentava as tarifas alfandegárias em cerca de 20 mil produtos não-perecíveis estrangeiros. O Presidente americano Herbert Hoover pedira ao Congresso uma diminuição nos impostos, mas o Congresso, ao invés, votou a favor do aumento dos impostos. Um abaixo-assinado, subscrito por mil economistas, pediu ao presidente americano para rejeitar este aumento. Apesar disto, Hoover assinou o Acto em 17 de Maio. O Congresso e o Presidente acreditavam que iria reduzir a competitividade dos produtos estrangeiros no país. Porém, outros países reagiram aprovando leis e actos semelhantes e causando uma queda súbita das exportações americanas. As taxas de desemprego subiram de 9% em 1930, para 16% em 1931 e 25% em 1933. Durante a década de 1930, a taxa de desemprego nos Estados Unidos não voltaria ao nível de 9%, de 1930, mantendo-se perto da casa dos 20%.

Com o crescente fecho de instituições bancárias, menos fundos estavam disponíveis no mercado americano, fazendo com que a queda na produção industrial continuasse a cair. Em 1929, o valor total dos produtos industrializados fabricados nos Estados Unidos foi de 104 mil milhões de dólares. Em 1933, este valor tinha caído para 56 mil milhões, uma queda de aproximadamente 45%. A produção de aço caiu em cerca de 61% entre 1929 e 1933 e a produção de automóveis caiu em cerca de 70% no mesmo período.

1933 foi o ápice da Grande Depressão nos Estados Unidos da América. As taxas de desemprego eram de 25%, portanto um quarto de toda a força de trabalho americana. Cerca de 30% dos trabalhadores que continuaram nos seus empregos foram obrigados a aceitar reduções salariais, embora grande parte tenha tido um aumento salarial por hora. Outro problema enfrentado foi a grande deflação (queda do preço dos produtos e custo de vida em geral). Entre 1929 e 1933, os preços dos produtos industrializados não-perecíveis em geral, caíram em cerca de 25% nos Estados Unidos. Já o preço de produtos agropecuários caiu em cerca de 50%, devido ao excedente de produção - primariamente de trigo. A quantidade destes produtos à venda excedia facilmente a procura, o que causou uma queda dos preços. Os baixos preços levaram ao endividamento de muitos fazendeiros.

Combate à Grande Depressão e o fim da recessão nos EUA

O Presidente americano Herbert Hoover acreditava que o comércio, se não fosse supervisionado pelo governo, iria eventualmente minimizar os efeitos da recessão económica. Eventualmente, acreditava Hoover, a economia dos Estados Unidos iria recuperar sem que fosse necessária uma intervenção do governo americano na economia do país. Hoover rejeitou diversas leis aprovadas pelo Congresso, alegando que davam ao governo americano demasiados poderes.

Hoover também acreditava que os governos dos estados americanos deveriam ajudar os necessitados. Muitos estados, porém, não tinham fundos suficientes para tal. Assim sendo, Hoover propôs a criação de um órgão governamental, a Reconstruction Finance Corporation (Corporação de Reconstrução Financeira), ou RFC, em 1932. Este órgão seria responsável por fornecer ajuda financeira a empresas e instituições comerciais e industriais chave, como bancos, ferrovias e grandes empresas, acreditando que a falência destas instituições agravaria o efeito da Grande Depressão. No final de 1932, as eleições presidenciais americanas foram realizadas. Os dois principais candidatos foram Hoover e Franklin Delano Roosevelt. Muita da população americana acreditava que Hoover fora o principal causador da recessão, e/ou que pouco fizera para solucionar a recessão. Roosevelt saiu vencedor da eleição, tornando-se Presidente dos Estados Unidos em 4 de Março de 1933.

Roosevelt, ao contrário de Hoover, acreditava que o governo americano era o principal responsável na luta contra os efeitos da Grande Depressão. Numa sessão legislativa especial, conhecida como Hundred Days ("Cem Dias"), Roosevelt, em conjunto com o Congresso americano, criaram e aprovaram uma série de leis que, por insistência do próprio Roosevelt, foram nomeadas de New Deal ("Novo Acordo"). Estas leis forneceriam ajuda social às famílias e pessoas necessitadas, criariam emprego através de parcerias entre o governo, empresas e consumidores, e reformariam o sistema económico e governamental americano, de modo a evitar que uma recessão deste género voltasse a ocorrer no futuro.

