Crash de 1929

Da Thinkfn

Multidão em Wall Street.

O Crash de 1929 foi um dos crashes bolsistas mais devastadores da história Americana. Ele consiste na Quinta-Feira negra (24 de Outubro de 1929), o crash inicial, e a Terça-Feira negra (29 de Outubro de 1929), o crash que semeou o pânico geral, 5 dias mais tarde. <ref>The Bright Side of Bubbles (em inglês). CFO Magazine (1 Mai 2007). "As cotações chegaram ao que aparenta ser um patamar permanentemente elevado. A euforia a os ganhos financeiros desse grande bull market foram estrelhaçados a 24 de Outubro de 1929, a Quinta-Feira negra, quando as cotações na NYSE colapsaram. As cotações cairam nesse dia e continuaram a cair, a uma velocidade sem precedentes, durante um mês inteiro."</ref>

Nos dias que precederam a Quinta-Feira negra o mercado estava instável. Períodos de venda em pânico e volumes elevados de transacções eram intervalados com breves períodos de subida de cotações e recuperação. Após o crash o Dow Jones recuperou no início de 1930, apenas para novamente cair, chegando ao fundo do grande bear market em 1932. O mercado não voltou aos seus níveis pre-1929 até ao final de 1954 <ref name="yahoo">DJIA 1929 to Present (em inglês) (Yahoo! Finance).</ref> e atingiu no seu ponto mais baixo, em 8 de Julho de 1932 , níveis que só tinham sido atingidos nos anos 1800s. <ref>Dow Jones Industrial Average Historical Data (1900-2000) (em inglês). LiquidMarkets.</ref>

Quem tivesse comprado acções no meio de 1929 e as tivesse mantido, teria passado a maior parte da sua vida adulta antes de voltar ao breakeven.

Cronologia

Trading floor da New York Stock Exchange imadiatamente após o crash de 1929.

Após um supreendente bull market de 5 anos que viu o Dow Jones quintuplicar, as cotações atingiram o seu pico nos 381.17 em 3 de Setembro de 1929. Depois, o mercado caiu acentuadamente durante um mês, perdendo 17% do seu valor nesta primeira queda. As cotações encetaram aí uma recuperação de mais de metade das perdas em uma semana, apenas para voltarem a cair imediatamente após essa recuperação. A queda então acelerou para dentro da chamada "Quinta-Feira negra" (24 de Outubro de 1929). Um número recorde 12.9 milhões de acções foi transaccionado nesse dia.

Às 13:00 de Sexta-feira, 25 de Outubro, alguns dos banqueiros líderes de Wall Street reuniram-se para procurar uma solução para o pânico e caos no trading floor. Esta reunião incluía Thomas W. Lamont, CEO do Morgan Bank; Albert Wiggin, CEO do Chase National Bank; e Charles E. Mitchell, presidente do National City Bank. Eles escolheram Richard Whitney, vice-presidente da bolsa, para os representar. Com os recursos financeiros dos banqueiros a suporta-lo, Whitney colocou um bid para comprar um grande bloco de acções da US Steel a um preço bem acima do preço presente do mercado. À medida que os traders surpreendidos olhavam, Whitney colocou depois bids similares em outras blue chips. Esta táctica era similar a uma táctica que foi usada para terminar o pânico de 1907, e teve sucesso em estancar a queda nesse dia. Neste caso, porém, o descanso seria apenas temporário.

Durante o fim de semana, os acontecimentos foram dramatizados pelos jornais Americanos. Na Segunda-Feira, 28 de Outubro, mais investidores decidiram sair do mercado, e a queda continuou com uma perda recorde de 13% no Dow Jones nesse dia. No dia seguinda, a Terça-Feira negra, 29 de Outubro, 16.4 milhões de acções foram transaccionadas, o que bateu o recorde estabelecido 5 dias antes e não foi excedido até 1969. O autor Richard M. Salsman escreveu que em 29 de Outubro - entre rumores de que o Presidente Americano Herbert Hoover não vetaria o acto tarifário Smoot-Hawley as cotações cairam ainda mais."<ref name="salsman" /> William C. Durant juntou-se com membros da família Rockfeller e outros gigantes financeiros para comprar grandes quantidades de acções de forma a demonstrar ao público a sua confiança no mercado., mas os seus esforços falharam em parar a queda. O Dow Jones perdeu outros 12% nesse dia. O ticker não parrou de correr até cerca de 19:45 dessa tarde. O mercado perdeu $14 biliões em valor nesse dia, totalizando uma perda nessa semana de $30 biliões, 10 vezes mais que o orçamento do governo federal, e bastante mais do que o governo dos EUA tinha gasto em toda a 1ª Guerra Mundial.<ref>pbs.orgNew York: A Documentary Film</ref>

Um fundo intermédio ocorreu em 13 de Novembro, com o Dow a fechar a 198.6 nesse dia. A partir desse ponto, o mercado recuperou durante vários meses, com o Dow a atingir um pico secundário nos 294.0 em Abril de 1930. O mercado entraria novamente numa queda estável em Abril de 1931 que não terminaria até 1932, quando o Dow fechou a 41.22 no dia 8 de Julho, concluindo uma queda de 89% desde o seu topo. Este foi o ponto mais baixo a que o mercado esteve desde o século XIX.<ref name = "Liquid Markets">Liquid Markets.</ref>

