As Teses e as Tendências

Da Thinkfn
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Apesar da teoria do Random walk (Caminhar Aleatório), que postula que as variações de dia para dia das cotações no mercado de capitais são essencialmente aleatórias, qualquer um que já tenha olhado para um gráfico certamente já viu belas tendências, movimentos que se eternizam num dado título ou mercado sempre num mesmo sentido. Movimentos com um aspecto bastante previsível.

São esse género de movimentos que todos sonham apanhar. E é para esses movimentos que muitos usam a Análise Técnica, na tentativa de os identificar a tempo de os aproveitar.

Mas como é que eles se geram? Bem, embora muitas vezes seja o puro movimento da manada que os perpetua, na sua grande maioria estas tendências precisam de participação institucional para nascerem e se manterem. Precisam de fontes de compra ou venda de títulos quase inesgotáveis.

E porque será que essas entidades, esses institucionais, decidem passar tanto tempo maioritariamente de um dos lados do mercado, num dado título, sector ou mercado?

Regra geral, é porque existe uma TESE que corrobora essa tomada de posições. E essa tese, gerada por milhares de analistas em research, e difundida por sales em contacto com os traders dos institucionais ou com particulares dia após dia, gera um fluxo de ordens (order flow) que cria e sustenta uma TENDÊNCIA. Até que, ou a Tese deixa de ser verdadeira, ou, como no caso da bolha das tecnológicas, a Tese é levada a um extremo tal que se transforma numa pirâmide a qual implode por falta de um aumento exponencial de capital a ela cometido.

Portanto, uma TESE cria uma TENDÊNCIA. Logo, quando estamos perante uma tendência forte, a primeira coisa que urge compreender é a Tese que está por de trás dela, por dois motivos simples:

1) Para sabermos avaliar se a tese ainda não tornou demasiado exagerados os valores a que transaccionam os títulos/sectores/mercados a ela sujeitos;

2) Para compreendermos quais os factos que continuarão a corroborar a tese, e quais os factos que a poderão destruir sumariamente.


Exemplos de teses recentes:

  • A China está em forte crescimento e investimento, e tem uma população que lhe dá a probabilidade de esse crescimento e investimento se susterem durante bastante tempo -> Os seus níveis de consumo per capita dos mais variados materiais são ainda muito baixos, o seu investimento e população asseguram que comprarão não só quantidades enormes desses materiais, como o farão de forma crescente -> TESE: Todas as commodities valorizam devido à procura Chinesa;
  • O USD via défice comercial e fiscal tenderá a desvalorizar -> Os mercados estão, devido a uma bolha monetária, uniformemente caros -> TESE: o único escape a esta realidade inflacionada monetariamente e com crescente perda de credibilidade da moeda é a compra de bens físicos, ou seja, commodities.
  • Os semicondutores são fortemente cíclicos e dependentes do crescimento económico -> O Petróleo afecta o crescimento económico -> TESE: Aproxima-se o fim do ciclo dos semicondutores e também um abrandamento económico, logo é de vender empresas de semicondutores.
  • O Petróleo está, devido à procura da China e a instabilidades na oferta, bem como a um pico de produção que se aproxima, numa tendência altista -> Os combustíveis são um dos maiores componentes de custo das linhas aéreas -> TESE: Vender todas as linhas aéreas.


E por aí em diante ... praticamente todas as tendências de monta têm a sua própria Tese.

Em que é que isto ajuda? Bem, ajuda a entrar cedo nas Tendências emergentes se se compreender a Tese, ajuda a manter a posição perante a volatilidade mesmo dentro de uma tendência, e ajuda a sair da Tendência assim que a Tese começe a vacilar (por exemplo, qualquer inversão na tendência do petróleo, sendo a única razão para o último despenhar das linhas aéreas, deve levar os investidores a comprar as linhas aéreas que tenham sobrevivido decentemente ao aumento de custos, na expectativa de que embora possuam prejuízos agora o futuro será sempre melhor).

Já agora, TODAS as Teses têm uma base fundamental. Mas obviamente após algum tempo entra nelas uma camada de momentum traders (apoiados em Análise Técnica ou meramente porque vêem que sobe/desce praticamente sempre). Estes momentum traders tenderão a exagerar os movimentos da Tendência, e muitas vezes a leva-la a valores irracionais que de outra forma não seriam atingidos.

Nesta rúbrica “Teses e Ineficiências” procuraremos, no futuro, identificar (o mais próximo possível do início ou final) mais Teses e tendências tais como as aqui apresentadas como exemplo (sendo que estas já duram há algum tempo).

Regra geral não convém transaccionar contra uma Tese em vigor, a menos que tenhamos algum facto que nos leve a crer que a dita esteja a tornar-se falsa. Isto é praticamente o mesmo que dizer que não convém transaccionar contra uma Tendência, mas difere no ponto em que a Tendência via momentum pode durar um pouco mais do que a própria Tese (ou ter dificuldade em ser quebrada), mas nunca muito mais. Claro, a situação ideal para começar um trade, curto ou longo, seria a favor de uma Tese “fresquinha”, acabada de nascer.

Só como aparte, por exemplo o meu trade falhado em WYNN não se enquadrava neste cenário ideal, foi feito somente por causa de uma irracionalidade do mercado, e falhou redondamente, pois essa irracionalidade por enquanto está sustentada na Tese do jogo em expansão tanto em LA, como principalmente em Macau (que o abriu recentemente a novos casinos entre os quais a WYNN, e que é visto como sendo beneficiado do crescimento infinito da China e da sua apetência para o jogo).


Autor

Incognitus, em 5/1/2005


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Disclaimer

Este comentário é um artigo de opinião e nunca uma recomendação de compra ou venda. Alerta-se ainda que a compra ou venda é da responsabilidade do investidor bem como o lucro ou perda daí existente. O Autor pode ter, e provavelmente tem, posições nos títulos referidos neste artigo. Em caso de dúvidas, deverá o investidor procurar um intermediário financeiro, a Euronext, ou a CMVM.