Uma fila de famílias esperando ajuda financeira. Diversos programas de ajuda social foram criados pelo governo dos Estados Unidos a partir de 1933.

Diversas agências governamentais foram criadas para administrar os programas de ajuda social. A mais importante foi a Federal Agency Relief Administration, criada em 1933, que seria responsável pelo fornecimento de fundos aos governos estatais, para que estes os empregassem em programas de ajuda social. Outros órgãos governamentais semelhantes foram criados, com o intuito de providenciar fundos e administrar e/ou empregar trabalhadores na construção de aeroportos, escolas, hospitais, pontes e barragens. Estes projectos federais forneceram milhões de empregos aos necessitados, embora as taxas de desemprego continuassem altas durante toda a década de 1930.

Outros órgãos foram criados com o intuito de administrar programas de recuperação, como a Agricultural Adjustment Administration, criada em 1933 com o intuito de regular a produção de produtos agropecuários. Outro órgão semelhante, a National Recovery Administration, criada em 1933, impôs leis anti-monopolistas e estabeleceu salários mínimos e limites na carga horária de trabalho. Esta última agência, porém, foi fechada a mando do Congresso, em 1935, por pouco estimular o comércio americano.

Por fim, outros órgãos federais foram criados com o intuito de supervisionar reformas do trabalho e reformas financeiras. A Federal Deposit Insurance Corporation foi criada em 1933, com o intuito de promover as transacções e o comércio bancário. A Securities and Exchange Commission, criada em 1934, regulava o comércio das bolsas de valores e evitava que accionistas comprassem acções que o órgão considerasse "perigosas". O National Labor Relations Board foi criado em 1935, com o intuito de regular os sindicatos, e proteger os trabalhadores e os seus direitos. Ainda em 1935, um acto do governo americano, o Acto da Segurança Civil passou a fornecer pensões mensais para reformados, bem como ajuda financeira regular, por um certo período de tempo, para desempregados.

O New Deal ajudou a minimizar os efeitos da Grande Depressão nos Estados Unidos da América. A economia americana, gradual mas lentamente, entrou em recuperação a partir de 1933. O governo americano também diminuíu as tarifas alfandegárias sobre certos produtos estrangeiros, estimulando o comércio doméstico. Ao longo da década de 1930, os Estados Unidos gradualmente abandonaram o padrão-ouro, decidindo ao invés fortalecer a moeda nacional, o dólar, o que também ajudou na recuperação da economia americana. A produção de mercadorias e matérias-primas tais como automóveis voltaria aos patamares de 1929.

Porém, apesar dos programas governamentais criados com o intuito de reduzir o desemprego, em 1940 cerca de 15% da força de trabalho americana continuava desempregada. Foi necessária a entrada do país na Segunda Guerra Mundial para que as taxas de desemprego caíssem para os níveis de 1930, de 9%. A entrada do país na guerra acabou com os efeitos negativos da Grande Depressão. A produção industrial americana cresceu drasticamente e as taxas de desemprego caíram. No final da guerra, apenas 1% da força de trabalho americana estava desempregada. Perto do final da guerra, os Estados Unidos e todos os 44 países Aliados assinaram os Acordos de Bretton Woods, com o intuito de evitar no futuro uma nova crise monetária e económica à escala da Grande Depressão.

A Grande Depressão noutros países

A Grande Depressão causou grande recessão económica em diversos outros países para além dos Estados Unidos da América. A recessão provocada pela Grande Depressão gerou efeitos semelhantes na economia destes países, como o fecho de milhares de estabelecimentos bancários, financeiros, comerciais e industriais, e a demissão de milhares de trabalhadores.

Os efeitos da Grande Depressão em vários países foram agravados pelo Acto Tarifário Smoot-Hawley, um acto americano introduzido em 1930, que aumentava impostos a cerca de 20 mil produtos não-perecíveis estrangeiros, que causou a aprovação de leis e actos semelhantes em outros países, reduzindo drasticamente exportações e o comércio internacional.

Em vários dos países afetados, partidos políticos extremistas, de caráter nacionalista, apareceram. Outros partidos políticos, de cunho comunista, também foram criados. No Reino Unido, por exemplo, tanto o Partido Comunista quanto o Partido Fascista britânico receberam considerável apoio popular. O mesmo ocorreu com o Partido Comunista canadiano.