Salsman comentou que "Em Abril de 1942, as cotações das acções Americanas ainda estavam 75% abaixo do seu pico de 1929 e não voltariam a esse nível até Novembro de 1954 - quase um quarto de século mais tarde."<ref name="salsman" />

Fundamentais económicos

Dow Jones Industrial, 1928-1930 O crash seguiu-se a um boom especulativo que tinha tomado conta do final dos anos 20, e que tinha levado milhões de Americanos a investir fortemente no mercado accionista, um número significativo dos quais inclusive endividando-se para comprar mais acções. Em Agosto de 1929 os corretores emprestavam rotineiramente a pequenos investidores mais de 2/3 do valor das acções que estes compravam. Mais de $8.5 biliões estavam emprestados, mais do que a totalidade da moeda em circulação nos EUA.<ref>pbs.orgNew York: A Documentary Film</ref> A subida das cotações encorajava ainda mais pessoas a investir; as pessoas esperavam que as acções continuassem a subir. A especulação alimentava assim constantes subidas e criava uma bolha. O PER médio do S&P compósito era de 32.6 em Setembro de 1929 <ref> Shiller, Robert (2005-03-17). "Irrational Exuberance, Second Edition". Princeton University Press. Consultado a 2007-02-03.</ref>, claramente acima da norma histórica.

Em 24 de Outubro de 1929 (não muito longe do pico do Dow em 3 de Setembro nos 381.17), o mercado finalmente começou a cair, e as vendas em pânico começaram. 12,894,650 acções foram transaccionadas num único dia à medida que as pessoas tentavam desesperadamente mitigar a situação. Esta venda em massa foi considerada um factor contributório para a Grande depressão. Economistas e Historiadores, porém, frequentemente diferem na sua visão da significância do crash neste respeito. Alguns postulam que reacções políticas exageradas ao crash, tais como a passagem do acto tarifário Smoot-Hawley pelo Congresso Americano, causaram mais mal que o crash propriamente dito.

Investigação oficial ao Crash

Em 1932, a Comissão Pecora foi estabelecida pelo Senado Norte-Americano para estudar as causas do Crash. O Congresso passou o acto Glass-Steagall em 1933, que mandatou uma separação entre banca comercial, que aceita depósitos e concede empréstimos, e banca de investimento, que monta operações de subscrição, emite, e distribui acções, obrigações e outros titulos financeiros.

Após a experiência do crash de 1929, os mercados accionistas pelo mundo fora instituiram medidas para suspender as transacções temporariamente no caso de quedas rápidas, dizendo que assim poderiam prevenir as vendas em pânico. O crash de um dia na Segunda-Feira, 19 de Outubro de 1987, porém, foi mais severo do que qualquer dos dias do crash de 1929. Na chamada Segunda-Feira negra de 1987, o Dow Jones caiu 22.6% (os mercados recuperaram rapidamente, fazendo a maior subida de um só dia desde 1932 apenas 2 dias mais tarde).

Impacto e debate académico

O crash teve um impacto significativo na economia Americana, e tem sido a fonte de um intenso debate académico - histórico, económico e político - desde o seu acontecimento até ao presente. O crash marcou o início de vastas e duradouras consequências para os EUA. A principal questão é: será que foi o crash que causou a depressão, ou terá meramente coincidido com o rebentar de uma bolha económica provocada pelo crédito? O declínio das cotações bolsistas provocou falências e dificuldades macroeconómicas severas incluindo fecho de empresas, despedimento de trabalhadores e outras medidas de repressão económica. A resultante subida do desemprego em massa e a depressão são vistos como um resultado directo do crash, embora não seja de forma nenhuma o único evento que contribuiu para a depressão; é usualmente visto como aquele que teve maior impacto.

Muitos académicos vêem o crash de 1929 como parte de um processo histórico que era uma parte das novas teorias de Boom e Bust. Segundo economistas como Joseph Schumpeter e Nikolai Kondratieff o crash foi somente um evento histórico no processo contínuo conhecido como ciclos económicos. O impacto do crash foi meramente o de aumentar a velocidade à qual o ciclo prosseguiu para o seu próximo nível. Segundo o economista Milton Friedman, no seguimento imediato do crash, a Reserva Federal não expandiu suficientemente a massa monetária e assim transformou a recessão numa depressão.

Ver também

Referências

<references />

Bibliografia

  • Brooks, John. (1969). Once in Golconda. New York: Harper & Row. ISBN 0-393-01375-8.
  • Galbraith, John Kenneth. (1955). The Great Crash: 1929. Boston: Houghton Mifflin. ISBN 0-395-85999-9.
  • Klingaman, William K. (1989). 1929: The Year of the Great Crash. New York: Harper & Row. ISBN 0-060-16081-0.
  • Salsman, Richard M. “The Cause and Consequences of the Great Depression” in The Intellectual Activist, ISSN 0730-2355.
  • “Part 1: What Made the Roaring ’20s Roar”, June, 2004, pp. 16–24.
  • “Part 2: Hoover’s Progressive Assault on Business”, July, 2004, pp. 10–20.
  • “Part 3: Roosevelt's Raw Deal”, August, 2004, pp. 9–20.
  • “Part 4: Freedom and Prosperity”, January, 2005, pp. 14–23.
  • Shachtman, Tom. (1979). The Day America Crashed. New York: G.P. Putnam. ISBN 0-399-11613-3.