Outros partidos políticos menos extremistas também surgiram. A grande maioria, se não todos, prometiam retirar o país (ou uma dada província/estado) da recessão. O Partido do Crédito Social do Canadá, de cunho conservador ganhou grande apoio popular em Alberta, uma província canadiana severamente afectada pela Grande Depressão. Nalguns países, partidos extremistas foram proibidos, como no Canadá. Outros partidos políticos extremistas, porém, conseguiram chegar ao poder, notavelmente os nazis na Alemanha e os fascistas na Itália.

Canadá

Entre a década de 1900 e a década de 1920, o Canadá possuía a economia em mais rápido crescimento do mundo, tendo passado por apenas um período de recessão após a Primeira Guerra Mundial. Ao contrário dos Estados Unidos da América, onde o crescimento exuberante da economia americana era em grande parte apenas ilusório, a economia do Canadá prosperou verdadeiramente durante a década de 1920. Enquanto a indústria imobiliária dos Estados Unidos havia estagnado por volta de 1925, esta indústria continuou forte no Canadá até Maio de 1929. O mesmo podia dizer-se da indústria agropecuária, que ao longo da década de 1920 esteve em pleno crescimento no Canadá, enquanto nos Estados Unidos este sector entrara em recessão económica.

À época, o principal produto de exportação do Canadá era o trigo que constituia um dos pilares da economia do país. Em 1922, o Canadá era o maior exportador de trigo do mundo, e Montreal era o maior centro portuário exportador de trigo do mundo. Entre 1922 e 1929, o Canadá foi responsável por 40% de todo o trigo comercializado no mundo. As exportações de trigo ajudaram a fazer do Canadá um dos líderes mundiais do comércio internacional, com mais de um terço do seu produto interno bruto tendo origem no comércio internacional.

O sucesso do trigo canadense era baseado, porém, em problemas que afligiam outros países no mundo. A Primeira Guerra Mundial devastou a produção agropecuária dos países europeus. Mais importante foi, porém, a Revolução Russa de 1917, que manteve o trigo russo fora do mercado mundial. Por volta de 1925, a gradual recuperação da economia e da agropecuária da Europa Ocidental, bem como uma nova política económica na Rússia, fez com que a produção mundial de trigo aumentasse no mundo, diminuindo os preços. Esperando um rápido retorno aos preços elevados, os fazendeiros e comerciantes canadenses armazenaram muito do seu trigo, ao invés de reduzirem a produção. A introdução de maquinaria, especialmente o tractor, levou ao crescimento da produção de trigo tanto no Canadá quanto nos Estados Unidos. Todos estes factores em conjunto desencadearam um colapso dos preços do trigo em Junho de 1929, destruíndo a economia de Alberta, Saskatchewan e Manitoba, e afectando severamente a economia de Ontário e Quebec.

Para além dos Estados Unidos da América, o Canadá foi o país mais duramente atingido pela Grande Depressão. O Canadá, ainda oficialmente parte do Império Britânico, usava activamente o padrão-ouro. Isto, aliado aos estreitos laços económicos entre o Canadá e os Estados Unidos (muito dos produtos fabricados no Canadá eram exportados para os Estados Unidos, por exemplo), fez com que o colapso da economia americana após a quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque rapidamente afectasse o Canadá. O colapso económico canadense é considerado o segundo mais acentuado da Grande Depressão, atrás somente do colapso da economia dos próprios Estados Unidos da América.

A economia do Canadá também dependia da exportação de certos produtos industrializados tais como automóveis. Com a Grande Depressão, as exportações canadenses para os Estados Unidos caíram drasticamente. O colapso dos preços do trigo fizeram com que muitos fazendeiros canadense se endividassem pesadamente. Os fazendeiros em Alberta e Saskatchewan sofreram, além disso, com grandes períodos de seca e de constante ataque de pragas tais como enxames de gafanhotos. A queda na produção industrial canadense, por sua vez, significou a demissão de grandes quantidades de trabalhadores.

A economia do Canadá tinha algumas vantagens sobre outros países, especialmente o seu sistema bancário extremamente estável. Antes e ao longo da Grande Depressão, apenas um único estabelecimento bancário canadense faliu, em comparação aos nove mil que faliram somente ao longo da Grande Depressão. A economia do Canadá foi atingida duramente pela Grande Depressão, primariamente devido à sua dependência em relação ao trigo e produtos industrializados, mas também por causa da dependência da economia canadiana nas exportações para os Estados Unidos. A primeira reação de vários países, incluindo os Estados Unidos, quando a Grande Depressão teve início, foi de aumentar impostos. Isto causou mais danos à economia do Canadá do que às de outros países do mundo.

Richard Bedford Bennett, que foi Primeiro-ministro do Canadá entre 1930 e 1935, tentou minimizar os efeitos da Grande Depressão no país, inclusive através da introdução de um New Deal semelhante ao dos Estados Unidos, implementado em 1934. Porém, a economia do país recuperou muito lentamente a partir de 1934.

Em 1933, 30% da força de trabalho canadiana estava desempregada. Ocorreu uma deflação, reduzindo os salários, o preço dos produtos e os investimentos. Em 1932, a produção industrial do Canadá caíra para 58% e o PIB para 42%, em relação a 1929. Apesar de ter passado por um período curto de crescimento económico pequeno entre 1934 e 1937 - que de longe fora suficiente para atenuar os efeitos causados pela Depressão - a economia do Canadá entrou novamente em grande recessão em 1937. Foi somente com a entrada do país na Segunda Guerra Mundial, em 1939, que os efeitos da Grande Depressão terminariam no país.

Reino Unido

O Reino Unido saiu vencedor na Primeira Guerra Mundial. Porém, a guerra e a destruição causada, destruíram a economia britânica. Desde 1921, a economia do Reino Unido recuperara lentamente da guerra e da recessão causada pela guerra. Mas em Abril de 1925, o chancellor britânico Winston Churchill, respondendo a um conselho do Banco da Inglaterra, fixou o valor da moeda nacional ao padrão-ouro, à taxa anterior à guerra de 4,86 dólares. Isto tornou o valor da moeda britânica convertível ao seu valor em ouro, mas também causou o encarecimento dos produtos exportados pelo Reino Unido a outros países. A recuperação económica do Reino Unido caiu drasticamente, o que causou redução de salários no país inteiro, debilitando a economia nacional.

Quando a Grande Depressão teve início nos Estados Unidos, em 1929, diversos países no mundo inteiro criaram ou aumentaram tarifas alfandegárias, o que causou uma grande diminuição nas exportações de produtos britânicos. A taxa de desemprego saltou de 8% para 20% no final de 1930. O Reino Unido cortou gastos públicos - o que incluíu fundos atribuídos a programas de ajuda social aos desempregados. Em 1931, foram realizados mais cortes nos salários e em programas de ajuda social, e o imposto sobre os rendimentos foi aumentado. Estas medidas só pioraram a situação socio-económica do país e, em 1932, ápice da Grande Depressão no Reino Unido, as taxas de desemprego eram de 25%. Foi somente com o abandono do padrão-ouro e a adopção de tarifas alfandegárias para produtos importados de qualquer país que não fossem parte do Império Britânico, que a economia britânica entrou em recuperação gradual.

Alemanha

A Alemanha foi derrotada pela Tríplice Entente na Primeira Guerra Mundial. A Entente cobrou pesadas indemnizações de guerra por parte dos alemães - que em dólares americanos actuais seriam da ordem dos biliões (109) de dólares - entre outras pesadas punições impostas pelo Tratado de Versalhes. Começa então o período da história alemã designado pelos historiadores como República de Weimar. Os anos da década de 1920 foram caracterizadas por inflação maciça em 1923 e um grande aumento da dívida externa do país entre 1925 e 1930.

Quando a Grande Depressão teve início em 1929, o governo alemão acreditou que cortes nos gastos públicos iriam estimular o crescimento económico do país, cortando assim drasticamente nos gastos estatais, incluindo o sector social. O governo alemão esperava e acreditava que a recessão, inicialmente, iria deteriorar a Alemanha do ponto de vista socio-económico, esperando com o tempo, porém, melhor a estrutura socio-económica do país sem intervenção do governo. A República de Weimar cortou completamente todos os fundos públicos ao programa de ajuda social a desempregados - o que resultou em maiores contribuições pelos trabalhadores e menores benefícios aos desempregados - entre outros cortes no sector social. Quando a recessão chegou ao seu auge em 1932, a República de Weimar perdera toda a credibilidade junto à população alemã, factor que facilitou a ascenção de Adolf Hitler no governo do país, em 1933, marcando o fim da República de Weimar e o início de um breve e ilusório período de crescimento da economia alemã, conhecido como Terceiro Reich.

Outros países

Na França, a Grande Depressão atingiu o país um pouco mais tardiamente do que outros países, em torno de 1931. Tal como o Reino Unido, a França estava ainda a recuperar da Primeira Guerra Mundial tentando, sem muito sucesso, recuperar os pagamentos a que possuía direito por parte da Alemanha. Isto levou à ocupação do Ruhr por forças francesas no início da década de 1920. A ocupação francesa do Ruhr não fez com que a Alemanha retomasse os seus pagamentos, levando à implementação do Plano Dawes em 1924, e do Plano Young em 1929. Porém, a Grande Depressão teve efeitos drásticos na economia local, e explica em parte os motins de 6 de Fevereiro de 1934 e a formação da Frente Popular, liderada pelo socialista Léon Blum, que venceu as eleições de 1936.

Por causa da Grande Depressão, o comércio internacional de produtos caiu drasticamente. A Austrália, que dependia da exportação de trigo e algodão, foi um dos países mais severamente atingidos pela Depressão no Mundo Ocidental. A taxa de desemprego alcançou um recorde de 29% em 1932, uma das mais altas do mundo durante o século XX. As exportações de produtos agrários e minérios, como café, trigo e cobre, de países da América Latina, caiu de 1200 milhões de dólares em 1930 para 335 milhões de dólares em 1933, aumentando para 660 milhões de dólares em 1940. Os efeitos da crise fizeram com que, em alguns destes países, muitos agricultores passassem a investir o seu capital na manufactura, causando a industrialização desses países, em especial da Argentina e do Brasil. No Brasil, aliás, a industrialização acelerou com a perda de poder político dos cafeícultores paulistas, fenómeno consolidado com a vitoriosa Revolução de 1930.

A Ásia também foi afectada negativamente com a Grande Depressão, por causa da dependência da economia de diversos países asiáticos em relação à exportação de produtos agrários para a Europa e América do Norte. O comércio internacional asiático caiu drasticamente, à medida que os Estados Unidos e a Europa foram atingidos pela recessão. Instalações comerciais e industriais asiáticas responderam com demissões e reduções saláriais. O PIB do Japão, com uma base industrial em crescimento, sofreu uma queda de 8% entre 1929 e 1930. As taxas de desemprego e de pobreza cresceram drasticamente, afectando desproporcionalmente as classes inferiores. Esta foi uma das causas da ascensão do nacionalismo japonês. O Japão recuperou da crise em 1932.

A vida durante a Grande Depressão

O desemprego fez com que milhões de pessoas, inclusivé famílias inteiras, ficassem desabrigadas, especialmente nos Estados Unidos e no Canadá. Aqui, uma família desabrigada de sete pessoas, caminhando em Brawley, Condado de Imperial, Califórnia, EUA. Hooverville em Oregon, EUA.

A maior parte da população dos países mais afectados pela Grande Depressão cortaram todo e qualquer tipo de gasto considerado supérfluo, agravando os efeitos da recessão na economia destes países.

Por causa da Grande Depressão, milhões de pessoas nas cidades perderam emprego, nos países mais atingidos pela recessão. Sem fonte de renda, estas pessoas não tinham mais como sustentar-se a si próprias e às suas famílias. A maioria das residências destas famílias, por sua vez, eram alugadas ou ainda estavam sendo pagas através de prestações. Como consequência, milhares de famílias eventualmente foram expulsas das suas residências, por não terem como pagar o aluguer ou as prestações da casa. Além disso, o desemprego fez com que a subnutrição se tornasse comum entre a população dos países mais atingidos. Milhares de pessoas morreram devido à subnutrição.

Algumas pessoas e famílias sem fonte de rendimento mudaram-se para as residências de parentes, quando perderam as suas. A maioria destas famílias, porém, instalou-se em favelas. Abrigos rústicos feitos com telas de metal, madeira e papelão tornaram-se comuns em áreas vadias das grandes cidades nos países mais atingidos. As condições de vida nestas favelas eram precárias.

A indústria agropecuária de diversos países - especialmente dos Estados Unidos e do Canadá - foi duramente atingida pela Grande Depressão. Nos Estados Unidos, muitos fazendeiros endividaram-se pesadamente, e vários foram forçados a cederem as suas terras a instituições bancárias. Na Califórnia, no centro-norte dos Estados Unidos e no centro-oeste do Canadá, grandes períodos de seca, invernos rigorosos e pestes agravaram a recessão económica já existente nestas regiões. Muitos dos jovens das áreas rurais abandonaram as suas fazendas e as suas famílias, e foram em busca de melhor sorte nas cidades. Estas pessoas, juntamente com muitos desempregados nas cidades, viajavam de cidade a cidade, apanhando boleia em comboios de carga, em busca de emprego. Esta foi uma cena muito comum nos Estados Unidos e no Canadá.

Os chefes de estado e outras pessoas importantes dos países atingidos passaram a ser frequentemente considerados directamente culpados pelo início da Grande Depressão, por muita da população atingida pela recessão. As favelas dos Estados Unidos foram apelidadas de Hoovervilles, numa sátira da população americana ao presidente Herbert Hoover. No Canadá, muitos donos de automóveis apelidaram os seus veículos de Bennett Buggies - Carroças Bennett - numa sátira ao Primeiro-Ministro Richard Bennett. Isto, porque estas pessoas não tinham como adquirir o combustível necessário para abastecer os veículos, ou cortaram na compra de combustível por o considerarem um gasto supérfluo. Estes veículos passaram a serem usados como carroças, puxados por cavalos ou outros equinos.

Nem todos as pessoas sofreram igualmente com a Grande Depressão. Para aqueles que conseguiram manter o emprego nos países mais afetados pela recessão, ou para os que dispunham de uma poupança considerável, o padrão de vida não mudou muito. Apesar de muitos trabalhadores sofrerem cortes salariais consideráveis, a deflação fez com que os preços dos produtos em geral caísse drasticamente. Ao longo da Grande Depressão, os preços da maioria dos produtos de consumo manteve-se muito baixo nos países mais afectados.

Por outro lado, muitos negros nos Estados Unidos não conseguiam emprego, especialmente no sul, devido à discriminação racial. Empregos eram dados primariamente aos brancos. Por isto, em todos os Estados Unidos, a taxa de desemprego entre a população negra foi muito maior do que entre a população branca. Mulheres com famílias para sustentar também dificilmente encontravam empregos, uma vez que a prioridade era dada aos homens. A discriminação contra mulheres trabalhadoras aumentou.

Grupos étnicos minoritários - especialmente imigrantes - dos países mais atingidos passaram a ser discriminados por muita da população dos países mais afectados. Estes grupos étnicos eram discriminados porque, na visão de várias pessoas dos países afectados pela Grande Depressão, estes grupos étnicos competiam por empregos com a "população nativa" dos países atingidos. Isto, aliado à forte recessão económica da década de 1930, fez com que as taxas de imigração caíssem sensivelmente no Canadá e nos Estados Unidos.

Legado

Após o final da Grande Depressão, muitos dos países mais severamente atingidos passaram a fornecer maior assistência social e económica aos necessitados. Por exemplo, o New Deal dava ao governo americano maior poder para fornecer esta ajuda a necessitados, bem como para aposentados.

A Grande Depressão gerou grandes mudanças na política económica de vários dos países envolvidos. Anteriormente à Grande Depressão, por exemplo, o governo dos Estados Unidos da América pouco intervinha na economia do país. Executivos financeiros e grandes magnatas comerciantes eram vistos como líderes nacionais. A Grande Depressão, porém, mudou as atitudes de diversas pessoas em relação ao comércio. Muitos passaram a favorecer maior controle da economia do país por parte do governo. Outros grupos, mais extremistas, favoreciam a instalação de um regime comunista de governo.

Bibliografia

  • Johnson, Paul M. A History of the American People. Harper Perennial, 1999. ISBN 0060930349
  • Purvis, Thomas L. A Dictionary of American History. Blackwell Publishers, 1997. ISBN 1577180992

Referências

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Ver também

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